Khukhuri

Reportagem sobre a Guerra Popular no Nepal

1ª Parte: Encontro com o Exército Popular

Por Li Onesto

Revolutionary Worker/Obrero Revolucionario n.º 1014, 18 de Julho de 1999
Em inglês: revcom.us/a/v21/1010-019/1014/nepal1.htm
Em castelhano: revcom.us/a/v21/1010-019/1014/nepal1_s.htm

Durante uma hora e quarenta cinco minutos eu olho pela janela do avião, completamente absorta. Acima das nuvens, ao nível da trajectória do nosso voo, estende-se a imensa e surpreendente Cordilheira dos Himalaias. Os cumes brancos, erguendo-se acima do tapete de nuvens, parecem irreais e eu sinto-me como que transportada de repente para outro planeta. A elevada superfície terrestre espalha-se para a frente com uma continuidade ininterrupta — embora cada montanha tenha uma forma e um carácter individual, algumas salientando-se sozinhas, outras aglutinadas, algumas cobertas de neve branca, outras de um cinzento metálico. Estendiam-se numa fila interminável.

Esta era a minha entrada no “tecto do mundo”, o Nepal, conhecido pelo Monte Evereste, pelos soldados Gurkha e pelos Sherpa (um povo da montanha). Os turistas veneram e desfrutam o país como um lugar ideal para escalar, absorver as incomparáveis paisagens e relaxar. Quanto a mim, planeava subir às montanhas e ver bastante do interior. Mas não pensava relaxar: estava em vias de conhecer a Guerra Popular Maoista, de caminhar com guerrilheiros armados e de testemunhar em primeira mão uma revolução que está a estremecer os “contrafortes” dos Himalaias.

Há três anos que lia sobre a guerra popular prolongada dirigida pelo Partido Comunista do Nepal (Maoista) no interior do país, com o objectivo de cercar as cidades, tomar o poder a nível nacional e estabelecer uma república de nova democracia. Tinha lido que os maoistas estavam a organizar-se em todos os cantos do país e que mais de 600 guerrilheiros e camponeses tinham sido mortos pelo governo desde que a guerra começara em 1996. Parecia claro que o governo tinha lançado enormes campanhas assassinas contra o povo e praticara violações horrendas dos direitos do povo. E contudo a maioria das pessoas à volta do mundo pouco ou nada tinha ouvido sobre este conflito.

Eu sabia que esta era uma luta com muita importância e interesse para os revolucionários de todo o mundo — e para todos os que apoiam a luta contra a opressão. Mas notícias sobre esta revolução eram difíceis de obter. As poucas notícias que conseguíamos arranjar eram entusiasmantes e intrigantes. Este era um acontecimento que requeria um tipo de jornalismo detalhado, frente-a-frente, em contacto directo com o povo.

Quando cheguei a Katmandu, a situação era muito intensa na cidade. As eleições parlamentares, marcadas para Maio de 1999, configuravam-se como um foco de luta entre o regime reaccionário do Nepal e a Guerra Popular. O governo queria usar as eleições para projectar uma imagem de força, de estabilidade e de democracia. E esperava que o novo parlamento apoiasse mais firmemente os seus esforços para esmagar a Guerra Popular. Mas o PCN (Maoista) tinha apelado a um boicote nacional das eleições. Nos campos, aumentavam os ataques da guerrilha à polícia e aos políticos e também havia actividade revolucionária na capital. Quase todos os dias, quando lia o jornal Kathmandu Post, havia artigos ou editoriais sobre a Guerra Popular. Havia notícias sobre guerrilheiros mortos pela polícia, mas também havia notícias sobre polícias emboscados e mortos. Estava ansiosa por ir para o campo, para o coração da Guerra Popular.

Partindo para leste

Uma manhã, fico finalmente a saber que foram feitos preparativos para a minha primeira viagem ao campo. Vamos para a Região Leste, para uma área onde a Guerra Popular tem muita força. Tenho só um par de horas de aviso e dizem-me para levar uma bolsa pequena porque vamos sair da cidade de motorizada.

Nessa tarde encontro-me com Shiva, o meu guia e tradutor, e com os dois camaradas que nos conduzirão ao leste. Ir de motorizada pela estrada de Katmandu é só a primeira de muitas experiências perigosas que terei no Nepal! A pé, já estava bastante familiarizada com o trânsito apressado e perigoso da cidade. Mas agora, depois de muitos dias a evitar táxis e motorizadas em ruas abarrotadas, estava no outro lado da rota de colisão — ziguezagueando por entre pessoas e veículos barulhentos e evitando vacas pesadas e cabras assustadas.

À medida que deixamos o vale de Katmandu, começo a ver, pela primeira vez, o que é o campo. Os edifícios de três e quatro andares desaparecem e dão lugar a pequenas estruturas de tijolo ao longo da estrada, cada vez com mais curvas e sempre a subir. No crepúsculo vejo os perfis das irregulares parcelas verdes dispostas em declives quase verticais — terraços impressionantes feitos pelos camponeses ao longo das encostas.

A temperatura é muito agradável e mesmo com o vento que nos açoita na motorizada só preciso de um blusão ligeiro. Está a escurecer depressa mas ainda há gente a trabalhar nos campos e muitas pessoas que caminham ao longo da estrada. Passamos por vários grupos de pessoas que festejam e a roupa colorida das ocasiões especiais atravessa a minha visão periférica enquanto os meus ouvidos apanham alguns segundos de música alegre. O camarada que conduz a motorizada diz-me que há muitos casamentos porque este é o mês tradicional para as pessoas se casarem no Nepal.

Paramos ao lado da estrada e embora o sol já se tenha escondido completamente atrás das montanhas, algumas crianças estão a caminhar e a brincar nos caminhos íngremes que sobem a ladeira. Esperamos um bocado, ansiosamente. Por alguma razão, desencontrámo-nos das pessoas com quem era suposto encontrarmo-nos. Agora está escuro e teremos de esperar pela manhã para tentar restabelecer a ligação. Decidimos ir passar a noite a uma pequena pousada vizinha. Depois de uma refeição típica nepalesa de dal baht (lentilhas e arroz) vamos para os pequenos quartos. Estou muito cansada. Mas também estou emocionada com a antecipação e a excitação de estar em vias de conhecer o Exército Popular, e não consigo dormir.

São 9:30 da noite, mas lá fora, do outro lado da rua, uma pequena oficina ainda está aberta e um homem bate afanosamente o metal transformando-o em jarros de água. O ritmo fixo do aço contra o aço mantém-se pela noite dentro, misturado com o som das pessoas a falar e a caminhar na rua. Estamos próximos de uma estrada principal com transito constante, e ao longo da noite o buzinar ruidoso de autocarros e camiões interfere com o meu sono inquieto.

De manhã cedo, acordo com a bela voz de um homem que canta alegremente enquanto caminha rua abaixo. De seguida, o homem da oficina do outro lado da rua começa novamente com a sua batida rítmica — e ainda pouco passa das 6:00 da manhã. Quando saio pela varanda traseira da pousada, vejo que estamos próximo de um grande rio. À minha volta estão imensas montanhas. E enquanto aprecio a paisagem e bebo um pouco do tradicional chá com leite nepalês, penso na aventura — e no perigo — que me esperam. Os camaradas avisaram-me que por causa das eleições é uma época particularmente perigosa para viajar em áreas onde se desenrola a Guerra Popular. Viajaremos com cuidado, mas não há garantias de que não apareça a polícia. E dizem-me que se o inimigo de alguma maneira descobre que os maoistas estão nas aldeias que estivermos a visitar, poderiam cercar a área e desencadear um ataque.

Em território da guerrilha

Temos de entrar na zona da guerrilha após o escurecer, pelo que marcamos um encontro com os nossos contactos para o princípio da noite. Encontramo-nos a várias milhas da pousada, rio acima, à hora exacta em que o sol se punha. A partir daqui vamos a pé. Caminhamos pela encosta acima durante um par de horas. A luz do dia ainda se mantém quando paramos para descansar no caminho e alguns miúdos da aldeia depressa nos cercam. As suas caras estão cheias de curiosidade.

Chegamos a uma aldeia onde o apoio à Guerra Popular é grande — o Partido designou esta área para ser desenvolvida para se tornar numa base de apoio à revolução. As pessoas dizem-me orgulhosamente que a polícia teme entrar nesta área com medo de serem mortos. Sentinelas da guerrilha protegem a área — se a polícia se aproxima, as pessoas procuradas pela polícia e as pessoas na clandestinidade são avisadas e saem da zona. Os camaradas souberam que nós vínhamos e certificaram-se de que tudo estava seguro para a nossa chegada.

Está muito escuro quando chegamos à casa onde iremos ficar e nos reuniremos com as pessoas. Entramos e imediatamente somos saudados calorosamente por dois dirigentes locais do Partido. Um deles é professor e é em sua casa que iremos ficar. O outro é um jovem que aparenta ter vinte anos. Sentamo-nos e enquanto tomamos chá com leite dizem-me algo sobre si próprios e sobre o trabalho revolucionário nesta aldeia. Alguém traz uma lanterna de querosene para que eu posso escrever no meu caderno. Reparo que há fios eléctricos nas paredes e até mesmo suportes para lâmpadas. Aparentemente a casa foi construída a pensar que em breve a rede eléctrica chegaria a esta zona. Mas esta aldeia, como 90 por cento do Nepal, ainda não tem electricidade.

O jovem dirigente do Partido diz-me que as pessoas nesta aldeia dependem da agricultura e cultivam principalmente milho. A maioria dos camponeses tem parcelas de terra muito pequenas que produzem colheitas reduzidas, pelo que só conseguem cultivar comida suficiente para alimentar as suas famílias durante três ou quatro meses. O resto do ano têm de encontrar algum outro meio de rendimento para sobreviver. Alguns têm pequenas hortas onde cultivam produtos como tomates que podem ser vendidos nas cidades. E muitos dos homens são obrigados a deixar as suas famílias durante largos meses para ir encontrar trabalho noutros lugares.

O jovem dirigente do Partido é filho de um carpinteiro. Dois dos seus irmãos foram viver e trabalhar em Katmandu, e duas das suas irmãs juntaram-se à Revolução. Quando acabou a escola secundária foi para Katmandu para estudar direito, envolveu-se no movimento estudantil revolucionário e aderiu ao Partido em 1994. Diz-me: “O Partido queria que eu trabalhasse no campo e, na mesma altura, a repressão governamental obrigou-me a deixar a cidade e a entrar na clandestinidade”.

O outro dirigente do Partido é professor há 20 anos. Ensinava na cidade, mas há mais de 10 anos que regressou à aldeia. Diz-me com orgulho que a sua companheira também participa na Revolução. Tem seis irmãos — um está na Índia a trabalhar na indústria petrolífera e outro conduz um camião na cidade. Os seus pais vivem nesta casa com a sua companheira e os seus filhos.

Estes são dois dos camaradas que dirigem o trabalho do Partido nesta zona de cerca de 2000 pessoas. O Partido tem vindo a estabelecer-se aqui há 10 anos e antes do início da Guerra Popular em 1996 já havia células do Partido e organizações revolucionárias de massas nesta zona. No Nepal há vários partidos revisionistas — autoproclamam-se revolucionários mas são totalmente reformistas e em muitos casos abertamente reaccionários. Os revisionistas do Partido Comunista Unido do Nepal (Marxista-Leninista) [normalmente chamado UML], que na realidade encabeçou o governo reaccionário durante nove meses em 1994-95, faziam aqui muito trabalho de organização política. Mas, dizem-me, as pessoas desta zona que no passado foram militantes e apoiantes do UML, agora ou apoiam a Guerra Popular ou são neutras ou abandonaram a zona. O mais velho dirigente local do Partido fala-me da sua própria experiência com o UML. Diz:

“Aderi ao UML quando era estudante em 1980 e estive envolvido no movimento estudantil, de acordo com a política do UML. Sonhava que o UML faria algo pela gente pobre e pela classe oprimida. Mas não fez — seguiu a via capitalista. Após o início da Guerra Popular em 1996, entrei em contacto com o PCN (Maoista), discutimos e trabalhámos juntos e fiquei a conhecer a verdadeira via do comunismo. O UML dizia que era pelo Marxismo-Leninismo-Maoismo. Mas depois da instauração do sistema multipartidário não pôs isso em prática e na verdade retirou a expressão Maoista do seu título.”

O camarada mais jovem fala então do que aqui aconteceu após o início da luta armada:

“Houve uma grande mudança com o início da Guerra Popular. Antes, as organizações eram todas legais e o trabalho era essencialmente de propaganda. O início deu realmente esperança e convicção ao povo. As unidades do Exército Popular e do Partido desmascararam e atacaram os elementos nefastos e ameaçaram os bufos. Havia pressão mas também luta. Lutaram para que os espiões parassem a sua actividade contra o povo. Mas se eles não parassem, a força tornava-se necessária. As pessoas foram transformadas desta maneira.”

“Agora é cada vez mais necessário organizar tudo na clandestinidade e dar uma atenção constante à segurança. Após o início, fizeram-se prisões em massa e matanças nesta zona e muita gente foi obrigada a entrar na clandestinidade. Agora os nossos métodos de organização têm de ser mais sistemáticos — temos de encontrar maneiras para que as contribuições dos indivíduos sejam feitas da melhor maneira, de acordo com as suas possibilidades e capacidades. Continua a edificação das diferentes organizações de massas — como a associação de camponeses, o grupo de mulheres e a organização da juventude. O Partido agora é clandestino e as organizações de massas são obrigadas a trabalhar semiclandestinamente.”

Antes de 1990 havia um sistema de governo monárquico de um só partido, chamado Panchayat, que oprimia o povo. Em 1990, um movimento de massas anti-Panchayat obrigou o governo a instaurar um sistema parlamentar multipartidário. O jovem camarada explica:

“Em 1990 foi instaurado o sistema multipartidário e o povo pensou que teria agora uma vida melhor e mais oportunidades. Mas isso não aconteceu e a separação entre os que tudo têm e os que nada têm só aumentou. Havia uma grande crise no país, o Nepal sendo a segunda nação mais pobre do mundo. Essa é uma razão que me atraiu à Revolução e por que vi a necessidade da luta de classes para alcançarmos a igualdade. Outra razão foi que eu vi que todos os dirigentes políticos no governo se tinham tornado corruptos e não representavam o povo. Essa situação desanimou-me, como a muitos outros jovens. Vi que esses políticos não têm nenhum amor ao país e que se tornaram lacaios do imperialismo e do expansionismo indiano. Como patriota não havia nenhuma outra solução para mim senão juntar-me à Revolução. E o que eu aprendi foi que a fonte principal da corrupção e repressão e dos problemas da sociedade é o estado e o sistema de poder reaccionário. E a menos que nos livremos dele não podemos realizar nenhum dos nossos sonhos.”

Antes de terminarmos esta pequena sessão, o camarada mais velho diz que me quer dar uma saudação para levar para os Estados Unidos. Diz: “Gostaria de exprimir aos oprimidos e revolucionários nos EUA a nossa solidariedade e exortá-los a unirem-se para se libertarem das grilhetas do imperialismo. O nosso movimento é um movimento internacional e esperamos triunfar como parte da revolução mundial. Nós trabalhamos por forjar a solidariedade com os oprimidos e os comunistas revolucionários nos Estados Unidos.”

Espingardas em silhueta

Os camaradas dizem-me que uma brigada cultural do Exército Popular fará hoje à noite uma sessão política e cultural para as massas e que eles estão a tentar encontrar uma maneira de eu me encontrar e falar com eles. Por razões de segurança a brigada chegará na escuridão, momentos antes da sessão, que durará duas a três horas. E, pouco depois, terão de partir no escuro da noite para viajar ainda duas horas antes de se deitarem. Isto significa que não poderemos reunir-nos com a brigada até muito tarde. Mas, após meses de planeamento e de antecipação, eu não me importo de ter de esperar apenas algumas horas mais pelas minhas primeiras entrevistas frente-a-frente a membros do Exército Popular.

A mãe do professor preparou-nos uma refeição e, à maneira nepalesa tradicional, sentamo-nos no chão e comemos com as mãos. A comida é muito boa e a mãe tenta convencer toda a gente a comer mais. Eles brincam comigo pela minha ignorância dos costumes nepaleses, como, por exemplo, lavar as mãos depois de uma refeição. É suposto verter-se a água por cima das mãos e deixar a água escorrer para o prato vazio. Mas quando alguém me dá uma bacia de água, meto os meus dedos nela e toda a gente se ri. Não voltarei a cometer o mesmo erro.

Após termos acabado de comer, é tempo de ir para a sessão. Saímos para a escuridão e vamos por um caminho em fila indiana. Eu preciso de usar uma lanterna, mas os outros conseguem subir o carreiro íngreme e rochoso sem qualquer iluminação. Sem esforço, eles serpenteiam pelo terreno. Mas isto é tudo novo e pouco familiar para mim e dou comigo a ter de me concentrar, a apontar a minha lanterna para poder ver, a cada passo, onde ponho o pé. Na completa escuridão, a minha lanterna corta apenas um buraco de luz suficientemente grande para que eu possa caminhar. E, tão rápida quanto posso, movo-me por este pequeno cone de luz. Embora não consiga ver nada à minha volta, a minha respiração rápida diz-me que estamos cada vez mais alto na montanha.

Passado algum tempo, alcançamos um planalto onde as pessoas se começaram a juntar para a sessão. Com apenas duas lanternas a iluminar a área, é difícil ver o que se passa. Mas posso aperceber-me dos perfis escuros do que parecem ser aproximadamente 100 pessoas sentadas no chão. Outros camponeses ainda estão a subir a encosta. Shiva e eu sentamo-nos a pouca distância do local onde as massas se juntaram e após alguns minutos alguém chega com um tapete para nos sentarmos.

Temos de esperar um bom bocado. Mas eu desfruto a noite fresca e absorvo a atmosfera de antecipação que flutua por cima da crescente assembleia de camponeses. Parece que a brigada ainda não chegou toda, embora esteja realmente muito escuro para eu distinguir as diferentes figuras que mudam constantemente. Na escuridão, faço um esforço para tentar perceber melhor quem está ao meu redor. Então, de repente, uma imagem aparece mesmo à minha frente, alguém muito perto, ao alcance da minha mão. É o meu primeiro vislumbre de um membro do Exército Popular — em silhueta, a figura de uma jovem em uniforme e boné, com uma espingarda ao ombro. Imediatamente começo a reparar em mais figuras que entraram na zona, de uniforme e armadas com espingardas. Um está na periferia, imediatamente atrás de nós, a guardar a área. Outros estão ocupados a preparar a sessão. Pessoas da aldeia continuam a surgir do caminho íngreme. E, à medida que eles chegam, um guerrilheiro está destacado para apontar a sua lanterna para o caminho, ajudando as pessoas nos seus últimos passos.

Os camponeses continuam a chegar quando a sessão começa à volta das 9:30 da noite. É difícil estimar na escuridão, mas agora parecem-me cerca de 200 pessoas juntas para ouvir e ver esta brigada cultural do Exército Popular.

O jovem dirigente do Partido com quem eu falara antes, inicia a sessão com uma pequena introdução. Depois pede um minuto de silêncio por todos os mártires e toda a gente se levanta e inclina a cabeça em honra dos camaradas mortos na Guerra Popular. Depois, um dos primeiros intervenientes é uma jovem cujo companheiro fora morto pela polícia. É secretária local do Partido e explica os objectivos da Guerra Popular e apela especialmente às mulheres para se juntarem à Revolução.

O chefe de pelotão do Exército Popular faz uma intervenção sobre a importância da luta armada. Explica por que é necessário pegar em armas para derrotar o inimigo. Mas também diz que o mais importante na derrota do inimigo são as massas. Por entre as intervenções, a brigada cultural apresenta canções e poemas, acompanhadas por ritmos alegres obtidos num pequeno tambor tradicional do Nepal. Isto é muito emocionante — a primeira vez que ouço a nova cultura revolucionária criada pela Guerra Popular. A primeira canção que cantam é uma que conta como o “sangue dos mártires tem de fortalecer o povo”.

Vários intervenientes salientam que as massas precisam de se juntar à Guerra Popular. Um camarada diz; “O Exército protegerá o povo e o povo deve proteger o Exército”. Também há notícias da frente de batalha — de polícias e elementos nefastos que foram mortos, mas também de recentes baixas no Exército Popular. Um homem conta à multidão: “Estão-nos a matar em grupo — mas nós também estamos a começar a matá-los em grupo”. Shiva sussurra-me que esta é uma referência a um recente incidente na região ocidental do país onde vários polícias foram mortos pelo Exército Popular. Também são mencionados outros incidentes em que a polícia foi derrotada.

Outra intervenção fala de como as massas precisam de exercer o novo poder popular — tomando as coisas nas suas próprias mãos, resolvendo disputas, resolvendo os problemas da comunidade e fazendo justiça. E o Partido também pede às massas que boicotem as próximas eleições — e que sejam vigilantes contra os crescentes ataques governamentais. Um interveniente diz: “os reaccionários podem derramar sangue nesta aldeia e vocês devem estar preparados”.

Entrevistas à luz da vela

A sessão ainda vai animada quando partimos cerca das 11:00 da noite. A caminhada montanha abaixo é um pouco mais fácil para o meu sistema cardiovascular, mas tenho de tomar um pouco mais de cuidado, para não tropeçar nas pedras e cair. De novo, tenho de me concentrar, apontando a lanterna para que possa ver cada passo e tentando manter o ritmo dos outros camaradas que praticamente correm colina abaixo na escuridão com toda a facilidade. Regressamos a casa, entramos e deitamo-nos. Surpreendentemente, adormeço logo.

Duas horas depois, um pouco antes da 1:00 da manhã, acordo com uma voz que diz: “Camaradas, levantem-se, eles estão aqui”.

Sento-me imediatamente e vejo que os membros da brigada do Exército Popular estão a entrar no quarto. Está completamente escuro, com excepção de duas pequenas velas — uma delas numa mesa à minha frente para que eu possa escrever no meu caderno. Os camaradas entram e deixam as suas espingardas encostadas à parede. O quarto é muito pequeno e com cerca de uma dúzia de guerrilheiros, mais duas pessoas da aldeia e os dois dirigentes locais do Partido, está completamente abarrotado.

Algumas das jovens guerrilheiras vêm sentar-se junto a mim, na cama. Agora posso ver quão jovem elas são. São bonitas e fortes e parecem ter entre 15 e 20 anos. Usam com orgulho os seus uniformes do Exército Popular — calças militares verdes com muitos bolsos espaçosos e grandes e camisas a condizer. Os bonés são quase quadrados no topo com uma borda — com uma grande e luminosa estrela vermelha à frente. À minha frente sentou-se o líder da brigada, um bonito jovem que eu imagino ter cerca de 25 anos. Parece muito cansado mas dá-me as boas-vindas com um enorme sorriso.

Durante as próximas duas horas os membros daquela brigada cultural irão falar-me sobre si próprios e a sua paixão revolucionária. Quase todos provêm de famílias camponesas pobres. As mulheres são as primeiras a falar e contam-me da terrível repressão nas suas aldeias e de como aderiram ao Exército Popular. A princípio as guerrilheiras parecem tímidas e hesitantes. Mas, à medida que cada uma fala, fico impressionada com a força e a determinação do seu modo calmo. Têm características comuns às adolescentes de todo o mundo — o modo como se sentam próximas umas das outras, sussurram segredos ou arranjam o cabelo umas das outras. Mas há também uma maneira comunitária e disciplinada que vem do viverem e lutarem juntas numa unidade militar. E impressionam-me pela seriedade com que se dedicam à causa revolucionária.

As condições miseráveis da vida dos camponeses, a maneira como a sociedade feudal oprime as mulheres e a forte repressão governamental levaram estas mulheres às fileiras revolucionárias. A primeira jovem a falar diz-me:

“Quando tinha 16-17 anos pensava: por que somos tão oprimidas, económica e socialmente? Costumava pensar: como é que podemos resolver todos estes problemas nas nossas famílias e na sociedade? Por essa altura, em 1995, o PCN (Maoista) levou a cabo um boicote das eleições parlamentares e um grupo cultural do Partido veio à nossa aldeia. Fiquei a conhecer o modo de resolver todos os nossos problemas e de pôr fim à repressão. Colaborei com o grupo cultural e depois aderi ao Partido. Nessa altura, os meus pais proibiram-me de trabalhar com o grupo cultural do Partido, mas mesmo assim fi-lo. Em 1997, elementos nefastos obrigaram-me a passar à clandestinidade e agora estou a trabalhar nesta brigada cultural do Exército Popular.”

Também outros membros da brigada foram inicialmente atraídos para o Exército Popular por causa do trabalho cultural do Partido. E embora algumas das mulheres tenham tido de se revoltar contra as suas famílias para aderir ao Exército Popular, também havia histórias de familiares que as encorajaram a aderir à Revolução. E quase toda a gente tinha uma história sobre como a polícia tinha brutalizado e preso membros das suas famílias. Uma jovem de 15 anos, cujo pai está na clandestinidade, diz-me:

“Em Janeiro de 1996 eu estava na 9ª classe e a polícia veio à minha aldeia prender os que estavam a fazer uma sessão cultural na nossa escola. Os nossos professores foram presos. O meu pai e o meu tio, que já tinham aderido ao Partido, estavam na clandestinidade. 500 polícias invadiram a nossa aldeia e prenderam quase toda a gente — incluindo crianças e pessoas idosas. A minha mãe e eu também fomos presas. Havia tanta repressão policial que eu me juntei ao grupo cultural do Partido. E por causa da exploração e da opressão das massas pobres, e sobretudo por aquela opressão sofrida pelas mulheres, fui levada a procurar uma forma de libertar as massas de tal situação. Descobri que isso estava a ser feito pelo PCN (Maoista) e assim aderi ao Partido.”

O governo tem a esperança que as pessoas fiquem amedrontadas e desistam face às prisões, à tortura e ao assassinato. Mas começo a ver como a forte repressão está sobretudo a ter o efeito oposto — fazendo as pessoas ainda mais dedicadas e determinadas a lutar. Um camarada mais velho já trabalhava com o Partido há 12 anos quando se deu o início da Guerra Popular. Foi preso e esteve na prisão durante 26 meses e quando saiu aderiu de imediato ao Exército Popular. Outra guerrilheira de 15 anos disse-me que o seu pai estava na prisão e os seus tio, tia e irmão tinham todos sido presos. Disse: “Não havia outra maneira, senão participar na Guerra Popular. Por isso é que eu peguei em armas.”

A última guerrilheira a falar tinha 16 anos e estava sentada mesmo ao meu lado na cama. Começou por dizer que havia muito apoio à Guerra Popular na sua aldeia e que o seu pai estava na clandestinidade desde 1995. Depois contou como a forte repressão policial destruiu a sua aldeia. Diz-me: “A polícia veio a nossa casa e aterrorizou-nos. Violaram as mulheres e prenderam muita gente da aldeia. Em 1997 houve uma grande repressão policial e agora, nessa aldeia de cerca de 26 casas, não ficou ninguém. Toda a gente foi obrigada a partir e a entrar na clandestinidade.”

Alguns dos jovens guerrilheiros ligaram-se inicialmente ao Partido através das organizações estudantis revolucionárias. E muitos deles foram obrigados a entrar na clandestinidade depois de terem sido presos e de estarem na mira do governo. Um jovem disse:

“Comecei a participar na política revolucionária quando era estudante e tornei-me secretário distrital da associação revolucionária dos estudantes. Participei no grupo cultural do Exército Popular quando compreendi que esta é a única maneira — através da Guerra Popular — de nos libertarmos da exploração. Em 1998, os reaccionários instauraram-me um processo, acusando-me de traição. Na mesma altura, tive a oportunidade de aderir ao Partido e agora estou com o Exército Popular. Estou empenhado nesta linha política e acredito que o sistema parlamentar multipartidário, como disse Lenine, é o lugar onde mostram ao povo a cabeça de uma cabra e vendem-lhe carne de cachorro. Assim, a Guerra Popular é a única maneira de libertar as massas exploradas das grilhetas da escravidão. Por isso é que aderi ao Exército Popular. E temos plena confiança na vitória.”

Outro jovem acrescentou: “Eu participei na Associação de Estudantes e conheci o programa do Partido através de uma sessão cultural na escola. Comecei a trabalhar parcialmente no Partido de uma forma aberta, legal. Entretanto, o governo instaurou-me um processo. Estive preso durante 15 dias. Os reaccionários acusaram-me de muitas coisas. Agora estou na clandestinidade, depois de me juntar à brigada, e já estou neste pelotão há seis meses.”

Esta brigada cultural viaja pela Região Leste e faz sessões culturais para as massas. Mas também tem tarefas militares. Um deles explicou: “Os membros da brigada cultural também participam em acções armadas contra os reaccionários. Nós desmascaramos e atacamos os inimigos do povo como polícias ou espiões. Sempre que o Partido nos indica para o fazermos, analisamos a situação e estudamos os problemas que teremos de enfrentar para levar a cabo a tarefa. Quando o inimigo não está presente, podemos trabalhar abertamente. Às vezes a brigada também trabalha nos campos com o povo. E às vezes ajudamos a resolver os problemas que aparecem nas aldeias, por exemplo, resolvendo disputas, fazendo justiça quando alguém foi prejudicado, etc.”

Depois de cada guerrilheiro ter falado, uma secretária local do Partido diz-me como aderiu à Guerra Popular. Diz:

“Eu participava no movimento estudantil e casei-me em 1994. Após o início da Guerra Popular o meu companheiro juntou-se à Guerra Popular e em Maio de 1997 foi morto, deixando-me com o nosso filho de três anos. Após o casamento, trabalhei como presidente da associação de mulheres do distrito. Em Maio passado prenderam-me. Quando mataram o meu companheiro, jurei ser uma seguidora da sua via e que empunharia a arma que lhe tinha caído dos braços. Agora as autoridades continuam à minha procura e eu fui obrigada a entrar para a clandestinidade.”

Na sessão cultural ela tinha apelado às mulheres, em particular, para se juntarem à Guerra Popular. Quando lhe perguntei por que tinha uma opinião tão forte sobre o papel das mulheres na Revolução, respondeu:

“Esta sociedade diz que as mulheres devem trabalhar de acordo com os desejos dos seus pais, dos seus maridos e dos seus filhos. É assim que a sociedade trata as mulheres. O capitalismo explora as mulheres e não lhes dá nenhuma igualdade de direitos, na propriedade ou noutros aspectos da sociedade. Este problema não se deve a certos homens ou grupos de pessoas, mas a sua raiz é o governo reaccionário lacaio dos expansionistas e dos imperialistas. É claro que não podemos ter qualquer êxito na nossa luta, resolver os nossos problemas e libertarmo-nos de todas as formas de exploração e opressão, enquanto existirem este sistema e estes governos reaccionários. E só os poderemos derrubar pela força das armas e por isso é que fazemos a Guerra Popular. Então poderemos ter novas formas de poder popular onde haverá igualdade de direitos para a mulher.”

São quase horas de a brigada partir e outro secretário local do Partido, um jovem, diz algumas palavras finais: “Em nome do Partido e das massas empenhadas na Guerra Popular, o nosso sincero obrigado por ter viajado uma tão grande distância para saber da nossa luta. Nós exprimimos a nossa solidariedade com os objectivos do Partido Comunista Revolucionário dos EUA e esperamos que a mensagem da nossa luta venha a ser conhecida por pessoas do mundo inteiro.”

São agora 3:00 da manhã e a brigada ainda tem uma viagem de duas horas de caminhada pelo campo em escuridão total. Antes de partirem, o líder da brigada diz que gostariam de me oferecer um presente. Os guerrilheiros levantam-se, agarram as suas espingardas e formam na pequena área do quarto junto às camas. Alguém dá um comando e eles imobilizam-se e põem as suas espingardas para o lado, com os olhos fixos. O líder da brigada avança e eu salto da cama e dou dois passos na sua direcção. Ele estende os seus braços e eu vejo que ele está a segurar um khukhuri — uma faca de lâmina afiada e curva dos camponeses no Nepal. Está agora a ser usada pelos guerrilheiros contra os inimigos do povo. Entrega-mo e diz: “Nós gostaríamos de lhe oferecer isto, é o nosso símbolo de guerra”. Estou muito comovida, mas consigo agarrá-lo e dizer algumas palavras sobre a solidariedade entre as massas oprimidas e revolucionários dos EUA e as massas populares que levam a cabo a Guerra Popular no Nepal. Não poderemos viajar com esta arma, pelo que alguém a guarda, com a promessa de a fazer chegar a Katmandu onde eu a posso levantar.

A brigada tem de partir e eles põem-se em fila para se despedirem de Shiva e de mim. Cada guerrilheiro toma a sua vez e avança para me dar uma saudação revolucionária — “lal salaam”: começam por elevar a sua mão direita com um punho forte, depois esticam ambos os punhos para a frente, e avançam com as duas mãos para me dar um forte aperto de mão. Como todos os camaradas que encontrei até agora, apertam as minhas duas mãos com as suas duas mãos num sólido aperto que transpira confiança, força e seriedade absolutas. Penso, à medida que cada um destes jovens lutadores se despede, que todos os dias eles arriscam as suas jovens vidas na Guerra Popular. São muito destemidos e confiantes na justiça da sua causa e na sua vitória.

A brigada abandona o quarto rapidamente e nem os consigo ouvir à medida que saem e silenciosamente deixam a aldeia. De repente o quarto fica vazio, mais escuro, só com uma pequena vela junto às nossas camas. Pisco os olhos algumas vezes e observo o espaço vazio que, apenas alguns minutos antes, estava cheio de uniformes verdes. Digo a mim própria: “Sim, aconteceu mesmo, passei as últimas horas a falar com o Exército Popular.”

Já passa das 3:00 da manhã e temos de deixar a aldeia de manhã cedo, pelo que apagamos a última vela, deitamo-nos e tentamos adormecer.

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PÁGINAS do DIÁRIO:

Domingo, 21 de Março

Ontem, um artigo de primeira página do Kathmandu Post tinha o título: “7 maoistas mortos num tiroteio”. De acordo com o breve artigo, o incidente ocorrera em Banepa. Li o seguinte, tendo consciência que muitas notícias da Guerra Popular não são muito fidedignas: “Os maoistas morreram queimados quando a bomba que lançaram à polícia explodiu entre eles depois de bater na parede da casa em que se encontravam. Os alegados maoistas lançaram a bomba depois de a polícia lhes ter dito para se renderem. De acordo com a polícia, o tiroteio continuou durante duas horas...”

Desde que estou no Nepal, há notícias de maoistas mortos pela polícia pelo menos duas vezes por semana, bem como notícias de polícias ou elementos nefastos mortos ou feridos pelos maoistas. Cada vez que leio estas notícias fico interessada em saber onde aconteceram, pelo que, esta manhã, vou buscar o meu mapa e procuro ver onde é Banepa. De facto, é mesmo junto à estrada que nós tínhamos tomado de Katmandu para a Região Leste. Não pensei muito mais nisso durante o dia — embora cada vez que leio sobre a morte de heróicos camaradas a sua memória ocupa um canto do meu pensamento durante todo o dia. E quando passo junto aos quiosques de jornais e releio as manchetes, fica sempre uma dor recorrente no meu coração por causa destes mártires.

À noite vem um amigo que tinha estado connosco na nossa viagem ao leste. Tinha lá voltado e tinha falado com as pessoas sobre o incidente de Banepa. Diz-nos que as pessoas mortas no incidente eram da brigada cultural com que nos encontráramos.

Fico aturdida com as notícias e fecho imediatamente os olhos a tentar lembrar-me das suas caras. A meio da noite, tínhamo-nos juntado sobre a cama, com as pernas cruzadas e os joelhos a tocarem-se. As suas sombras tinham assumido enormes proporções nas paredes do quarto iluminado pelas velas. Concentro-me em relembrar as caras das guerrilheiras: jovens de 15 e 16 anos que tinham deixado as suas aldeias após verem as suas famílias e amigos presos, espancados, violados pela polícia — os seus pais, tios, mães obrigados a entrar na clandestinidade antes delas. Pouco tempo antes tinham partilhado comigo as suas histórias de guerra. Agora sete deles — quatro homens e três mulheres — estavam mortos por se terem recusado a render à polícia. De um modo mais profundo, a questão dos mártires afecta-me, política e emocionalmente. E recordo que uma mulher camponesa me dissera: “A morte dos nossos camaradas não pára a Guerra Popular... o sangue dos mártires é o combustível da Revolução”.

Quinta-feira, 25 de Março

Hoje soube um pouco mais sobre o incidente de Banepa onde foram mortos os sete guerrilheiros da primeira brigada que nós conhecemos. O Kathmandu Post tinha noticiado que tinham morrido depois de lançarem uma bomba à polícia, mas isso é mentira. Uns amigos dizem-me que eles foram cercados e que se recusaram a render e que houve tiros de um lado e do outro. Então a polícia pegou fogo à casa. E quando os camaradas foram obrigados a sair da casa em chamas, foram abatidos a sangue-frio. Os meus amigos explicam-me que o assassinato destes camaradas fora causado pela delação e informações de um membro do UML que concorria às eleições. Aparentemente, isso é típico do papel traidor que desempenha hoje o UML, ajudando directamente o governo a perseguir e a matar os revolucionários.

À tarde alguém trouxe-me fotografias dos mártires assassinados em Banepa. Um deles era a jovem de 15 anos, a que tinha uma cara doce e que se sentara mesmo ao meu lado na cama, naquela noite. Os seus olhos tinham um brilho intenso, mesmo à fraca luz da vela. Tinha ouvido destes jovens as minhas primeiras notas das canções revolucionárias do Nepal. Foram os primeiros a ensinar-me a fazer o “lal salaam”. Tinham-me dado as minhas primeiras entrevistas frente-a-frente a membros do Exército Popular. Estes jovens camaradas viveram vidas tão pequenas, mas deram tanto ao povo. Agora sei que serão lembrados e acarinhados nos corações e nos pensamentos das massas. Eu certamente nunca os esquecerei.

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