Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 5 de Março de 2007, aworldtowinns.co.uk
O petróleo, o gás e o reaparecimento da Rússia como potência mundial:
II – A nova estratégia económica da Rússia
Ao impor o novo sistema de preços da energia, Putin está a anunciar que as regras do jogo mudaram. De agora em diante, toda a gente terá que pagar o preço de mercado da energia – o qual, por sua vez, embora momentaneamente um pouco baixo, é substancialmente mais elevado que o dos últimos anos. Um aspecto do que a Rússia está a fazer é adoptar mais integralmente a chamada “economia de mercado livre” a nível internacional. Isto permitir-lhe-á entrar no jogo com os EUA e os outros imperialistas ocidentais que se baseiam nas mesmas regras.
Referindo-se ao recente conflito com a Bielorrússia, Vyacheslav Nikonov, director da Fundação Politika, um instituto de investigação com ligações íntimas ao Kremlin, disse: “Ainda estamos a libertar-nos de algum do legado da União Soviética. Os preços estão a subir para toda a gente.” E acrescentou: “Não sei por que é que a Bielorrússia deveria ser uma excepção.” (International Herald Tribune, 12 de Janeiro de 2007).
Em vez de darem as boas-vindas à nova abordagem da Rússia, mais orientada para o mercado livre, os líderes políticos dos EUA atacaram-na. O influente senador norte-americano Richard Lugar descreveu as políticas de energia da Rússia em relação às antigas repúblicas soviéticas e aos países da Europa de Leste como “chantagem geoestratégica” (The Guardian, 1 de Janeiro de 2007). Parece que estão determinados a criticar a Rússia independentemente da abordagem que ela tenha. O que interessa não é a “liberdade” do mercado, mas os interesses imperialistas rivais em jogo. O Ministro russo da Energia, Viktor Khristenko, respondeu: “Quando um país tem um preço mais barato comparado com os consumidores europeus, a Rússia é acusada de o subornar. Mas quando queremos mudar para os preços de mercado, somos acusados de chantagem.” (IHT, 9 de Janeiro de 2007). Putin comentou num discurso em Moscovo: “O princípio de que ‘Eu posso fazê-lo, mas vocês não tentem fazê-lo’ é completamente inaceitável” (Guardian, 30 de Junho de 2006).
O alvo dos EUA, claro, não é o regresso da Rússia à “economia de mercado” mas a nova estratégia da Rússia, não porque seja imperialista mas porque está ao serviço de interesses imperialistas que colidem claramente com os próprios interesses dos Estados Unidos.
Putin mostrou que a Rússia está disposta a pôr em risco as suas relações com os seus fantoches para aplicar estas novas regras. Mas isso não significa necessariamente que a sua influência sobre países como a Bielorrússia fique debilitada – pode acontecer que eles tenham que pagar esse preço porque não têm outra alternativa. Mas, ao mesmo tempo que insiste em cobrar preços de “mercado livre”, a Rússia, como qualquer empresa ou potência imperialista, espera assegurar o monopólio em mercados estratégicos de energia.
De facto, um importante aspecto da economia que Putin e a classe dominante russa estão a construir é a centralidade do petróleo, do gás e de outros recursos energéticos. A Rússia tem as maiores reservas de gás natural do mundo e também procura ser o segundo maior produtor de petróleo depois da Arábia Saudita. Essas grandes reservas e enorme capacidade de produção, em conjunto com uma vasta rede de gasodutos e oleodutos – alguns já a funcionar, outros em obras ou em fase de planeamento – tornam a Rússia num interveniente potencialmente muito poderoso no mercado mundial de petróleo e gás.
A Rússia está consciente da importância económica e política desse bem estratégico e está a investir enormemente nesse sector. Não é segredo que um dos aspectos estratégicos mais importantes do Médio Oriente são as suas reservas petrolíferas. O controlo da energia tornou-se num importante factor da disputa imperialista nas últimas décadas. A nova orientação da Rússia de mais produção, exportação e controlo da energia para o mundo e sobretudo para a Europa Ocidental faz sentido e dar-lhe-ia mais influência sobre a situação mundial. Isto também está relacionado com a lição tirada da antiga União Soviética sobre a necessidade de desenvolver uma base económica capaz de sustentar as despesas militares necessárias ao envolvimento numa corrida ao armamento.
Por isso, a Rússia planeia usar as suas enormes reservas naturais de gás e petróleo, bem como a sua posição geoestratégica que lhe dá uma vantagem como potencial fornecedor da maior parte da Eurásia, para atingir três objectivos: como fonte de capital para alargar a sua base económica no seu todo; como margem de manobra ao serviço dos seus objectivos internacionais que incluem o restabelecimento de pelo menos parte do seu antigo império; e como forma de fortalecer a sua posição e influenciar o mundo em geral e possivelmente formar um bloco imperialista em união com a Europa ou parte da Europa.
(Continua em: III – Os esforços de Putin nos últimos anos)
Série: O petróleo, o gás e o reaparecimento da Rússia como potência mundial
I – Um olhar mais alargado sobre a disputa Rússia-Bielorrússia
II – A nova estratégia económica da Rússia
III – Os esforços de Putin nos últimos anos
IV - O gasoduto do Norte da Europa e o seu papel
V – Conclusão