Publicado originalmente no sítio do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (a 2 de janeiro de 2024 em inglês e a 4 de janeiro de 2024 em castelhano).

Se não estás a protestar, é ISTO o que estás a apoiar

“Estamos a viver em condições que nunca em toda a minha vida eu poderia ter imaginado que fosse possível.” – Uma palestina em Gaza

Se não estás a protestar e a denunciar ativamente contra a guerra de Israel em Gaza, e contra o próprio governo norte-americano por armar, financiar e apoiar essa guerra, EIS o que ESTÁS a apoiar:

Estás a apoiar os bombardeamentos e disparos indiscriminados contra civis. Israel alega ter apenas como alvo o grupo fundamentalista islâmico reacionário Hamas e os combatentes desse grupo. Isso é mentira. Cidades, aldeias, hospitais, campos de refugiados, edifícios de apartamentos, terrenos agrícolas e até praias têm estado na mira de bombas vindas dos céus e de tanques de guerra e escavadoras no solo, que atingiram mais de 22 mil alvos. Nas primeiras seis semanas da guerra, Israel usou rotineiramente as suas mais devastadoras bombas de 900 quilos, incluindo em 208 zonas que tinha designado como seguras para os civis. Estas bombas têm a capacidade de matar qualquer pessoa num raio de 900 metros!¹

Estás a apoiar uma chacina em massa. Como resultado, pelo menos 21.672 palestinos foram assassinados, incluindo 8.800 crianças e 6.300 mulheres. Mais de 7 mil pessoas estão desaparecidas e presumidas mortas, enterradas sob os escombros. Famílias inteiras foram eliminadas: “As primeiras 88 pessoas da lista (de mortos compilada pelas autoridades de saúde) eram todas da família estendida al-Astal. As seguintes 72 eram Hassounas. As seguintes 65 al-Najjars. As seguintes 60 al-Masrys. As seguintes 49 al-Kurds.”²

Estás a apoiar que mais de 50 mil pessoas, incluindo mulheres e crianças, tenham ficado feridas e estropiadas. As bombas, mísseis e balas fabricadas nos EUA e usadas por Israel também feriram mais de 56.165 pessoas, incluindo pelo menos 8.663 crianças e 6.327 mulheres. Estas pessoas são na sua imensa maioria civis!³

Estás a apoiar um genocídio — o visar e o deslocamento de toda uma população. Todos os habitantes de Gaza estão a ser submetidos a uma campanha terrorista de bombardeamentos e ataques indiscriminados que danificaram ou destruíram 313 mil unidades residenciais (mais de metade das casas de Gaza). Mais de dois milhões de pessoas (mais de 85 % dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza) foram expulsas das suas casas. Isto é um crime de guerra.⁴

Estás a apoiar a expulsão de pessoas para o sul do território, para depois aí serem bombardeadas. Israel exigiu às pessoas no norte de Gaza que evacuassem para o sul ou seriam visadas, prometendo-lhes que aí estariam seguras. Depois bombardeou e disparou sobre elas. Mais de 1,7 milhões de deslocados estão registados em abrigos no sul — os quais foram alvo de ataques israelitas. Várias centenas de milhares de pessoas estão a dormir ao longo das estradas e em espaços abertos, por falta de lugares nos abrigos. Em média, há uma casa de banho partilhada por quase 500 pessoas.⁵

Estás a apoiar a destruição da agricultura e da produção de alimentos. Israel bloqueou a entrada em Gaza de alimentos, água, combustíveis e medicamentos. Ao mesmo tempo, está a arrasar e a destruir deliberadamente quintas e terrenos agrícolas, transformando “terras agrícolas verdes e luxuriantes em baldios estéreis.” Também bombardeou, atingiu a tiro ou destruiu “padarias, moinhos de trigo e redes hídricas e de saneamento.”⁶

Estás a apoiar o uso da fome como arma de guerra. Segundo o Programa Alimentar Mundial, 2,2 milhões de pessoas em Gaza estão em situação de crise ou em níveis piores de insegurança alimentar aguda e 576.600 pessoas enfrentam a fome e a inanição catastróficas. A ONU revelou que metade dos habitantes de Gaza (mais de um milhão de pessoas!) corre o risco de morrer de fome. Mais de 90 % dos palestinos em Gaza habitualmente passam todo o dia sem ingerir qualquer alimento.⁷

Estás a apoiar a criação deliberada de epidemias de sede e doenças. A organização Human Rights Watch relatou que “97 % das águas subterrâneas de Gaza estão impróprias para consumo humano após a destruição das tubagens e das estacões de tratamento, a recusa da ajuda humanitária e o colapso do sistema de saúde, submetido a incessantes bombardeamentos, o que tem levado a uma desidratação em massa e a doenças contagiosas.” A falta de água potável significa que quase meio milhão de pessoas em Gaza contraiu doenças infecciosas. Um ex-oficial militar israelita celebrou este desenvolvimento, escrevendo que as epidemias iriam “tornar mais próxima a vitória”.⁸

Estás a apoiar a destruição do sistema de saúde de Gaza. Não restam quase nenhuns cuidados de saúde em Gaza, mesmo os mais rudimentares. Israel tem atacado sistematicamente os hospitais de Gaza a pretexto da mentira de que são centros de comando do Hamas. Danificou ou destruiu 26 dos 35 hospitais de Gaza, de tal modo que deixaram de funcionar. Devido ao bloqueio israelita dos suprimentos médicos, os que restam mal conseguem funcionar, tendo apenas disponíveis gaze e desinfetantes, como disse um médico.⁹

Estás a apoiar a criação por parte de Israel de um “cemitério de crianças”. O número de crianças assassinadas é chocante — e genocida. Mesmo antes desta última guerra, 80 % das crianças em Gaza viveram situações de angústia emocional e metade delas pensou em se suicidar. Agora as coisas estão muito piores para as crianças. A UNICEF relatou que cerca de 8.600 crianças palestinas foram feridas. Mil crianças tiveram membros amputados — sem anestesia devido ao bloqueio e à destruição israelitas do sistema de saúde de Gaza. Depois, há o enorme trauma psicológico: “As nossas crianças estão num estado de medo inimaginável”, disse uma mãe. “É uma situação aterradora em todos os sentidos da palavra.”¹⁰

Estás a apoiar assassinatos a sangue-frio. Há relatos de palestinos detidos em rusgas que depois são assassinados em execuções sumárias. Há relatos de, no exterior do Hospital Kamal Adwan, no norte de Gaza, as forças israelitas terem destruído com escavadoras as tendas onde estavam abrigados palestinos deslocados, esmagando-os até à morte.¹¹

Estás a apoiar que médicos, jornalistas, professores e outras pessoas sejam constituídas alvos. Israel assassinou médicos, professores, administradores universitários, cientistas, jornalistas e muitas mais pessoas. “Mais jornalistas foram mortos nas 12 semanas da guerra de Gaza do que alguma vez foram mortos num único país durante um ano inteiro”, segundo o Comité para a Proteção dos Jornalistas, o qual lista pelo menos 69 jornalistas e trabalhadores da comunicação social assassinados desde 7 de outubro de 2023. Este Comité também alertou que os militares israelitas não visam apenas os jornalistas, mas também as famílias deles.¹²

Tudo isto são evidentes crimes de guerra. A tua consciência fica bem com tudo isto?

NOTAS: