Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 14 de Setembro de 2015, aworldtowinns.co.uk
Ao mesmo tempo que os políticos da União Europeia manobravam e discutiam a forma de manter afastadas as centenas de milhares de pessoas que procuram refúgio, ou de as usar politicamente, manifestantes em todo o continente e no Reino Unido marcharam em solidariedade para dar as boas-vindas aos refugiados. Nalguns casos, eles apoiaram os seus governos, vendo-os como estando a reagir de uma forma humana. Noutros, opuseram-se aos esforços abertamente anti-imigrantes dos seus governos e aos monstruosos argumentos que elas têm usado para os justificar.
As primeiras manifestações ocorreram a 5 de Setembro em Paris e noutras cidades francesas, em protesto contra a recusa do governo socialista de abrir as fronteiras do país. Em Gotemburgo, a segunda maior cidade da Suécia, 10 mil pessoas participaram numa concentração a 9 de Setembro para proclamar que “Os Refugiados São Bem-Vindos”. A 5 de Setembro, uma concentração de menor dimensão em Estocolmo teve uma alocução do primeiro-ministro do país e, no fim-de-semana seguinte, muitos milhares de pessoas saíram à rua para saudar os refugiados que chegam à Suécia através da Dinamarca. Em Aahrus, a segunda maior cidade da Dinamarca, milhares de pessoas enfrentaram uma forte chuvada para tomarem uma posição contra a postura de linha dura anti-imigrantes do governo. Uma concentração mais pequena teve lugar em Copenhaga. Munique e outras cidades alemãs viram inúmeras expressões de apoio aos estrangeiros recém-chegados, incluindo em jogos de futebol em Munique e Hamburgo.
No sábado, 12 de Setembro, houve manifestações a exigir que as fronteiras fossem abertas, em Madrid, Lisboa, Cracóvia (Polónia) e Roménia. Várias centenas de pessoas saíram à rua em Budapeste contra o governo húngaro.
No Reino Unido, cujo governo se colocou deliberadamente na linha da frente da histeria contra os estrangeiros, foram organizadas manifestações em inúmeras cidades em toda a Inglaterra (entre as quais Brighton, Manchester e York), na Escócia (Glasgow), mo País de Gales (Cardiff) e na Irlanda do Norte (Belfast). Numa manifestação em Londres, cuja dimensão excedeu todas as expectativas, tanto de pessoas favoráveis como de inimigos, quase 100 mil pessoas inundaram as ruas e fizeram parar o centro da cidade durante várias horas, à medida que os manifestantes marchavam para a Downing Street, residência do primeiro-ministro, gritando: “Cameron – Que Vergonha!”
Um grupo de jovens gritou: “David Cameron, hey, hey, quantas crianças afogaste hoje”, evocando a morte de Alan Kurdi, de três anos, que se afogou juntamente com o irmão e a mãe quando a família tentava atravessar o Mediterrâneo. Cameron é conhecido por defender que os imigrantes não deveriam ser salvos no mar porque isso iria encorajar outros a fazerem a jornada. Um cartaz de fabrico caseiro erguido por um anarquista proclamava: “Hey Dave, nós somos a tua praga”, uma resposta ao discurso de Cameron em que ele se referiu aos refugiados e migrantes como uma “praga”, como se eles fossem gafanhotos.
A multidão diversificada incluiu pessoas de todo o tipo, mulheres grávidas, famílias com bebés pequenos, mães solteiras, homens e mulheres em cadeiras de rodas, de muito jovens a idosos. Participaram pessoas britânicas e não-britânicas, entre as quais milhares de refugiados actuais e ex-refugiados.
A manifestação foi organizada sobretudo por coligações e organizações antiguerra e anti-racistas, bem como por grupos de apoio aos refugiados, com a palavra de ordem oficial “Os Refugiados São Bem-Vindos Aqui”, uma deliberada e aguçada censura à hostilidade premeditada de Cameron para com os recém-chegados. Muitos dos grupos e indivíduos participantes vieram com os seus próprios cartazes manuscritos e com palavras de ordem como “Não às fronteiras”, “Esmaguem as fronteiras” e “Sejam humanos”.
Um admirável número de pessoas influenciadas pelo recente êxodo desesperado adoptou posições mais radicais, alargando a sua oposição para incluir não só as políticas de imigração do governo conservador mas de uma forma mais ampla as fontes do sofrimento das pessoas que foram forçadas a fugir do país delas. Gritaram palavras de ordem como “Não bombardeiem a Síria”, “Eles não são refugiados, são vítimas das nossas bombas” e “Eles não vêm à procura dos nossos benefícios, estão a fugir das nossas bombas”. Isto foi especialmente apropriado num momento em que Cameron anunciou que a resposta do governo dele à crise dos refugiados sírios, da qual o Reino Unido tem uma grande responsabilidade após um século de interferência imperialista britânica no Médio Oriente, agora uma vez mais acelerada, iria ser incrementar o bombardeamento da Síria. Quaisquer que sejam os resultados da actual situação síria, a Grã-Bretanha quer ver defendidos os seus próprios interesses.
Na manifestação havia correntes contraditórias, incluindo entre os sírios e muitas outras pessoas originarias do Médio Oriente. Por exemplo, um pequeno grupo levava uma grande faixa que pedia ao Reino Unido e a outros países imperialistas que usassem os seus exércitos para que “Parem a máquina assassina de Assad”. Embora tenham sido ignorados pela maioria das pessoas, à excepção de meios de comunicação social como a BBC, isto mostrou a crucial necessidade de claridade em relação às causas fundamentais da guerra civil síria no funcionamento do sistema imperialista, bem como nas políticas dos governos das grandes potências específicas. Havia um problema geral de compreensão da forma como os ataques imperialistas alimentam o fundamentalismo islâmico, na Síria e noutros lugares, e mais geralmente da dinâmica de conflito e simultaneamente de apoio mútuo entre o imperialismo e o fundamentalismo islâmico.
O maior desafio que enfrentam aqueles que querem uma genuína mudança radical, incluindo em relação à situação dos milhões de refugiados no mundo, também ficou reflectido no protesto. Uma campanha de um mês pela liderança do Partido Trabalhista chegou ao fim no sábado, com os resultados a serem anunciados pouco antes do início da manifestação. O vencedor foi Jeremy Corbyn, que é amplamente visto como um parlamentar trabalhista veterano da “esquerda dura”, com um programa que segue aproximadamente as linhas do Syriza na Grécia ou do Podemos em Espanha. Havia uma celebração eufórica entre um grande sector da manifestação, e o primeiro acto de Corbyn como novo líder do Partido Trabalhista foi fazer uma alocução à manifestação.
O que é que anuncia a vitória de Corbyn? Será realmente possível conceber uma solução para as crises que convulsionam o mundo vinda do Partido Trabalhista, com 100 anos de serviço inflexível e provado em nome do imperialismo britânico, incluindo liderar as invasões do Afeganistão e do Iraque com Tony Blair – um facto talvez ironicamente reconhecido pelo manifestante cujo cartaz dizia: “Nenhum ser humano é ilegal – excepto Tony Blair”.
As pessoas mostraram uma vez mais que há um grande potencial para a solidariedade internacional e o internacionalismo, mas também que a luta tem de continuar a aprofundar-se ainda mais e a fortalecer esta solidariedade através da denúncia das classes dominantes, das mentiras e intrigas delas e do próprio sistema deles.