Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 13 de Setembro de 2010, aworldtowinns.co.uk

Kissinger: Estadista ou assassino? Perguntem aos chilenos

A 10 de Setembro em Genebra, Henry Kissinger foi recebido com apupos de “assassino” por mais de 100 manifestantes, na sua maioria chilenos mas também argentinos. O homem que tornou possível o golpe militar de 11 de Setembro de 1973 no Chile, Kissinger tinha ido à Suíça fazer um destacado discurso sobre “As mudanças no poder e a segurança” a uma reunião do Instituto Internacional para os Estudos Estratégicos.

Enquanto Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado dos Presidentes norte-americanos Richard Nixon e Gerald Ford, a lista dos crimes de Kissinger foi extensa. Embora lhe tenha sido atribuído o Prémio Nobel da Paz por ter negociado o fim da guerra do Vietname, ele foi o principal arquitecto dessa guerra e um defensor de longa data da utilização das tropas e do poder aéreo norte-americano para forçar o Vietname a ceder a um acordo político aceitável para os EUA. Para atingir esse objectivo, defendeu a expansão da guerra a todo o Sudeste Asiático. Esteve por trás do bombardeamento que destruiu grande parte do Camboja (uma campanha mantida em segredo de um público nos EUA cada vez mais contra a guerra) e da invasão norte-americana do Camboja em 1970 que despoletou um alargamento sem precedentes do movimento contra a guerra.

O outro crime a que o seu nome ficará para sempre ligado é o do derrube organizado pela CIA do governo eleito de Salvador Allende no Chile. Nessa altura, ele disse aos seus colegas que o possível aparecimento de um desafio por parte da então União Soviética ao domínio norte-americano na América Latina era “demasiado importante” para deixarem a decisão os chilenos. “Não vejo por que temos que ficar parados e a assistir a um país a tornar-se comunista devido à irresponsabilidade do seu povo”.

Sob a direcção de Kissinger, os EUA tentaram bloquear a ascensão de Allende à presidência e, depois, quando isso falhou, iniciaram três anos de sabotagem económica e conspirações políticas até ao momento em que o exército chileno bombardeou e atacou violentamente o palácio presidencial e derrubou Allende. A junta militar encabeçada pelo General Augusto Pinochet perseguiu e assassinou milhares de apoiantes de Allende e outras pessoas. O brutal regime de Pinochet, apoiado pelos EUA, durou durante quase duas décadas.

Kissinger apoiou um projecto secreto chamado Operação Condor que coordenou os esforços das juntas militares apoiadas pelos EUA na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai para assassinarem suspeitos de serem opositores ao nível nacional, continental e internacional.

Em Abril passado, numa fuga de informações surgiu um documento do Departamento de Estado norte-americano que revelava que Kissinger bloqueou pessoalmente uma carta do Departamento de Estado dos EUA para o governo de Pinochet a adverti-lo que os EUA não tolerariam assassinatos políticos. Cinco dias depois, o regime de Pinochet organizou o assassinato com um carro-bomba de Orlando Letelier, ex-embaixador de Allende nos EUA e proeminente figura anti-Pinochet, e do seu adjunto Ronni Karpen Moffitt, em Washington, DC.

Estes crimes são conhecidos publicamente, tendo sido revelados por documentos divulgados em fugas de informações e mesmo por uma investigação do Congresso dos EUA (ver a documentação listada nos sítios Wikipédia e Arquivos de Segurança Nacional). Muitos dos actos de Kissinger foram ilegais segundo as leis do país cujo governo ele ajudou a governar e também segundo o direito internacional. Embora tenham sido abertos processos judiciais contra ele em vários países por familiares das suas vítimas, um governo norte-americano a seguir ao outro têm colocado todo o seu peso por trás dele. A protecção a Kissinger de uma possível acusação como criminoso de guerra é uma das razões por que ainda hoje, com a Presidência de Barack Obama, os EUA continuam a recusar-se a assinar a convenção que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional de Haia.

A ida de Kissinger a essa conferência em Genebra foi equivalente a um endosso por parte de muitos dos mais poderosos líderes políticos, especialistas em política externa e fazedores de opinião do mundo. Em vez de condenarem os seus crimes e de o levarem à justiça, eles procuram os seus conselhos sobre como oprimirem ainda mais os povos do mundo. A Suíça deu as boas-vindas a este homem que é responsável por milhares de assassinatos e pela destruição de milhões de vidas. Os chilenos da Suíça não o fizeram.

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