Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 17 de novembro de 2018, aworldtowinns.co.uk

França:
Revendo o legado de Pétain, colaborador nazi durante a II Guerra Mundial

Durante a semana anterior à comemoração da I Guerra Mundial imperialista em França, surgiu uma acesa controvérsia quando o presidente francês Macron procurou glorificar o homem que chefiou o governo francês durante a ocupação nazi de França na II Guerra Mundial.

Tal como a I Guerra Mundial, a II Guerra Mundial surgiu da rivalidade entre as grandes potências imperialistas e resultou numa reconfiguração do sistema imperialista global e da dominação neocolonial, particularmente na Ásia, no Médio Oriente e em África, e também deu origem a lutas anticoloniais sem precedentes e a libertações nacionais.

Antes do fim de semana, Macron anunciou que, em homenagem aos generais franceses na I Guerra Mundial, era legítimo considerar esse marechal francês, Philippe Pétain, um “grande soldado” de França, separando-o do papel de Pétain na II Guerra Mundial. Este é o mesmo Pétain que foi julgado em 1945 por ter colaborado com os nazis como chefe do regime de Vichy em França e por ter deportado ativamente os judeus de França para os campos de concentração alemães. Na I Guerra Mundial, Pétain foi um chefe militar chave numa sangrenta guerra criminosa. Ele é mais elogiado pelo papel dele na derrota da Alemanha como chefe do exército francês na batalha de Verdun, onde morreram pelo menos 300 mil homens e outros 400 mil ficaram feridos ou deficientes. Quando os soldados franceses nas trincheiras iniciaram uma série de motins, exigindo o fim da guerra, Pétain ordenou que alguns deles fossem publicamente amarrados a postes e abatidos como exemplo para os outros que se pudessem recusar a combater. Sete anos depois, Pétain foi enviado para inverter o rumo de uma guerra entre os ocupantes coloniais espanhóis e os rebeldes berberes da região de Rif, em Marrocos, levando consigo um grande número de tropas francesas e armas químicas para esmagar uma importante rebelião contra o controlo estrangeiro, e aí fez amizade com o dirigente fascista espanhol Franco.

O Pétain da I Guerra Mundial não foi menos representante da classe dominante capitalista francesa encharcada em sangue do que o Pétain cujo regime, durante a II Guerra Mundial, tornou o “pétainismo” num sinónimo de fascismo e da própria participação de França no genocídio dos judeus. Com esta tentativa reacionária de distinguir entre os “dois Pétain”, Macron legitimou o principal herói dos fascistas em França hoje, provocando um clamor generalizado, mas longe de unânime.

Por um lado, hoje Macron defende a França tal como ela tem sido, uma democracia parlamentar que continua a fingir representar a “liberdade, igualdade, fraternidade”, em oposição à direita, à extrema-direita e ao partido fascista Frente Nacional que está a crescer nas sondagens eleitorais e que quer restaurar um fascismo católico patriarcal violentamente guiado pelos mesmos valores nacionalistas virulentos que terminaram em genocídio sob Pétain. Por outro lado, embora tendo atacado durante o fim de semana o “nacionalismo”, e em particular o de Trump, mas não só, Macron tenta louvar o “patriotismo” em casa — mas este tem os seus próprios valores chauvinistas com uma sórdida política anti-imigrantes e novas políticas repressivas que coincidem e incentivam as da extrema-direita. Macron proibiu recentemente o navio Aquarius de aportar em Marselha, ao mesmo tempo que milhares de pessoas se manifestavam para que os imigrantes pudessem entrar no país. Embora Macron se oponha ao discurso de ódio aberto do dirigente fascista italiano Salvini, a França tem, tal como a Itália, mostrado o quão pouco valor de facto têm as vidas dos imigrantes neste sistema e tem apoiado financeiramente a Guarda Costeira líbia e tomado outras medidas para impedir que os imigrantes atravessem o Mediterrâneo até à Europa.

O protesto de 11 de novembro em Paris contra Trump e os criminosos de guerra de hoje, em associação com tantas outras injustiças deste sistema, foi muito importante, mas não tão poderoso quanto precisa de ser dados os crimes colossais — e a guerras — que estão a ser cometidos pelos imperialistas no mundo hoje e a ameaça iminente de coisas muito piores. Não só esta oposição ao imperialismo e à ascensão do fascismo deve crescer em dimensão, como quanto mais ela se separar dos canais normais de se tentar melhorar a debilitada social-democracia de França, à qual as pessoas estão acostumadas e/ou a tentar fazer melhorias incrementais em relação às injustiças do sistema capitalista-imperialista no seu todo, maior será o impacto que esta oposição pode ter em toda a sociedade, com repercussões para além das fronteiras de França.

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