Da edição n.º 530, de 12 de fevereiro de 2018, do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA, http://revcom.us/a/530/michael-slate-interview-with-carl-dix-en.html (em inglês) ou http://revcom.us/a/530/la-entrevista-de-michael-slate-a-carl-dix-es.html (em castelhano).

 

Michael Slate entrevista Carl Dix:

Ataques aos imigrantes:
Mais um passo na consolidação do regime fascista

O texto que se segue é a transcrição de uma entrevista feita a Carl Dix a 2 de fevereiro de 2018 no The Michael Slate Show, emitido todas as semanas às 10:00, hora do Pacífico, na rádio de Los Angeles KPFK 90.7 FM, uma estação radiofónica da Rede Pacifica. O programa está disponível no arquivo da estação em http://archive.kpfk.org/.

O Revolution/Revolución/revcom.us reproduz as entrevistas do programa The Michael Slate Show para familiarizar os nossos leitores com os pontos de vista de importantes figuras das artes, teatro, música e literatura, ciência, desporto e política. Os pontos de vista expressos pelos entrevistados são, claro, deles próprios; e os entrevistados não são responsáveis pelos pontos de vista publicados pelo Revolution/Revolución/revcom.us.

Michael Slate: Quero dar as boas-vindas ao programa a Carl Dix. Carl é um representante do Partido Comunista Revolucionário. Também é um dos iniciadores da organização Recusar o Fascismo. Carl, bem-vindo ao programa.

Carl, participaste há algumas semanas numa manifestação relacionada com os haitianos que estão ameaçados de ser expulsos do país. Há uma grande expansão do ataque global aos imigrantes e era contra isso que as pessoas se estavam a manifestar – fala-nos disso.

Carl Dix: O Movimento 1804 Por Todos os Imigrantes constituiu-se na sequência imediata dos comentários de Donald Trump sobre os países “shithole” [latrinas, poços de merda]. As pessoas ficaram indignadas com isso, que se soma à remoção do estatuto de proteção temporária aos imigrantes haitianos, mas elas também estavam determinadas a chegar a outros imigrantes que estão sob ataque, e foi isso que trouxe as pessoas para a rua, que eram sobretudo haitianos mas também outras pessoas. Acho que foi a 19 de janeiro que nos manifestámos atravessando a Ponte de Brooklyn até Wall Street e nos concentrámos à frente de um edifício com o nome de Trump. As pessoas exprimiram amargura mas também expuseram realmente o veneno destes ataques aos imigrantes e eu estive entre os oradores nessa concentração.

Michael Slate: Uma das coisas importantes em relação a essa concentração é que há uma investida contra todos os tipos de imigrantes – pessoas de todos os cantos do mundo, das nações do mundo que são severamente oprimidas e desencorajadas pelo sistema imperialista. Há uma necessidade de as pessoas se erguerem e lutarem contra isto. E eu sei que isto é algo pelo qual tens vindo a lutar há muito tempo.

Carl Dix: Sim, porque, repara, as pessoas têm de olhar realmente para o que está a acontecer. Há uma intensificação da guerra aos imigrantes e sobretudo aos imigrantes negros e latino-americanos. As pessoas estão literalmente a ser empurradas ainda mais para as margens da sociedade. As pessoas vão trabalhar para o supermercado 7-Eleven, vão para a sua apresentação regular nos serviços de imigração, vão a tribunal por causa de infrações de trânsito, vão à escola, e em tudo isto ficam em risco de serem atacadas, detidas e a caminho de serem expulsas do país. Francamente, para algumas pessoas é a expulsão para países de que elas não têm nenhum conhecimento nem experiência porque foram trazidas para aqui quando eram crianças. Há a história de uma pessoa abrangida pelo DACA [Ação Diferida para os Chegados na Infância – um programa norte-americano que protegia os imigrantes que tinham chegado aos EUA ainda crianças] cujo estatuto DACA expirou anteontem – e que ontem foi apanhada pelos ICE [serviços de imigração] e que está agora a lutar contra a deportação.

Isto é o que está a acontecer e as pessoas têm de olhar para isto porque é um grande ataque por si só – nenhum ser humano deveria temer ser afastado da sua família, dos seus entes queridos, da sua vida, só pelo acaso de não ter nascido neste país. Isso não deveria ser uma ameaça a pairar sobre os seres humanos.

Mas uma outra coisa em relação a isto é que isto é um grande passo na consolidação do regime fascista neste país. E se olharmos para isto pelo que realmente é, podia ter sido extraído do manual de Adolf Hitler. Muitas pessoas estão a dizer: bem, Trump diz algumas coisas agradáveis e divulgou um plano que pode ser um compromisso exequível em relação à questão da imigração, e isso não é nada verdade. O que ele fez em relação a isto foi que foi muito longe na diabolização e criminalização dos imigrantes, indo contra a realidade de que os imigrantes cometem menos crimes que os outros cidadãos.

O que fez Hitler quando chegou ao poder? Ele começou de facto a propagar a mentira de que os judeus eram um elemento criminal. E teve de fazer isso porque a realidade era que os judeus cometiam menos crimes que os outros alemães. Mas essa diabolização e criminalização foi um passo inicial de um processo para levar a cabo um genocídio, e estes ataques aos imigrantes têm a mesma lógica genocida e uma orientação genocida e as pessoas precisam de entender isso. E não são só os imigrantes que precisam de ver isso. Toda a gente precisa de ver isso porque ninguém deveria estar disposto a viver numa sociedade em que se pode fazer este tipo de ataques contra as pessoas – e sobretudo contra pessoas que foram empurradas para aqui principalmente à procura de trabalho e de sobreviverem devido às formas como os EUA e outros países imperialista têm dominado e devastados as pátrias delas. As pessoas não deveriam ter de aceitar isto nem de lidar com isto.

Michael Slate: Há muito mais a acontecer aqui que impõe que as pessoas estejam contra isto – não só que os imigrantes estejam contra isto, mas que os não-imigrantes se ergam com eles e reconheçam que isto é de facto o produto de um regime fascista. E isto não é chamar nomes, isto é simplesmente a realidade e tem um significado para o que será o futuro do mundo.

Carl Dix: Sim, exatamente. Isto é algo que toda a gente precisa de abraçar; não só os imigrantes, mas toda a gente. Não podemos olhar para isto como, oh, eles estão ali a perseguir alguém, não a mim, porque também já vimos isto antes.

“Primeiro, levaram os comunistas, e eu não disse nada porque não era comunista. Depois, levaram os sindicalistas, e eu não disse nada porque não era sindicalista. Depois, levaram os judeus, e eu não disse nada porque não era judeu.” [Estou a parafrasear] a famosa citação do Pastor Niemöller que falava de se enfrentar um regime fascista que desmoralizou e criminalizou diferentes setores do povo, um a um, e assustou outros até à paralisia para se porem de lado enquanto o regime atacava e avançada com um rumo e uma lógica que acabaram por esmagar toda a gente.

Temos de responder a isto: estão a avançar primeiro contra os muçulmanos e os imigrantes? Não, não desta vez. Vocês têm-nos golpeado e nós erguemo-nos contra vocês. E isso tem de ser com os cidadãos, os não-cidadãos, os negros, os latino-americanos, os brancos – toda a gente tem de se erguer contra isto. É especialmente importante que as pessoas a quem eles estão a acenar para que aceitem esta conversa de um “acordo aceitável”. Este acordo é conciliar com a imposição do regime fascista. Isto é tudo o que podemos chamar a isto porque o que eles estão a tentar arranjar – é como se eles estivessem a sequestrar os Sonhadores [as pessoas abrangidas pelo DACA], com Trump a anular as proteções do DACA. É como se eles estivessem a sequestrá-los – e depois as exigências do resgate dele são 25 mil milhões de dólares para o muro [na fronteira com o México], para as novas políticas de intensificação do ataque aos outros imigrantes, que cortar até a imigração legal, e depois lança o comentário sobre os países “latrinas” e isto é “Tornar os Estados Unidos Brancos de Novo”.

O que está a acontecer juntamente com isto é uma imposição mais reforçada da supremacia branca e o regresso aos dias em que os negros podiam ser linchados, em que as mulheres negras podiam ser estupradas, em que não havia nenhuma proteção. Não se podia protestar contra isso; não se podia estar contra isso. Mas, repito, não é só para os negros. As pessoas têm de olhar para isto como um todo que está a começar e de se porem de pé agora. Foi por isso que a Recusar o Fascismo emitiu a seguinte declaração:

“PRIMEIRO, LEVARAM OS MUÇULMANOS, DEPOIS LEVARAM OS IMIGRANTES. Não desta vez... Ergam-se agora com os imigrantes. Este pesadelo tem de acabar: O regime de Trump e Pence tem de se ir embora!”

Porque todos estes ataques, e especialmente este aqui que é uma importante frente no avanço que o regime fascista está a fazer – isto tem de ser recebido com uma grande resistência determinada, uma vez mais, como eu estava a dizer, por parte de toda a gente, e não apenas por parte daqueles que estão a ser o alvo principal. Também tem de se tornar num bloco constitutivo da criação de um movimento que possa afastar este regime antes que seja demasiado tarde.

Michael Slate: Quando eu estava a preparar esta discussão, estava sempre a pensar sobre como eles estão a perseguir muito dos líderes do movimento imigrante e estão a perseguir as cidades santuário. Faz lembrar a limpeza étnica, as normas nazis e tudo o que está associado a isto. Pensei que o que disseste há pouco é extremamente importante. Quando se ouve o discurso de Trump sobre o Estado da União, ele diz muito sobe o momento atual e que tempo é este e o que isto pressagia para o futuro. Penso que é realmente importante – o que estavas a dizer sobre a necessidade de as pessoas se porem de pé e saírem às ruas para enfrentarem isto. De facto, tem de haver aqui uma rutura em que as pessoas reconheçam de facto o que está a acontecer. Quando falo em rutura, quero dizer uma abertura, uma fenda aberta, e as pessoas olharem para o que está realmente em jogo e para o que elas estão dispostas a fazer para se porem de pé contra isto.

Carl Dix: Sim, e parte disso é reconhecer aquilo contra o qual nós estamos de facto. Muitas pessoas estão a manter uma fé em que isto não pode realmente acontecer aqui devido às “verificações e equilíbrios”, porque há este legado de democracia. E o que elas se recusam a reconhecer é que isto já aconteceu aqui e está a acontecer neste preciso momento e as coisas estão a dirigir-se neste mesmo momento para uma situação muito, muito pior. Porque se querem dizer que o fascismo não pode acontecer aqui, como é que explicam a segregação Jim Crow [as leis de segregação racial] e o terror das turbas de linchamento? Como é que explicam o estupro de Recy Taylor, uma mulher negra que foi estuprada em grupo sob a ameaça de armas por seis homens brancos e que, quando se queixou, não obteve justiça nenhuma, não porque os estupradores o tenham negado mas porque os homens brancos tinham o poder e o privilégio de estuprar as mulheres negras à vontade, não só no tempo da escravatura mas também no tempo da segregação Jim Crow.

Não me digam que não pode acontecer aqui porque já aconteceu e está a acontecer neste preciso momento e pode ficar e irá ficar muito, muito pior se não reconhecermos isto pelo que isto é e nos pusermos de pé contra isto. E também não quero ouvir dizer que é uma luta de outras pessoas. Ontem à noite estive num programa em que as pessoas estavam a falar, a dizer: bem, nós, os negros, já passámos por isso. Reparem, os negros sofreram um abuso e um terror horrendos, mas isso não é uma razão para nos pormos de lado num regime fascista que avança para se consolidar. Em primeiro lugar, porque vocês não querem ver isto a ser infligido a outras pessoas mas também, em segundo lugar, é uma grande miopia dizer que já passámos por isto antes e portanto vamos ficando para trás porque assim podemos não ser o alvo número um ou número dois, mas quando o “latrina-em-chefe” fala em países “latrinas” ele não vai parar dizendo: vocês agora têm cidadania, sim, os vossos antepassados vieram desse país mas vocês agora são cidadãos, pelo que vocês estão bem. Vocês estão na lista, vocês vão ser a seguir e nós temos de não ficar à espera que isto chegue a nós, mas sim de nos pormos de pé e pararmos isto antes que possa devastar mais vidas.

É contra isso que nós estamos e é isto que precisamos de fazer. Digo isto como alguém que sabe que nenhum destes horrores começou com a “latrina” que está agora na Casa Branca, mas que tudo isto se tem vindo a intensificar e se permitirmos que o rumo e o impulso deste regime vá para onde se está a dirigir – para a imposição de um fascismo total –, será muito, muito mais difícil fazer alguma coisa em relação a isso.

Eu dediquei toda a minha vida a fazer a revolução para acabar com os horrores que este sistema capitalista-imperialista impõe às pessoas e promovo a liderança de Bob Avakian, porque ele está a indicar a saída disto. Mas, ao mesmo tempo, o movimento revolucionário está totalmente empenhado em acabar com a imposição do fascismo porque isso é uma etapa pela qual a revolução tem de passar e qualquer pessoa que tenha outro plano progressista de como a sociedade deve ser tem de entender que temos de parar esta imposição do fascismo e expulsar este regime. Podemos debater e podemos discutir qual é a visão do futuro que é necessária. Mas temos de expulsar este regime, este pesadelo tem de acabar. O regime de Trump e Pence tem de se ir embora.

Michael Slate: Certo, Carl... Como é que as pessoas podem entrar em contacto contigo se quiserem falar contigo sobre o que disseste?

Carl Dix: Bem, de três maneiras. Através da RefuseFascism.org – vão à página internet, acompanhem os nossos planos. Vão também à página revcom.us e se quiserem contactar-me em particular, vão à minha conta no Twitter, @Carl_Dix.

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