Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 14 de Dezembro de 2009, aworldtowinns.co.uk

A Operação Caçada Verde na Índia: Um crime iminente

O Corredor Maoista ou Vermelho estende-se do Bengala Ocidental, no nordeste da Índia, aos estados de Jharkhand, Orissa, Chhattisgarh, Andhra Pradesh e Maharashtra, no ocidente da Índia. Inclui muitas zonas florestadas, entre as quais a floresta de Dandakaranya. Os seus milhões de adivasis (a palavra hindi que indica habitante original, uma expressão genérica para designar os grupos étnicos e tribais que estão entre os habitantes originais do subcontinente) foram empurrados para as regiões florestais pelas vagas de invasores e em geral excluídos da “sociedade hindu”. Têm uma longa história de rebeliões e insurreições militantes contra o domínio colonial britânico, desde a revolta Santal em 1855-57 a inúmeras insurreições de menor dimensão, e têm sido uma importante base da actividade organizativa comunista.

As florestas onde os adivasis se concentram têm abundantes riquezas minerais (ferro, carvão, bauxite, manganês, corindo, ouro, diamantes e urânio). Durante os últimos anos, as multinacionais estrangeiras e indianas, sob protecção do aparelho estatal indiano, têm estado a explorá-los, enquanto reprimem violentamente o povo. A luta pelos recursos florestais e pelo direito à terra é um importante aspecto de uma dinâmica mais vasta.

Dois lados estão a dar forma ao “Corredor Vermelho”. Um dos lados inclui os adivasis e o Partido Comunista da Índia (Maoista), cujos membros têm vivido e lutado ao seu lado desde os anos 70, na sequência da rebelião de Naxalbari que ocorreu nesse período e que foi inspirada pelo Maoismo e pela China, quando esta ainda era revolucionária. Os maoistas têm ajudado a liderar os povos tribais nas suas lutas por justas reivindicações como o fim do roubo das suas terras por imposição do governo indiano, a sua situação de fome como reserva de força de trabalho a ser enviada para todo o país e a sua violação, tortura e humilhação às mãos das autoridades policiais ou outras. Os maoistas também têm apoio junto dos camponeses sem terra, entre os quais se incluem muçulmanos, dálitas (considerados impuros no sistema hindu de castas e muitas vezes designados como “intocáveis”) e outros. Têm ajudado a organizar o povo a aperfeiçoar os métodos agrícolas de subsistência, a construir poços e a educar e lutar contra as práticas feudais retrogradas (por exemplo, a bárbara prática de punir mulheres acusadas de bruxaria). Devido a tudo isto, os maoistas receberam a etiqueta de terroristas e são vistos como a maior ameaça interna ao estado indiano.

Do outro lado, com a sua força militar e policial, está o estado central indiano, representante e protector das classes dominantes que vivem à custa das massas indianas e sugam a sua vida. Durante anos, enquanto consideravam que essas colinas arborizadas e isoladas eram periféricas para os seus projectos, mantiveram os adivasis num estado de pobreza absoluta sem qualquer desenvolvimento mas lucrando com a sua labuta. Anualmente, um gigantesco número de pessoas tem que migrar para diferentes partes do país, como o estado indiano do Punjab. Isso ajudou a fomentar o desenvolvimento capitalista da Índia, ao mesmo tempo que mantinha essas zonas num enorme atraso. Agora, o estado indiano quer limpar urgentemente os obstáculos a uma nova vaga de investimento estrangeiro e de desenvolvimento capitalista, de forma a lucrar com os recursos da região. Eles estão ainda mais preocupados com os profundos laços que os maoistas fizeram com o povo dessa região. O seu objectivo é eliminar qualquer perspectiva revolucionária de um mundo melhor que as massas possam agarrar e qualquer força que encarne essa perspectiva.

Com o início da Operação Caçada Verde, seis batalhões (um batalhão consiste em 700 soldados) das forças paramilitares da polícia da Índia assumiram posições nos estados de Maharastra e Chhattisgarh. Um porta-voz da polícia disse que, depois de expulsarem os maoistas da zona, e com um treino adicional em contraguerrilha das forças policiais, a operação passaria para outros estados, um a um. Eles estão à espera de, em Março de 2010, terem erradicado os maoistas e qualquer pessoa que ouse apoiá-los e resistir à presença armada do governo. Segundo as estimativas inexactas do estado indiano, mais de 60 mil elementos de segurança das forças paramilitares centrais irão “lutar contra 6 a 7 mil quadros maoistas armados”. Os responsáveis alegam que os maoistas estão fortemente armados, mas é provável que a maioria das armas em sua posse tenha sido tomada às forças governamentais.

Nas fases posteriores da operação, uma força especialmente treinada para a guerra na selva, o Batalhão de Comandos para a Acção Resoluta (Naja), irá ser deslocado para essa zona. Assim que essas forças tenham “limpo e depurado” a zona de maoistas e controlem o território, ocorrerá uma outra fase. Várias agências governamentais irão instalar-se na zona para iniciarem um “trabalho de desenvolvimento” (Times of India, 2 de Novembro de 2009).

Durante os últimos anos, o PCI(M) e a sua base de apoio já enfrentaram sérios ataques do governo indiano contra eles. O governo tentou introduzir uma divisão entre os revolucionários e o povo, criando grupos paramilitares locais como a Salwa Judum, de forma a tornarem a vida das massas num inferno e a forçá-las a viverem em campos tipo prisão segundo o modelo das “aldeias estratégicas” com que os EUA tentaram separar as guerrilhas e o povo no Vietname. Quadros de escalões inferiores têm morrido em combate. Têm sido encarcerados importantes dirigentes comunistas, além de muitos outros que têm sido mortos em “encontros”, um eufemismo para designar as situações em que a polícia captura e executa pessoas e despeja os seus corpos noutros lugares e depois declara que elas foram mortas em batalha.

Apesar disso, os rebeldes têm crescido em número e a sua influência tem-se expandido. Durante a insurreição de Lalgarh, no Bengala Ocidental, que atingiu um ponto de ebulição em Novembro passado, os povos tribais expulsaram das suas aldeias os agentes governamentais pertencentes ao Partido Comunista (Marxista) que governa o Bengala Ocidental e que há muito abandonou toda a sua roupagem marxista. O PCI (Maoista) tem um vasto apoio na zona de Lalgarh devido à sua posição inflexível contra os proprietários ricos e os funcionários corruptos. Na altura da insurreição de Lalgarh, o partido chamou a essa zona a primeira zona libertada do Bengala Ocidental.

Intelectuais urbanos de Kolkata (a antiga Calcutá) foram até Lalgarh e denunciaram publicamente o facto de as forças armadas estarem a espancar e humilhar as massas em todos os sentidos imagináveis e a agrupá-las em campos de refugiados. (Para mais detalhes, ver os SNUMAG de 29/06/2009 e de 12/10/2009.) Com o início da Operação Caçada Verde, muitos intelectuais proeminentes e outras pessoas têm-se oposto em voz alta ao que eles vêem como uma investida contra as massas.

Enquanto o estado indiano chocalhava o seu aparato paramilitar no lado ocidental do “Corredor Vermelho”, no outro extremo do “Corredor Vermelho” do Bengala Ocidental, a 2 de Dezembro o PCI(M) organizava uma celebração pública da fundação do Exército Guerrilheiro Popular de Libertação. Habitantes de 50 aldeias vizinhas assistiram ao evento, bem como um membro do politburo do PCI(M), Kisenji, e o dirigente do comité regional do PCI(M) na fronteira Bengala Ocidental-Jharkhand-Orissa, Rakesh. Altos responsáveis policiais com a cara vermelha de vergonha exigiram explicações às esquadras da polícia da zona, a qual inclui Lalgarh (ocupada pela polícia desde a insurreição local), sobre a sua incapacidade de atacarem essa concentração. A data e o local da celebração foram abertamente anunciados em alguns dos folhetos do PCI(M) que foram amplamente distribuídos.

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