Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 10 de Agosto de 2009, aworldtowinns.co.uk

O seguinte documento do Comité Central do Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista), datado de 28 de Junho de 2009, foi recentemente tornado público. Esta é a segunda de um conjunto de duas partes. A primeira parte, publicada no SNUMAG de 27 de Julho de 2009, centrava-se na análise da situação. A tradução para português foi feita a partir da versão não oficial em inglês do SNUMAG.

Uma declaração analítica sobre a actual crise e as tarefas dos comunistas revolucionários (2ª parte)

Esta vaga ainda apenas começou

Com a acumulação de 30 anos de ira e o colapso da sua legitimidade entre a maioria do povo, a incapacidade do regime em implementar planos de repressão das massas irá levar à erupção de uma nova vaga de luta entre as massas. Esta vaga pode emergir abruptamente ou recuar e avançar com altos e baixos. Quanto mais tempo durar esta vaga revolucionária, mais se desenvolverá a polarização entre os estratos mais avançados e os mais conservadores do povo, tanto objectiva como subjectivamente.

Neste momento, a profunda contradição entre as massas oprimidas e as classes exploradas e a RII desenvolve-se por saltos. Isto reflecte-se no campo de batalha das ruas. Na prática e no campo de batalha, os sectores radicais têm mostrado as suas diferenças em relação à “onda verde” [a oposição islâmica liderada pelo candidato presidencial Mir Hussein Mousavi] e aos “Allah-u akbar” [os que gritam “Deus é grande”].

O problema é que ainda não se formou um núcleo sólido com um impacto organizativo e político entre o sector radical do povo. Só quando os profundos sentimentos de classe de um sector desses estratos mais radicais se ligarem a uma consciência política comunista revolucionária e encontrarem uma expressão organizativa se poderá dizer que essa parte do povo tem o seu próprio núcleo sólido. Nessa altura, poder-se-á dizer que o cenário político mudou efectivamente. Existirá então entre as massas uma força pequena mas concentrada, consciente e decidida que poderá neutralizar o outro lado [a onda verde e os Allah-u akbar] e tornar-se num pólo de atracão que lidere as massas.

A onda verde é uma ampla aliança de forças dentro do regime, entre as quais as forças religiosas nacionais, o partido Tudeh e a organização Maioria Fedayeen que durante os últimos 30 anos representaram o papel de peões do regime. Essas pessoas usam palavras de ordem e símbolos e propõem reivindicações e formas de luta para tentarem limitar as perspectivas políticas do povo a uma mudança das cliques no topo da estrutura do poder. Mas os jovens e mulheres que têm aguentado o maior fardo das sangrentas batalhas ainda não exprimiram conscientemente as suas esperanças e reivindicações. Os círculos revolucionários de esquerda entre os operários, as mulheres, os estudantes e os familiares dos presos políticos e mártires dos anos 80, que nos últimos negros anos de silêncio, repressão e sufocação levaram a cabo a luta contra a RII, têm que intervir activamente nesta situação e traçar uma perspectiva diferente daquela que é proposta pelas forças verdes organizadas. Esta situação coloca pesadas responsabilidades perante os comunistas revolucionários que eles têm que enfrentar com todas as suas forças.

A actual crise pode ter vários resultados possíveis. Uma sangrenta repressão, uma maior reconciliação ou uma guerra civil entre duas facções ou uma ascensão do espírito revolucionário das massas e a expansão desta insurreição – estes são alguns dos resultados possíveis da luta e da repressão na rua e das negociações nos corredores do regime e das potências internacionais. Indubitavelmente, qualquer destas possibilidades irá afectar o alinhamento de forças de classe e as formas de luta que vier a assumir. Também irá afectar a forma como os comunistas levam a cabo as suas tarefas fundamentais. Tão cedo quanto possível, os comunistas revolucionários terão que acumular forças iniciais no meio desta tempestade e que se preparar para actuarem em situações ainda mais tempestuosas. Eles precisam de divulgar a sua própria solução, última e decisiva, ou seja, a revolução. Não só no que diz respeito às palavras de ordem (embora as palavras de ordem também sejam importantes) mas também na mobilização e organização das massas revolucionárias e por fim no desencadear da luta armada revolucionária de massas. A ampla variedade de forças de classe do mesmo lado das barricadas mostra uma vez mais que sem a hegemonia de um forte núcleo proletário sobre o vasto e variado campo do “povo”, não se irá abrir o caminho para a revolução.

O principal perigo: ir atrás da onda verde

Neste período particular, as tendências burguesas entre as massas são dominantes. Ir atrás da liderança reformista ou da onda verde é o principal perigo que enfrentamos. Nem toda a gente que vai atrás dessa onda é apoiante de Mousavi. Muitos pensam que apoiar a onda verde irá preparar melhor o terreno para a mudança. Mas isso é uma ilusão perigosa.

Por trás das cortinas dessa ilusão, podemos ver a força e a influência de uma classe forte. O poder do campo reformista não tem por base apenas os reformistas dentro do regime. Os reformistas fora do regime representam um papel decisivo na expansão da força e influência da onda verde. Socialmente, a burguesia liberal e os estratos médios e superiores e forças políticas como os religiosos nacionais e os partidos Maioria Fedayeen e Tudeh, e parte da oposição de “esquerda” juntaram-se à onda verde. Essas forças querem ser integradas no aparelho de estado para obterem pequenos privilégios e chamam a isso “liberdade” para toda a sociedade.

Os comunistas devem salientar constantemente a verdade de que ir atrás desta ou daquela facção da burguesia significa a morte da insurreição. Ficar nas mãos da onda verde significa abandonar os nossos objectivos de libertação e de um futuro cujas sementes estão a germinar no meio desta nova insurreição. Dizer a verdade às massas e combater as suas ilusões no meio da batalha requer muita coragem. Mas, com base na consciência e perseverança comunistas, isso pode ser feito. Não há dúvida nenhuma que essas verdades serão absorvidas pelos estratos e classes que têm contradições profundas e antagónicas com o regime islâmico e serão repelidas pelos que não têm uma contradição antagónica com a RII. Isto é muito natural porque as pessoas no local de batalha estão divididas em classes.

A contradição é que os comunistas tanto devem defender as vagas da luta das massas como, ao mesmo tempo, devem combater a compreensão espontânea das massas e desviar o movimento espontâneo das massas para o caminho correcto que leva ao derrube total da RII e a uma verdadeira revolução.

Ao enfrentarem estas vagas de resistência popular, com todas as suas ilusões sobre as figuras reaccionárias e as soluções reformistas, os comunistas não se devem deixar confundir nem perder a sua orientação estratégica. Vagas fortes e imponentes irão sempre reproduzir-se de diferentes formas mas, salientamos uma vez mais, o cenário irá encher-se de diferentes forças de classe com diferentes tendências e diferentes perspectivas. E será sempre assim.

Nestas condições complicadas, os comunistas devem ser ao mesmo tempo materialistas e manter a sua determinação estratégica. Isso significa que, ao materializarem a sua estratégia, devem ter em conta os aspectos contraditórios da realidade, bem como as rápidas e inevitáveis alterações da situação. No meio desta vaga revolucionária, os factores positivos irão dominar. Na maioria dos casos, as ilusões entre as massas rapidamente se desmoronarão caso a vanguarda realize correctamente as suas tarefas. Nessas condições, ir de alguma forma atrás das ilusões das massas irá roubar ao movimento comunista qualquer hipótese de influenciar a situação.

Lenine salientou correctamente que nenhum movimento social e nenhuma guerra reaccionária terminam necessariamente da forma como começaram. Através da sua intervenção consciente, os comunistas podem alterar as particularidades iniciais da guerra. O próprio Lenine pôs isso directamente em prática durante a I Guerra Mundial. No mais negro dos períodos em que o oportunismo contra-revolucionário tinha tomado conta dos partidos operários e respondendo aos que defendiam que se deviam unir a um ou ao outro lado da guerra, Lenine disse: Não, não é assim. Ele disse que podíamos e devíamos alterar a natureza da guerra e transformar uma guerra mundial reaccionária numa guerra civil revolucionária de classe. Isto continua a ser válido nas lutas sociais. Uma luta que comece como uma guerra entre reaccionários pode ser transformada numa verdadeira guerra entre as massas e todo o regime dominante.

É esta a abordagem fundamental dos comunistas na actual situação. O facto de esta política ter uma base social foi poderosamente demonstrado nas lutas que estão actualmente em curso. É importante que, enquanto vanguarda, os comunistas em primeiro lugar não repitam os erros da revolução de 1979 e não vão atrás das tendências espontâneas das massas. Em segundo lugar, devem usar todos os seus esforços e toda a sua criatividade para forjarem vínculos às massas radicais (sobretudo as mulheres e os jovens) que participam na insurreição. Devem libertar a ira das mulheres como importante força da revolução e ligar a energia libertada pelos jovens com uma consciência e organizar as suas fileiras para históricas guerras de classe.

Como escrevemos no Comunicado n.º 4 do nosso partido: “O rumo dos acontecimentos não está escrito. O destino não existe; a direcção da vaga pode ser alterada. Novas vagas podem ser criadas.” A direcção do movimento das massas operárias e trabalhadoras, sobretudo das mulheres e jovens, pode ser desviada. Em vez de uma onda verde, pode-se mobilizar uma vaga proletária vermelha. A questão chave que os comunistas enfrentam é a seguinte: irão eles cumprir as suas tarefas fundamentais em relação à actual situação? Irão eles usar a actual situação para divulgar às massas a sua perspectiva de uma sociedade comunista? Irão fazer da estratégia política da Nova Revolução Democrática o objectivo da luta das massas? Podem os comunistas revolucionários derrubar o estado reaccionário levando a cabo uma guerra popular revolucionária e estabelecendo um novo poder de estado sob a direcção do proletariado e do seu partido de vanguarda, um estado cujo programa seja a libertação de toda a humanidade?

Que tipo de intervenção e com que conteúdo?

Nesta conjuntura crítica, a tarefa dos comunistas não é simplesmente tornar continuamente mais radical o actual movimento. Eles devem aproveitar esta situação. Mas isso não será possível sem irem contra a maré dominante entre as massas. Transformar esta vaga numa vaga de um tipo diferente é neste momento a tarefa política mais decisiva.

Deve-se salientar de novo que a actual situação e mesmo o movimento de massas são uma mistura contraditória: uma parte das fileiras da oposição ao regime inclui elementos reaccionários. O objectivo que eles querem impor ao movimento de massas é uma simples mudança do bando no poder. Os estratos burgueses fora do poder e a pequena burguesia próspera, que entraram em cena com uma perspectiva de reformarem o regime, consideram-se aliados naturais de uma facção do governo. Do outro lado estão as massas oprimidas e exploradas e as mulheres e homens conscientes cuja energia é alimentada por profundas contradições de classe e sociais com todo o sistema.

Os comunistas devem basear-se sobretudo nestes últimos estratos e unir a sua linha e liderança comunista revolucionária à luta deles. As reivindicações e esperanças desses estratos ainda não foram formuladas e ainda não têm a organização e a liderança do partido revolucionário. Se esta situação continuar assim, eles serão reprimidos e desmoralizados e inevitavelmente levados a lutar sob a bandeira da burguesia e ao lado dela. Ao mesmo tempo que se ligam aos estratos mais avançados desta revolta, os comunistas também têm que os desviar do movimento dominante e que criar um movimento que proclame levar a sociedade para um futuro fundamentalmente diferente da actual ordem. Como já escrevemos antes, o significado prático desta política não é senão o seguinte:

“A ampla tendência revolucionária que flui no fundo desta revolta tem que assumir uma expressão consciente e organizada. O futuro desta vaga de luta depende de os combatentes revolucionários e comunistas poderem ou não transformar esse pequeno mas mais avançado sector na coluna vertebral e na medula óssea de um movimento de massas mais amplo. Devemos elevar a consciência desse sector das mulheres, dos jovens e dos operários quanto à actual luta de classes. E a sua energia deve ser mobilizada para estruturas organizativas independentes, para que centros políticos e organizativos independentes das facções do regime possam ser estabelecidos para o vasto movimento popular. Isto torna-se necessário, caso este movimento queira poder enfrentar as inevitáveis voltas e reviravoltas políticas e preparar-se para se envolver em sangrentas e decisivas batalhas com o inimigo. Também é importante para enfrentar os inevitáveis altos e baixos da própria insurreição.” (Comunicado n.º 2 do PCI[MLM]).

Nesta situação, não devemos ter uma compreensão limitada de como absorver e organizar as forças. É errado pensar que se consegue atrair e mobilizar as massas nas margens desta insurreição. Temos que estar no centro. Não é possível levar a água das vagas ribombantes com uma pequena tigela. Os comunistas poderão atrair as massas avançadas na medida em que puderem influenciar a cena política no seu todo e desviá-la.

Só com esta orientação estratégica poderemos formular directivas políticas e tácticas correctas e apropriadas para cada fase e conjuntura particular e adoptar formas apropriadas de luta e organização. Qualquer táctica política e forma de luta e organização que não sirva esta estratégia não é uma táctica nem uma política comunista.

A primeira coisa de que o povo necessita é de líderes revolucionários que tenham uma perspectiva clara de futuro e uma política que seja fundamentalmente diferente das propostas pelos líderes burgueses e reaccionários. Ao mesmo tempo, os comunistas também precisam de elementos revolucionários que estejam no local para poderem superar os sérios danos causados pela derrota e eliminação do movimento comunista e para rapidamente encherem as suas fileiras dos filhos mais avançados e militantes do proletariado e das massas. Quanto mais efectiva e rapidamente isto for conseguido, mais os comunistas poderão influenciar a situação global e definir tácticas correctas. A questão urgente hoje não é quando é que a classe operária e o seu partido de vanguarda irão pôr um carimbo comunista à actual insurreição. A questão é que política deve ser adoptada e que acções devem ser levadas a cabo para que o movimento comunista possa estar presente depressa nesta situação. Os comunistas estão numa conjuntura histórica em que, como disse Mao, o tempo para descansarem entre batalhas se reduz constantemente. Sem uma batalha contínua não se pode reunir o material para se fazer avançar a revolução proletária.

Divulgar o comunismo científico é uma necessidade

Durante os períodos de crise e agitação revolucionária, mais que em qualquer outro período, os elementos mais avançados colocam questões sobre que tipo de sociedade queremos e o que fazer para lá chegarmos. Trata-se do período mais urgente para promover e popularizar a necessidade e a possibilidade da luta pela Nova Revolução Democrática, pelo estabelecimento de um estado de nova democracia como passo necessário para uma sociedade socialista. Nesta situação, afastando o pensamento e a superstição religiosos e ensinando a realidade de como realmente funcionam a sociedade e o mundo, nós podemos levar rapidamente os novos combatentes a um conhecimento científico. A vida humana não precisa de ser e não será produzida e reproduzida com base no sistema capitalista. Nos últimos 30 anos, o nosso movimento comunista sofreu pesados golpes e ficou debilitado. Mas hoje, entrou em cena uma nova geração de combatentes e, ao absorver as teorias comunistas, podemos construir um movimento comunista que seja mais avançado e poderoso e com mais potencial para crescer. Por isso, devemos fazer o nosso melhor para promovermos a ciência do comunismo entre esses combatentes e agitar e propagar corajosamente a grande verdade de que o comunismo não é uma utopia mas uma necessidade do nosso tempo e que os mecanismos do sistema capitalista geram constantemente os meios para o tornar uma realidade. O facto de as mulheres, as escravas dos escravos, se terem erguido bem alto desde o início do estabelecimento da RII contra este regime extremamente reaccionário e de serem hoje os mais sistemáticos combatentes no campo de batalha é o melhor sinal de que este mundo e os seus muitos males apelam a uma solução comunista. Porque as mulheres são o único estrato social cujo baixo estatuto social e opressão coincide com o surgimento da sociedade de classes, a total abolição da desigualdade entre homens e mulheres nas relações sociais e no pensamento irá coincidir com a abolição de todas as diferenças de classe e o aparecimento de uma sociedade comunista. Até esse momento, a luta pela libertação das mulheres será uma força motriz do avanço da sociedade.

O sistema capitalista no Irão e no mundo não só se tornou canibalesco, como também está a destruir o planeta. Para se libertarem do capitalismo, os povos do mundo precisam de fazer revoluções socialistas. Mas essas revoluções não podem ser repetições exactas das revoluções socialistas do século XX. As características da sociedade socialista do futuro devem ser redesenhadas e devemos retirar as lições das revoluções do século XX e do enorme conhecimento que a humanidade tem obtido desde então e, com base nisso, sermos muito mais fecundos e mais científicos que no passado. Por isso, há uma necessidade de analisarmos cientifica e criticamente essas experiências. Isso não só é um importante factor para a unidade do movimento comunista mas também é necessário para se desenvolver entre as mulheres e os homens combatentes uma alternativa viva para a sociedade futura.

Não devemos ter nenhuma dúvida de que o futuro da nossa sociedade depende da linha e da prática dos comunistas revolucionários.

Clarifiquemos às massas a natureza da onda verde!
Propaguemos as palavras de ordem: Abaixo a República Islâmica!
Organizemos o quartel-general da luta das massas em diferentes campos!
Ergamos a bandeira vermelha do comunismo e organizemos em torno dela os elementos mais avançados!
Façamos agitação e propaganda entre as massas sobre as características do novo poder revolucionário!
Esforcemo-nos pela obtenção de uma unidade política, de vontade e de acção, no movimento comunista no Irão!

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