O seguinte comunicado está sendo distribuído no Brasil por um grupo de apoiantes da Nova Síntese do Comunismo. Uma versão do comunicado em formato PDF está disponível aqui:
A revolução de que o Brasil precisa
Um novo despertar está acontecendo no Brasil.
Durante anos, o Brasil foi proclamado ao mundo como um dos novos motores do desenvolvimento global, prova do poder da recuperação e da renovação do capitalismo mundial. O país seria a demonstração de um novo modelo para se atingir uma melhoria gradual mas permanente na vida das pessoas, o que amarraria as suas esperanças e destino a esse mesmo sistema capitalista. E quem melhor para liderar este processo que ex-revolucionários e atuais defensores de reformas sociais que poderiam fazer valer as suas credenciais de defensores dos oprimidos à medida que se tornam em agentes preferidos do FMI e do Banco Mundial?
Mas a realidade social deste “milagre” explodiu perante a gigantesca revolta popular de junho. Centenas de milhares de pessoas se ergueram em revolta e esta justa indignação tem sido apoiada por vastos setores da população brasileira. Ao rejeitarem as extravagantes despesas de o país ser o anfitrião da Copa 2014, os brasileiros mostraram ousadamente que não se satisfarão com o futebol, o carnaval e a Bolsa Família. E afirmaram em voz alta que não querem gastar milhões tentando embelezar a imagem do Brasil com a limpeza das favelas ao mesmo tempo que se negligenciam as mais básicas necessidades da população, como os cuidados de saúde e os transportes.
As pessoas se revoltaram em fúria contra um aumento das tarifas dos transportes públicos, contra os mais recentes escândalos de corrupção ou ainda contra os exemplos do obsceno fosso entre os rendimentos das pessoas comuns e os de uma minúscula elite. Os brutais ataques da polícia contra os manifestantes revelaram a verdadeira natureza do estado. Cada vez mais a realidade atinge as pessoas na cara de que é impossível haver uma sociedade baseada no capitalismo sem todos esses males sociais que se estão tornando mais cruéis.
Os jovens e os estudantes estão procurando um futuro diferente e melhor do que se atacarem uns aos outros por uma hipótese de terem “sucesso” em se tornarem peças da engrenagem deste sistema que nos esmaga até aos ossos. Eles estão exigindo usar os seus talentos, a sua energia e as suas esperanças para trabalharem no interesse da sociedade. Os artistas e os músicos querem retratar e refletir a criatividade do povo do Brasil que tão enormemente tem enriquecido a herança cultural da humanidade. As mulheres precisam de representar o seu legítimo e decisivo papel de vanguarda da luta e não serem vítimas de todo tipo de abuso, seja ele moderno ou medieval.
O Brasil é um país onde séculos de genocídio, escravidão e a tirania dos proprietários feudais se estão transformando numa modernidade do século XXI ainda mais monstruosa, incorporando todo tipo de reação e atraso. O Brasil foi vítima do sistema capitalista mundial desde o primeiro dia da sua história moderna. Contudo, durante as últimas décadas, algumas pessoas têm defendido que esta mesma máquina que tanto sofrimento tem causado, de alguma forma, pudesse se tornar num veículo para a emancipação. Ou, talvez, que o Brasil poderia ”mudar de lado” e, tomando o caminho dos “BRICS”, passar para a mesa dos exploradores mundiais. Mas os centavos que “salpicam” para aqueles que continuam desesperadamente pobres, o rápido crescimento de uma classe média com poucas perspectivas de alcançar a prometida vida estável e confortável, e a expansão do acesso à internet e a sua falsa promessa de total participação no mundo contemporâneo, tudo isso só intensifica o fosso entre o que poderia ser possível e a cruel realidade.
O “milagre” brasileiro emergiu e não só entorpeceu e esmagou milhões de pessoas sob os seus pés, como também significou a rápida destruição da floresta tropical da Amazônia, um dos mais preciosos recursos da Terra que deve ser preservado no seu todo para benefício da humanidade. Aqui também se levantou um gigantesco “não”, não só dos povos indígenas que muito justamente temem a finalização do genocídio que faz parte da história do Brasil, mas também de muitos daqueles entre os que estavam sendo treinados para fornecer o conhecimento técnico ou a hipócrita conversa dúplice que acompanha este crime do século XXI.
As pessoas estão gritando “Basta!” aos abusos e cada vez mais se pode ver que eles fluem naturalmente de um sistema socioeconômico cujos princípios mais sagrados são a desigualdade e a exploração. E, sob a superfície, há uma sensação de que talvez não tenha que ser assim. Talvez o mundo não precise de estar dividido entre alguns poderosos países ricos e os outros que têm que servir como suas plantações, usinas de baixo custo ou prostíbulos. Um mundo onde as pessoas ultrapassarão a podre cultura do “cachorro que ataca cachorro”. Onde as mulheres se possam finalmente libertar de toda forma de opressão, dos sistemas patriarcais tanto o moderno como os antiquados, e ajudar a transformar o mundo. Onde talvez as palavras “revolução” e “mudança social” sejam algo mais que palavras eleitorais ou folhas de parra usadas por oportunistas.
Sim, esta insurreição despertou a esperança, entusiasmou as pessoas a se levantarem, e deu um vislumbre de que as condições sociais de hoje podem não ser assim tão permanentes e/ou inalteráveis.
Mas o despertar de esperanças e desejo de soluções radicais começou a enfrentar enormes obstáculos e inimigos: o estado e o seu exército e polícia que estão mostrando que usarão toda a força necessária (e mais que isso) para proteger o atual sistema de propriedade e governo; os políticos cínicos que prometem cumprir todas as demandas do povo ao mesmo tempo que conspiram freneticamente para desviar e esmagar o movimento; toda a rede de conexões que ligam o Brasil ao sistema imperialista mundial; as divisões entre as próprias massas populares e os seus horizontes reduzidos depois de gerações de exploração, opressão e degradação; a anestesia ideológica da religião. E o jogo da farsa eleitoral que então se desenrola regularmente para poderem dizer que o povo apoiou os seus próprios opressores.
Cada vaga de ilusões e falsas esperanças se despedaça contra os duros rochedos de uma sociedade inteiramente injusta. Mas a repetição da experiência por si só não será suficiente para levar as pessoas para fora deste pesadelo. Até que as pessoas se apercebam que um outro mundo é realmente possível e como é que essa possibilidade pode ser transformada em realidade, elas se sentirão forçadas a procurar o melhor do mundo atual.
HÁ uma solução para o capitalismo e todas as suas degradações: a revolução proletária e o comunismo. É possível construir um mundo em que nenhuma parte da humanidade oprima nem denigra as restantes. É possível acabar com o atual pesadelo e criar uma sociedade em que todos contribuam para o progresso da mesma e em que tudo se desenvolva a nível cultural, intelectual e nas relações mútuas. Para se construir tudo isto é necessária uma revolução, uma revolução total. Uma revolução que não instaure novas formas do mesmo poder de sempre ou que não seja apenas para que alguns indivíduos (mesmo que sejam em grande número) melhorem a sua situação e posição na velha sociedade e até tenham oportunidade de dominar o resto da sociedade. Isso são “soluções” que só significam a continuação do horror sem fim.
Atualmente, uma nova síntese do comunismo foi apresentada pelo pensador e dirigente Bob Avakian, erguida sobre as grandes conquistas da primeira fase da revolução comunista do século XX, bem como analisando as suas insuficiências e erros. Esta compreensão mais elevada do comunismo revolucionário nos permite ver mais claramente não só a necessidade mas também a possibilidade de uma verdadeira revolução proletária. Como o poder pode chegar às mãos das massas populares e ser utilizado para transformar completamente o sistema socioeconômico e também o pensamento das pessoas – até que a base da divisão da sociedade em classes tenha sido eliminada, material e ideologicamente, no mundo inteiro.
Esta resposta revolucionária para os problemas do Brasil e do mundo não tem nada que ver com as noções reformistas e revisionistas de propriedade do estado sem transformação social, as quais na realidade apenas significam “nacionalizar” as formas de exploração, tal como pode se ver na Venezuela.
A Revolução significa organizar, promover e apontar a torrente de ódio ao capitalismo contra o próprio sistema e os seus defensores. Significa o derrube pela força de um estado, e de um sistema social, por outro sistema social com um estado diferente. Em países como o Brasil, a revolução proletária tem que arrancar completamente séculos de formas précapitalistas de opressão, bem como a exploração capitalista do século XXI. A revolução terá no seu centro aqueles que são os mais oprimidos da sociedade de hoje, à volta dos quais a grande maioria pode e deve ser reunida. E o estabelecimento de um tipo diferente de estado baseado no governo das massas será um enorme passo de libertação.
O objetivo desta revolução, porém, não é e não pode ser simplesmente substituir a atual classe dominante pelos que antes eram explorados. Não pode ser, como nas palavras da bíblia, “os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros”. A revolução proletária só poderá alcançar os seus objetivos de uma sociedade comunista sem classes se emergir uma liderança para essa revolução que entenda profundamente que o seu objetivo é a libertação de toda a humanidade, que o objetivo é a eliminação de todas as distinções de classe e de todas as relações entre as pessoas e todo o conjunto de idéias que surgiram na sociedade de classes e que o reforçaram. Uma liderança e pessoas que entendem que o objetivo final não é preservar um estado novo mas sim eliminar as condições que requerem a existência desse estado, mesmo que seja um estado socialista que representa os interesses do povo.
O objetivo comunista tal como é redefinido pela nova síntese tem que impregnar e deve ser consistente com todos os passos da nossa luta e de todos os elementos da nossa plataforma, agora que estamos lutando contra o poder atual e amanhã quando estivermos criando novos estados. Essa revolução não será feita às custas do planeta, mas ao serviço dele. A produção avançará, mas de um modo revolucionário onde a destruição insustentável das zonas rurais será invertida, e os meios de produção se tornarão numa ferramenta nas mãos das pessoas para serem usadas para eliminar passo a passo as injustiças sociais e aumentar racionalmente a abundância comum.
As sociedades socialistas que serão criadas pela revolução melhorarão as condições materiais das pessoas ao mesmo tempo que apresentarão uma vida cultural e intelectual vibrante e desafiadora, envolvendo tanto os que antes estavam “impedidos” de trabalhar com as idéias, como os intelectuais e artistas cuja criatividade não será mais algo subordinado ao mercado. Nós podemos construir sociedades em que será uma alegria viver. Isto é uma visão nova – e de muitas formas diferente – da sociedade socialista pela qual precisamos de lutar.
Não estamos partindo do zero. Antes houve mais de um século de revolução proletária, de grandes vitórias e profundas transformações sociais, tanto na União Soviética sob Lenine e Stalin como ainda mais na China de Mao. Mas também houve insuficiências nessas sociedades e na forma como elas foram concebidos. Houve derrotas amargas às mãos do sistema imperialista mundial que levaram esses países para trás e, que fazendo-o, destruíram as esperanças das pessoas em todo o mundo. Hoje em dia, análises erradas da anterior experiência socialista também estão alimentando noções de “revoluções sem líderes”, “horizontalismo” e por aí adiante. A nova síntese do comunismo nos permite apreciar ainda mais claramente os grandes passos que as anteriores revoluções socialistas alcançaram. Ao mesmo tempo, a sua abordagem científica nos permite entender muito melhor os contornos e as contradições dentro de uma nova sociedade que se esforça por fazer todas essas mudanças. Mostra como o verdadeiro problema de eliminar o fosso entre a liderança e os que são liderados pode ser corretamente resolvido. A nova síntese prevê uma sociedade socialista que não temerá a divergência mas que fervilhará em debate e luta sobre o caminho a seguir. Todos os que estão olhando para uma saída da loucura e da miséria do capitalismo e do imperialismo precisam de se envolver seriamente com esta nova síntese do comunismo.
(Nota: Ela é claramente apresentada nas obras de Bob Avakian e em Comunismo: O Início de uma Nova Fase, Um Manifesto do Partido Comunista Revolucionário, EUA, disponível em www.revcom.us/Manifesto/Manifesto.html e em paginavermelha.org/documentos/pcr-manifesto.htm).
Momentos como aqueles que o Brasil está vivendo são de importância crucial. Uma nova geração está emergindo, e também reacendendo as esperanças de seus pais e avós. Imaginemos esta energia e entusiasmo revolucionário se ligando com a ciência necessária para transformar a sociedade. Avancemos da revolta para a revolução!
Pela revolução, e nada menos que isso.
Julho 2013
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Bob Avakian é o Presidente do Partido Comunista Revolucionário, EUA, e um teórico marxista. Durante décadas, tem trabalhado no problema de como fazer a revolução e de como manter a nova sociedade avançando como parte de um processo revolucionário mundial. A Nova Síntese do Comunismo, desenvolvida por Avakian, redefine e revigora o Marxismo, colocando-o numa base ainda mais científica.