Portugal manifesta-se contra a agressão imperialista!
Por B. Lisboa







A reacção em Portugal à guerra de agressão imperialista ao Afeganistão começou por ser fraca. Entre os partidos oficiais da esquerda, a palavra de ordem foi a de ficar quieto. PCP e BE apenas manifestavam tímidas críticas aos ataques, salientando sempre que o alvo principal era Bin Laden e os Taliban. Nas ruas, os primeiros sinais de resistência surgiam com os cartazes (na foto) do Colectivo de Solidariedade com Mumia Abu-Jamal (CMA-J). A reacção das forças repressivas não se fez esperar: perseguições, intimidações, identificação de activistas. A primeira vaga de cartazes foi cirurgicamente removida algumas horas depois das colagens e houve prisões de membros das brigadas de propaganda (ver os DN de 22 de Outubro e 31 de Outubro).
Mas a indignação pelos acontecimentos crescia à medida que era visível o que se estava a passar: uma gigantesca cruzada imperialista de agressão e pilhagem, com punição de toda e qualquer resistência, e com a cumplicidade mais ou menos aberta do governo de Guterres e de toda a oposição no seu conjunto. A indignação pela indiferença das direcções dos partidos ditos de esquerda era evidente nos eventos promovidos pelo Bloco de Esquerda. A revolta era grande e incontrolável. Sintomático foi que a primeira concentração contra a guerra (dia 24 de Outubro, frente à Embaixada dos EUA) foi convocada por jovens militantes do PCP, contra a direcção do seu próprio partido.
Por essa altura já o CMA-J tinha também marcada uma concentração em conjunto com o Colectivo Acção Contra a Guerra (um colectivo que se formara por altura das recentes agressões imperialistas à Jugoslávia) para o dia 31. A partir daí foi um nunca mais acabar de convocações. Grupos de direitos dos animais convocaram uma “Marcha pela Paz” entre o Príncipe Real e o Largo de Camões para dia 27. No mesmo dia um debate era organizado no Porto. Uma concentração anarquista contra a guerra e o militarismo foi marcada para dia 29 no Chiado e transformou-se numa marcha pela baixa de Lisboa.
E o PCP e o BE foram obrigados a convocar, através das suas inúmeras organizações de massas, uma grande manifestação para dia 30, entre o Largo de Camões e a Praça da Figueira. Mais ou menos formalmente, vários grupos revolucionários acabaram por também apoiar a convocação desta manifestação, incluindo a Página Vermelha. Entretanto, está marcada uma nova concentração para dia 9 de Novembro, na Alameda D. Afonso Henriques.
A manifestação de dia 30 reuniu cerca de 5 mil pessoas. Nos discursos reformistas que se sucederam no Largo de Camões, o foco centrava-se nos perigos do terrorismo, e com raras excepções, pouco se denunciava os mais gigantescos crimes do imperialismo norte-americano. Mas entre os presentes o ambiente era muito mais combativo. Os cartazes que dois dias antes a PSP apreendera durante as colagens (uma foto de Bush com a legenda “TERRORISTA PROCURA-SE”) eram muito procurados e deram o tom à manifestação que se seguiu, mostrando quem é que as massas achavam que era o verdadeiro alvo. Esse cartaz acabou por aparecer em todos os jornais nos dias seguintes (Público, DN, JN, A Capital, Expresso, etc.) e indignou verdadeiramente a burguesia e os seus escribas na imprensa vendida (a qual, se deve salientar, ignorou por completo todos os outros dias de protestos).
O mês de protestos culminou no dia seguinte numa mais pequena mas mais radical concentração, também na Praça da Figueira. O local não seria o melhor e a manifestação do dia anterior já atraíra um grande número de pessoas, numa população ainda algo desmobilizada, embora cada vez mais em oposição à participação de Portugal na guerra. Apesar disso, quase uma centena de pessoas reuniu-se na mais militante das concentrações. Grupos anarquistas, libertários, de extrema-esquerda e outros lançaram palavras de ordem denunciando o imperialismo norte-americano, o sionismo e o capitalismo, naquela que prometeu ser a primeira das muitas batalhas vitoriosas que se avizinham.
4 de Novembro de 2001