Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 27 de Março de 2006, aworldtowinns.co.uk
Uma ofensiva com os dentes podres: O estado reaccionário do Nepal
O Nepal tem assistido nos últimos dias a dramáticas voltas e reviravoltas na luta contra o estado feudal. A certa altura, o memorando de entendimento em 12 pontos assinado entre o Partido Comunista do Nepal (Maoista) e a maior parte dos partidos parlamentares (a Aliança dos Sete Partidos – ASP) esteve à beira do colapso. Agora, num acordo de última hora entre os parlamentares e os revolucionários, ambos reiteraram o memorando em 12 pontos que afirma que a monarquia feudal autocrática é hoje o principal obstáculo ao progresso do país e o alvo comum a atacar. A ASP convocou uma greve geral para 3 a 6 de Abril. Os maoistas anunciaram o seu apoio total à greve.
O acordo em 12 pontos entre o PCN (Maoista) e a ASP foi assinado no início deste ano, apesar da enorme pressão dos EUA e das outras potências imperialistas para que abandonassem a luta pela abolição da monarquia. Posteriormente, quando os partidos parlamentares não definiram nenhum programa efectivo de luta, os maoistas anunciaram um bloqueio de 20 dias à capital e a outras cidades principais do estado reaccionário, seguido de uma greve política indefinida com início a 3 de Abril. O bloqueio começou a 14 de Março e impediu a vida normal em Katmandu. Então, quando os partidos parlamentares concordaram em convocar uma greve geral de quatro dias para derrubar a monarquia feudal, o PCN (Maoista) cancelou o bloqueio e retirou a sua própria convocatória de uma greve geral ilimitada.
As palavras de ordem do PCN (Maoista) para a greve geral que tinha convocado eram: “Abolição da monarquia feudal e compradora! Estabelecimento de uma república democrática multipartidária! Bloqueio do poder real ilegítimo! Organização de um governo democrático paralelo! Dissolução do exército real feudal mercenário! Construção de um novo exército nacional democrático! Eleições livres e justas para uma assembleia constituinte! Reestruturação do estado para assegurar a libertação de classe, de nacionalidade, regional e de género! Implementação do acordo de entendimento maoistas-parlamentares em 12 pontos! Criação de uma tormenta nacional com um movimento unificado!” A polícia e o Exército Real ficaram extremamente desmoralizados e aterrorizados. Em várias ocasiões, dispararam sobre manifestantes no Vale de Katmandu.
Face aos ataques e provocações dos elementos feudais de linha dura e dos seus amos imperialistas, os líderes parlamentares estiveram sempre impossibilitados de se lhes oporem política e organizativamente. A sua vacilação, confusão e dependência face aos seus amos imperialistas impediram-nos de aparecer com um programa forte de luta pelo fim da monarquia do Nepal. Esses partidos parlamentares fracassaram vezes sem conta na liderança das massas para cumprirem as suas necessidades históricas. Várias organizações de massas como grupos estudantis, de camponeses, de mulheres e de trabalhadores e forças da classe média suas simpatizantes estão a exigir uma mudança radical da sociedade nepalesa e a gritar palavras de ordem como: “Abaixo a monarquia! Viva a república democrática do Nepal!” Os maoistas têm vindo a lutar por uma República Popular e propuseram um programa imediato para uma república democrática, e os parlamentares foram empurrados para se unirem aos maoistas em torno de palavras de ordem comuns e de um programa único.
Os EUA, ao lado da Grã-Bretanha, do Japão e da Índia, têm apoiado firmemente Gyanendra e pressionado os partidos parlamentares a render-se-lhe. Entre os mais recentes exemplos da intensa interferência imperialista contra a revolução nepalesa está a constante pressão do embaixador norte-americano em Katmandu, a sua entrevista à BBC onde criticou os partidos parlamentares por não se juntarem ao rei, a visita a Katmandu do Principal Vice-Secretário de Estado Adjunto norte-americano para a Ásia do Sul, Donald Camp, os comentários do Presidente Bush quando estava na Índia e a recente visita dos deputados britânicos ao Nepal onde apelaram aos parlamentares para regressarem aos braços do rei.
Devido ao que está em jogo nesta luta entre o imperialismo representado pelo rei e o povo nepalês representado pelo partido proletário, os maoistas procuram ganhar os partidos parlamentares que têm lutado contra o rei por causa dos seus interesses e à sua própria maneira. Os imperialistas podem pensar que se os partidos parlamentares forem obrigados a render-se ao rei, isso abriria caminho à invasão do Nepal. O PCN(M) acredita que, se os partidos parlamentares tomarem uma posição a favor do povo, a monarquia feudal que há muitos séculos domina o Nepal pode ser eliminada.
Os autocratas feudais de linha dura e as forças imperialistas viram o programa em 12 pontos como um escudo nas mãos dos maoistas e têm feito tudo o que está ao seu alcance para evitar essa aliança. Do embaixador norte-americano Moriarty aos ministros leais ao Rei Gyanendra, Kamal Thapa e Kitinidhi Bistha, todos têm repetida e provocatoriamente declarado que, ao aceitarem o acordo em 12 pontos, os parlamentares ficaram nas mãos dos maoistas.
O seguinte ponto que estava no primeiro acordo foi reiterado no novo acordo: “Os sete partidos em acção estão absolutamente persuadidos de que apenas o estabelecimento de uma democracia total com a restauração do Parlamento pelas forças de agitação, com a formação de um governo de todos os partidos com toda a autoridade, a realização de eleições para uma assembleia constituinte através do diálogo e de um entendimento com os maoistas, pode o conflito existente no país ser resolvido e a soberania e o poder do estado serem completamente transferidos para o povo. São perspectiva e compromisso do PCN (Maoista) que o objectivo acima mencionado pode ser alcançado através da realização de uma conferência política nacional das forças democráticas em acção e, por sua decisão, da formação de um governo interino para realizar eleições para a assembleia constituinte. Um entendimento já foi alcançado entre os sete partidos em acção e o PCN (Maoista) para a continuação do diálogo sobre esta lista de procedimentos e para se encontrar um compromisso comum. Fica acordado que a força do movimento popular é a única alternativa para o atingir.”
Isto quer dizer que os sete partidos ainda não fizeram a necessária ruptura com a sua vacilação política, confusão e esperança em que Gyanendra Shah entregue o poder sem ter de ser derrubado violentamente. Ainda assim, o acordo tem uma enorme importância porque constituiu uma vitória política ao forjar uma frente unida contra os reaccionários.
O Presidente Prachanda do PCN(M) disse numa recente entrevista ao semanário maoista Janadesh: “Ao liderar vitoriosamente os dez anos de guerra popular, o papel de um partido político responsável na libertação para sempre de todo o país da autocracia feudal cai nos nossos ombros. É nossa responsabilidade representar esse papel na sua verdadeira acepção. Deste ponto de vista, e com extrema sinceridade, confiança e flexibilidade, o nosso partido tem sublinhado a necessidade de unidade de todos os que possam ser unidos contra a autocracia feudal.”
A Guerra Popular revolucionária dirigida pelos maoistas, que há uma década tem feito tremer o velho estado nepalês, aproxima-se de um clímax, o derrube do estado reaccionário. Agora, a sociedade nepalesa está a sentir uma agonia combinada de dor e prazer sob muitas formas, como o que sentem as crianças quando os seus dentes estragados são arrancados pela raiz para dar espaço a novos dentes. Obviamente, é doloroso que raízes feudais com 237 anos estejam a ser deitadas borda fora, mas há uma enorme confiança em que assim que os dentes velhos e podres desapareçam, novos e mais fortes dentes possam crescer. Não só o mundo testemunha ansiosamente os tumultuosos desenvolvimentos políticos no Nepal, como também o próprio povo nepalês está a tomar medidas cautelosas sob a direcção do partido proletário, um partido que participa no Movimento Revolucionário Internacionalista, para tornar a revolução numa vitória e impedir que seja sufocada à nascença pelos reaccionários internos e externos.