Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 4 de Março de 2013, aworldtowinns.co.uk
Raparigas e rapazes desordeiramente juntos
— fazendo o “Harlem Shake” na Tunísia e no Egipto
A electro-dança Harlem Shake pode querer dizer coisas diferentes para pessoas diferentes, mas na Tunísia e no Egipto tornou-se numa diversão, num ousado e por vezes perigoso desafio à ordem social e moral.
Durante alguns dias em finais de Fevereiro, jovens de toda a sociedade tunisina executaram esta dança, por vezes em segredo e em pequenos grupos, por vezes em grandes multidões, colocando os vídeos no YouTube e noutras redes sociais. Abanando freneticamente os seus corpos e cabeças, agitando exuberantemente os seus braços e pernas e em geral agindo selvagemmente ao som da mesma melodia que milhões dos seus pares em todo o globo, usam tudo o que se possa imaginar: grandes perucas muito coloridas, todo o tipo de máscaras (incluindo o rosto Occupy/Guy Fawkes), imitações de roupas integrais islâmicas ou apenas a sua roupa interior. Por vezes, os movimentos são sexuais, outras vezes não, mas normalmente há rapazes e raparigas a dançar juntos. Bandeiras tunisinas esvoaçam ao lado de conjuntos de balões, penas e decorações ainda mais exuberantes.
Os locais são variados: escolas de arte e humanidades de elite, universidades onde os islamitas e os estudantes se enfrentam regularmente, escolas secundárias em bairros sociais, campos de futebol, o principal centro comercial da capital, outras cidades costeiras e as ruas de Sidi Bouzid, a empobrecida cidade do interior onde começou a Primavera Árabe.
A dança original foi criada por um homem de Harlem conhecido como Al B, e uma versão dela tornou-se viral no YouTube em Fevereiro. As pessoas filmaram-se em todo o mundo a fazer o Shake e colocaram os vídeos online. Os islamitas odeiam isto e rotulam-na de ofensiva às suas convicções religiosas que envolvem um vestuário obrigatório que cobre o corpo e a separação dos sexos. Esta não é a forma como eles acham que as mulheres devem agir. Eles também condenam o Shake como “dança para criminosos ocidentais”, presumivelmente referindo-se aos habitantes do gueto de Nova Iorque mundialmente conhecido como símbolo da cultura afro-americana.
Entre os inimigos da dança não estão só os autoproclamados salafistas islamitas mas também os islamitas “comuns” do partido Ennahda no governo e “liberais laicos” como o ministro da educação da Tunísia. Ele é membro do partido Ettakarol, cuja presença no governo (e na presidência) supostamente garante os direitos das pessoas a não serem forçadas a viver segundo os ditames religiosos. A polícia atacou e prendeu pessoas por estarem a dançar publicamente o Shake. Depois de dezenas de vídeos estudantis terem sido colocados online no espaço de alguns dias, o ministro ordenou uma investigação, com a implicação de que as pessoas seriam castigadas. Mais de 9000 candidatos a dançarinos inscreveram-se num massivo Shake de solidariedade marcado para o dia seguinte, mas o número de pessoas que realmente apareceram foi reduzido.
Pelo menos alguns órgãos de comunicação social não islamitas exprimiram alívio por os jovens não terem ido mais longe no tipo de questão — será correcto que raparigas e rapazes se divirtam juntos? — que muitas pessoas que se auto-intitulam laicos prefeririam evitar. Eles temem a própria polarização que os islamitas desejam, sobretudo quando se aproximam as eleições.
Em Sidi Bouzid, um pequeno grupo de estudantes colocou um vídeo deles a fazerem o Shake num recinto fechado (talvez uma casa de banho de rapazes de uma escola) e todos usando máscaras. Quando os responsáveis da escola secundária os proibiram de realizarem uma grande performance pública com rapazes e raparigas juntos, os miúdos saíram à rua e dançaram aí. (Procure por Harlem Shake Sidi Bouzid no YouTube.) Foram atacados por islamitas. No dia seguinte, os atacantes regressaram, obrigando os dançarinos a entrar na escola. A polícia, que tal como os islamitas foi o alvo de violentos protestos em Dezembro passado, não interveio.
O Shake depressa se propagou ao Cairo. Também aí se tornou num acto de desafio à islamização da sociedade com que mesmo os liberais estão a alinhar, tal como o fizeram os regimes supostamente laicos de Ben Ali e Mubarak que os jovens e outras pessoas derrubaram há dois anos.
Começou com a colocação de um vídeo de egípcios a dançar o Shake frente ao símbolo nacional, a pirâmide de Gizé. A polícia anunciou a prisão de quatro estudantes do Cairo por estarem a dançar em roupa interior. Cerca de 70 pessoas juntaram-se frente à sede da Irmandade Muçulmana que agora dirige o governo. Em Dezembro passado, os manifestantes tentaram incendiar completamente o edifício, e a polícia antimotim interveio para o proteger. Desta vez, os jovens dançaram e cantaram “Abaixo o guia”, referindo-se ao dirigente da Irmandade. Alguns iam disfarçados de membros da Irmandade, outros de Rato Mickey.