Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 23 de Junho de 2003, aworldtowinns.co.uk
Protestos estudantis iniciam insurreição no Irão
O movimento que começou na semana passada com os protestos dos estudantes da Universidade de Teerão propagou-se a pelo menos nove outras cidades iranianas e transformou-se numa insurreição geral no Irão com uma escala não vista durante a última geração. Os estudantes planeiam uma nova série de manifestações para o dia 8 de Julho, no aniversário de uma insurreição estudantil ocorrida há quatro anos e que marcou o início de uma disposição para a mudança no Irão. Desta vez, muita gente saiu à rua para derrubar a tirania religiosa de uma vez por todas. Como dizia um estudante: "Não estamos aqui a arriscar as nossas vidas para reformar este sistema assassino. Nós queremos o derrube completo da República Islâmica." À medida que as acções de rua se propagam a outras zonas do país e a outras classes sociais, a 20 de Junho um importante mulá pediu penas de morte para os que tinham sido presos.
A sublevação começou a 10 de Junho, quando apenas algumas dezenas de estudantes organizaram um protesto no campus da Universidade de Teerão contra os planos de privatização das universidades públicas. O seu número cresceu para cerca de 150 quando deixaram o campus. Desfilando pela "Avenida Universitária", começaram a cantar palavras de ordem contra o regime. Quase imediatamente foram atacados pelos assassinos paramilitares do Hezbollah, pela polícia secreta e pelas unidades de contra-insurreição. Em vez de ficarem intimidados, os estudantes contra-atacaram e envolveram-se em constantes escaramuças com os seus atacantes. Os estudantes ficaram surpreendidos e encantados quando, muito rapidamente, os habitantes locais saíram das suas casas. Os telefones começaram a tocar em diferentes cantos da cidade para informar outras pessoas que os estudantes da Universidade de Teerão precisavam de ajuda. Carros começaram a tocar as suas buzinas e a dirigir-se para a universidade. Milhares de pessoas, talvez dezenas de milhares, juntaram-se aos protestos. Os chamados Guardas Revolucionários do regime (Pasdaran) tentaram bloquear as ruas que levavam ao campus universitário, mas eles e o Hezbollah foram cercados pelos determinados estudantes e pelas pessoas em geral. Os estudantes cantavam: "Povo, Povo, Apoiem-nos"; e as pessoas cantavam, "Estudantes, Estudantes, Nós Apoiamos-vos" e "Estudantes, Povo, Combatam o Regime". Os dois lados construíram barricadas e uniram forças. Seguiram-se uma enorme unidade e combates de rua. O Hezbollah fugiu, tentando escapar por ruelas e vielas, enquanto eram perseguidos pelo povo. Muitos deles receberam uma verdadeira lição das massas. Os recontros continuaram durante oito horas completas. De acordo com os relatos oficiais, foram presos 80 estudantes.
Uma declaração emitida pelo Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista) informava que as palavras de ordem dos manifestantes visavam todo o regime e todas as suas facções. Elas incluíam: "Abaixo a República Islâmica, Morte a Khamenei" (o "Líder Supremo" da República Islâmica), "Khatami, Maldita a tua Traição" (referindo-se ao Presidente iraniano, Khatami, um reformista eleito há vários anos e que agora milhões de iranianos sentem que não mudou coisa nenhuma), "Cocktails Molotov hoje, mulás a arder amanhã" (os mulás são os tiranos religiosos que governam o Irão) e "O Povo levanta-se, o Irão tornou-se na Palestina".
Muitos carros e motorizadas pertencentes às forças repressivas foram incendiados; bancos e edifícios estatais foram atacados e danificados em fúria contra o Estado.
No dia seguinte, houve uma calma aparente durante as horas do dia, mas os estudantes e o povo estavam a preparar-se para uma segunda noite. Os protestos recomeçaram e as escaramuças continuaram até de manhã. Desta vez, a movimentação das pessoas era como a excitação que se segue à vitória da equipa de futebol do Irão nos jogos internacionais. As estradas estavam cheias de carros a buzinar e com os limpa-vidros ligados, como sinal de alegria e de celebração de uma boa batalha contra o regime. As pessoas sentiam uma tremenda sensação de unidade e de alegria.
A batalha era pesada em volta do campus. Os estudantes ocuparam a área em volta das residências estudantis e barricaram-se. O Hezbollah e os Guardas atacaram com a sua cavalaria motorizada. Os estudantes tiveram de se retirar para dentro das residências, mas contra-atacaram e o Hezbollah e os Guardas tiveram de fugir. Enquanto fugiam, muitos deles foram agarrados e espancados por populares que os esperavam, escondidos nas ruelas. Foram presos três membros do Hezbollah e ficaram detidos pelos estudantes, que anunciaram que os manteriam prisioneiros e só os soltariam em troca da libertação de todos os que tinham sido presos na noite anterior. Muitos estudantes e populares entrincheiraram-se nos telhados das zonas de batalha e lançaram cocktails Molotov aos Guardas e ao Hezbollah que se encontravam abaixo. Muita gente também saiu de suas casas para alimentar os estudantes.
Este movimento tem muitas boas qualidades. Está completamente fora do controle do grupúsculo de estudantes que se autodenomina "Gabinete de Consolidação da Unidade – As Associações de Estudantes Islâmicos" que é o braço estudantil da "facção reformista" da República Islâmica do Irão (pró-Khatami). As suas palavras de ordem para o movimento estudantil são: 1) Seja reformista e não revolucionário – i.e., peça reformas dentro do quadro da República Islâmica; 2) Use meios pacíficos e não a violência. Erguer armas contra armas é mau!; 3) Não saia do campus, leve a cabo protestos pacíficos e manifestações no campus – i.e., não galvanize as massas. Recentemente estas Associações de Estudantes Islâmicas louvaram a remoção de Saddam Hussein do Iraque pelas forças anglo-americanas e pediram uma acção semelhante dos EUA para remover a "facção dominante da República Islâmica do Irão". As forças pró-Khatami ficaram gélidas perante esta nova série de protestos, o que é um bom sinal. Um outro grupúsculo estudantil pró-EUA, que se tinha separado da Associação Islâmica há vários anos, também não foi muito entusiástico em relação a estes violentos protestos.
Os militantes estudantis conseguiram libertar-se da influência política e ideológica das Associações Islâmicas. Agora o desafio é lutarem por estabelecer uma clara posição anti-imperialista. O facto de os grupúsculos estudantis das Associações Islâmicos estarem a dar sinais pró-EUA, terá um efeito positivo na maioria dos estudantes, ou seja, irá ajudá-los a distanciarem-se de todos os apelos dos EUA a mudança de regime no Irão e a compreender que os EUA não estão a tentar salvar outra coisa que não o reaccionário sistema estatal do Irão. É significativo que o esquema de privatização das universidades que era o alvo inicial dos protestos dos estudantes é exactamente o tipo de "reformas" associada às forças pró-EUA.
Os estudantes em Isfahan e Shiraz saíram às ruas assim que ouviram falar dos acontecimentos de Teerão. Um basij (paramilitar pró-governo) apunhalou mortalmente um estudante na segunda cidade. A 17 de Junho, acções de protesto foram também relatadas em Awaz, Mashhad, Kerman, Kermanshahr e Tabriz. Dez polícias foram dados como feridos em confrontos em Hamedan. Em Karaj, de acordo com um email enviado à BBC, "As pessoas estavam a carregar camiões cheios de tijolos e para os lançar à polícia. [...] As mulheres e as raparigas deitaram fora os seus lenços e entoaram palavras de ordem muito ordinárias contra este regime selvagem."
Um email de Teerão informava o seguinte: "Hoje, muitas mulheres reuniram-se à volta do portão dianteiro da Universidade de Teerão e deitaram fora os seus lenços durante a concentração. Foram severamente espancadas com correntes... Desfiz-me em lágrimas quando ouvi isso... Estão a bater nos estudantes nas ruas. Estão a apunhalá-los com facas. Esta violência está a acontecer de facto nas ruas de Teerão. [...] Mas, sabe, os estudantes estão em supremacia numérica de milhões face ao Hezbollah. [...] Têm as massas do seu lado."
(Para mais notícias, consultar: www.sarbedaran.org ou www.aworldtowin.org)