Do jornal Público de 20 de Julho de 2001:

Primeiro-ministro do Nepal demite-se

Koirala admite derrota na luta contra os maoistas

O primeiro-ministro do Nepal demitiu-se ontem por não conseguir dominar a guerrilha maoista. Girija Prasad Koirala apresentou a sua saída como uma forma de abrir caminho à resolução dos problemas que afectam o reino.

“Decidi demitir-me para proteger a democracia, resolver os problemas nacionais e manter a unidade dentro do meu próprio partido”, declarou na sua comunicação à rádio e televisão estatais. “Se todos os partidos políticos não ficarem unidos, então o país vai enfrentar uma situação ainda mais grave.”

Koirala tem estado sob grande pressão da oposição pela forma como tem lidado com a guerrilha maoista, recebendo ainda acusações de estar envolvido em casos de corrupção, como o negócio que envolveu a compra de um avião da companhia aérea estatal à Lauda Air austríaca.

Os rebeldes, que há cinco anos lutam para substituir a monarquia por um regime republicano comunista, aumentaram recentemente os seus ataques, aproveitando a instabilidade criada com o massacre de vários membros da família real, no mês passado.

No seu comunicado, Koirala afirmou que as ofensivas maoistas são “dirigidas não apenas contra a democracia, mas também contra a segurança e a integridade nacional”.

Na semana passada, o seu vice, Ram Chandra Poudel, demitiu-se, alegando incompatibilidades com a forma como Koirala lidava com os rebeldes. E na quarta-feira, um líder maoista afirmou que estaria disposto a negociar com o Governo, desde que o primeiro-ministro se demitisse. A saída de Koirala – que em Março assumiu o quarto mandato com a promessa de acabar com a corrupção e acabar com a luta maoista – pode abrir o caminho para o recomeço das negociações para a paz.

Os guerrilheiros garantiram a libertação dos seus reféns se o Governo fizesse o mesmo com os rebeldes detidos. O Executivo rejeitou a oferta. O Partido Unificado Marxista-Leninista (UML), empenhado no derrube do chefe do Governo, acusou-o ainda de não ter conseguido assegurar a protecção aos membros da polícia.

“Ele [Koirala] era uma mula teimosa”, disse à Reuters Kunda Dixit, editor do semanário anglófono “Nepali Times”. A demissão “é um indicador de quanto ele era poderoso: foi necessário o esforço simultâneo de dissidentes do seu partido, de toda a oposição e dos maoistas para o derrotar, ao fim de seis meses”.

O agora ex-primeiro-ministro foi também criticado pela forma como informou a população nepalesa da morte de nove membros da família real, incluindo o rei Birendra, assassinados pelo príncipe herdeiro, Dipendra.

Francisca Gorjão Henriques

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