O seguinte artigo foi publicado no sítio do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA:
- revcom.us/en/reactionary-regime-syrias-bashar-al-assad-overthrown-what-happening-syriawhy-who-are-forces (inglês, 9 de dezembro de 2024)
- revcom.us/es/el-derrocamiento-del-reaccionario-regimen-sirio-de-bashar-al-asadque-pasa-en-siriapor-que-cuales (castelhano, 11 de dezembro de 2024)
Antecedentes básicos, pontos de orientação
O reacionário regime sírio de Bashar al-Assad foi derrubado:
O que está a acontecer na Síria?
Porquê? Que forças estão envolvidas?
Quais são os interesses das pessoas?
Nota da Redação do Revolution/Revolución: A Síria está a meio de uma grande convulsão com várias forças reacionárias no terreno, apoiadas por potências imperialistas. Acaba de ser noticiado que o regime reacionário de Bashar al-Assad na Síria foi derrubado e que Assad fugiu do país. A situação continua fluida e a mudar de dia para dia. Iremos fornecer aqui alguns antecedentes básicos e uma imagem geral do que está a acontecer e de quais são os interesses das pessoas desse país e de todo o mundo.
O que está a acontecer na Síria?

A Síria é um país de cerca de 24 milhões de pessoas, situado no coração do Médio Oriente, entre o Líbano, a Turquia, o Iraque, a Jordânia e Israel/Palestina. Foi aqui que há milhares de anos se desenvolveram algumas das primeiras civilizações humanas.

Na quarta-feira, 27 de novembro, o grupo fundamentalista islâmico sunita Hay'at Tahrir al-Sham, juntamente com o Exército Nacional Sírio (ENS), apoiado pela Turquia, iniciou um levantamento armado contra o regime de Bashar al-Assad, que governou a Síria nos últimos 24 anos.
Estas forças começaram por tomar a segunda maior cidade da Síria, Alepo, situada no noroeste do país, e depois avançaram rapidamente para o sul, tomando as importantes cidades de Hama e, logo a seguir, Homs. No fim de semana de 7-8 de dezembro, o Hay'at e o ENS tinham tomado Damasco, a capital da Síria, e derrubado o regime de Assad. O objetivo declarado do Hay'at é a criação de um regime baseado em “princípios islâmicos”.
Os acontecimentos continuam a desenvolver-se rapidamente. À medida que se fruam propagando as notícias deste levantamento, outras forças opostas ao regime de Assad também se levantaram em diferentes partes do país. As potências regionais e mundiais estão a manobrar para defenderem os interesses delas nesta situação turbulenta e está longe de ser claro o que irá ser a Síria amanhã.

Uma coisa é clara: o povo sírio continua a sofrer terrivelmente, incluindo os 370 mil sírios comuns que foram obrigados a deixar as suas casas devido a esta última batalha, e nenhuma das forças que estão agora a determinar os acontecimentos na Síria irá pôr fim a isso e levar à libertação.
Porque é que isto está a acontecer?
A causa mais fundamental deste levantamento é a longa dominação imperialista da Síria e a brutal opressão do povo sírio pelo imperialismo. No início do século XX, após a Primeira Guerra Mundial, as potências colonialistas-imperialistas Grã-Bretanha e França assumiram o controlo do Médio Oriente e dividiram-no entre si, tendo a França ficado a controlar a Síria. Desde então, a Síria tem sido governada por uma série de ditaduras assassinas e opressoras, como a de Assad, apoiadas, ou intimidadas, por várias potências imperialistas e reacionárias, entre as quais os EUA e Israel. Nas últimas décadas, a Rússia e a República Islâmica do Irão, uma sufocante teocracia islâmica fundamentalista, desempenharam importantes papéis na Síria.
Estas potências regionais e imperialistas rivais têm lutado pela Síria há décadas como parte da luta delas pelo domínio do Médio Oriente, uma região com vastas reservas petrolíferas e lucrativas rotas comerciais, situada numa estratégica encruzilhada militar e estratégica chave entre a Ásia, a Europa e África. Em 2011, o povo sírio, muito justamente, ergueu-se contra o regime de Assad, mas esse levantamento foi rapidamente transformado numa guerra por procuração entre essas potências mundiais e regionais rivais, uma guerra por procuração que nunca acabou totalmente.

O povo sírio tem sofrido horrivelmente em resultado da dominação imperialista, do regime de Assad e dos horrores da guerra civil síria. Por exemplo, em 2023, mais de 5,4 milhões de sírios viviam como refugiados noutros países e mais de 6,9 milhões estavam deslocados dentro da Síria. Mais de 90% dos sírios vive abaixo do limiar de pobreza, quase 17 milhões precisam de assistência humanitária e a maioria sofre insegurança alimentar — ou seja, não tem a certeza onde obterá a próxima refeição.
Quem são as forças envolvidos na Síria hoje?
O rápido avanço das forças anti-Assad apanhou o mundo de surpresa e os acontecimentos na Síria estão a desenvolver-se a uma velocidade vertiginosa. Todas as diversas forças envolvidas na Síria estão a fazer cálculos rápidos e a manobrar para defenderem os seus interesses nesta situação em rápida mudança.
As forças de oposição na Síria. Há muitos grupos islâmicos sunitas fundamentalistas e jiadistas a operar na Síria, como o Hay'at, bem como o Estado Islâmico (ISIS). São forças reacionárias e por vezes rivais que têm estado a ser apoiadas por diferentes potências imperialistas e regionais, a fim de enfraquecerem ou derrubarem o regime de Assad. Também há forças nacionalistas curdas alinhadas com os EUA, bem como forças e indivíduos laicos e democráticos na Síria.
A Turquia. Os governantes fascistas da Turquia apoiam o seu próprio grupo fundamentalista islâmico na Síria, o Exército Nacional Sírio. A Turquia tem como objetivo aumentar a sua influência na Síria e o seu poder na região, fazer regressar à Síria os refugiados sírios que fugiram para a Turquia durante a guerra civil de 2011-2024 e enfraquecer ou destruir as forças curdas na Síria. A Turquia apoiou o levantamento do Hay'at e do ENS contra Assad.
A Rússia e o Irão. Estes países apoiaram o regime de Assad, a Rússia para ter um pé no Médio Oriente, o Irão porque a Síria é uma ponte para o Hezbollah, um seu aliado próximo no Líbano. (O Hezbollah é uma milícia armada e uma força política cuja base é a população muçulmana xiita do Líbano, foi formado no início da década de 1980 com a ajuda do Irão e tem sido um importante aliado militar do Irão contra Israel.)
Durante a guerra civil de 2011-2024, a Rússia, o Irão e o Hezbollah bombardearam e combateram impiedosamente os opositores do regime. As ações deles contribuíram muito para a morte de entre 300 e 500 mil sírios!
Nas vésperas do derrube de Assad, tanto a Rússia como o Irão deram sinais de que não iriam fazer um grande esforço militar para salvar o regime. (Ambos os países retiraram pelo menos parte, se não a maioria, do seu pessoal da Síria ao longo da semana anterior.) Aparentemente, os desgastes da guerra por procuração da Rússia com os EUA na Ucrânia limitaram a capacidade russa de desempenhar um papel importante na Síria, como o que tinham desempenhado ao longo da última década. O mesmo pode ser verdade em relação ao Irão e ao Hezbollah, que têm sido seriamente debilitados pela guerra de Israel no Líbano com o apoio dos EUA, e os ataques de Israel ao Irão.
Israel e os EUA. A guerra total de Israel contra o Hezbollah e os ataques contra o Irão, bem como os ataques ao Hezbollah e às forças iranianas no interior da Síria, enfraqueceram seriamente o regime de Assad e os apoiantes dele. Isto ajudou a criar uma oportunidade para a insurgência fundamentalista islâmica. Além de terem estacionado um pequeno número de tropas norte-americanas dentro da Síria para apoiarem as forças curdas e combaterem o ISIS no nordeste da Síria, os EUA têm estado a manobrar nos bastidores para fazer com que Assad abandonasse a Rússia e o Irão e se juntasse aos EUA e aos aliados deles. Não é claro como é que exatamente os EUA e Israel irão reagir ao derrube de Assad. O que é certo é que irão procurar maneiras de aprofundar o seu domínio do Médio Oriente e enfraquecer o seu rival imperialista russo e o seu rival regional iraniano.
Quais são os interesses do povo?
Os interesses do povo não estão em apoiar nenhuma das forças dominantes na Síria — certamente não os EUA e Israel, nem o regime de Assad e os seus apoiantes iranianos e russos, nem as forças que agora derrubaram o regime de Assad, e em particular as forças fundamentalistas islâmicas. Nenhuma delas representa uma alternativa libertadora aos horrores do regime de Assad.
Uma das principais dinâmicas para se entender a situação na região e a nível internacional é o que o líder revolucionário Bob Avakian (BA) caracterizou como “a dinâmica entre as potências imperialistas e as forças fundamentalistas islâmicas”, a que ele chama “os dois historicamente obsoletos”:
O que vemos em contenda aqui, com a Jihad de um lado e o McMundo/McCruzada [o imperialismo ocidental cada vez mais globalizado] do outro, são estratos historicamente obsoletos da humanidade colonizada e oprimida contra estratos dominantes e historicamente obsoletos do sistema imperialista. Estes dois polos reacionários reforçam-se um ao outro, ainda que ao mesmo tempo se oponham um ao outro: se alinharmos com qualquer um destes “obsoletos” acabamos por fortalecer os dois.
Ainda que esta seja uma formulação muito importante e seja crucial para se compreender muitas das dinâmicas que impulsionam as coisas no mundo neste período, ao mesmo tempo temos de ser claros em relação a qual destes “historicamente obsoletos” tem causado os maiores danos e constitui a maior ameaça à humanidade: são os “estratos dominantes e historicamente obsoletos do sistema imperialista”, e em particular os imperialistas norte-americanos.
- Bob Avakian, O BÁsico 1:28
Neste momento, esta dinâmica está a interpenetrar-se com o que Bob Avakian também analisou sobre o grave perigo de uma guerra regional mais vasta. As manobras e os imperativos impulsionadores das potências imperialistas e reacionárias estão agora a intensificar o perigo desta guerra, especialmente com as movimentações agressivas dos EUA e de Israel na região:
@BobAvakianOfficial REVOLUTION #99 [inglês/castelhano]: “Enquanto denunciam os ‘terroristas’, os governantes dos EUA apoiam abertamente o terrorismo.”
Agora, este apoio a Israel na execução de massacres arbitrários foi alargado de modo a envolver o Líbano e outros países e povos do Médio Oriente, incluindo o Irão. Isto está a aumentar o perigo de uma guerra mais vasta e ainda mais destrutiva.
E que não haja nenhuma dúvida ou confusão em relação a isto: A responsabilidade pela grave escalada do conflito militar no Médio Oriente, e por quaisquer que sejam os resultados disto, recai sobre Israel — e sobre o governo norte-americano, que continua a fornecer um apoio total a Israel.
Que mais precisam vocês de saber, para dizerem que todo este maldito sistema tem de se ir embora?!
Ao avançarmos, mantenhamo-nos atentos aos desenvolvimentos
O odiado regime de Assad foi derrubado, e as forças fundamentalistas islâmicas parecem, por agora, ter tomado grande parte da Síria. No entanto, os acontecimentos na Síria continuam a ser muito fluidos. As diferentes forças, incluindo as potências regionais e mundiais, continuam a manobrar e a intervir de uma forma ou de outra, e a região e o mundo em geral estão em grande turbulência. Isto implica simultaneamente graves perigos e verdadeiras oportunidades para revoluções emancipadoras. Portanto, mantenham-se atentos a @BobAvakianOfficial nas redes sociais, ao sítio revcom.us e ao canal The RNL—Revolution, Nothing Less!—Show no YouTube.