Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 19 de Junho de 2006, aworldtowinns.co.uk
O novo hino dos fuzileiros norte-americanos
Um cabo dos fuzileiros navais norte-americanos (Marines) é a estrela de um vídeo caseiro colocado numa popular página pública da internet. No vídeo, o cabo canta uma canção que ele escreveu para outros fuzileiros de uma base aérea para helicópteros de ataque norte-americanos no Iraque. A canção fala de um soldado que encontra uma rapariga iraquiana num restaurante de comida rápida onde entrou para fugir a um tiroteio. Ela diz-lhe algo sobre a jihad, usando palavras com duplo sentido. Ele diz-lhe que não percebe árabe mas que mesmo assim a ama e vão para casa dela. Quando entram em casa, a família dela está na sala de estar. O pai e o irmão da rapariga repetem as mesmas palavras e vê-se que estão armados.
“Então agarrei na irmã mais nova dela e puxei-a para a minha frente.
Quando as balas começaram a voar
O sangue jorrou entre os olhos dela
E eu ri-me desvairadamente...”
Nesta altura do vídeo, o cantor sorri com grande prazer e os seus ouvintes aclamam. Depois, ele continua: “Rebentei com esses pequenos c***ões para toda a eternidade”. Toda a plateia rebenta em aplausos quando ele termina: “Eles deviam saber que estavam a fazer m**da com um fuzileiro.” (O vídeo de quatro minutos pode ser visto em www.cair.com/video/marine-hadji-girl.wmv.)
A canção é repugnante. Mas a realidade é muito, muito pior.
O vídeo foi divulgado exactamente na altura em que estavam a surgir pormenores sobre o que os fuzileiros norte-americanos haviam feito na cidade iraquiana de Haditha, a 19 de Novembro de 2005. Os factos eram conhecidos das autoridades norte-americanas, incluindo a Casa Branca, mas foram mantidos em segredo até ter chegado à comunicação social um vídeo com imagens dos corpos. Nessa altura, tentaram explicar que uma patrulha de 13 homens tinha reagido exageradamente quando se viu debaixo de fogo.
Claro, eram apenas soldados a defenderem-se. Tal como na canção.
O que realmente aconteceu foi o seguinte: durante um período de quatro a cinco horas, os fuzileiros executaram 24 pessoas. Dirigiram-se a um táxi, fizeram sair o condutor e quatro passageiros estudantes universitários e executaram-nos a todos quando estavam deitados no chão. Entraram numa casa, encontraram duas mulheres, uma criança de quatro anos e quatro homens e mataram-nos a todos com tiros na cabeça à queima-roupa. Depois, os fuzileiros entraram violentamente numa segunda casa e assassinaram cinco crianças com idades entre os 3 e os 14 anos, duas mulheres e um velho numa cadeira de rodas. Ainda mataram mais quatro homens depois disso. Duas crianças que sobreviveram escondendo-se debaixo de uma cama contaram depois aos jornalistas o que aconteceu. (Leia o relato completo feito por seis jornalistas no New York Times de 17 de Junho.)
Os fuzileiros são uma elite das forças armadas norte-americanas que definem os padrões para o resto dos soldados. O infame “Hino dos Fuzileiros”, o hino do corpo de fuzileiros navais norte-americanos, começa com as palavras “Dos salões de Montezuma aos arredores de Trípoli”, descrevendo o papel dos fuzileiros nas invasões do México e do Norte de África nos primórdios da história norte-americana.
Este novo hino não é muito diferente no seu conteúdo. O seu título é Rapariga Hadji. Um hadji é um muçulmano que fez uma peregrinação a Meca. Para os soldados norte-americanos no Iraque, para quem todos os iraquianos são o mesmo inimigo sem rosto, é uma palavra racista, desumanizadora, como a palavra “Gooks” com que os soldados norte-americanos descreviam todos os vietnamitas. Alem disso, as mulheres iraquianas também são consideradas todas permutáveis e as raparigas são tomadas como espólio de guerra.
Que todos os fuzileiros no vídeo adorem a canção e pareçam estar muito contentes com a forma como exprime os seus sentimentos por si só já seria suficiente para expor a natureza da ocupação norte-americana. Estas ideias, cuidadosamente instiladas pelo seu treino e pela sociedade que os enviou para o Iraque, são o que lhes torna possível levar a cabo missões como a de Haditha numa guerra contra todo um povo.