Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 29 de Março de 2004, aworldtowinns.co.uk

Maoistas tomam temporariamente capital distrital no Nepal ocidental

A 20 e 21 de Março, num difícil combate, a Divisão Ocidental do Exército Popular de Libertação (EPL) atacou e tomou durante 13 horas Beni, a capital do distrito de Myagdi, no Nepal ocidental. Este ataque vitorioso a um posto policial e aos aquartelamentos do exército a 300 quilómetros a oeste de Katmandu ocorreu três semanas após a Divisão Oriental do EPL ter vencido uma batalha semelhante em Bhojpur, uma capital de distrito no leste do país.

De acordo com os primeiros relatos, a cidade estava a ser defendida por cerca de mil homens do Batalhão de Kaliprasad do Exército Real, cerca de metade deles no quartel e o resto em patrulha. Cerca de 150 foram eliminados durante os combates. Pensa-se que mais algumas centenas se tenham rendido. Há relatos de os rebeldes terem ficado com cerca de três dezenas de funcionários políticos e militares em seu poder após a batalha. As forças do EPL, dirigidas pelo Partido Comunista do Nepal (Maoista) também apreenderam cerca de 130 armas modernas e 50 000 munições.

O ataque, que começou por volta das 23 horas locais, depressa resultou na destruição das instalações da Administração do Distrito, da Polícia do Distrito e do Gabinete de Desenvolvimento do Distrito. A prisão foi tomada e todos os presos políticos libertados. Os soldados rebeldes também tomaram as instalações do Banco Nacional de Desenvolvimento e confiscaram todos os seus valores. Todas as armas da polícia e do exército que estavam nas instalações da Polícia do Distrito foram apreendidas. À meia-noite foi atacado o Batalhão de Kaliprasad do Exército Real e, de acordo com o serviço noticioso maoista KSS, o círculo exterior do quartel foi destruído. A batalha durou até ao meio-dia do dia seguinte. Os soldados do EPL que disparavam espingardas a partir das colinas que cercam a cidade impediram as tentativas de enviar reforços por helicóptero. Um helicóptero foi atingido e forçado a aterrar. O aquartelamento do exército, a sede da polícia do distrito, a sede do Oficial Principal do Distrito e o Gabinete de Desenvolvimento do Distrito ficaram em chamas. De acordo com a imprensa nepalesa, a população dos arredores de Beni veio entoar palavras de ordem, cantar canções revolucionárias e dançar em grupo para saborear a vitória.

Cerca das três horas da tarde de 21 de Março, quando os revolucionários dirigidos pelos maoistas já tinham abandonado o campo de batalha, sete helicópteros do Exército Real pairaram nos céus em torno da cidade e bombardearam aldeias vizinhas. Três habitantes locais foram mortos pelos bombardeamentos. As notícias do vitorioso ataque foram divulgadas pela rádio FM maoista do distrito de Salyan. A população do distrito de Baglung, a 15 quilómetros de distância, também ficou muito contente por ouvir falar deste importante ataque a um acampamento inimigo.

Numa conferência de imprensa nessa noite em Katmandu, o Exército Real declarou ter matado 500 maoistas e ferido mais de 200 outros nessa batalha, com apenas 18 perdas do seu lado. Muitos jornalistas presentes manifestaram a sua desconfiança. Quase todos os jornais nepaleses publicados no dia seguinte levantaram dúvidas e chegaram a ridicularizar essa declaração. Nos dias seguintes, o Ministério do Interior do governo monárquico e a chefia do Exército Real na capital advertiram a comunicação social para não publicar nada para além das informações fornecidas pelo Exército.

Nessa mesma noite de 21 de Março, o Presidente Prachanda do PCN(M) emitiu uma declaração com os factos da batalha. Também disse que “esta segunda acção qualitativamente vitoriosa, imediatamente após a acção centralizada de Bhojpur há algum tempo, refuta vigorosamente a falsa propaganda espalhada pelo inimigo [sobre o enfraquecimento da força militar dos maoistas] e prova vigorosamente o desenvolvimento e a invencibilidade da guerra popular... Através de acções descentralizadas em todo o país e desta série de acções mais recentes, o Exército Popular de Libertação estabeleceu a sua supremacia militar sobre o criminoso Exército Real. Até à concretização de uma solução política de futuro, em conjunto com mudanças radicais, a série de acções militares continuará.”

O serviço de notícias KSS relatou que esta vitória aconteceu à custa das vidas de 49 revolucionários, incluindo um Vice-Comandante de Brigada do EPL.

A reacção política do regime e dos seus apoiantes durante os dias seguintes espelhava uma sensação de desespero. O Enviado Especial britânico ao Nepal, Jeffrey James, reuniu-se com os líderes dos partidos políticos parlamentares do país e pediu-lhes unidade com o rei. As lutas internas que envolvem a classe dominante do Nepal têm sido particularmente agudas desde que o Rei Gyanendra dissolveu o parlamento e tomou todo o poder para si próprio, o ano passado. Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, declarou que os maoistas “deveriam parar a violência... e regressar às conversações com o governo para se encontrar uma solução política para a crise”. O Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, advertiu que não era possível uma solução militar para o conflito. A monarquia tem declarado que está à beira de derrotar os maoistas.

No passado, o PCN(M) estabeleceu conversações com o governo por duas vezes e propôs uma solução pacífica: a organização de uma mesa-redonda, a formação de um governo interino e a eleição de uma assembleia constituinte. Saliente-se que, ao contrário de outras conversações de paz propostas por organizações armadas não-revolucionárias nalguns países, o PCN(M) propõe-se negociar na base de uma força crescente e da preservação do Exército Popular de Libertação, das áreas libertadas revolucionárias e da consciência política revolucionária das vastas massas populares nepalesas. Se a monarquia feudal e as classes reaccionárias em que se baseia continuam a recusar ceder o poder ao povo e a deixar que ele determine o seu próprio destino, então, como indica a declaração do Presidente Prachanda, a futura ofensiva estratégica maoista da guerra popular com oito anos, que está agora a ser preparada, decidirá a questão pelas armas.

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