Do jornal Diário de Notícias de 8 de Julho de 2001:

Maoístas atacam no Nepal

Repressão no Nepal
Repressão. O novo rei do Nepal, Gyanendra, não perdeu tempo a reforçar os poderes das forças de segurança (AP-Binod Joshi)

A guerrilha maoísta lançou uma nova série de ataques contra a polícia do Nepal, que fez pelo menos 45 mortos, alguns meses após uma série de atentados semelhantes.

Cinco rebeldes também foram abatidos durante estes ataques, segundo a polícia. A guerrilha maoísta atacou do norte ao sul do país, em três distritos diferentes, contrariamente ao seu hábito. A sede dos maoístas nepaleses situa-se nos seis distritos do Oeste do país onde esta guerrilha concentra tradicionalmente os seus ataques.

Vinte e um polícias foram mortos em Lamjung, 190 quilómetros a oeste de Katmandu, dez em Nuwakot, 90 quilómetros a norte da capital, e nove em Gulmi, situada 270 quilómetros a sudoeste de Katmandu, segundo responsáveis do Ministério do Interior nepalês.

Segundo um responsável da polícia de Lamjung, um número importante de guerrilheiros maoístas, que ele não precisou, atacaram uma esquadra que albergava 24 polícias na aldeia de Bichaur a meio da noite, matando 21 deles.

“Os maoístas e os polícias combateram durante duas horas, mas estes últimos foram vencidos pelo maior número de maoístas”, disse aquele responsável.

Dez outros polícias foram mortos e vários feridos no ataque a uma esquadra de polícia em Nuwakot, segundo um responsável local, enquanto em Gulmi um outro responsável da polícia registou nove mortos.

Os guerrilheiros maoístas parecem ter intensificado os seus ataques nas últimas semanas, após vários atentados à bomba.

Na quarta-feira, a explosão de uma bomba, também atribuída aos rebeldes maoístas, ocorreu na residência do primeiro-ministro Girija Prasad Koirala, sem fazer vítimas. Os maoístas são suspeitos de um atentado à bomba na sexta-feira à noite contra um cinema em Bhaktapur, nos arredores de Katmandu, que não fez vítimas. Na quinta-feira à noite, fizeram saltar uma central telefónica.

Os rebeldes maoístas lançaram um apelo à greve para 12 de Julho para protestar contra a entrada em vigor de leis sobre a segurança que concederão às autoridades poderes alargados para prender qualquer pessoa suspeita de atentado contra a segurança nacional.

Estes novos ataques seguem-se a uma série mortífera lançada em Abril último que fez um total de 71 mortos numa semana, apenas entre as fileiras da polícia.

Um ataque a 6 de Abril, no Oeste do Nepal, fez 49 mortos, entre os quais 29 polícias. Uma semana depois, também na zona oeste do país, um outro ataque contra uma esquadra da polícia fez 32 mortos nas fileiras da corporação. Dez outros polícias foram mortos, em acções separadas, na mesma semana.

Os maoístas lançaram, em 1996, uma campanha de acções violentas para tentar derrubar a monarquia constitucional em vigor no Nepal. Mais de 1600 pessoas foram mortas na sequência dessa revolta.

Guerrilha quer derrubar a monarquia

Desde o início de 1996, o pequeno reino do Nepal (23 milhões de habitantes) enfrenta a guerrilha maoísta, que tenta derrubar a monarquia constitucional e que fez pelo menos 1600 mortos. Os rebeldes, que mataram ontem 45 polícias, já tinham lançado em Abril uma série de três ataques mortais, fazendo 71 mortos nas fileiras da polícia. Em Abril de 1990, após uma revolta popular, o rei Birendra Bir Bikram Shah Dev aceitou o multipartidarismo. Seis anos mais tarde, os maoístas decidiram boicotar as eleições e lançaram a “guerra popular”. Os seus chefes são Pushpa Kamal Dahal, conhecido por Prachand, um agrónomo filho de camponeses, e Babu Ram Bhattarai, doutor em Engenharia. Os rebeldes, cuja força parece ser crescente, apelaram à greve para 12 de Julho, em protesto contra a entrada em vigor de leis severas sobre a segurança.

Principais Tópicos