Do sítio do Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (em inglês a 26 de maio de 2025 e em castelhano a 28 de maio de 2025).
Israel admite que há fome, faz entrar ajuda a conta-gotas — para intensificar o genocídio, apoderar-se de Gaza e expulsar os palestinos
A meio de um massivo bombardeamento e de um intenso ataque terrestre em Gaza, Israel impôs um bloqueio de 80 dias de alimentos, água e provisões médicas. Não entrou nada em Gaza. Só na semana passada é que Israel finalmente permitiu a entrada de 90 camiões de ajuda, dos 9 mil que estavam prontos e eram necessários.
Este pequeno fluxo de ajuda chegou tarde demais para 29 crianças e idosos que já tinham morrido de fome nos últimos dias. Chegou tarde demais para as 326 pessoas que tinham falecido de desnutrição e falta de medicamentos desde março. E poderá ter chegado tarde demais para os 14 mil bebés que correm o risco de morrer de fome em Gaza.
O diretor das Nações Unidas chamou-lhe uma “colher de chá de ajuda”, quando o que era necessária era uma inundação. “Toda a população de Gaza está a enfrentar o risco de fome. (...) A ofensiva militar israelita intensifica-se com níveis atrozes de morte e destruição.”
Durante meses, Israel insistiu em que havia suficiente comida em Gaza. Mas, na semana passada, Israel admitiu estar-se perante uma iminente situação de fome. E depois admitiu ter deixado entrar aquela pequena quantidade de ajuda para poder intensificar o seu ataque genocida, apoderar-se da totalidade de Gaza e expulsar o povo palestino!
A 19 de maio, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu (aliás, Netan-Nazi) gravou uma mensagem vídeo destinada à sua base social fascista, a explicar por que razão tiveram de deixar alguma ajuda entrar:
“Não podemos chegar a uma situação de fome. (...) Não teremos apoio e não conseguiremos completar a missão da vitória.”
Pensem nisso. Não podemos deixar que milhares de pessoas, incluindo bebés e crianças, morram de fome, porque Israel perderia apoio!
Netan-Nazi continuou: “Os nossos melhores amigos no mundo, senadores que sei serem fortes apoiantes de Israel, têm-nos avisado que não nos poderão apoiar se emergirem imagens de fome em massa, (...) É por essa razão, para chegarmos à vitória, que temos de resolver o problema de alguma forma. (...)”
Bezalel Smotrich, o fascista ministro das finanças de Israel, admitiu que “a [ajuda] que irá entrar em Gaza nos próximos dias é a mínima possível.” E continuou: “Verdade seja dita, até ao regresso do último dos reféns, também não deveríamos deixar entrar água na Faixa de Gaza. Mas a realidade é que, se fizermos isso, o mundo irá forçar-nos a parar imediatamente a guerra, e a uma derrota. Seria vencer a batalha e perder a guerra. Estou empenhado em ganhar a guerra.” Smotrich especificou o que isso significa: “Estamos a desmantelar Gaza e a deixá-la apenas com pilhas de entulho, com uma destruição total [que] não tem precedentes a nível mundial.” E deixar entrar esta pequena quantidade de ajuda permite que isso aconteça. Israel pode continuar a sua campanha para forçar os palestinos a irem para sul “e, a partir de aí, queira Deus, para países terceiros, como parte do plano do Presidente Trump. Isto é uma alteração do rumo da história, e nada menos.”
Massacre, fome, destruição e deslocação: Israel intensifica o apocalipse em Gaza
Como escrevemos a semana passada, Israel lançou a sua Operação “Carros de Gedeão”, intensificando os seus bombardeamentos, expandindo as suas operações terrestres e intensificando a sua destruição assassina e o deslocamento em massa de centenas de milhares de pessoas, até agora. Com mais de 80% de Gaza agora fora de limite ou sob ordens de evacuação, os palestinos em Gaza não têm para onde ir. (Ver “Israel inicia a sua Solução Final em Gaza — A existência da Palestina está presa por um fio... O que TU irás fazer?”, revcom.us, 19 de maio, inglês/castelhano)
Os massacres cometidos por Israel, a sua utilização da fome como arma de guerra, a sua destruição das infraestruturas e das terras de Gaza, e o seu repetido deslocamento da população estão todos eles entrelaçados com um único objetivo: impossibilitar que o povo palestino continue a viver aí, e forçá-lo a sair. E os governantes de Israel estão a exprimir isso de uma forma cada vez mais aberta.
Netan-Nazi disse abertamente que é esse o plano dele; agora, eles só estão a trabalhar para encontrar países que acolham os palestinos expulsos.
A semana passada, o enviado especial de Trump para os assuntos dos reféns, Adam Boehler, reafirmou o apoio do regime de Trump à nova ofensiva israelita, “Carros de Gedeão”.
ALERTA NOTICIOSO:
No momento em que encerramos esta edição, Israel está a bombardear palestinos deslocados à força que se tinham refugiado na Cidade de Gaza, matando pelo menos 25 pessoas. As imagens de crianças num inferno de chamas são um horror causado pelo sistema. Não desvies o olhar para o lado.
O arrasamento de Gaza: “Não creio que conseguirão regressar aqui durante pelo menos 100 anos.”
Há, muito justamente, um grande foco no massacre e nas devastadoras campanhas de bombardeamento que Israel tem realizado em Gaza. Mas, em muitos sentidos, os seus bulldozers são mais devastadores do que os seus aviões de combate, e a sua destruição de cada vez mais áreas de Gaza, literalmente arrasando-as por completo, é ainda mais sinistramente genocida do que as suas carnificinas em massa.
A semana passada noticiámos (inglês/castelhano) a destruição da cidade de Rafah, no sul de Gaza, onde 73% dos edifícios ficaram completamente destruídos, e apenas cerca de 4% das infraestruturas permanecem intactas.1
Na semana passada, Israel centrou-se em Khan Younis, bombardeando implacavelmente a cidade e exigindo a evacuação de 80% da cidade e do campo de refugiados de Jabalia, a norte. “Após ter destruído tudo, o exército israelita voltou a invadir Jabalia pela quarta vez desde o início da guerra.”
“Torná-la inutilizável”: a missão israelita de total destruição urbana
Uma nova denúncia da +972 Magazine pinta um horrível panorama de como Israel está a arrasar sistematicamente Gaza para a tornar inabitável durante as próximas décadas.
“‘Torná-la inutilizável’: a missão israelita de total destruição urbana” baseia-se em entrevistas e relatos de soldados envolvidos na demolição com bulldozers e explosivos de vastas áreas urbanas de Gaza. “Enquanto os ataques aéreos causam numerosas vítimas, os bulldozers e os explosivos estão a arrasar Gaza no solo, naquilo que os soldados descrevem ser uma campanha sistemática para tornar a Faixa inabitável.”2
Avraham Zarviv é um dos operadores de bulldozers. Na vida civil, é juiz de um tribunal rabínico, mas em Gaza é conhecido como o “Aplanador de Jabalia” devido a todos os vídeos que orgulhosamente publicou online. “Entre outubro de 2024 e janeiro de 2025, Zarviv disse ter destruído todas as semanas uma média de ‘50 edifícios — não casas de habitação, edifícios. (...) Em Rafah, eles não têm para onde ir, em Jabalia eles não têm para onde voltar.’”
Os soldados deixam claro que estão a acontecer muito poucos combates nas áreas onde estão a fazer essas demolições, e que não há objetivos militares, apenas políticos, uma decisão consciente e estratégica de “arrasar a área”, para garantir que “o regresso das pessoas a estes espaços não seja algo que venha a acontecer”, como disse um soldado.
“Não resta nada, nem uma única parede de mais de um metro de altura”, disse um soldado. “A magnitude e a intensidade da destruição são tão gigantescas — é indescritível.”3
“É a destruição sistemática do espaço urbano de Gaza que está a assentar os alicerces para a limpeza étnica da Faixa, referida no discurso político israelita como sendo a implementação do Plano de Trump”, resume a +972.
Um comandante militar israelita explicou o objetivo: “Em última análise, não estamos a combater um exército, estamos a combater uma ideia. Se eu matar os combatentes, ainda assim a ideia pode permanecer. Mas eu quero tornar a ideia inviável. Quando eles olharem para Shuja’iyya [um dos maiores bairros de Gaza]4 e virem que não há lá nada, só areia, é esse o objetivo. Não creio que eles venham a conseguir regressar aqui durante pelo menos 100 anos”. (Ênfase acrescentada)
O futuro do povo palestino está preso por um fio — devemos opor-nos às calúnias, às mentiras, às ameaças e à repressão para impedir este genocídio!
O genocídio israelita em Gaza continua a intensificar-se no momento em que escrevemos, tornando-se cada vez mais aberta e descaradamente criminoso a cada dia que passa. E continua a haver um apoio militar e político a este colossal crime contra a humanidade por parte dos patronos imperialistas de Israel nos EUA em geral e do regime fascista de Trump em particular.
O que é necessário urgentemente, o que deve crescer urgentemente é um protesto em massa que atinja cada canto da sociedade, cada vez mais amplo, mais profundo e determinado exigindo que este genocídio pare imediatamente!
Como escrevemos a semana passada, “Sobre as duas pessoas da embaixada de Israel assassinadas em Washington, DC” (inglês/castelhano):
A resposta a este genocídio — e o que é urgentemente necessário, em contraste com a nefasta ação realizada contra dois funcionários da embaixada de Israel — é um protesto e uma resistência não violentos, mas massivos e incessantes contra este genocídio, protesto e resistência que não devem ceder às calúnias e intimidações por parte das autoridades governamentais (dos EUA e de Israel) e dos meios de comunicação dominantes, e que devem ser firmes e determinados na sua oposição a este horrendo genocídio, e ao seu apoio contínuo por parte do governo dos EUA, incluindo a declaração descarada e as manobras do regime fascista de Trump, em conjunto com o regime genocida israelita, para expulsarem pela força o povo palestino da sua terra natal em Gaza (e, em última instância, de toda a Palestina).
Fim ao massacre genocida do povo palestiniano às mãos dos EUA e de Israel!
Todo este sistema está putrefacto e é ilegítimo. Precisamos e exigimos: um modo de vida completamente novo, um sistema fundamentalmente diferente!
Um dia no genocídio em Gaza, sexta-feira, 23 de maio:
Em Gaza, as autoridades médicas relataram que mais de 750 pessoas tinham morrido e 2 mil tinham ficado feridas na semana passada. Pelo menos 16 503 crianças morreram em ataques israelitas desde 7 de outubro de 2023. Cerca de 916 tinham menos de um ano de idade. Mais de 4 365 tinham entre um e cinco anos de idade. (O número total de mortes ascende a pelo menos 62 614 pessoas, tendo ficado feridas outras 111 588.)
Cada dia que passa tem sido um pesadelo pior que o dia anterior. Para se ter uma noção da magnitude disto, vejamos apenas um dia disto:
- A pediatra Alaa al-Najjar estava a trabalhar no hospital al-Tahrir, na cidade de Khan Younis, a tratar as vítimas dos ataques israelitas, quando se apercebeu que o bairro dela tinha sido atingido por um massivo ataque aéreo israelita. Correu para casa e, quando lá chegou, viu as equipas de resgate a retirar dos destroços os restos carbonizados dos filhos dela. Sete estavam mortos. Dois outros estavam desaparecidos e dados como mortos, enterrados sob os escombros. O marido e um dos filhos dela ficaram feridos. O filho mais velho tinha 12 anos e o mais novo tinha apenas seis meses.
- No norte, Israel bombardeou uma casa de família no campo de refugiados de Jabalia, deixando cerca de 50 pessoas mortas ou desaparecidas. Testemunhas disseram à Al Jazeera que os militares israelitas estão a matar civis por diversão.
- As forças armadas israelitas alegaram ter atacado “complexos militares, armazéns de armas e postos de atiradores furtivos” e ter “atacado mais de 75 alvos terroristas em toda a Faixa de Gaza”. Aparentemente, os filhos de Alaa al-Najjar eram um dos “alvos terroristas” de Israel.
Bob Avakian: Israel fez algo verdadeiramente incrível — Israel conseguiu transformar os judeus em nazis!
Em novembro de 2023, o líder revolucionário Bob Avakian (BA) fez esta declaração provocadora e tragicamente profunda. Desde então, com a escalada do brutal genocídio israelita, poder-se-ia, infelizmente, preencher todo um livro com exemplos da sua veracidade. Eis três (entre muitos) exemplos das últimas semanas.
** O parlamento israelita debateu a ajuda humanitária. A questão do levantamento do bloqueio israelita de 80 dias e de permitir a entrada de alguma ajuda humanitária em Gaza foi recentemente debatida no Knesset (o parlamento israelita). A certo momento, um parlamentar, médico de uma organização humanitária, disse: “Penso que até todos os que estão aqui sentados à volta desta mesa não querem que uma criança em sofrimento não consiga receber analgésicos nem cuidados médicos mínimos.”
Qual foi a resposta de muitos dos parlamentares presentes a este comentário aparentemente não controverso? Indignação e oposição! Como resumiu o jornal liberal israelita Haaretz, o debate no Knesset revela que nem todos acham que matar à fome as crianças de Gaza é uma coisa má.
** Um médico israelita comparou matar palestinos a “matar baratas”. O Middle East Eye relatou que “um médico israelita reservista do exército comparou, numa publicação nas redes sociais, matar pessoas em Gaza a ‘eliminar baratas’.”
Numa publicação de 18 de maio na rede social X, Sabo Amos, um cirurgião do sistema de saúde pública de Israel, disse que considerava as operações militares de Israel uma questão de “saúde pública” porque, “afinal, nós estamos a falar na eliminação de baratas e outros insetos repugnantes”. (A publicação já foi apagada).
** “Cada criança é um inimigo”. Uma publicação na rede social Instagram datada de 20 de maio: O ex-membro do Knesset israelita Moshe Feiglin disse esta manhã no Canal 14: “Cada criança, cada bebé em Gaza é um inimigo. O inimigo não são os Hamxs. (...) Precisamos de conquistar Gaza e de a colonizar e não deixar lá nem uma única criança de Gaza. Não há outra vitória.”
***
Eis a declaração de Bob Avakian na íntegra (inglês/castelhano):
Uma provocação oportuna por parte de Bob Avakian
O seguinte texto acompanha a minha declaração de que: Depois do Holocausto, a pior coisa que aconteceu ao povo judeu foi o estado de Israel.
Israel fez algo verdadeiramente incrível: Israel conseguiu transformar os judeus em nazis!
Esta é a conclusão terrível mas inevitável que deve ser retirada de toda a história de Israel, com a sua assassina opressão do povo palestino, e as atuais ações genocidas de Israel, juntamente com as declarações de altos funcionários do governo israelita, bem como de apoiantes de Israel, ao tentarem justificar tudo isto.
Também tem de se dizer que nada disto poderia ter acontecido sem o apoio total e impiedoso do imperialismo dos EUA aos continuados crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos por Israel: a sua limpeza étnica contra o povo palestino, o seu regime de apartheid contra ele desde há várias gerações, e agora o intensificado massacre genocida em Gaza e a crescente violência dos colonos ilegítimos, apoiados pelo exército israelita, contra os palestinos na Cisjordânia.
_______________
NOTAS:
1 “Making Gaza Unlivable: Israel Intensifies Attacks as Netanyahu Vows to Seize All of Gaza” [“Tornar Gaza inabitável: Israel intensifica os seus ataques ao mesmo tempo que Netanyahu promete apoderar-se de toda a Gaza”], Democracy Now!, 20 de maio de 2025.
2 “Em dezembro de 2024, a ONU estimava que 69% de todos os edifícios da Faixa de Gaza — incluindo 245 mil unidades habitacionais — tinham sido danificados, com mais de 60 mil edifícios completamente destruídos. Em finais de fevereiro, esse número tinha aumentado para 70 mil”, escreve a +972 Magazine.
3 Israel justifica a maioria das suas atrocidades alegando que está a atingir alvos militares potencialmente perigosos. Mas os soldados envolvidos nas demolições relatam que “atravessávamos as casas, confirmávamos que não havia nenhuma informação de interesse nem militantes presentes, e então a unidade de engenharia entrava em cada edifício com cargas de 10 quilos que afixavam aos pilares principais.” Depois de se retirarem, e de imediato, numa espécie de “ritual” segundo a revista +972 Magazine, detonavam os explosivos. Por outras palavras, não se tratava de objetivos militares e raramente havia qualquer perigo para os soldados israelitas. Toda a operação era uma rotina e era motivada pela estratégia israelita de limpeza étnica.
4 Shuja'iyya situa-se no norte da Faixa de Gaza, a leste da Cidade de Gaza. Antes albergava entre 92 e 100 mil pessoas.