Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 26 de Abril de 2010, aworldtowinns.co.uk

Índia: Aumenta a repressão contra os opositores à Operação Caçada Verde

Como parte da Operação Caçada Verde, o governo indiano está a tentar incutir medo aos indianos, quer dentro quer fora das zonas que eles pretendem limpar de maoistas. Os elementos progressistas de várias correntes políticas que exprimiram a sua oposição a essa operação estão a defrontar-se com ameaças, intimidação e prisões. Entre esses elementos está a conhecida escritora e activista Arundhati Roy, que desencadeou um importante movimento com o seu artigo “Caminhando com os camaradas”, publicado online em www.dawn.com/news/526540.

Lançada no final do ano passado, a Operação Caçada Verde é uma ofensiva militar sem precedentes contra o Partido Comunista da Índia (Maoista) e contra as massas famintas de uma mudança radical que integram o exército que o partido lidera. Esta guerra está a ter lugar nas regiões onde vivem os povos tribais conhecidos como adivasis, as selvas e florestas da Índia central e oriental (Chhattisgarh, Jharkhand, Orissa, Andhra Pradesh, Maharashtra e Bengala Ocidental). Durante gerações, os adivasis tiveram que lutar para manter o uso dessas terras, embora a Constituição indiana supostamente lhes garanta o direito a elas. Repletas de recursos minerais, essas terras são cobiçadas por exploradores empresariais nacionais e internacionais.

Em Dangs, no estado indiano do Guzarate, foram presas recentemente várias pessoas com base em informações da polícia do estado do Orissa. Entre elas estava Avinash Kulkarni, um conhecido seguidor da filosofia de Mahatma Gandhi e activista dos direitos da floresta, levado em custódia a 26 de Março. Ele estava a organizar um Tribunal Popular, um método há muito utilizado pelas massas populares que não têm nenhum acesso ao sistema legal para exporem os crimes governamentais contra o povo. Kulkarni foi acusado de “levar a cabo uma guerra contra o estado” e de organizar e participar em assembleias populares “ilegais” em Dangs e Surat. Os seus companheiros dizem que Kulkarni foi preso para “criar a possibilidade de dividir” o Adivasi Maha Sabha (AMS) que ele lidera, uma aliança de 40 organizações de direitos tribais que integra cerca de 30 mil membros dos povos tribais e que faz parte de um robusto movimento das zonas tribais do Guzarate com vista a implementar a Lei dos Direitos da Floresta. A polícia diz que Kulkarni estava envolvido na organização de uma revolta maoista no sul do Guzarate.

Na manhã de 7 de Abril, um contingente de 25 polícias prendeu o activista Kirity Roy por “se fazer passar por membro do sistema judicial”. Entre os seus “crimes” estão deambular pelo interior e através das fronteiras do Bengala Ocidental e recolher factos e documentar assassinatos extrajudiciais, mortes em custódia, violações, desaparecimentos misteriosos e tortura pela polícia. Roy foi eleita membro da direcção da Amnistia Internacional e representante de uma ONG no Conselho dos Direitos Humanos da ONU em Genebra. Em Junho de 2008, ajudou a organizar Tribunais Populares em nove estados da Índia, como parte de um Projecto Nacional para Combater a Tortura na Índia. Em Kolkata [ex-Calcutá – NT], 82 corajosas mulheres e homens contaram as suas histórias a um Tribunal local. Entre eles estava a família de Santosh Mondal. A polícia estava a persegui-lo por ser contrabandista. Para escapar, ele mergulhou num lago. A família diz que a polícia o perseguiu numa lancha rápida e que as lâminas do motor o mataram. E também Radha Rani Ari – violada em grupo em 2007 por arruaceiros de um partido parlamentar na aldeia de Nandigram. Ela exige justiça, mas nenhuma esquadra da polícia aceita registar a sua queixa.

A 23 de Março, a administração da Universidade Jawaharlal Nehru [JNU] em Deli emitiu uma circular em que declarava inequivocamente que só seriam autorizados seminários, reuniões públicas, exibições de filmes ou documentários e exposições que não “comprometam a integração, a harmonia e a segurança nacional”. A 9 de Abril, o Fórum JNU Contra a Guerra Ao Povo, uma ampla plataforma de estudantes e organizações que se opõem à Operação Caçada Verde, organizou uma sessão cultural. Um grupo de estudantes de direita atacou a sessão e pediu que a Operação Caçada Verde fosse implementada na Universidade. Esses reaccionários destruíram equipamento e atiraram pedras. Algumas delas feriram estudantes progressistas que tiveram que ser hospitalizados. Embora a planeada exibição do filme Missing – Desaparecido [no Brasil, Desaparecido – Um Grande Mistério], de Costa-Gavras (sobre o golpe de estado apoiado pelos EUA no Chile em 1973), não pudesse ter lugar, o resto da sessão concretizou-se. Durante esse ataque, os seguranças mantiveram-se afastados, a observar. A administração desculpou essa inacção, dizendo que os estudantes contra a Operação Caçada Verde não tinham obtido autorização prévia para a sua sessão.

Está a propagar-se por toda a Índia uma controvérsia em torno da posição de Arundhati Roy sobre os maoistas e os adivasis. A polícia do Chhattisgarh está a considerar acusá-la com base nalgumas passagens do artigo dela “Caminhando com os Camaradas” que supostamente violam a Lei Especial de Segurança Pública do Chhattisgarh de 2005. Já foi entregue uma queixa legal individual contra ela que afirma que o artigo de Arundhati Roy “visou não só ‘glorificar’ os maoistas mas também denegrir o sistema estabelecido do país, incluindo a justiça”.

Numa hostil entrevista feita a Roy a 16 de Abril para a CNN-IBN, Sagarika Ghose provocou-a e exigiu saber se, após uma emboscada da guerrilha a uma unidade militar da Operação Caçada Verde em Dantewada que resultou na morte de 76 tropas governamentais, Roy ainda mantém “o tom de simpatia” para com a causa maoista que ela exprimiu no artigo dela. Ghose interroga-se porque é que ela é “a escritora que a Índia adora odiar”.

Ela respondeu que quem a odeia são as pessoas que têm interesses em jogo nas coisas a que ela se opõe no que escreve, não as pessoas que são vítimas. Embora Roy defenda cuidadosamente a sua apologia da não-violência, também salienta que “centenas de pessoas não conhecidas foram capturadas e encarceradas. Há toda uma vasta faixa de organizações do movimento popular, que vai das não violentas fora das florestas às de luta armada no interior das florestas, que têm evitado de facto esta ofensiva empresarial, e eu devo dizer que isso não aconteceu em nenhuma outra parte do mundo.”

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