Do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (publicado a 29 de julho de 2024 em inglês em revcom.us/en/while-american-rulers-applaud-prime-minister-israeli-genocide-israeli-army-turns-gaza-death-camp e a 31 de julho de 2024 em castelhano em revcom.us/es/mientras-los-gobernantes-estadounidenses-aplauden-al-genocidio-del-primer-ministro-israeli-el).

Enquanto os governantes norte-americanos aplaudem o primeiro-ministro do genocídio israelita, o exército de Israel transforma Gaza num campo de morte e “atira sobre tudo o que mexe”

REVOLUTION #67: Um Congresso repleto de monstros aplaude um maníaco genocida (inglês/castelhano)

Enquanto o Primeiro-Ministro Netan-nazi, também conhecido como Benjamin Netanyahu, era repetidamente aplaudido numa sessão bipartidária do Congresso norte-americano, intensificava-se o genocídio israelita apoiado e financiado pelos EUA — cuja promoção e defesa era o motivo da visita de Netan-nazi.

Este genocídio não está a acontecer por negligência ou acidente, mas devido a uma política assassina ativa e consciente do governo israelita. Uma vez mais, totalmente armada, financiada e apoiada pelo governo norte-americano.

O que se segue são apenas alguns dos pesadelos que estão a cair sobre o povo de Gaza.

1: Massacres e evacuações em massa

No inverno e na primavera passados, o exército israelita bombardeou intensamente toda a faixa de Gaza, desde a Cidade de Gaza no norte a Khan Younis no sul. Mais de 40 mil pessoas foram assassinadas (e provavelmente muitas mais, enterradas sob os escombros) e mais de 90 mil ficaram feridas. Israel transformou a maior parte da população em refugiados, forçados a abandonar as suas casas e a procurar desesperadamente um lugar seguro para dormirem e uma possibilidade de obterem alguma comida, água e cuidados médicos, coisas que estão cada vez mais indisponíveis. Muitos deles acamparam entre os escombros dos edifícios bombardeados; outros estão apinhados em escolas, hospitais e campos de refugiados da ONU, onde tinham esperança de estar a salvo dos ataques israelitas.

Mas nenhum lugar é seguro em Gaza. Os bombardeamentos e os massacres não cessaram. Esta semana, Israel lançou uma nova vaga de ofensivas militares contra essas cidades quase em ruínas, forçando centenas de milhares de pessoas a fugir pela terceira, quarta ou mesmo oitava vez.

Khan Younis e Al-Mawasi

Na segunda-feira, 22 de julho, Israel ordenou a evacuação de grande parte de Khan Younis e de cerca de 15% de uma “zona humanitária”, Al-Mawasi. Esta zona é uma desolada extensão de praia de 14 quilómetros sem saneamento nem instalações médicas e com pouco acesso a alimentos e outros meios de ajuda, e onde 1,8 milhões de pessoas foram forçadas a se aglomerar. Apesar da sua classificação como “zona humanitária”, Al-Mawasi tem sido repetidamente atacada, com tendas incendiadas e pessoas chacinadas, entre as quais crianças.

Israel alegou que “pequenos grupos” de combatentes do Hamas se tinham reagrupado aí e forçou cerca de 180 mil pessoas a fugir — algumas delas para o que restava dessa “zona humanitária”, outras para cidades mais a norte, amplificando o seu sofrimento até aos limites da resistência delas.

Palestinos evacuam Khan Younis na Faixa de Gaza, 26 de julho de 2024. IG @palestineonaplate

Mas o exército israelita não deu praticamente nenhum aviso prévio. Munadil Abu Younes, que já foi deslocado oito vezes, relatou ao jornal The Guardian: “As forças israelitas informaram-nos da ordem de evacuação quando chegaram à zona”, disse ele. “Apenas tivemos tempo para recolher as nossas coisas, a maioria das pessoas fugiu sem levar nada. Nas anteriores ordens de evacuação, deram-nos um ou dois dias, mas desta vez não tivemos nem sequer meia hora.”

Em apenas algumas horas, enquanto milhares de pessoas fugiam para não-se-sabe-onde, Israel lançou um ataque total a Khan Younis, deixando centenas de civis presos na zona de guerra. Os aviões e tanques israelitas atacaram mais de 30 locais.

Younes descreveu o cenário: “Encontrámos pessoas a correr a toda a pressa para escaparem como se tivesse chegado o dia do juízo final. Havia balas a cair em torno de nós como chuva, e muitas pessoas foram atingidas (...)”

A organização Monitor Euro-Mediterrânico dos Direitos Humanos qualificou esta atuação como sendo “tudo parte da campanha de desinformação na comunicação social e das táticas de guerra psicológica de Israel, dado que os ataques militares contra as pessoas deslocadas e as tendas delas têm ocorrido continuamente nesta zona desde há várias semanas, resultando em centenas de mortes e feridos.”

E continuou: “Após ter levado a cabo um assassinato em massa premeditado esta manhã, o exército israelita lançou dezenas de ataques, anéis de fogo e tiros de artilharia sobre casas, ruas e concentrações de pessoas deslocadas. Milhares destas pessoas fugiram para as ruas em pânico, à procura de um lugar seguro que não existia. (...) Além de bombardeamentos aéreos e disparos a partir de aviões quadricópteros, o exército israelita utilizou disparos de artilharia diretos e indiscriminados contra os civis.”

Na sexta-feira, já tinham morrido pelo menos 129 pessoas, muitas delas às mãos de francoatiradores israelitas que, segundo um jornalista da Al Jazeera em Khan Younis, estavam “a disparar sobre tudo o que se mexia”.

“Eventos com vítimas em massa” inundam o Hospital Al-Nasser

No primeiro dia do ataque (22 de julho) setenta palestinos mortos e mais de 200 feridos chegaram ao já sobrecarregado Hospital Al-Nasser. Duzentos feridos a entrar em qualquer hospital constitui uma crise, mas o Al-Nasser já estava desesperadamente sobrelotado e sem aprovisionamentos, sem seringas, sem colchões, sem desinfetantes. O que se segue é uma descrição de um “evento com vítimas em massa” similar ocorrido no Al-Nasser a 13 de julho, o qual nos dá uma noção do que provavelmente está a acontecer aí agora. (Este relato é do Dr. Javid Abdelmoneim, dos Médicos Sem Fronteiras.)

Escreveu o Dr. Abdelmoneim: “Havia sangue por todo o lado no chão e eu tive de me ajoelhar para ver os doentes no chão. Os doentes estavam espalhados por todo o lado, porque não havia mais camas.” Ele descreveu o fluxo de doentes. Primeiro foi uma menina de três anos com os pais preocupados:

Ela respira, portanto deve estar bem, pensei eu. Mas, quando lhe tirei as ligaduras, apercebi-me de que tinha toda a coxa esquerda descascada até ao osso. Virei-me para o doente seguinte: uma mulher coberta de pó. Quando me aproximei dela, ela olhou para mim e eu tentei sorrir e interagir com ela. Ela respirava normalmente, tinha os olhos abertos e eu não vi sangue em lado nenhum. Mas quando lhe tirei as ligaduras, saiu um grande pedaço do intestino dela.

E ele continuou e continuou a falar assim, durante mais de quatro horas.

Entretanto, Israel alegava que este maremoto de sofrimento era justificado porque (segundo eles) tinham “eliminado vários terroristas”.

Deir al-Balah

A 27 de julho, em Deir al-Balah, no centro de Gaza, os aviões israelitas atacaram uma escola feminina onde estavam abrigados milhares de refugiados. Israel alegou (sem quaisquer provas, como sempre) que a escola era um “centro de comando do Hamas”. Pelo menos 30 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas, na sua imensa maioria mulheres e crianças. A CNN noticiou a partir do vizinho Hospital Al-Aqsa: cadáveres no chão da morgue, doentes a ser tratados no chão da abarrotada sala de emergência, um menino morto com as palavras “não identificado” escritas no estômago.

Também houve relatos de ataques na Cidade de Gaza, a norte. Israel está a deixar claro que a sua ofensiva está longe de acabar. Assim, o mesmo ciclo de ataques militares contra alvos civis, e centenas de milhares de pessoas novamente forçadas a fugir, está a ser imposto a uma população já doente, faminta e exausta até à beira dos limites humanos.

2: Israel está a fazer uma guerra contra as crianças

O Dr. Mark Perlmutter é um cirurgião norte-americano que se ofereceu para trabalhar como voluntario no Hospital Europeu no sul de Gaza em maio passado.1 Perlmutter disse ao programa Sunday Morning da CBS que tinha tratado muitas crianças baleadas por francoatiradores israelitas: “(…) atingidas no peito de uma maneira tão perfeita que eu não conseguiria colocar o meu estetoscópio no coração delas com mais precisão, e diretamente na parte lateral da cabeça, na mesma criança.”

Perlmutter acrescentou: “Nenhuma criança é atingida por engano duas vezes por disparos do ‘melhor francoatirador do mundo’”. (Ênfase acrescentada)

A equipa da CBS entrevistou mais de 20 outros médicos que tinham trabalhado em Gaza. Todos eles confirmaram o relato do Dr. Perlmutter.

No entanto, isto é apenas uma pequena parte de uma situação horripilante.

Perigosas doenças cutâneas estão a propagar-se entre as crianças deslocadas de Gaza (Credito: Middle East Eye)

Em dezembro, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) declarou que Gaza era “o lugar mais perigoso do mundo para se ser criança”. A UNICEF salientou as 14 mil ou mais crianças mortas, a falta de água potável, de cuidados básicos de higiene e até de papel higiénico. Salientou que centenas de milhares de crianças de Gaza estão seriamente feridas ou doentes.

E desde então, as coisas pioraram ainda mais.

Segundo o programa Sunday Morning, “centenas de milhares de crianças precisam de cuidados médicos” que estão indisponíveis porque “Israel destruiu a maioria dos hospitais de Gaza”. Israel tem bloqueado todos os esforços de organizações que tentam evacuar crianças feridas ou doentes para outros países. Tareq Hailat, do Fundo de Ajuda às Crianças da Palestina disse que o seu grupo só tinha conseguido fazer sair 200 crianças. Milhares de pessoas estão em listas de espera, mas dado que Israel tomou e encerrou a passagem de Rafah para o Egito, as evacuações médicas são “quase impossíveis”.

Quando lhe foi perguntado o que acontecia às crianças doentes que não recebiam cuidados médicos, Hailat respondeu: “Infelizmente, a verdade é que estão a morrer. Partir uma perna aqui nos Estados Unidos não é o mesmo que partir uma perna em Gaza. Se for partida em Gaza, isso significa que muito provavelmente a perna terá de ser amputada, o que significa que muito provavelmente à amputação se seguirá uma infeção, o que mais provavelmente significa que a pessoa irá morrer.”

Pergunta-te a ti mesmo: qual poderá ser a intenção por trás da obstrução da evacuação de crianças doentes de uma zona de guerra? Qual é a intenção por trás de submeter centenas de milhares de crianças aos perigos físicos da guerra, a doenças e à fome, e também ao profundo trauma destruidor de verem amigos, familiares e pais chacinados, despedaçados por bombas, lacerados por armas automáticas, enterrados em edifícios colapsados?

Uma vez mais, isto não é negligência, mas um massacre consciente e genocida.

3: Gaza é um campo de extermínio

Desde há décadas, desde que passou a estar sob uma ocupação israelita ilegal, que Gaza é conhecida como “a maior prisão ao ar livre do mundo” porque nem as pessoas nem os bens eram autorizados a entrar ou sair sem permissão israelita.

Agora, com a invasão israelita, Gaza converteu-se no maior campo de concentração do mundo2 onde as condições de vida diária deliberadamente impostas levam um grande número de pessoas até à beira da morte, ou para além disso.

Segundo o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários, 83% de Gaza está agora ou sob ordens de evacuação (em zonas sujeitas a ataques militares) ou consideradas “zonas proibidas” para os palestinos (ou seja, zonas onde podem ser baleados sem aviso só por aí estarem). Isto significa que a maioria dos cerca de dois milhões de habitantes de Gaza é forçada a viver em menos de um quinto do seu território.

As condições nessas zonas “mais seguras”, tal como as existentes nos campos de concentração nazis, equivalem a que as pessoas estão a enfrentar uma morte lenta, devido à fome (ler em inglês/castelhano), a doenças não tratadas, à água contaminada, à exaustão e ao terror.

E estas condições mortais continuam a piorar. A ONU relatou que a produção de água de Gaza está a um quarto dos níveis anteriores à invasão, devido à destruição por Israel das instalações de bombeamento e tratamento de água. E a Organização Mundial de Saúde está “extremamente preocupada” com a possibilidade de um surto do altamente infeccioso vírus da poliomielite, o qual foi encontrado nas águas residuais não tratadas que atravessam muitos campos e cidades de refugiados.3

Os governantes dos EUA são criminosos monstruosos

Foi tudo isto que os governantes norte-americanos, democratas e republicanos, aplaudiram nas salas do Congresso.

E se tu não estiveres a agir para acabar com isto, és cúmplice disto.

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NOTAS:

1  Depois da partida de Perlmutter, a 2 de julho, as IDF [Forças de Defesa de Israel] encerraram completamente o Hospital Europeu.

2  Nos primeiros anos do Holocausto — o assassinato de seis milhões de judeus europeus — o regime nazi alemão levou à força os judeus para campos de concentração com condições horríficas: rações alimentares de fome, falta de aquecimento no inverno, extenuantes trabalhos forçados. Centenas de milhares deles morreram de doenças, fome e exaustão nesses campos, incluindo antes de os nazis terem desenvolvido as câmaras de gás onde assassinaram milhões de pessoas.

3  Antes de, em meados do século 20, ter sido desenvolvida uma vacina para imunizar as crianças contra a poliomielite, as epidemias desta doença nos EUA mataram milhares de crianças e deixaram dezenas de milhares paralisadas. A poliomielite foi praticamente eliminada em grande parte do mundo, incluindo em Gaza, mas agora está a ressurgir aí devido às terríveis condições sanitárias impostas por Israel.

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