Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 24 de Fevereiro de 2003, aworldtowinns.co.uk

Ditadores mundiais

A guerra revela relações que estão escondidas em tempos normais. As últimas semanas revelaram muito sobre o governo de classe e o domínio das nações.

O punhado de capitalistas monopolistas que governam os países ricos esconde frequentemente, em tempos normais, o seu punho de ferro com uma luva aveludada. Disfarçam a sua ditadura com eleições. Mas ligue agora as notícias da televisão e veja a “democracia” ocidental em toda a sua glória. George Bush fanfarrona que não será “afectado” pelo que as pessoas pensam. Tony Blair responde ao repúdio maioritário da sua obediência a Bush, argumentando que esta é uma questão de “moralidade”, e não de “maioria”. De facto, nenhum dos poderes que governam os países ricos dá muito valor ao que os seus povos pensam. São a favor ou contra a próxima guerra com base no que vêem ser os seus interesses económicos e geopolíticos. Aznar em Espanha e Berlusconi em Itália não ficam intimidados pelo facto de que assim pouca da população dos seus países os apoia. Todos eles compreendem que enquanto mantiverem o poder – e especialmente o controle das forças armadas e policiais e o seu monopólio da violência – ninguém os pode impedir.

As relações entre estes imperialistas também são baseadas na força. Os membros permanentes e detentores de direito de veto do Conselho de Segurança da ONU são os vencedores de segunda guerra mundial, quando as potências capitalistas fizeram a divisão do mundo matando muitas dezenas de milhões de pessoas. Todos eles têm armas nucleares e decretaram que são os únicos a ter o direito legítimo a fazê-lo. (Os EUA permitiram a Israel uma excepção especial.) A própria Carta da ONU dá-lhes o direito de mandar nos outros países de todo o mundo. Quando divergem entre si, como são resolvidas as suas disputas? Por agora os EUA estão a ameaçar a França e a Alemanha apenas com retaliações económicas, mas algo mais pode vir a seguir. De qualquer modo, Bush já declarou que não vai deixar qualquer um pará-lo. Se não obtiver a Resolução que ele quer, ele vai “endireitar o Conselho de Segurança” (como disse diplomaticamente um oficial norte-americano), porque os outros países não têm a força militar que o obrigue a escutar. A França tem um porta-aviões nuclear e alguns submarinos e mísseis nucleares, e tenta assim liderar a oposição anti-Bush; a Alemanha não tem nada e assim a sua voz conta menos. A Rússia perdeu tanta força militar com o colapso da URSS que quase não conta nada, no que diz respeito às decisões mundiais.

No que diz respeito aos países do Terceiro Mundo, não é de modo algum suposto que eles actuem como países independentes. Cinquenta e dois países africanos, com uma população de quase um bilhão de pessoas, reuniram-se e votaram por unanimidade a sua oposição a esta guerra; isso quase não chegou às manchetes dos países ricos. A opinião dos 114 países do Movimento dos Não-Alinhados tem a mesma importância para Bush e seus colegas imperialistas. Nenhum governo do Conselho de Segurança da ONU ousaria propor que a guerra de Bush fosse sujeita ao voto de todas as nações do mundo. Tal como a maioria dos povos do Terceiro Mundo, na maior parte dos lugares eles não têm direito nenhum.

O Conselho de Segurança da ONU está a mandar no Iraque. Os EUA, a Grã-Bretanha, a França e a Rússia têm milhares e milhares de mísseis nucleares, para não mencionar o resto dos seus horrendos arsenais, mas todos eles concordam em que o Iraque deve ser forçado a destruir mísseis cujo alegado alcance é de 182 quilómetros em vez dos 150 quilómetros que eles impuseram arbitrariamente como limite. Você poderia pensar que um país em vias de ser assaltado tem o direito de se defender pelo menos um pouco. Errado, diz o Conselho de Segurança. Primeiro, o Iraque tem que desarmar, e então nós decidiremos se o queremos invadir ou não. Se o Conselho de Segurança decide ou não ir em conjunto para a guerra de Bush, não tem nada a ver com argumentos sobre justiça e os interesses dos povos mas só com relações de poder.

Latindo no cimo do monte, Bush está a fazer o seu melhor para mandar no mundo inteiro.

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