Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 14 de Março de 2005, aworldtowinns.co.uk
Ataque brutal da polícia turca contra os manifestantes do Dia Internacional da Mulher
A Polícia atacou com particular brutalidade uma manifestação que marcava o Dia Internacional da Mulher em Istambul. A manifestação de cerca de 150-200 mulheres começou na Praça Beyazit no centro de Istambul, ao princípio da tarde de sábado, 5 de Março. Uma das mulheres começou a ler uma declaração que proclamava a sua determinação em participar nas acções mundiais de celebração do Dia Internacional da Mulher. Quase imediatamente, a polícia ordenou que elas dispersassem. Então, um grande contingente da polícia de choque atacou e disparou projécteis de gás lacrimogéneo directamente sobre as mulheres. O seu objectivo era muito mais que simplesmente dispersar o protesto. Espancaram as manifestantes até elas caírem e então pontapearam-nas e espancaram-nas ainda mais. Perseguiram as manifestantes pelo parque e pelas ruas e mesmo pelos cafés da vizinhança onde elas tentaram encontrar refúgio para lhes quebrarem ossos e espancar até à inconsciência tantas mulheres quantas conseguiram.
Essa brutalidade contra manifestantes não é invulgar na Turquia, mas nem sempre é utilizada contra todas as manifestações. O traje islâmico usado pela maioria das mulheres numa outra manifestação do Dia Internacional da Mulher no próprio dia 8 de Março contrastou com a natureza secular do protesto de sábado, e aquela não foi atacada.
A manifestação de sábado foi organizada por uma coligação de grupos de mulheres de esquerda de várias tendências, entre eles o recém-formado Movimento Democrático das Mulheres (DHK), ligado ao Partido Comunista Maoista (MKP). O DHK tinha realizado o seu Congresso de fundação em Istambul, no fim-de-semana antes da manifestação. A ele assistiram 150-200 mulheres de todo o país, que vieram para unirem as suas fileiras e mobilizar-se para tomar parte na luta pela revolução e pelo estabelecimento da nova democracia na Turquia.
Embora as mulheres estivessem conscientes que a sua acção era mais controversa que a maioria das outras, e por isso poderia vir a ter uma repressão mais severa que a habitual, também sabiam que inúmeras manifestações, incluindo de fundamentalistas islâmicos, tinham decorrido sem incidentes em meses recentes na mesma praça. A classe dominante turca tem estado sob pressão crescente da União Europeia para “limpar a sua imagem” e eliminar algumas das características mais abertamente repressivas do seu domínio, como parte das negociações relativas à adesão da Turquia à UE. Também é bem sabido que estava em Istambul uma delegação de alto nível da UE para conversações sobre a adesão da Turquia à UE, ao mesmo tempo que decorria a manifestação. Assim, durante alguns dias, o foco da comunicação social europeia estaria na Turquia.
Devido a tudo isto, a selvajaria do ataque policial apanhou muita gente de surpresa.
A delegação da UE expressou a sua afronta e condenou o ataque, dizendo que não era assim que actuavam as “democracias”. Um porta-voz da polícia disse que a diferença era que a acção de sábado não tinha sido “correctamente autorizada” e respondeu às críticas da delegação da UE explicando: “A polícia turca tem o direito a usar a violência como as forças policiais de todos os países.” (Aqui, ele poderia estar a pensar nos disparos das forças da Grã-Bretanha sobre manifestantes pacíficos na Irlanda do Norte, que mataram 14 pessoas, em 1972.) O primeiro-ministro Tayyip Erdoğan alegou que as próprias mulheres “provocaram a violência”. Esta situação foi o pano de fundo da reunião de 14 de Março em Londres entre o Secretário britânico dos Negócios Estrangeiros Jack Straw e o seu congénere turco Abdullah Gul.
Straw pode ter tido alguma dificuldade em expressar qualquer verdadeiro ultraje a Gul, dado que o seu próprio governo ainda há pouco impôs a passagem de uma nova “Lei de Prevenção do Terrorismo” que destrói as protecções legais contra as prisões e os encarceramentos arbitrários que foram considerados a característica principal do estado de direito na Grã-Bretanha durante os últimos 800 anos. Tendo em conta esta última legislação e os repetidos conflitos da Grã-Bretanha com a Carta dos Direitos Humanos da UE e os seus esforços nos últimos anos para sair dela, se a UE se baseasse noutra coisa que não os interesses imperialistas, a Grã-Bretanha poderia também não se qualificar como membro.
Os comentadores na comunicação social da Turquia discutiram a possibilidade de o ataque ter sido instigado por forças na classe dominante turca que estão relutantes em aderir à UE, incluindo por alguns pensarem que isso poderá ameaçar as suas relações com o seu principal amo imperialista, os EUA. A UE pode ter uma grande influência económica na Turquia mas o exército que durante décadas esteve na base de todos os governos da Turquia está sob a influência dos EUA, para dizer as coisas suavemente. Assim, segundo este ponto de vista, atacar as mulheres tão selvaticamente pretendeu passar uma mensagem para reassegurar os norte-americanos, pôr os europeus de aviso e deixar que os revolucionários e outras forças contra o regime na Turquia saibam que não devem ter nenhuma ilusão sobre qualquer mudança fundamental na natureza do regime no país.