Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 19 de Abril de 2004, aworldtowinns.co.uk

As insurreições gémeas do Iraque, Israel e a estratégia dos tiranos

Finalmente, são os ocupantes que estão a ter um pequeno gosto de “choque e temor” no Iraque. É claro que continuam a afirmar que mantêm a sua potência militar e que se vingarão das humilhações que têm sofrido nas últimas semanas. Isso é inegável, mas o novo elemento mais importante é este: a resistência iraquiana – em Falluja e na insurreição xiita em grande parte do país – deu um severo golpe na estratégia política que orienta essa tirania.

Um conselheiro da Autoridade Provisória dos EUA em Bagdad descreveu o seu princípio básico como: “Terrorismo contra o terrorismo. Temos que assustar os iraquianos até à submissão.” As últimas semanas no Iraque mostraram que é ridículo chamar “terrorista” à resistência de todo um povo e também que os EUA apenas se podem basear em pouco mais que o terror. Numa ocasião, Ariel Sharon enunciou esta abordagem ainda mais descaradamente: “Golpeamo-los, golpeamo-los repetidamente, até que percebam.” Israel desenvolveu uma doutrina e táctica militares baseadas neste princípio em parceria com os militares dos EUA e sob protecção do governo dos EUA. Foi esse o objectivo do assassinato do líder do Hamas, Abdel Aziz al-Rantissi, por Israel. Os EUA estão agora a trabalhar com conselheiros militares israelitas para aplicar essa mesma política no Iraque.

É importante perceber o conteúdo dessa brutalidade. Essas bestas estão a analisar um problema essencial para os ocupantes e os da sua laia: quanto mais golpeiam o povo, mais o povo desperta para a resistência e se une contra eles. Pudemos ver isso na Palestina, onde a Intifada não terminou nos dois anos que passaram desde que Sharon disse isso e pode ver-se isso na experiência de um ano de ocupação do Iraque, onde as acções dos ocupantes expuseram cada vez mais a sua natureza e objectivos e despertaram e chamaram para a acção números cada vez maiores de iraquianos. O que Sharon quis dizer foi que, para reaccionários como ele, a maneira de lidar com a fúria e a resistência popular que eles próprios criam é golpear o povo, não uma vez, mas repetidamente, com uma brutalidade desenfreada até que, como ele dizia, “retiram das suas mentes o pensamento” de que alguma vez possam ser livres.

Esta estratégia é a que temos visto em Falluja e noutros locais do Iraque. Durante Março passado, os soldados dos EUA iam de porta em porta, levando uma grande quantidade de pessoas para “interrogatório” e encarceramento. O objectivo nunca foi ser “preciso”, mas semear o medo através de prisões por atacado, acompanhadas de violência indiscriminada e frequentemente aleatória. É mais claro em países como a Palestina ocupada e o Iraque ocupado que o “consentimento dos governados” é obtido por aplicação do terror cujo objectivo é não só esmagar as forças de resistência mas também o próprio espírito do povo.

Isso não significa que os reaccionários perderam o interesse em obter aliados e colaboradores locais. “Com uma grande dose de medo e violência, e muito dinheiro para projectos, acho que podemos convencer esta gente que estamos aqui para os ajudar”, disse um tenente-coronel norte-americano a um jornalista do New York Times. Enquanto Israel matava Rantissi, o líder do Hamas, Washington planeava pedir à próxima cimeira dos G8 que forneça os fundos para o tipo de “reconstrução de Gaza” que seja aceitável para os EUA e Israel. Por outras palavras, usam sempre a cenoura e o bastão, mas o bastão é mais importante. Faz com que a cenoura pareça mais apetecível.

Esses militares podem falar como se essa fosse alguma estratégia nova e brilhante que acabaram de inventar, mas a mesma política foi aplicada pelos franceses na Argélia e pelos EUA no Sudeste Asiático. Com o Programa Phoenix no Vietname, o mesmo tipo de unidades das Forças Especiais dos EUA que têm feito estragos em Falluja assassinaram incontáveis dezenas de milhares de suspeitos de serem revolucionários e homens, mulheres e crianças comuns.

A sua estratégia falhou no Vietname. E embora a guerra no Iraque seja muito diferente em vários pontos importantes – não porque os EUA sejam hoje menos ávidos e criminosos mas sobretudo porque o povo iraquiano não está organizado e liderado por um ponto de vista revolucionário – a aplicação dessa estratégia representou um importante papel na criação das dificuldades em que os ocupantes uma vez mais se encontram.

A força desses reaccionários é real mas, nas últimas semanas, algumas dezenas de milhares de homens e mulheres armados, que representam uma torrente crescente num país de 26 milhões de habitantes, fizeram um contributo para a história. Enfrentaram a potência mais formidável que o mundo alguma vez conheceu. É impossível prever o que irá acontecer agora. Para os reaccionários, essa imprevisibilidade é um pesadelo. Os ocupantes não estão preparados para reagir de qualquer forma senão com o “golpear, golpear repetidamente”.

Seja o que for que aconteça, as últimas semanas no Iraque deram um vislumbre de uma verdade simples, mas por vezes esquecida no mundo de hoje: nenhuma força reaccionária é invencível, não importa quão poderosa seja. O grande líder revolucionário Mao Tsétung disse uma vez que “O imperialismo e todos os reaccionários têm uma natureza dupla – são ao mesmo tempo tigres verdadeiros e tigres de papel.” Por um lado têm dentes verdadeiros e devoram gente facilmente. Este mês, os EUA já sofreram cerca de 100 mortos entre os seus soldados, mas durante esse tempo mataram dez vezes mais iraquianos, a grande maioria deles não-combatentes. Por outro lado, afinal de contas, são estrategicamente tigres de papel que podem ser derrotados pelo povo. A razão é que, como Mao disse, esses reaccionários são compelidos a fazer coisas terríveis e a despertar repetidamente o povo contra eles, até que conheçam finalmente a sua destruição.

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