Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 9 de Junho de 2008, aworldtowinns.co.uk

Actualização: Não há nenhuma “inversão” da política de Israel

A semana passada relatámos que os EUA tinham cancelado as bolsas Fulbright atribuídas a sete estudantes palestinianos de Gaza que o Departamento de Estado considerava potenciais futuros líderes amigos do império. Israel tinha-se recusado a deixá-los sair de Gaza como parte de uma política explícita de negar vistos de saída a toda a gente excepto os extremamente doentes.

Desde então, tem sido amplamente alegado na comunicação social que Israel inverteu a sua posição sob pressão de Washington. Na realidade, Israel autorizou quatro dos estudantes a deslocarem-se à embaixada dos EUA em Telavive para pedirem vistos norte-americanos. A dois deles não foi dada sequer autorização de saída de Gaza. Ao sétimo foi concedido um visto israelita de saída mas foi mandado de volta ao chegar à fronteira. Esta situação permanecia inalterada à data de 9 de Junho.

“Vamos deixar sair os estudantes, mas em número limitado”, anunciou um alto funcionário israelita, segundo foi citado pelo The International Herald Tribune de 6 de Junho. “Não estamos a falar em centenas”. O ano passado, foi recusada a cerca de 700 estudantes de Gaza autorização para frequentarem as universidades estrangeiras onde tinham sido admitidos ou onde já estavam inscritos, segundo o Centro Palestiniano dos Direitos Humanos. A quase todos tinham sido concedidas bolsas de estudo que Israel não os deixará usar.

Além disso, o procedimento que Israel anunciou para deixar sair esse “número limitado” de estudantes envolve submetê-los a dois níveis de controlo político: em primeiro lugar, os responsáveis da Autoridade Palestiniana na Cisjordânia excluirão os que não aprovarem, incluindo os suspeitos de simpatia pelo seu rival, o Hamas. Esta medida tem claramente a intenção de ser outro passo na implementação da Autoridade Palestiniana liderada pela Al-Fatah como gestores locais dos sionistas. Em segundo lugar, a polícia israelita terá a palavra final sobre quem ficará retido em Gaza, com base nos seus próprios critérios políticos.

A muito apregoada “inversão israelita” não se parece com nada disso.

Chamem-lhes “torturadores” e eles ameaçam-vos com tortura

Num artigo similar de continuação, também noticiámos no serviço noticioso da última semana uma declaração escrita entregue pelos Médicos Israelitas pelos Direitos Humanos em defesa de um processo judicial desencadeado contra o governo israelita por uma dúzia de residentes de Gaza gravemente doentes, pedindo que o tribunal ordene ao governo israelita que os deixe sair para o estrangeiro para tratamento médico. O grupo criticou Israel, considerando “tortura” ter dado oficialmente vistos de saída a alguns pacientes muito doentes e depois pará-los oficiosamente na fronteira. Num aparente acto de vingança, a polícia política israelita, a Shin Bet, infame por proclamar que torturar prisioneiros é um dever seu, deteve um alto responsável do grupo de médicos, segundo o jornal israelita Haaretz de 3 de Junho. O médico, um palestiniano com cidadania israelita e que vive em Israel, é o responsável pelo programa de clínicas médicas móveis da organização em Gaza. Foi-lhe dito que não o autorizariam a entrar em Gaza se continuasse a fazer “declarações políticas”. A polícia também exigiu informações sobre os funcionários, os membros e os mecenas da organização.

A 6 de Junho, a polícia israelita atacou uma manifestação contra o muro que cerca a Cisjordânia. Este tipo de manifestações ocorre todas as semanas na cidade de Bi'ilin. Entre as cinco pessoas feridas estavam o vice-presidente do Parlamento Europeu, um juiz italiano e Mairead Corrigan Maguire, um laureado da Irlanda do Norte com o Prémio Nobel da Paz e figura proeminente do Conselho Mundial das Igrejas. Estes dignitários tinham estado a assistir a uma conferência internacional sobre resistência não violenta. As outras duas vítimas eram palestinianas. A 8 de Junho, a polícia israelita atacou um outro protesto na cidade de Na'alin, na Cisjordânia. Foi noticiado que oito pessoas, todas israelitas, ficaram feridas.

Em Maio, uma delegação de membros do parlamento alemão foi forçada a abandonar a Cisjordânia quando foi cercada por uma turba violenta de colonos israelitas. Dessa vez, a polícia israelita recusou-se a intervir.

Estes incidentes tornaram-se conhecidos porque os alvos eram gente proeminente, estudantes universitários, profissionais, etc. Dado que Israel assume abertamente alguma violência e a ameaça de violência contra essas pessoas, estes relatos lançam luz sobre as políticas que têm tido resultados mais dramáticos para os palestinianos comuns da Cisjordânia e de Gaza e que não estão sob o olhar da comunicação social. O desespero geral – e a raiva – são tão elevados em Gaza que aparentemente o Egipto está a dar passos contra o que teme poder ser uma nova fuga em massa de palestinianos que agirão contra o muro de ferro que Israel ergueu ao longo da fronteira Gaza-Egipto, com ou sem a ajuda do Hamas, o qual tentou usar as massas populares como peões quando centenas de milhares de pessoas irromperam através do muro em Janeiro passado.

Israel, os EUA e Obama

Muita gente se tem questionado sobre se a candidatura de Barack Obama à presidência dos EUA abre a possibilidade de alguma mudança em relação ao apoio total de Washington a Israel e a tudo o que ele faz. Na sua primeira aparição pública depois de ter confirmado a sua nomeação pelo Partido Democrata, Obama anunciou: “Deixem-me tornar isto muito claro. A segurança de Israel é sacrossanta.” E acrescentou: “Jerusalém permanecerá a capital de Israel e tem que permanecer não dividida”. Antes, os EUA não reconheciam o direito de Israel a anexar a cidade palestiniana que ocupou em 1967. Como o futuro estatuto de Jerusalém deve vir a ser uma questão central de disputa nas conversações sobre o “roteiro” patrocinadas pelos EUA entre a Autoridade Palestiniana e Israel, Obama enfureceu e humilhou os parceiros de Israel “na paz”, ao anunciar que considera o resultado dessas pseudo-negociações decidido em antecedência. A Autoridade Palestiniana pensou que se concordasse com o “roteiro” – agora apoiado por todo o poder político norte-americano – obteria pelo menos uma pequena parte daquela que antes era a capital palestiniana.

Obama também disse: “Farei tudo o que estiver ao meu alcance para impedir o Irão de obter uma arma nuclear – tudo”. Isto foi ecoado alguns dias depois por um líder do partido Kadima no governo e antigo ministro israelita da defesa, Shaul Mofaz, que disse que considerava “inevitável” o bombardeamento do Irão, não por causa de qualquer ataque iraniano mas com a desculpa do programa nuclear desse país.

Cada vez mais nos é apresentado publicamente um cenário em que um ataque ao Irão é retratado como sendo em defesa de Israel. Na realidade, o objectivo principal desse ataque, seja levado a cabo pelos EUA ou por Israel, será servir os interesses estratégicos dos EUA na região e no mundo. Mas, mesmo assim, os incidentes como os acima descritos dizem muito sobre o real e brutal conteúdo das ameaças norte-americanas contra o Irão, o seu apoio a Israel e a sua utilização do estado sionista não só como seu principal bastião armado no Médio Oriente mas também como pretexto para uma violência mais vasta.

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