Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 19 de Maio de 2003, aworldtowinns.co.uk
1º de Maio Revolucionário em Berlim 2003
Pelo décimo sexto ano consecutivo, uma manifestação do 1º de Maio Revolucionário teve lugar no bairro de Kreuzberg em Berlim. Com a participação de 7000 a 9000 pessoas, foi mais uma vez uma poderosa expressão de sentimento revolucionário e de espírito internacionalista. A acção deste ano aconteceu no contexto de uma enorme mobilização de protesto contra a guerra no Iraque, bem como de crescente descontentamento na Alemanha devido ao desemprego, aos cortes nos serviços sociais e a um ataque generalizado aos níveis de vida e aos direitos políticos das massas. Neste contexto, houve alguns passos importantes para a unidade entre as forças políticas que em Berlim têm participado no 1º de Maio ao longo dos últimos anos. No passado, as diferenças políticas tinham conduzido a divisões, de modo que havia duas ou mesmo três manifestações diferentes que se caracterizavam como revolucionárias. Com apenas algumas excepções, este ano estas forças puderam unir-se e coordenar esforços para organizar uma concentração e uma manifestação comuns. Participaram um largo espectro de diferentes linhas e tendências políticas: os anti-imperialistas, os antifascistas, os maoistas e outros comunistas, os autónomos, os anarquistas e outros, uniram-se nesta acção sob palavras de ordem comuns: “Guerra Contra a Guerra, no País e no Estrangeiro! Não há Libertação sem Revolução!”
Nas semanas anteriores, as ruas de Berlim encheram-se de cartazes e de folhetos, enquanto este largo espectro de forças levava a sua mensagem a vários sectores do povo. As autoridades de Berlim reivindicavam que este ano estavam a seguir uma estratégia de “redução” e que não estavam a planear levar a cabo a enorme repressão que marcou os últimos Primeiros de Maio em Berlim. Porém, isso não os impediu de mobilizar 7500 polícias de choque com tanques e canhões de água. Tudo isso acompanhado da anual campanha de imprensa cujo objectivo era isolar politicamente os manifestantes e dividir as suas fileiras.
Mas nem a ameaça de uma gigantesca repressão, nem os esforços para dividir politicamente as forças envolvidas tiveram sucesso. Milhares de pessoas juntaram-se à concentração na Oranienplatz, o ponto de partida tradicional da manifestação desde 1988. Entre os oradores da concentração estava Haluk Gerger, um dos fundadores da Organização de Direitos Humanos de Istambul e um dos membros de uma Delegação enviada ao Peru pelo Comité Internacional de Emergência em defesa do Presidente Gonzalo do Partido Comunista do Peru; Jutta Ditfürth, do Ökologische Linke (um grupo ecologista); um representante do Fórum de Solidariedade Internacional do Nepal; um membro do comité editorial do jornal de refugiados The Voice (A Voz); Said Dudin do Comité Antifascista Árabe (Europa); Dave Blalock da Brigada Parem a Guerra e dos Veteranos do Vietname Contra a Guerra (Anti-Imperialista); um representante da Coligação Anti-Hartz e outros. O carácter internacionalista da concentração e da manifestação foram ainda mais realçados pelo facto de que se realizaram em alemão e em turco. A música esteve a cargo de uma conhecida banda punk local, a Just Say No Posse, e por rappers de Hamburgo.
À medida que a manifestação entrava pela Oranienstrasse, no coração de Kreuzberg, passou sob uma gigantesca faixa que tinha sido erguida a toda a largura da rua com a palavra de ordem principal em alemão e em turco. As ruas e as ruelas laterais estavam cheias de pessoas de mais de uma dúzia de nacionalidades e de um largo leque de classes e estratos de classes – trabalhadores e estudantes, jovens de várias nacionalidades ao lado de lutadores veteranos, unidos para fazer passar uma mensagem revolucionária conjunta. Faixas cheias de palavras de ordem contra a guerra no Iraque e a ocupação de imperialista daquele país, em defesa da Guerra Popular no Nepal, contra os ataques nazis e fascistas, em defesa de outras lutas em todo o mundo, contra a opressão das mulheres, contra os cortes nos serviços sociais e nos salários e um largo espectro de outras questões. Havia uma grande faixa pintada com o mundo a rebentar com as suas grilhetas e uma frase de apoio ao Movimento Revolucionário Internacionalista e as bandeiras vermelhas apareciam proeminentes em toda a manifestação, bem como nas varandas e nos telhados ao longo do trajecto da marcha. Apoiantes das forças maoistas que participavam na manifestação distribuíram os seus próprios comunicados do 1º de Maio, bem como o comunicado do Comité do Movimento Revolucionário Internacionalista, em alemão e em turco. O Movimento de Resistência Popular Mundial também esteve presente.
Depois de prosseguir por Kreuzberg e pelo vizinho bairro de Neuköll, a manifestação terminou com uma pequena reunião na Heinrich Platz, em Kreuzberg. Aí, foi lida uma declaração do Comité Organizativo Conjunto e a Internacional foi cantada.
Porém, o 1º de Maio em Berlim estava longe de ter terminado. As ruas de Kreuzberg permaneceram cheias com milhares de pessoas em festivais de rua e em concertos que se prolongaram pela noite dentro. Cerca das 8 da noite, desencadeou-se uma imensa batalha de rua. Vários milhares de pessoas, sobretudo jovens, enfrentaram a polícia ao mesmo tempo que carros estacionados se transformavam em barricadas em chamas e as pedras da calçada choviam sobre a polícia de choque, que atacava de bastões no ar, e sobre os seus tanques e canhões de água. Gás lacrimogéneo enchia o ar, enquanto as batalhas de rua se prolongavam até muito depois da meia-noite. No dia seguinte, as autoridades municipais e policiais afirmavam que jovens turcos, curdos e árabes especialmente “bem organizados” haviam formado o núcleo duro dos que combateram a polícia e ameaçavam com medidas repressivas “especiais” dirigidas contra eles em 2004. Deste modo, já estão a ser traçadas as linhas de batalha para a jornada do 1º de Maio do ano que vem em Berlim.