Recebemos o seguinte comunicado, que convocava uma Evocação Pública para o passado dia 2 de Junho de 2006, no Bairro da Mira:

No primeiro aniversário da sua morte:

Justiça para Carlos Olívio!

Carlos Olívio
Carlos Olívio Ferreira Almeida, “O Corvo”

Em 2 de Junho de 2005 mais uma rua de Lisboa ficou manchada com sangue jovem. Carlos Olívio Ferreira Almeida, também conhecido por “O Corvo”, 25 anos, de nacionalidade portuguesa, filho de cabo-verdianos, foi abatido por um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP).

Carlos Olívio, também conhecido por Carlitos, não estava armado, foi abatido a uma distância de 15 metros, pelas costas, cobardemente. A bala assassina entrou-lhe pela nuca e saiu-lhe pela testa. Segundo a versão da polícia, o agente, de nome Frade, 35 anos, fez pontaria para... as pernas...

Nesse dia, manhã cedo, Carlos Olívio foi transportado do Estabelecimento Prisional do Linhó, onde cumpria uma pena de 6 anos de prisão, para a Secção de Inquéritos da PSP de Alcântara. Com duas fugas no seu historial, Carlitos estava ali, precisamente, para ser inquirido por uma delas. E, mais uma vez, tentou a “sorte”. Pediu para ir à casa de banho, arrancou a sanita, partiu a vidraça e projectou-se para a rua.

Imaginamos que na sua cabeça fervilhavam inúmeras cogitações, a saudade da namorada, o pequeno e frágil corpo da filha recém-nascida que Carlitos, na sua impotência de encarcerado, nunca tocara. Talvez, até, a memória de uma vida sem sentido, entre o “facilitismo” da pequena delinquência e a atitude alarve de uma polícia civicamente impreparada que, ao contrário de prevenir o crime, vê na baixa provocação aos jovens dos bairros a linha dorsal da actividade policial, alimentando ódios que a história dificilmente irá sarar a médio prazo.

Carlos Olívio, no que não é o primeiro e, infelizmente, não será o único, foi abatido como um animal. E a PSP, ao invés de se retractar, veio alegar em defesa do agente que este estaria impreparado, que há longo tempo fazia trabalho burocrático, achando até natural que (repetimos!) a uma distância de 15 metros se aponte para as pernas de um fugitivo e se acerte na nuca...

0 agente Frade não foi suspenso, como seria normal num Estado de Direito. Seguramente, quando a situação “apertar”, irá meter baixa psiquiátrica e alegar uma perturbação qualquer que lhe influenciou o acto. Só para Carlitos a Justiça teve que ser dura, que não justa! É assim neste país. Já toda a gente percebeu que para os pobres, para os “pretos”, para os ciganos, para os ucranianos... a Justiça tem mão pesada e funciona. Os poderosos, os ricos, os agentes de uma suposta autoridade safam-se quase sempre.

Até no funeral de Carlos Olívio a atitude policial revelou a sua marca e a sua irresponsabilidade. Depois de enterrado o morto, ainda no desespero da perda, as autoridades acharam por bem deter o irmão de Carlitos à porta do cemitério, quando o poderiam ter feito no recato de outro lugar. Foi a polícia que provocou a alteração da ordem pública que se seguiu à detenção, inutilmente, numa lógica de estado de guerra tão do agrado de caceteiros a soldo do Estado, tão impecavelmente a calhar para enformar exigências e reivindicações corporativas. Um ano após a sua morte, sem que ainda se conheça o resultado do inquérito promovido pelas autoridades, as associações signatárias e os familiares e amigos de Carlitos querem saber se esta será mais uma morte impune, se a culpa mais uma vez morrerá solteira.

Organização:
Associação Contra a Exclusão pelo Desenvolvimento (ACED)
Colectivo de Solidariedade Mumia Abu-Jamal (CMA-J)

Apoio:
Associação Unidos de Cabo Verde (AUCV)

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