Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 20 de Novembro de 2006, aworldtowinns.co.uk

México: “Combater a ocupação reaccionária de Oaxaca!”

Há seis meses, os professores em greve e os seus apoiantes no Estado de Oaxaca, no sul do México, ocuparam a praça central de uma cidade do estado. Bloquearam as estradas e os edifícios governamentais e ocuparam as estações de rádio e televisão, num movimento cujos objectivos eram melhores salários e a queda do amplamente odiado governador do Estado, Ulises Ruiz. O que começou como uma greve cresceu para uma sublevação popular.

Essa ocupação durou até ao final de Outubro, apesar das “caravanas da morte” de carros a partir dos quais pistoleiros disparavam à noite sobre os manifestantes na praça. Pelo menos 14 pessoas foram mortas. A 27 de Outubro, a polícia atacou as massas acampadas na praça, matando um jovem jornalista norte-americano e ferindo várias outras pessoas. No dia seguinte, o governo nacional enviou a polícia federal que acabaria por afastar a maioria dos manifestantes das ruas e dos edifícios ocupados. Desde então, tem havido várias acções de massas em desafio da ocupação policial federal da cidade, incluindo um bloqueio de estradas que durou um dia e uma manifestação de 10 000 mulheres, com os familiares dos “desaparecidos” e os professores na linha da frente.

O texto que se segue inclui excertos de um folheto muito mais longo publicado a 29 de Outubro pelo Movimiento Popular Revolucionario, México.

Desde o massacre de 27 de Outubro que o governo tem proclamado cinicamente que enviou as forças federais de repressão para restabelecer a “paz social”, a “ordem” e a “lei”. A “lei” deles é o direito dos grandes exploradores e opressores do povo a defenderem o seu sistema, a manterem as massas debaixo da sua bota e a enviarem o exército e a polícia federal, não para prenderem os autores materiais do cobarde massacre que foram totalmente identificados, nem os seus autores intelectuais como Ulises Ruiz e outras autoridades, mas para exigirem a rendição total da APPO (Assembleia Popular do Povo de Oaxaca) e o fim imediato da luta independente do povo para se libertar do assassino governo do estado protegido pelo governo federal. A sua “paz social” é uma paz imposta nos sepulcros dos 14 heróis do povo assassinados pelo governo no decurso deste conflito, bem como das dezenas de pessoas seriamente feridas, “desaparecidas”, presas e torturadas.

Eles também dizem que são a favor da garantia do direito das crianças à “educação”. Uma “educação” em edifícios cheios de buracos e salas de aula em ruínas, em que as crianças dormem ou desmaiam nas aulas porque têm muita fome e em que morrem de doenças curáveis. Onde está a sua preocupação com esta realidade da “educação de Oaxaca”? Eles não se preocupam com a educação, tudo com o que eles se preocupam é com a repressão e o esmagamento dos professores pelo suposto “crime” de porem em causa o domínio dos opressores do povo. [O demissionário presidente mexicano Vincente] Fox mostrou claramente desde o início o seu programa para a maioria dessas pessoas: podem trabalhar como jardineiros nos EUA.

As mortes e a ocupação da cidade foram feitas para proteger Ruiz, a cara deste sistema. Elas significam o selar da aliança entre o PAN e o PRI [dois dos principais partidos políticos do México], não só para forçarem o povo a aceitar Calderón como presidente [Felipe Calderón, o candidato do PAN autodenominado “amigo dos empresários”] mas também a privatização do petróleo e da electricidade, os impostos sobre os medicamentos e os alimentos, a abolição das garantias da lei laboral e muitos outros ataques contra o povo... para tirarem as terras das comunidades camponesas de Oaxaca, manterem o sistema de caciquismo [o clientelismo dos patrões políticos e do patronato] e o papel dos grandes capitalistas e proprietários rurais, manterem o sistema de opressão dos povos indígenas, manterem “no seu lugar” as mulheres rebeldes que estiveram na linha da frente das barricadas, reprimirem os protestos e a revolta dos camponeses arruinadas pelo tratado de comércio com os EUA, assassinados e encarcerados por defenderem as suas florestas, dos trabalhadores a salário mínimo que labutam até 12 horas por dia em condições insalubres, dos jovens que sonham com um futuro diferente e dos professores que lutam por uma educação e uma vida melhores para o povo e muito mais. É esta a sua “ordem” e a sua “lei” – o direito dos ricos e poderosos a exercerem a sua ditadura sobre os povos oprimidos e a defenderem o seu sistema de exploração.

Eles dizem que a constituição lhes dá o direito a ocuparem a cidade e a reprimirem o povo, e têm razão. A constituição burguesa dá-lhes o direito a imporem a ferro e fogo a “ordem” do sistema dos imperialistas, dos grandes capitalistas e dos proprietários rurais sempre que a justa luta e a revolta do povo a desafia. Isto só mostra que a sua velha democracia não serve, que na realidade é uma ditadura dos exploradores e opressores sobre o povo. Que este sistema de exploração e opressão vá para o inferno! Nós precisamos de uma nova democracia: um governo popular, a confiscação das empresas pertencentes aos grandes exploradores estrangeiros e mexicanos e a sua colocação nas mãos do povo, dando a terra a quem a trabalha, a igualdade e a autonomia regional para os povos indígenas e a igualdade para as mulheres. Precisamos de abrir caminho a uma nova sociedade que sirva o povo, um novo socialismo como transição para o comunismo, a sociedade global sem classes. Os acontecimentos em Oaxaca salientam que a única verdadeira solução para o povo é a revolução e é preciso trabalhar urgentemente por esse objectivo.

Também é urgente unir todos os que possam ser unidos para desmascarar e denunciar estes novos crimes do sistema, lutar contra a ocupação reaccionária de Oaxaca pelo exército e a polícia federal e persistir na luta pelo derrube de Ruiz e dos outros opressores do povo. Estamos a escrever estas linhas num momento em que as massas populares levam a cabo uma defesa heróica da cidade de Oaxaca, apesar da capitulação ou da vacilação de alguns líderes. Que os criminosos nos governos federal e estadual fiquem avisados: mais cedo ou mais tarde o povo terá justiça!

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