Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 5 de Fevereiro de 2007, aworldtowinns.co.uk
Maoistas iranianos:
As ameaças militares dos EUA e a turbulência política no Irão
O texto quo se segue é um comunicado do Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista) datado de 23 de Janeiro de 2007.
Apesar da oposição da maioria do Congresso dos EUA, George Bush está determinado a infligir ataques militares a algumas das instalações petrolíferas e nucleares do Irão. O novo Secretário da Defesa de Bush, Robert Gates, vê nessa demonstração de poder uma condição prévia para as negociações com o Irão. Ele disse que a deslocação de mais um porta-aviões norte-americano para o Golfo tem como objectivo pressionar o Irão. Além disso, os EUA equiparam as suas bases terrestres e os seus navios de guerra no Golfo com mísseis Patriot. Estes mísseis são capazes de derrubar os mísseis balísticos iranianos. Alguns responsáveis norte-americanos dizem que estas medidas visam proteger os estados do Golfo e as suas instalações petrolíferas contra uma possível reacção militar da República Islâmica do Irão.
A revelação desses planos gerou oposição e protestos dos Democratas e de alguns Republicanos do Congresso dos EUA. Vários senadores salientaram que qualquer ataque contra o Irão sem a aprovação do Congresso seria ilegal. Os responsáveis da Casa Branca responderam que não têm nenhuma intenção de atacar o Irão, mas que essa opção ainda está na mesa. Acrescentaram que actualmente não estão dispostos a negociar com o Irão porque ainda não teriam suficiente margem de manobra. A esse respeito, o novo Secretário da Defesa, que no passado apoiou negociações com o Irão, disse que os iranianos estão a “exagerar a sua sorte” na cena mundial se acreditam que os fracassos no Iraque debilitaram os Estados Unidos – este não é o momento para negociar com o Irão porque ainda falta margem de manobra aos EUA. “Neste preciso momento, na realidade não há nada que os iranianos queiram de nós... E por isso, em qualquer negociação actual, seríamos nós o suplicante... Precisamos de alguma margem de manobra, parece-me a mim, antes de enfrentarmos os iranianos... Até que os iranianos fiquem persuadidos de que, apesar de estarmos atolados no Iraque, os Estados Unidos são de facto um adversário formidável, não há muitas vantagens que retiremos de os defrontarmos.” (International Herald Tribune, 18 de Janeiro de 2007)
Parece que em paralelo com uma redução dos seus objectivos no Médio Oriente (passando de tentarem “reestruturar o Médio Oriente” a ficarem pela “segurança em Bagdad”), o governo Bush também reduziu a sua estratégia em relação ao Irão, do ataque militar e ocupação à “criação de margem de manobra” que possa ser usada nas negociações. Como vão eles criar essa “margem de manobra” e a que é que ela se parecerá, ainda não é claro. Ataques militares, ocupação de instalações petrolíferas e paralisia da economia do Irão – tudo isto poderá estar na lista. Sob pressão dos jornalistas que perguntaram se estava iminente ou não um ataque contra o Irão, o Secretário da Defesa dos EUA respondeu: Nós não precisamos de ter uma guerra aberta com o Irão. Temos outras formas de proceder.
Com outras formas, de facto, Gates queria dizer uma “guerra suja”. Uma guerra suja é uma guerra que os EUA levam a cabo indirectamente, organizando bandos criminosos. John Negroponte, recentemente designado Secretário de Estado Adjunto, especializou-se no desencadeamento desse tipo de guerras quando esteve destacado na América Latina. Há muito tempo que os serviços secretos norte-americanos, britânicos e israelitas estão a apoiar e a treinar no Irão bandos criminosos e não-políticos para iniciarem essa guerra. Os traficantes de droga altamente armados, os líderes reaccionários das tribos das regiões fronteiriças iranianas, as forças políticas mercenárias e os bandos de Guardas Revolucionários e de forças de segurança do Hezbollah iraniano, todos poderiam ser úteis aos EUA, semeando o terror e cometendo crimes. A actual situação em Bagdad é um exemplo perfeito dessa combinação de esforços e o povo iraquiano está a pagar o seu preço, com mais de 100 pessoas mortas diariamente. O Secretário da Defesa tem razão quando diz que os EUA não precisam de desencadear uma guerra como a do Iraque e que o podem fazer de outra forma. É por isso que, ao mesmo tempo que os porta-aviões dos EUA estão a ser enviados para a região, também estão a ser enviadas armas para grupos paramilitares no Baluchistão e para grupos paramilitares árabes no Khuzestão, que estão a ser treinados sob a supervisão de uma força especial britânica.
As pressões “diplomáticas” sobre a República Islâmica
A Secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, salientou que uma outra importante componente da nova política de Bush é incrementar a actividade diplomática dos EUA no Médio Oriente. Ela disse que estava a “tentar construir um quadro geopolítico de sunitas e xiitas moderados numa aliança mais forte e mais activa contra os estados extremistas sunitas e xiitas – ou seja, a Síria e o Irão.” (IHT, 19 de Janeiro). Ela referia-se a uma coligação da Turquia, do Egipto, da Jordânia, da Arábia Saudita e dos estados do Golfo. Outros responsáveis da classe dominante dos EUA dizem que, no quadro desse plano, o governo Bush fez algumas “propostas” ao Irão e à Síria. Eles dizem que o Irão tem duas opções: aceitar um papel secundário na estrutura de segurança da região ou escolher uma abordagem fundamentalista islâmica e ficar à espera de acções punitivas. Em relação a esta política, os xeques e reis dos Estados do Golfo já mostraram preocupação sobre as movimentações “imperialistas” do Irão na região e exigiram em conjunto que os EUA lhes dêem acesso a “tecnologia nuclear”! Os EUA também lhes prometeram que pararia o “imperialismo iraniano”. Foram recentemente reveladas negociações secretas entre Israel e a Síria. Segundo as notícias, Israel concordou em fazer algumas concessões à Síria em troca da pressão síria para transformar o Hezbollah do Líbano num partido político no quadro do actual sistema político desse país e também da ajuda síria na obtenção da segurança de que os EUA estão à procura no Iraque.
Segundo esta nova “diplomacia”, o eixo da construção de uma aliança regional de países do Médio Oriente seria o Exército dos EUA. O comando central das forças armadas dos EUA para todo o Médio Oriente e a Ásia Central está actualmente no Qatar. O principal objectivo das novas pressões sobre o Irão é forçar a República Islâmica a aceitar um papel secundário na estrutura de segurança do Golfo e do Médio Oriente. Não há dúvida nenhuma de que mesmo para obter esse papel secundário, o Irão tem que provar merecê-lo, ajudando a impor a “segurança” no Iraque. Bush está preparado para usar ataques militares contra o Irão para impor a sua nova “diplomacia” para o Médio Oriente, mas essas medidas não fazem parte de um plano de ataques militares generalizados contra o Irão ou de ocupação. Em todo o caso, o novo plano já enfrentou muitos obstáculos e muita oposição e não é claro que resultado produzirá quando for aplicado.
As insolúveis dificuldades de Bush
O “novo” plano de Bush para o Iraque não conseguirá resolver as dificuldades dos EUA no Iraque ou no Médio Oriente. Embora Bush tenha reduzido grandemente os objectivos dos EUA para o Iraque, contentando-se em obter “segurança em Bagdad”, mesmo assim, para atingirem esse objectivo teriam que poder neutralizar o Irão e persuadir os Estados do Golfo, a Turquia, o Egipto, os países europeus e a Rússia a cooperarem activamente com os Estados Unidos. Os EUA vão enviar mais de 20 000 soldados adicionais para eliminarem as redes de milícias xiitas e destruírem a resistência sunita no Iraque. Acrescentar alguns milhares de soldados norte-americanos à guerra contra a guerrilha apenas significa aumentar o número de soldados norte-americanos mortos durante os próximos meses.
Não é possível eliminar a actividade das milícias xiitas e sunitas sem neutralizar os estados que as apoiam. Todas essas redes são fortalecidas pelo apoio deste ou daquele estado regional que, por sua vez, está ligado às redes deste ou daquele país imperialista. Esta situação é semelhante à do Afeganistão onde, uma vez mais, os talibãs conseguiram expandir-se e progredir com o apoio paquistanês. Na guerra do Líbano, o Hezbollah parou os tanques israelitas com a ajuda de mísseis russos recentemente recebidos. Bush pretende neutralizar a República Islâmica do Irão através de ameaças militares e pressões económicas e políticas e convertê-la em colaboradora complacente. Mas qualquer tipo de movimentação militar contra o Irão geraria fortes reacções, tanto dentro da classe dominante norte-americana como das pessoas descontentes nos EUA. A Grã-Bretanha, o mais forte aliado dos EUA no Iraque, retirará as suas forças do Iraque este ano. Os estados do Golfo consideram o Irão como a principal ameaça no Médio Oriente, mas também têm dúvidas sobre o novo plano de Bush.
Desordem dentro da República Islâmica
A resolução do Conselho de Segurança da ONU que impôs sanções a alguns grandes grupos financeiros e comerciais da República Islâmica permitiu aos EUA interferirem no movimento de navios no Golfo e também interromper ligações bancárias entre o Irão e o mundo externo (sobretudo o principal canal que passa pelo sistema bancário do Dubai). Até ao momento, oito bancos europeus cortaram relações com o Irão. Esta situação gerou ansiedade entre os grandes burgueses compradores iranianos, a maior parte dos quais são importantes responsáveis da República Islâmica. Causou particular preocupação no Partido da Aliança Islâmica (Hezbe Motalefe Islami), que representa os maiores homens de negócios que dependem do sistema financeiro e comercial controlado pelos imperialistas. Segundo o jornal Kargozaran, os líderes desse partido reuniram-se com responsáveis do Conselho Nacional de Segurança do Irão para avisarem que o regime deveria assumir uma abordagem moderada em relação ao projecto nuclear, para evitar danos à “economia” do país (por outras palavras, ao saque que essa gente pratica). Ao mesmo tempo, os jornais Islamic Republic (próximo do “líder supremo” Aiatola Khamenei) e Hampshire (próximo do líder da segurança nacional Larijani) criticaram Ahmadinejad pela sua abordagem “excessiva” em relação ao projecto nuclear. A prisão de alguns líderes dos Guardas Revolucionários em Arbil (Curdistão iraquiano) por forças dos EUA foi outro ponto que assustou os líderes da República Islâmica. A 18 de Janeiro, depois desse incidente, o Presidente iraquiano Talabani, que tem representado um importante papel nas relações entre a República Islâmica e os EUA, disse que “para o registo histórico” ele queria declarar que “a República Islâmica está preparada para negociar e cooperar com os EUA em todas as questões de segurança no Médio Oriente, do Líbano ao Afeganistão.”
Os EUA estão atolados no Iraque e a situação interna dos EUA está cada vez mais em crise, mas a situação crítica dos EUA não poupará a República Islâmica do Irão. A República Islâmica integra a estrutura podre, extremamente reaccionária e antipopular de todo o Médio Oriente. Os EUA precisam de pressionar a República Islâmica e, com cada vaga dessas pressões, as fendas e as fissuras internas da RII ficam mais largas. Estas contradições e crises criam uma situação melhor para a intensificação da luta política radical de diferentes estratos do povo. Lutar pelo derrube da República Islâmica e resistir conscientemente aos imperialistas norte-americanos e a todas as alternativas que têm para o Irão é a correcta orientação política e a principal linha divisória do movimento político e dos movimentos de massas dos trabalhadores, dos estudantes e das mulheres na nossa sociedade politicamente turbulenta.