Timor Lorosae independente

Por B. Lisboa

No passado dia 20 de Maio, uma nova nação nasceu no mundo: Timor Lorosae, o país do sol nascente. É um motivo de orgulho para o povo português que, particularmente nos últimos anos, soube lutar ao lado do povo timorense por esse sonho conquistado à custa de tanto sangue e sacrifício. E é a prova de que lutar por uma causa justa, mesmo nas condições mais difíceis e contra os agoiros de todos os que aconselham a desistir, é o único caminho para a vitória.

Sendo sobretudo uma grande vitória dos heróicos lutadores timorenses, é também uma pequena vitória dos revolucionários portugueses (e de todo o mundo) que, desde o primeiro momento, souberam dar o seu apoio a essa luta, contra tudo e contra todos. Convém relembrar que muitos dos que hoje se dizem solidários “de sempre” com a causa timorense, em 1975 foram, se não parceiros directos da barbárie indonésia, pelo menos cúmplices silenciosos da invasão, então entendida como “mal menor” e até um alívio, porque afastava aqueles “perigosos esquerdistas” da FRETILIN.

Em todo o mundo, praticamente só os maoistas, com a China de Mao à cabeça, foram solidários com o povo timorense nesses dramáticos momentos em que a Indonésia, com o aval directo do Governo dos EUA, invadia a metade leste da ilha de Timor e dava início a uma cruel tentativa de genocídio de todo um povo, fazendo-o pagar pela sua ousadia em querer ser independente e seguir o seu próprio caminho.

Convém também não esquecer que as autoridades portuguesas e as suas tropas debandaram do território - então sob administração colonial portuguesa - deixando assim o caminho livre aos invasores. E que durante décadas a diplomacia portuguesa, sob sucessivos governos PS/PSD/CDS, tudo fez para se libertar desse terrível incómodo que foi Timor-Leste, cuja administração a ONU teimava a reconhecer a Portugal. Quanto aos revisionistas do PCP e aos seus partidos-satélite, apesar de algumas declarações formais de apoio à luta do povo timorense, a verdade é que tinham alguma dificuldade em engolir uma luta armada dirigida por uma organização “demasiado revolucionária”.

Contudo, e apesar de celebrarmos a heróica vitória do povo timorense - com a qual nos orgulhamos de ter estado firmemente solidários durante 27 anos - não podemos deixar de lembrar que a outrora Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FReTiLIn) não passa hoje do partido da nova elite exploradora do povo timorense, disposta a ser o agente local das várias potências imperialistas que se preparam para pedir o seu quinhão no intenso saque das riquezas locais que se avizinha. À cabeça de todos, os Estados Unidos e a Austrália, tendo esta última já assegurado a sua parte de leão da exploração das riquezas petrolíferas, num acordo assinado ainda antes da independência pelos actuais dirigentes da Fretilin.

Numa homenagem aos heróicos combatentes revolucionários da Fretilin mortos durante as duas décadas e meia de ocupação e terror indonésio, e em memória da efémera mas não esquecida REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE, proclamada em 1975, reproduzimos aqui o hino nacional de Timor-Leste, cantado na proclamação da independência a 28 de Novembro de 1975, e novamente adoptado para hino nacional do novo país. Apesar de odiado pelos novos dirigentes da Timor Lorosae, que se recusaram a cantá-lo nas cerimónias da independência, é o hino que o povo timorense adoptou como seu e que tem cantado emocionadamente nos últimos dias.

22 de Maio de 2002


“PÁTRIA”
Hino Nacional de Timor Lorosae

Letra: Borja da Costa
Música: Afonso Araújo             (Mortos após a invasão indonésia)

(Letra original que não chegou a ser aprovada pela Assembleia Constituinte timorense.)


Pátria, Pátria, Timor-Leste, Nossa Nação
Glória ao Povo e aos heróis da nossa libertação

Vencemos o colonialismo
Gritamos: Abaixo o imperialismo
Terra livre, Pátria livre
Não, não, não à exploração

Avante, unidos, firmes e decididos
Na luta contra o imperialismo, o inimigo dos povos
Até à vitória final
Pelo caminho da Revolução

 

NOTA: Uma versão que circula por aí (ver a revista VISÃO de 16 de Maio) substitui “Vencemos o colonialismo/Gritamos: Abaixo o imperialismo” por “Viver por Timor-Leste livre/Como povo sempre nobre e heróico”, muda “exploração” para um mais neutro “opressão”, e adultera “contra o imperialismo, o inimigo dos povos/Até à vitória final/Pelo caminho da Revolução” para “pelo nosso progresso/Terra livre, povo livre/Não, não, nunca à pobreza”. Mudam-se os tempos...

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