Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 22 de Junho de 2009, aworldtowinns.co.uk
PCR,EUA: A mudança de táctica de Obama
Publicamos aqui excertos do artigo “Insurreição no Irão” do n.º 169, datado de 28 de Junho de 2009, do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (revcom.us/a/169/Iran-en.html em inglês e revcom.us/a/169/Iran-es.html em castelhano).
Insurreição no Irão
Por V. T.
A oportunidade para estes reformadores chegou essencialmente com a eleição de Obama. Para sermos claros, Obama manteve o essencial do rumo estratégico da classe dominante dos EUA no Médio Oriente, incluindo muitas das políticas específicas de Bush. E nenhum grande sector da burguesia dos EUA defende uma abordagem de “viver e deixar viver” a República Islâmica do Irão (RII). Todos esses sectores vêem, na verdade, o Irão como um importante problema para os interesses dos EUA, sobretudo no Médio Oriente, mas as diferenças estão na forma de transformar o regime e isto tem sido uma fonte de significativa discórdia na classe dominante dos EUA. Embora Obama partilhe o ponto de vista de que a RII deve ser qualitativamente transformada, ele representa forças que concordam em que as tácticas de Bush não estavam a conseguir esses objectivos, e tacticamente fez algumas mudanças.
A abordagem de Obama combina delimitação (pressão militar e diplomática, sanções económicas e guerra de baixa intensidade) com negociações mais flexíveis e várias iniciativas de “poder suave” (algumas propostas económicas, culturais, etc.). Ele também abriu perspectivas de conversações entre os EUA e o Irão e declarou que devia haver espaço para uma limitada capacidade de produção de energia nuclear com objectivos pacíficos. Mas não há nenhum indício de que tenha suspendido as operações militares encobertas das Forças Especiais dos EUA no Irão iniciadas por Bush e manteve a mesma exacta afirmação declarada pelo governo Bush (e por Israel) de que o Irão está a tentar desenvolver armas nucleares e que esse desenvolvimento é inaceitável. Obama também salientou que essas conversações não podiam continuar indefinidamente e que precisavam de estar terminadas perto do fim do ano. Essa declaração implica mudar de conversações para algo mais draconiano – desde embargos mais efectivos a medidas militares – se o prazo for ultrapassado. Esta alteração (a “cenoura” e o “pau” implícito) da política dos EUA em relação ao Irão foi um provável contributo para que as forças reformistas dentro do Irão ganhassem uma renovada espinha dorsal política e pode muito provavelmente ser mesmo um elemento – em conjunto com o ódio ao actual regime – do reavivado apoio de largos sectores da sociedade iraniana a essas forças.
Mas, embora as “forças reformadoras” tenham, em parte, sido estimuladas pelas novas tácticas de Obama, o próprio Obama tem até agora usado a actual crise a seu favor, fazendo apenas condenações relativamente tépidas da violência contra os manifestantes. Isto acontece por várias razões. Em primeiro lugar, tal como disse o próprio Obama no início da crise, ele não acha necessariamente que Mousavi iria desmantelar a RII, nem deixar de tentar procurar obter coisas que lhe foram proibidas pelos EUA – incluindo armas nucleares. Em segundo lugar, e também admitido por Obama de uma forma franca, devido à história de domínio dos EUA sobre o Irão, incluindo o seu importante papel no estabelecimento e apoio ao odiado governo do Xá durante 25 anos, de 1953 a 1978, há uma grande probabilidade de que qualquer declaração de apoio de Obama aos manifestantes ricocheteasse. Neste mesmo momento, os EUA estão a “manobrar, mas retendo o fogo” – tentando perceber que rumo irá enfraquecer mais em geral a RII e melhor capacitar os EUA a instalarem um regime mais flexível e estabelecerem um domínio mais acorrentado de toda a região. O facto de Khamenei, no seu discurso de 19 de Junho, ter virado o seu principal ataque contra a Inglaterra, e não contra os EUA, foi interpretado por algumas pessoas como querendo dizer que as forças de Khamenei/Ahmadinejad estavam a dar um sinal aos EUA de que estavam dispostas a chegar a um acordo, se isso os fizesse ultrapassar a crise, e que era do interesse dos EUA trabalhar contra Mousavi.
Um factor com que Obama está a tentar jogar é a falta de uma clara compreensão de que o imperialismo é um sistema – e não apenas um conjunto de políticas. Mesmo que quase todos os sectores da sociedade iraniana reconheçam e desprezem os EUA pelo seu papel no derrube de Mossadegh em 1953 e pelo estabelecimento e apoio ao odiado Xá, a “admissão” por Obama de um papel dos EUA nesse golpe de estado foi muito uma tentativa de convencer as forças e as massas iranianas da existência de um novo imperialismo norte-americano, “mais amável e mais delicado”. Por um lado, essas massas odeiam o que o imperialismo faz – mas mesmo muitas das pessoas mais progressistas tendem a reduzir o imperialismo a um conjunto de políticas e não o entendem como o sistema mundial que ele é. Isto deixa-os sujeitos à influência da demagogia de Obama.