Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 8 de Novembro de 2004, aworldtowinns.co.uk

Maoistas dos EUA dirigem-se aos norte-americanos sobre a reeleição de Bush

Em muitas cidades dos Estados Unidos, nos dias a seguir à eleição presidencial, muitos manifestantes mostraram o seu desagrado pela reeleição de George W. Bush. Em muitas pessoas, a raiva era visceral, sobre questões que iam do gigantesco roubo do direito de voto de eleitores afro-americanos e imigrantes durante as eleições, até ao anunciado ataque de Bush ao direito ao aborto e à provável escalada da guerra no Iraque e o que isso significa para os povos do mundo. O seguinte artigo, com o título “A vontade popular não foi expressa nestas eleições” e assinado pelo Partido Comunista Revolucionário, EUA, é reproduzido do n.º 1258, de 14 de Novembro de 2004, do jornal Revolutionary Worker/Obrero Revolucionario, voz do PCR,EUA (revcom.us/a/1258/elections-editorial.htm em inglês e revcom.us/a/1258/elections-editorial-s.htm em castelhano).

A vontade popular não foi expressa nestas eleições

Pelo PCR, EUA

Angústia atordoante... desgosto amargo... e mesmo desespero. Tentamos encontrar palavras e não conseguimos.

E sim, é tão mau quanto se pensa. E, quase de certeza, pior.

A 3 de Novembro, George Bush chamou os recém-eleitos senadores republicanos (que defendem coisas como a pena de morte para quem pratica abortos e a proibição de os homossexuais ensinarem) e disse-lhes: “é tempo de pôr mãos à obra”. Personificando o capitalismo, Bush disse à imprensa: “Deixem-me colocar-lhes as coisas desta maneira: obtive capital político na campanha e agora pretendo usá-lo.” Ele está cheio de si próprio – numa missão para levar todo este pesadelo até um nível ainda mais intenso e mais repressivo.

Se houve alguma vez um dirigente que devesse ser totalmente rejeitado, se houve alguma vez um momento em que um país ficasse politicamente incontrolável, se houve alguma vez um império que devesse ser mortalmente impedido de continuar e de moldar o futuro do planeta – esse dirigente, esse país, esse império estão à nossa frente. Se houve alguma vez um momento em que milhões de pessoas precisassem de agir devido ao seu sentimento de profundo mal-estar de que algo está terrível e radicalmente errado – esse momento é JÁ.

Bush grita de alegria porque é apoiado pela vontade popular. Mentira! Que vontade popular, quando houve toda uma campanha de negação do direito de voto e de intimidação dirigida contra os negros e os imigrantes, do Ohio ao Arizona, da Florida ao Mississípi?! Que vontade popular, quando talvez nunca venhamos a poder dizer o que realmente registaram as máquinas de voto electrónico facilmente manipuláveis? Que vontade popular, quando nunca foi dada às pessoas uma oportunidade, nem sequer de ouvirem (quanto mais votarem) uma poderosa voz claramente contra a guerra, contra a repressão e contra a mentalidade da Idade das Trevas que vai tomando conta deste país? E onde estão as vozes de pessoas, de Gaza a Falluja, de Katmandu à Coreia, que são as maiores vítimas dessa loucura de Bush? Onde estão as vozes da maioria das pessoas do planeta que dolorosamente se opõe à guerra no Iraque? A verdade é que a vontade popular não foi expressa nestas eleições!

É verdade que Bush obteve o apoio de dezenas de milhões de pessoas com os olhos bem fechados. E isso é assustador – e mais à frente falaremos sobre o que está por trás disso. Mas Kerry nunca atacou verdadeiramente Bush, e todo o modo como as questões ficaram limitadas às condições sobre “quem seria o melhor comandante supremo” estava desde o início armadilhado contra o povo. E agora Kerry diz-nos para “deixarmos sarar as feridas”? Nós achamos que não.

Sim, as pessoas que odeiam o que Bush significa têm de responder a uma difícil pergunta, mas essa pergunta é: como chegámos a esta situação onde as escolhas, os limites e o enquadramento que é suposto aceitarmos esteja marcado por um lado pelos “republifascistas” que são claramente fascistas e abertamente imperialistas – e por outro lado pelos “republicratas” que se limitam a algumas correcções insignificantes e até a uma ultrajante conversa sobre sarar feridas?

E agora? Limitamo-nos a aceitar isso como sendo a vontade popular e a tentar encontrar o nosso lugar algures dentro destas novas regras?

Não, não e NÃO! Isso mostrou ser desastroso e temos que mudar de rumo JÁ. Temos que construir uma forte resistência baseada no que é verdadeiramente correcto.

Duas morais diferentes

Ah, dizem-nos eles, mas Bush ganhou por causa da sua “moral superior”.

Que tipo de moral é esta que joga com o medo e com o desejo de uma falsa e ilusória segurança para levar a cabo impiedosos bombardeamentos e massacres no Iraque, onde se calcula que até agora já morreram mais de 100.000 pessoas em resultado da guerra?

Que tipo de moral está expressa nas fotografias despudoradamente tiradas de prisioneiros mortos e embrulhados em plástico, ou despidos e torturados, tudo sancionado e sistematizado pela cadeia de comando e pelos pareceres jurídicos escritos pelos mais altos conselheiros de Bush?

Quem pode encontrar salvação moral em incutir o medo e o ódio aos homossexuais, em pregar a “submissão conjugal” das mulheres aos seus maridos e em ressuscitar a era dos abortos de vão de escada?

Que tipo de moral aceita e justifica atirar contra todos os imigrantes a suspeita do sinistro estado-polícia e comparar a dissidência e o pensamento crítico com a “traição”?

Que tipo de moral põe na prisão mais de dois milhões de pessoas, a maioria do quais negros, latino-americanos e de outras etnias?

Trata-se de uma moral fascista, baseada numa versão fundamentalista e extremamente odiosa do cristianismo. Face a um mundo em transformação rápida, esse fascismo cristão oferece às pessoas ordem, certezas e vingança. Milhões de pessoas estão gravemente viciadas em fantasias sobre o Apocalipse que as estão a preparar para matar e morrer insensatamente em nome deste império.

E não, não podemos nem ficar com a esperança de que isto irá acabar nem procurar um “terreno comum” com este veneno – devemos “preparar uma intervenção” junto dessas pessoas e atacar directamente essa mentalidade nociva e lunática que lhes foi pegada e que eles têm tentado impor a toda a sociedade. E se atacarmos frontalmente essa loucura, poderemos “retirar” algumas dessas pessoas do bando de Bush. Muitas delas têm filhos e filhas a matar e a morrer no Iraque; muitas delas são vítimas do capitalismo “puro e duro” representado por Bush (e, na realidade, também por Kerry); muita gente, especialmente as mulheres, ainda está presa em relações sociais que destroem o seu espírito e as suas vidas; e se algum consolo encontra nesse fascismo cristão, em última instância esse consolo não pode transcender tudo isto. Este programa de Bush não está a terminar – ele vai tentar escalar imediatamente a guerra no Iraque de um modo terrivelmente sangrento e planeia novas agressões. Vai tentar passar uma versão ainda mais restritiva do Acto Patriótico. Vai avançar com cortes em programas de que as pessoas dependem desesperadamente e encaminhá-las para a “caridade” das igrejas.

Não podemos ignorar, nem fugir, nem perder a esperança face a este fanatismo ignorante e ao pernicioso impulso por trás de si. Podemos e temos de lembrar as lições do 11 de Setembro – quando Bush partiu com a grande maioria do país unida em redor da sua “Guerra ao Terror” e quando as pessoas conseguiram inverter essa polarização expondo a sua verdadeira natureza e criando uma forte resistência nas ruas. Sim, não se pode negar que Bush acaba de ganhar a última batalha – e que isso terá consequências devastadoras. Mas é uma verdade ainda maior que há bases para perfurar essa atmosfera e inverter de facto essa dinâmica e gerar uma dinâmica diferente – uma resistência baseada nos verdadeiros interesses das massas, uma resistência baseada não apenas em divergir ou opor-se a esse programa, mas em PARÁ-LO, de facto.

E sim, nós precisamos de uma moral – mas uma moral diferente. A nossa moral não pode ser uma razão para oprimir e poder saquear, mas deve ser uma moral baseada na compreensão de que a vida das pessoas nascidas em todo o mundo não é menos preciosa que a nossa. Na convicção de que as necessidades e os interesses das massas devem determinar a ordem económica e política, e não subjugarem-se a uma procura incessante de cada vez maiores concentrações de riqueza e de poder. Na nossa recusa em enviar as mulheres e os homossexuais de volta à brutal caixa das noções bíblicas tradicionais. Na nossa profunda rejeição do racismo e de todas as suas normas e políticas ditas “modernas e iluminadas”. Numa poderosa visão do potencial humano e na ideia de que todas as pessoas devem ser levadas a pensar de um modo crítico e científico e que se deve permitir que participem na definição das metas e das políticas das nossas sociedades, numa base de contínuo aprofundamento e expansão. Na nossa resistência à desumanidade e na nossa vontade de tudo fazer para acabar com ela.

Esta moral reflecte os interesses de 90% do povo – não só no resto do mundo mas também aqui nos EUA – e é algo que um movimento de resistência deve forjar e propagar. Atravessamos tempos difíceis. A moral cristã fascista está a preparar as pessoas para lutarem e morrerem pela exploração, a opressão e a ignorância. E NÓS, que vamos fazer? Que tipo de pessoa vale a pena ser nestes dias? Estas são as questões que em conjunto irão desenvolver a moral em que se baseia o nosso movimento.

Revolução, resistência e o que temos de fazer JÁ

Há três anos, imediatamente após o 11 de Setembro, o nosso Presidente, Bob Avakian, disse que “as coisas irão ser muito diferentes. [...] A América tal como a conhecemos hoje deixará de existir”. Isso é uma verdade profunda que foi confirmada pelos acontecimentos dos últimos anos.

Mesmo por trás da grotesca desumanidade imediata do programa de Bush, há uma absurdidade absoluta no facto de que, em 2004 e com todos os imensos recursos e avanços tecnológicos, com uma nunca igualada riqueza em conhecimentos e comunicações e com a criatividade de mil milhões de habitantes do nosso planeta, este esteja à beira de ser mergulhado nas trevas. Mas essas mesmas condições também garantem a possibilidade de uma era completamente nova, baseada numa transformação revolucionária. O Partido Comunista Revolucionário dos EUA tem um programa e um plano eminentemente sensato e necessariamente ousado para a Revolução. E tem a liderança de Bob Avakian que tem dirigido a análise de toda a experiência da sociedade socialista – apoiando os grandes feitos e examinando criticamente as insuficiências – e redefiniu um “modelo” radicalmente novo que não só elimina as terríveis desigualdades do capitalismo mas que também gera um entusiasmo e o florescimento de um espírito crítico nunca antes visto em qualquer sociedade. E, como parte dessa visão global, percebemos a urgente necessidade imediata da unidade com outras pessoas para a construção de um movimento fundado tanto na nossa oposição comum ao monstro de Bush como num espírito de discussão e debate sobre o que o deve substituir e como lá chegar.

E quanto às eleições? É verdade que nos deram um golpe, um golpe duro. Mas não é altura de deixar o país, nem de enterrar a cabeça na areia ou de tentar perceber como viver sob o fascismo. Durante os últimos anos, as pessoas deste país assumiram o seu lugar como parte de uma humanidade global, encheram as ruas e fizeram com que o mundo soubesse da sua oposição a todos os planos de Bush de guerra, repressão e ignorância imposta, aqui mesmo na sua própria pátria. Ainda há apenas dois meses, meio milhão de pessoas convergiu para protestar junto à Convenção Nacional Republicana. Esse meio milhão de pessoas – e os muitos milhões mais que depositaram a sua esperança em Kerry, apenas para serem abandonados uma vez mais – tem de agir e agir JÁ.

Neste mesmo momento, Bush e companhia estão a preparar-se para levar a cabo um horrível massacre em Falluja. Estão a preparar a repugnante coroação do seu arrogante chefe banhado em sangue. Estão a agir rapidamente para aumentar a repressão e definir as condições para a próxima geração. Irá o bando de Bush enfrentar alguma resistência? Irá o mundo ver os norte-americanos a desfilar nas ruas, recusando serem engaiolados – ou irão deixar uma imagem de uma população de ovelhas submetida a Bush, reforçando a imagem da América como um demónio monolítico? Irão as pessoas caminhar pelas ruas dos EUA, não ousando sequer pensar no futuro e temendo pelo presente, ou irão elas ganhar coragem quando virem janelas cheias de cartazes com “NÃO”, cidades inteiras que se declaram “zonas livres de fascistas” e um renascimento das tradições do Movimento Santuário dos anos 80 e da Via Subterrânea dos tempos de escravidão? Iremos [proteger-nos] uns aos outros – os bibliotecários, os professores, os artistas, a gente comum que ousa falar e dizer NÃO? Discutiremos e debateremos, ao mesmo tempo que – e como parte disso – solidificamos a nossa própria unidade, enquanto avançamos corajosamente e tentamos convencer outras pessoas ainda sob a alçada da mentalidade bushiana de medo e ignorância?

Irão as pessoas resistir com o objectivo de derrotar esta monstruosidade? Irão, se tivermos algo a dizer-lhes sobre isso. E nós temos. Temos de falar com toda a gente. Temos de trabalhar em conjunto. Temos de lutar pelas nossas vidas e pelo futuro deste planeta. Junta-te a nós. Vem saber o que é a Revolução. Resiste.

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