Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 3 de Março de 2008, aworldtowinns.co.uk

Afeganistão: Semana de “Eliminação da violência contra as mulheres” ou semana de apoio à violência contra as mulheres?

Publicamos de seguida excertos editados do Nabarde Zan (edição n.º 5), publicado em Fevereiro de 2008 pelo grupo de mulheres afegãs 8 de Março.

O regime fantoche de Hamid Karzai declarou a última semana de Novembro como “semana de eliminação da violência contra as mulheres” no Afeganistão. Desde o início da ocupação, tanto os ocupantes como o seu regime fantoche têm quebrado imensas promessas feitas às massas, sobretudo às mulheres. Esta é apenas mais uma. Mas vejamos como o governo procura eliminar a violência contra as mulheres.

Como parte de um programa televisivo dedicado a esta questão, o canal de televisão Tolooe entrevistou Karima Salak do Ministério das Questões Femininas. Quando questionada sobre como se poderia eliminar a violência contra as mulheres, ela respondeu: “A melhor forma de resolver essa questão é aumentar a consciência dos homens através de anúncios na rádio, na televisão e na imprensa, da realização de discussões e seminários, e comunicando com eles através dos mulás nas mesquitas, para que os homens possam ser informados sobre os seus direitos e os direitos das mulheres e se possa evitar a violência contra elas.”

Um dos problemas do Afeganistão tem sido que algumas das próprias mulheres no governo apoiam a opressão das mulheres. Elas encorajam sempre as pessoas a aceitarem o conceito feudal de família. Para elas, a solução está em corrigir o comportamento pessoal dos homens, continuando a aceitar os valores actuais e não alterando o seu comportamento num sistema social justo.

Ao mesmo tempo que a Sra. Salak falava em seminários e anúncios, os criminosos armados do regime violavam descaradamente os presos na prisão de Pole Charkhi. E, apesar do espectáculo da “semana de eliminação da violência contra as mulheres”, esse escândalo não pôde ser escondido ou ignorado pela imprensa que depende do regime. Mas a situação não é melhor, e talvez seja mesmo pior, no que diz respeito aos abrigos, as chamadas casas seguras para as mulheres e jovens que deixaram os seus maridos ou os seus pais. Esses abrigos foram transformados em bordéis para responsáveis governamentais. Todos os criminosos governamentais suficientemente poderosos para terem um carro podem ir a esses abrigos, escolherem a mulher que quiserem, levá-la e devolvê-la depois de a violarem. Isto é um exemplo de como este regime fantoche trabalha para “eliminar a violência contra as mulheres”.

Num outro programa televisivo da série relacionada com a “semana de eliminação (...) ”, uma jovem que tinha fugido da família do marido contou a sua história: “Eu tinha sete anos quando me casei com um homem de 90 anos. Tenho agora 17 anos mas já não posso morar naquela casa, pelo que fui pedir ajuda ao Ministério das Questões Femininas.”

Se o Ministério não a mandar de volta à família do marido, enviá-la-á para um dos seus abrigos. Mas saberá a jovem o que aí a espera? Nesse caso, ela talvez preferisse o inferno que deixou para trás!

Hoje em dia, as mulheres no Afeganistão são traficadas em nome do casamento. Elas não têm direito ao divórcio, e estão desprovidas das mais básicas medidas de saúde e higiene. Segundo os números da Comissão de Direitos Humanos, uma em cada nove mulheres, 16% do total, morrem durante a gravidez ou o parto, não só por causa da falta de médicos e de meios de transporte, mas também porque muitos maridos não estão dispostos a deixar as suas esposas darem à luz nos hospitais.

Quando uma mulher é morta por decisão de uma jirga (assembleia tribal ou de clã) local, as autoridades raramente interrogam sequer os assassinos e nunca os punem.

É por isso que as mulheres que procuram parceiros com base no amor, em vez de casamentos arranjados ou forçados, são mortas pela sua família ou clã. De facto, as mulheres são oprimidas, violadas e mesmo mortas em nome da honra. Elas são mortas por causa da sua sexualidade, apenas por serem mulheres.

Segundo uma notícia de 2 de Novembro, Hadji Abdulahn, irmão de um famoso jihadista de Herat chamado Nour Ahmad Khar Nowal, matou a mulher a tiro. Nada foi revelado sobre esse caso de assassinato. Nem sequer foi convocada uma jirga local ou de clã. As autoridades do regime fantoche nem sequer interrogaram uma única pessoa sobre o assassinato, e muito menos prenderam alguém.

Da mesma forma, quando uma mulher ou uma jovem é condenada à morte pela sua família ou clã em nome da honra, não recebe apoio do regime fantoche. Por exemplo, a morte da jovem poetisa Nadia Anjoman, o assassinato de Razia nas montanhas de Shinden, o sequestro de uma rapariga por um general da província de Baghlan chamado Azim Hashemi (que a obrigou a casar com ele), a violação de uma mulher por um coronel na província de Takhar e muitos, muitos outros casos – as autoridades governamentais não tomaram nenhuma medida e os criminosos continuam em liberdade.

O governo e as organizações pró-ocupação estão a tentar dar uma melhor imagem do Afeganistão ocupado e encobrir a realidade da vida das mulheres. Falando sobre a violência contra as mulheres, Sima Samar, dirigente da “Comissão Independente de Direitos Humanos” disse: “Este ano, até agora, ocorreram mais de 550 casos de violência contra mulheres.” Mas este número parece estar muito abaixo da realidade. A Rádio Kelid noticiou a 29 de Abril de 2007 que, só no primeiro mês desse ano, foram registados 200 casos de violência familiar contra mulheres, só na província de Herat. Nem sequer podemos confiar no rigor deste número, porque ele inclui apenas casos que foram registados pelas entidades governamentais, enquanto a maioria dos casos de violência e mesmo de mortes de honra nas aldeias nunca são relatados a ninguém. Se numa só província e durante apenas um mês foram registados 200 casos de violência contra mulheres, pode-se estimar com razoabilidade que houve cerca de 1800 casos nessa província durante os primeiros nove meses do ano. Por isso, como é que Sima Samar pode estar certa?

A realidade é que a “Comissão de Direitos Humanos”, tal como o Ministério das Questões Femininas, apoiam e encorajam os valores que uma sociedade retrógrada e tradicional aplica às mulheres. O slogan da Comissão para celebrar o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, do ano passado era “Um correcto posicionamento das mulheres na família é a ilustração de uma família saudável e uma família saudável assegura uma sociedade saudável”. Isto quer dizer que as mulheres devem aceitar que os homens sejam chefes de família e “protectores da honra delas”. Uma “família saudável” é uma família que segue essas obrigações e valores e que não ultrapassa esses limites. Poderá uma “comissão” que defende estas ideias reaccionárias defender ao mesmo tempo os direitos das mulheres?

Estas movimentações da chamada Comissão Independente de Direitos Humanos do governo fantoche e do Ministério das Questões Femininas destinam-se a criar uma cortina de ilusões para encobrir a ocupação, a traição nacional do regime e a manutenção da negação dos direitos das mulheres. Karzai fala em libertação das mulheres e em defesa dos seus direitos, mas os seus actos vão no sentido da sua subjugação e da defesa de valores feudalistas retrógrados e reaccionários. Desde a sua criação que o regime fantoche tem aprovado constantemente as decisões tomadas pelas jirgas locais. Mais que isso, o regime de Karzai encoraja repetidamente as pessoas a formarem jirgas locais e a resolverem os seus problemas e diferenças através das jirgas. Mas a verdade é que quanto mais crescem essas jirgas locais, mais as tradições feudais dominam a sociedade e obrigam as mulheres a seguir esses costumes e tradições feudais velhos e retrógrados.

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