Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 17 de Abril de 2006, aworldtowinns.co.uk
Violentos protestos de massas agitam o Curdistão turco
Desde o final de Março que a região curda da Turquia tem assistido a uma semana de motins de massas e de combates com a polícia e os gendarmes, a uma escala sem precedentes nos últimos anos e talvez mesmo há muito tempo. Os confrontos entre cerca de 10 000 manifestantes e a polícia começaram a 27 de Março na cidade curda de Diyarbakir, no leste da Turquia, depois do funeral de 14 guerrilheiros nacionalistas curdos mortos pelas forças governamentais. Durante um período de três dias, milhares de jovens, segundo alguns relatos com o apoio de muita da população local, atiraram pedras e atacaram esquadras da polícia e outros alvos governamentais, até que o governo enviou os gendarmes para ocuparem a cidade. Alguns confrontos continuaram depois disso. Também houve sérios combates nas cidades curdas de Batman, a 80 quilómetros para leste, e de Kiziktepe, perto da fronteira com a Síria, e na própria capital turca, Istambul, no seguimento de um protesto levado a cabo por curdos.
O governo turco tem levado a cabo operações armadas contra a nação curda e em particular contra as forças da guerrilha curda associadas há muitos anos à organização nacionalista PKK. (Embora o Partido dos Trabalhadores Curdos tenha mudado o seu nome há alguns anos para Kongra-gel, quando abandonou a sua ligação ao Marxismo, ainda é amplamente conhecido pelas suas antigas iniciais). O governo nunca cessou as operações militares nessa zona, embora a seguir à captura (com a ajuda dos EUA) do líder do PKK, Abdullah Öcalan, o PKK tenha retirado as suas forças para a zona curda do norte do Iraque, pedindo repetidamente negociações de paz. Durante cinco anos, até 2004, o PKK cessou todas as operações armadas. O estado turco, mais ou menos abertamente dominado pelo Conselho de Segurança Nacional constituído pelos principais chefes militares, respondeu a esses apelos à paz etiquetando o PKK de “terrorista”. Os governos dos EUA e da União Europeia apoiaram a Turquia nesta questão.
As emoções nas áreas curdas da Turquia já estavam em ebulição após uma série de atentados bombistas na zona de Semdinli, em que foram mortas várias pessoas. O último deles foi um ataque a uma livraria durante a qual alguns curdos comuns mais vigilantes conseguiram capturar os perpetradores com a mão na massa, só para descobrirem que eram membros do serviço secreto do exército turco, o chamado Jitem (Serviços de Inteligência Jendarmerie). Um deles era um antigo guerrilheiro do PKK que se tinha tornado traidor e estava a ser utilizado pelos serviços secretos turcos. Ficou então evidente que os vários atentados, de que tinham culpado o PKK, eram de facto obra dos serviços secretos turcos – não só enfurecendo milhões de curdos mas também muitos turcos. O General Yasar Buyukkanit, o n.º 2 do exército turco, fez um comunicado à imprensa em que dizia conhecer pessoalmente os homens que tinham sido apanhados a fazer os atentados e que “eles eram bons rapazes”. Toda a gente percebeu que isso uma maneira de colocar uma capa de protecção sobre estes assassinos.
As pessoas sentiam que tinham a razão do seu lado e que tinham apanhado os perpetradores com a mão na massa, pelo que não viam razão nenhuma para esperarem pela justiça vinda do mesmo Estado que, em primeiro lugar, estava de facto por trás desses crimes. Violentas batalhas de rua contra a polícia eclodiram em toda a zona. Isso também levou a uma luta interna entre as forças da classe dominante, sobretudo entre o exército e o Partido da Justiça e do Desenvolvimento, o partido islâmico que lidera o governo. Em Van, um procurador local chegou mesmo a preparar uma acusação contra o General Buyukkanit por ter saído fora dos canais estabelecidos ao organizar o seu próprio bando de vigilantes. Isso levou a alguma agitação de protesto dos militares e dos elementos da linha dura, amplamente divulgada na comunicação social, dizendo basicamente como é que esse procurador tinha ousado fazer tais afirmações escandalosas contra homens responsáveis por defender o nosso país. Essas figuras militares alegaram que o procurador estava a dar apoio indirecto “aos terroristas”.
Foi neste ambiente que ocorreu o violento ataque de 26 de Março em que o exército turco massacrou um grupo de 14 guerrilheiros do PKK usando armas químicas, nas montanhas do Curdistão do Norte, perto da fronteira com o Iraque. O exército turco negou o uso das armas químicas, porque violam o direito internacional. Porém, os familiares dos guerrilheiros mortos viram os corpos e denunciaram o que de facto aconteceu. Os seus relatos foram suficientemente convincentes para serem amplamente divulgados na comunicação social curda. Quando os corpos dos guerrilheiros chegaram a Diyarbakir, muitos milhares de pessoas assistiram aos funerais. Isso foi visto como uma oportunidade de contra-atacar a dura repressão que visa esmagar o movimento curdo em geral. As medidas repressivas atingiram todas as organizações curdas da Turquia, incluindo o DTP (o Partido da Sociedade Democrática), o partido nacionalista curdo legal, e o presidente da Câmara de Diyarbakir.
A polícia tentou impedir as massas de assistirem ao funeral, o que causou ainda mais raiva e originou batalhas generalizadas entre os jovens e a polícia. A polícia matou quatro jovens e nove adultos no decurso dos confrontos de rua.
Foram presas centenas de pessoas, incluindo alguns apoiantes do Partido Comunista Maoista (MKP) da Turquia/Curdistão do Norte. Ilyas Aktas, um jovem jornalista de Diyarbakir que trabalhava para o jornal maoista Devrimci Demokrasi, foi atingido na cabeça pela polícia e entrou em coma. A 11 de Abril, os seus médicos anunciaram que estava em apoio de vida e cerebralmente morto, sem esperança de recuperação.
A 9 de Abril, 2000 pessoas manifestaram-se em East London em protesto contra os ataques governamentais e para exprimirem a sua solidariedade à luta do povo curdo. Muitos milhares de pessoas mais saíram à rua na Alemanha, na Suíça e em todo o norte da Europa.
O MKP emitiu um comunicado em que declarava o “seu apoio incondicional às legítimas exigências democráticas da luta nacionalista curda e ao seu direito a resistir ao regime fascista turco para defender esses direitos – e que em última instância só através da revolução de nova democracia irá a nação curda conseguir obter uma genuína libertação.”