Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 5 de abril de 2019, aworldtowinns.co.uk
Vaga de protestos faz cair o odiado presidente da Argélia
Bob Avakian sobre
O que é Uma Revolução:
É importante primeiro deixar claro o que, em termos básicos, queremos dizer quando dizemos que o objetivo é a revolução, e em particular a revolução comunista. A revolução não é nenhum tipo de mudança de estilo, ou mudança de atitude, nem é meramente uma mudança de algumas relações no interior de uma sociedade que permanece fundamentalmente a mesma. A revolução significa nada menos do que a derrota e o desmantelamento do estado existente e opressor que serve o sistema capitalista-imperialista — e em particular das suas instituições de violência e repressão organizadas, incluindo as suas forças armadas, polícias, tribunais, prisões e aparelho burocrático e administrativo — e a substituição destas instituições reacionárias, destas concentrações de coerção e violência reacionárias, por órgãos revolucionários de poder político e por outras instituições e estruturas governamentais revolucionárias, cuja base foi antes estabelecida através de todo o processo de construção do movimento para a revolução e, em seguida, realizar a tomada do poder, quando as condições para isso tenham sido criadas — o que num país como os EUA exigiria uma mudança qualitativa da situação objetiva, resultando numa crise profunda na sociedade, e o surgimento de um povo revolucionário aos milhões e milhões, os quais têm a liderança de uma vanguarda comunista revolucionária e estão conscientes da necessidade de uma mudança revolucionária e estão determinados a lutar por ela.
Como já salientei nesta palestra, a tomada de poder e a mudança radical nas instituições dominantes da sociedade, quando forem criadas as condições para isso, possibilitam uma maior mudança radical em toda a sociedade — na economia e nas relações económicas, nas relações sociais e na política, na ideologia e na cultura prevalecentes na sociedade. O objetivo final desta revolução é o comunismo, o que significa e exige a abolição de todas as relações de exploração e opressão e de todos os conflitos antagónicos destrutivos entre os seres humanos, em todo o mundo. Compreendida a esta luz, a tomada do poder, num determinado país, é crucial e decisiva, e abre a porta a uma mudança radical mais profunda, e ao reforço e avanço da luta revolucionária em todo o mundo; mas, ao mesmo tempo, apesar de quão crucial e decisivo isto seja, é apenas o primeiro passo, ou o primeiro grande salto, numa luta global que deve continuar em direção ao objetivo final desta revolução: um mundo radicalmente novo, comunista.
— Bob Avakian, BAsics [O BÁsico] 3:3
Ao início da manhã de hoje, as pessoas começaram a inundar a principal praça de Argel, antes de esta se encher. À tarde, a praça e as ruas circundantes ficaram solidamente apinhadas de pessoas a celebrar a vitória que tinham obtido, a queda do odiado presidente Abdelaziz Bouteflika. O mesmo aconteceu noutras cidades do país. As centenas de milhares de pessoas que estavam nas ruas — e milhões de pessoas em todo o país — sentiram uma exaltação que só se sente uma vez na vida. Tinham desferido um poderoso golpe na hogra, a humilhação do povo, sentida nas vidas individuais delas e como nação, às mãos de uma clique corrupta, servil em relação às potências estrangeiras e cruel em relação às massas populares.
Houve manifestações massivas todas as sextas-feiras durante as sete semanas desde que o presidente, no poder há vinte anos, anunciou que iria concorrer a um quinto mandato. Inicialmente, num esforço para apaziguar a fúria popular, ele inverteu a decisão de concorrer novamente. Por fim, foi forçado a renunciar rapidamente. A alegria popular misturou-se a uma crescente determinação de expulsar todo um regime que agora procura salvar-se atirando borda fora a sua principal figura. Os manifestantes inventaram uma nova palavra, “Fridayize”, prometendo continuar até também conseguirem expulsar os lealistas a quem Bouteflika tinha entregado o governo.
Mas agora o exército avançou abertamente para se estabelecer como sendo o verdadeiro poder. Apesar da reputação de que ainda beneficia por ter conquistado a independência do país em 1962 — depois de oito anos de uma genocida guerra francesa para a França manter a sua dominação colonial —, as pessoas que agora estão em grande parte unidas contra um presidente detestado estão a avançar contra uma instituição que está no centro do estado que Bouteflika controlava — o estado que tem mantido o país dominado pelo imperialismo, economicamente e em cada esfera e cada canto da sociedade. Esta subserviência é a verdadeira fonte da humilhação da nação e da anulação das aspirações populares.
Este é um daqueles grandes momentos em que milhões de pessoas começam a deitar fora alguns dos pesos que as mantinham em baixo, recusando a se deixarem esmagar, não só materialmente mas também nos seus estados de espírito, e a reafirmarem a sua dignidade e determinação em construírem o seu próprio futuro. Momentos como estes são cruciais, e qualquer pessoa que subestime a importância deles devido ao facto de não ter havido nenhuma verdadeira revolução, nunca irá fazer uma revolução. Mas também é verdade que já passámos por isto antes e não podemos ignorar as lições muitas vezes pagas com muito sangue. Dado que o povo ainda não fez uma revolução, e a menos que a faça, da maneira mais completa possível, as forças da velha ordem, na Argélia e, sobretudo, as potências imperialistas e o seu sistema, irão vingar-se do povo — como já vimos acontecer demasiadas vezes, incluindo na recente “Primavera Árabe”.
A vitória da Argélia na sua guerra de libertação na década de 1960 anunciava a derrota do antigo sistema colonialista que governou a maior parte de África, do Médio Oriente e do Sudeste Asiático. Os jovens no mundo sombrio e cínico de hoje nunca viram nada como a atmosfera efervescente e esperançosa do país nos seus primeiros anos de existência. Nesses tempos, o país acolheu os combatentes pela libertação e os revolucionários de todo o mundo, incluindo da Europa e dos EUA.
Contudo, essa luta não foi liderada por uma abordagem científica que pudesse revolucionar o país a todos os níveis, desde a sua economia (um sistema baseado na exploração e movido pelas necessidades do sistema imperialista global) a todas as relações sociais de dominação e às maneiras de pensar que lhe dão origem e as reforçam. Em vez de seguir a via socialista de base que a China estava a seguir nesses dias sob a liderança revolucionária de Mao Tsétung, construindo uma economia que pudesse permitir a independência e tornar possível mudar toda a sociedade e apoiar a revolução mundial, a liderança da Argélia tentou chegar ao “melhor acordo” possível para o país dentro do quadro global existente dos estados-nação, manobrando entre os imperialistas, incluindo a então União Soviética imperialista, bem como a França e os EUA. Os EUA têm tido uma crescente influência no país, sobretudo nos últimos anos. O “sucesso” temporário de a Argélia se ter virado para as exportações de petróleo e gás como motor da sua economia permitiu ao governo de Bouteflika comprar tempo e apoio, mas isso só tornou o país ainda mais dependente do capital e dos mercados imperialistas. A juventude de hoje, que constitui a maioria da população, não só enfrenta dificuldades, como não tem perspetivas de um verdadeiro futuro.
As ruas da Argélia permaneceram essencialmente silenciosas durante duas décadas, desde a guerra civil dos anos 1990 entre o exército e os fundamentalistas islâmicos, em que ambos os lados massacraram inúmeros civis e aterrorizaram os intelectuais. Após ter anulado umas eleições que os islamitas ganharam, o exército acabou por colocar Bouteflika no poder. Os observadores dizem que o país se manteve essencialmente de lado durante a “Primavera Árabe” de 2011 devido ao medo de repetição desse período. Hoje, grande parte dos argelinos sente que o seu renascimento apenas deu o primeiro passo. Muitos têm a esperança de que uma assembleia constituinte e novas eleições possam colocar o país num novo rumo. Mas, na vizinha Tunísia, após o derrube em 2011 do odiado regime de Ben Ali, dominado pela França, um prolongado regatear entre as velhas forças do regime e os seus antigos e novos rivais ajudou a sufocar gradualmente o espírito revolucionário. Quanto ao exército, os seus líderes fazem parte da burguesia dependente do pós-independência, não menos do que os familiares e os parceiros — e os rivais — de Bouteflika nas empresas privadas.
Veja-se o caso do Egito. Aí, depois do derrube em 2011 do ditador apoiado pelos EUA, Mubarak, as pessoas pensaram que o exército poderia desempenhar algum tipo de papel positivo. “O povo e o exército são os dedos de uma mão”, gritaram, agindo com base em esperanças em vez de evidências. O movimento dos jovens pensou que poderia “usar” o exército para expulsar um governo islamita pós-Mubarak. Acabou sob o governo de um general cujo regime combina a subserviência aos EUA e a Israel (e ao aliado destes, a Arábia Saudita fundamentalista) com formas religiosas e outras formas retrógradas para impor a noite escura que hoje cobre o Egito.
A França já atirou uma marca ao exigir uma continuidade política na Argélia — o que significa a continuação da dominação imperialista — e os EUA e outras potências, que cada vez mais se disputam uns contra os outros no Norte de África, não vão querer deixar que seja o povo argelino a decidir. Na Argélia, como em todo o lado, o exército e todo o aparelho de estado terão de ser enfrentados e, por fim, derrubados numa revolução guiada pelo objetivo de longo prazo de acabar com o sistema imperialista global e todas as formas de exploração e opressão.