Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 23 de Maio de 2005, aworldtowinns.co.uk

Repressão violenta aumenta na Índia

O governo indiano atacou violentamente mais uma reunião política em Nova Deli.

A polícia atacou com lathis (bastões) uma manifestação contra a globalização em Deli a 10 de Maio. Cerca de 15 mil pessoas vindas de 15 estados e dos “mais remotos cantos da Índia”, diz um comunicado à imprensa do Fórum de Resistência Popular de Toda a Índia (AIPRF). “Activistas indígenas (adivasis), mulheres trabalhadoras rurais, camponeses, trabalhadores agrícolas sem-terra, operários industriais, estudantes e dalits” (os chamados “intocáveis”) tinham-se juntado para “uma reunião contra a globalização e o fascismo hindu”, para exigir que a Índia saia da Organização Mundial do Comércio, que a Lei indiana de Prevenção do Terrorismo (formalmente revogada mas ainda aplicada) seja completamente rasgada e para exigir castigo para os responsáveis pelo massacre de muçulmanos no Guzerate em 2002. Tinham autorização para a reunião e pretendiam marchar até ao gabinete do presidente indiano para lhe entregar uma carta. A polícia anunciou que estavam todos presos e encerrou os portões dos terrenos de Ramlila, ordenando que permanecessem aí dentro, dado que não havia espaço para eles nas instalações da polícia. Então, centenas de polícias irromperam violentamente pela única entrada aberta, usando canhões de água e armas de gás lacrimogéneo, bem como bastões, e transportando armas de fogo pesado. Mais de cem pessoas ficaram feridas. A polícia empurrou toda a gente para a estação de comboios de Deli/Nova Deli, a um quilómetro de distância. Houve famílias que foram violentamente separadas e algumas crianças não conseguiram voltar a estar com os seus pais senão depois de dois dias de esforços da parte de voluntários e de habitantes da vizinhança. Cerca de 40 manifestantes e líderes foram detidos e assim permaneceram até à noite seguinte.

Ainda antes deste evento, o AIPRF tinha apelado a uma “semana de acção” de 15 a 21 de Maio junto das embaixadas e dos consulados indianos, para protestar contra o que chamou de “repressão fascista por toda a ‘maior democracia do mundo’”. Houve acções junto à embaixada indiana em Roma e ao consulado de Milão, a 20 de Maio, e junto ao Alto Comissariado indiano em Londres, a 21 de Maio.

O apelo do AIPRF dizia que o governo com um ano de vida da Aliança Progressista Unida, dirigido por Manmohan Singh, e o Partido do Congresso “estão a recorrer à repressão fascista contra os movimentos populares enquanto declaram retoricamente que são um governo com uma ‘face humana’ e que, em contraste com o anterior governo NDA liderado pelo BJP [partido fundamentalista hindu], consideram o movimento maoista como uma questão ‘socioeconómica’ e o diálogo com os naxalitas [assim chamados devido à famosa revolta camponesa dirigida pelos maoistas em Naxalbari em 1967]. Porém, não só não houve nenhuma mudança na política do anterior governo NDA, como houve uma intensificação dos esforços para eliminar fisicamente a verdadeira oposição ao governo pró-imperialista e reaccionário das oligarquias dominantes, a qual vem dos movimentos revolucionários e democráticos das massas do país.”

Em particular, o AIPRF salienta uma “importante alteração de política” em resultado da reunião governamental de 15 de Abril que declarou o movimento maoista como a maior ameaça à segurança do país, destinando “enormes quantias financeiras, mais batalhões das forças paramilitares e armas mais sofisticadas para ‘conter’ os naxalitas (maoistas)... Pela primeira vez na história do exército indiano, foi preparado um documento oficial para definir uma política de contra-insurreição.”

O apelo foca em particular o Andhra Pradesh, um dos estados indianos onde a luta armada tem decorrido sob a direcção do Partido Comunista da Índia (Maoista). Vários revolucionários e os seus apoiantes entre as massas populares têm sido mortos em falsas “mortes em confronto”, em que a polícia assassina pessoas que capturou e depois alega que morreram em confrontos armados. Mais de 70 activistas foram mortos nos três primeiros meses deste ano.

“Num horrendo incidente, no distrito de Nizamabad”, continuava o apelo, “a polícia com a ajuda de um renegado envenenou 10 maoistas, entre os quais o secretário distrital, e cortou brutalmente os seus membros, depois de os ter torturado e antes de os atingir à queima-roupa. O Governo do Congresso descreveu este linchamento de maoistas como um mero acto de policiamento geral, ao mesmo tempo que reiterava a sua proposta de conversações, mesmo depois dos fortes protestos contra mais este desumano incidente da parte dos democratas e das massas de todo o estado. Antes disso, Laxmi, um membro do Comité Executivo da Mahila Samakhya do Andhra Pradesh, uma organização de mulheres desse estado, fora retirada de uma casa e morta supostamente num confronto no distrito de Prakasham, depois de ter sido torturada do modo mais cruel.”

O apelo também chama a atenção para as condenações à morte por enforcamento emitidas pelos tribunais contra dalits acusados da morte de proprietários pertencentes à casta superior, embora essas condenações ainda não tenham sido executadas. Milhares de pessoas foram acusadas ao abrigo da Lei de Prevenção do Terrorismo e muitas continuam acusadas ou mesmo detidas, apesar da revogação dessa lei. Isto inclui milhares de pessoas no estado de Jharkhand, diz o apelo.

Em estreita coordenação com o governo central, continua, as reuniões de massas para celebrar a formação do PCI(M) foram “proibidas, perturbadas e hostilizadas” nas cidades de Deli, Calcutá, Patna e Hiderabad. Uma repressão semelhante está a ocorrer no Bihar rural, Maharastra, Chhatisgarh, Orissa e Karnataka, onde o secretário estadual do PCI(M) foi morto num “confronto”.

A 27 de Abril, o governo dos EUA colocou o PCI(M) numa das suas listas de “terroristas”. Como dizia um comunicado desse partido, tudo isto mostra o grau em que o governo indiano, apesar da sua retórica em contrário, está a actuar em conjugação com e sob a direcção dos EUA.

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