Três artigos da ediçao online n.º 504, datada de 14 de agosto de 2017, do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (revcom.us/quick/504en.php#a3 em inglês ou revcom.us/quick/504es.php#a9 em castelhano).
Protestos explodem após a manifestação supremacista branca e o assassinato de Heather Heyer em Charlottesville, EUA
Imediatamente depois de terem surgido notícias de que Heather Heyer tinha sido assassinada no sábado, 12 de agosto, por um supremacista branco quando participava nos contraprotestos contra os supremacistas brancos em Charlottesville (Estado da Virgínia, EUA), havia pessoas indignadas a sair às ruas em todo o país. No dia seguinte, domingo, explodiram protestos ainda maiores.
Milhares de pessoas nas ruas das grandes cidades...
Zona da Baía de São Francisco
Cerca de 800 pessoas reuniram-se para uma manifestação no sábado à noite em Oakland, com palavras de ordem como “Charlottesville, nós apoiamos-vos, a Zona da Baía está unida contra o suprematismo branco”. Os manifestantes levavam cartazes que diziam: “Silêncio branco é igual a violência” e “Esta merda não é aceitável”. Os manifestantes escalaram a autoestrada 580 e bloquearam-na durante 15 minutos. Uma mulher disse aos serviços noticiosos: “Temos de chamar a atenção para o que está a acontecer em Charlottesville e mostrar que vamos resistir a Trump e a este regime fascista. (...) Não vamos tolerar a supremacia branca. Por isso, temos de entrar pelos dias normais das pessoas, temos de causar alguma perturbação... uma perturbação pacífica.” Um outro manifestante levava um cartaz “América primeiro = Fascismo”. Antes disso, centenas de pessoas tinham participado numa vigília silenciosa convocada pela organização Indivisible no centro da cidade de São Francisco.
No domingo, 300 pessoas reuniram-se em São Francisco para uma manifestação convocada pela Recusar o Fascismo, caminhando 8 a 10 km pelo Bairro Mission, passando pela Rua do Mercado e indo até ao Centro Cívico, com die-ins [protestos deitados] a bloquear cruzamentos ao longo do caminho. Houve dois outros protestos em East Bay, uma ação contra o terror policial e uma manifestação do grupo Hip Hop Pela Mudança. Foram convocadas vigílias em homenagem a Heather Heyer para o Centro Cívico de São Francisco e para o centro da cidade de Oakland.
Seattle
No domingo à noite, mais de 1000 pessoas saíram às ruas em resposta ao que aconteceu em Charlottesville e tentaram boicotar uma reunião supremacista branca que estava a ser protegida por polícias militarizados.
Los Angeles
Mil pessoas saíram às ruas no domingo no centro da cidade de LA em resposta ao que tinha acontecido em Charlottesville no sábado. O evento não previamente previsto foi convocado pela RefuseFascism.org.
O estado de espírito da multidão era de desafio e indignação com o que tinha acontecido em Charlottesville no sábado, em particular com o assassinato de Heather Heyer por um supremacista branco fascista.
A multidão era constituída por pessoas muito diversificadas – negros, brancos, latino-americanos, asiáticos, pessoas LGBTQ e outras. Havia jovens, velhos, famílias com crianças, pessoas que empurravam carrinhos de bebé. Muitas pessoas levavam cartazes feitos à mão.
A reunião começou na Câmara Municipal [City Hall, Prefeitura]. Entre os oradores estiveram o Reverendo Frank Alton (pastor da Igreja Episcopal de S. Atanásio em Echo Park), Lindsey Horvath (membro da assembleia municipal de West Hollywood) e Keith James e Michelle da Recusar o Fascismo. Foi lida a Convocatória do 4 de Novembro e houve uma grande resposta aos cartazes Pesadelos, em particular àquele sobre as mulheres. A Convocatória diz que o 4 de Novembro irá ser um início, mas Keith James referiu que esse início pode ter começado hoje.
A manifestação foi até ao La Plaza, na Olivera Street; depois, foi até ao Centro de Detenção dos ICE [Serviços de Imigração], onde os manifestantes gritaram às pessoas que estavam lá detidas: “Nós ouvimos-vos”. Continuou até ao Museu Nipo-Americano onde houve pessoas a falar sobre a ameaça de guerra nuclear do regime de Trump e Pence e do aniversário do bombardeamento norte-americano de Nagasáqui. Várias mulheres da comunidade nipo-americana falaram sobre a oposição aos fascistas na Casa Branca e disseram que estavam a apoiar os muçulmanos, os negros e os imigrantes, e que iriam lutar para impedir que o que aconteceu aos nipo-americanos que foram internados [nos EUA em campos de concentração] durante a II Guerra Mundial voltasse a acontecer àqueles que hoje estão a ser ameaçados do mesmo.
De seguida, a manifestação regressou à Câmara Municipal para uma concentração final.
Chicago
A Recusar o Fascismo emitiu um apelo a que as pessoas saíssem às ruas para condenarem os rufiões fascistas, racistas e assassinos de Charlottesville. Mais de 500 pessoas concentraram-se no domingo. A manifestação aumentou até cerca de 1000 pessoas à medida que atravessava o coração da zona turística do centro da cidade. Quando se aproximou da Torre Trump, os manifestantes ocuparam a rua ao longo de vários quarteirões.
Os manifestantes eram de todas as idades e nacionalidades. O estado de espírito deles foi capturado por uma mulher que disse aos canais noticiosos televisivos locais que tinha lido sobre coisas como estas em livros, que elas estavam a acontecer aqui e que teve de tomar posição. Uma outra mulher disse que sentia a água a subir à nossa volta. A horrenda concentração fascista e o assassinato em Charlottesville tinham realmente tocado fundo e galvanizado as pessoas para saírem às ruas. Elas vinham da Indivisible, da Marcha das Mulheres, da comunidade LGBTQ, com t-shirts “As Vidas dos Negros São Importantes”, com bebés em carrinhos de bebé, com t-shirts antirracistas e com crianças com os seus próprios cartazes contra o ódio feitos à mão. As buzinas dos carros vociferaram em apoio. As pessoas mostravam seriedade e determinação. Uma pessoa tinha vindo sozinha de carro desde o Iowa para lá estar. Vieram pessoas de comboio dos subúrbios, trazendo os seus próprios cartazes. Havia estudantes do ensino secundário que a última vez que tinham protestado tinha sido durante a tomada de posse de Trump, uma delas com um jérsei Kaepernick. Veteranos de todo o país vieram até à Torre Trump depois da sua própria manifestação. Havia um verdadeiro sentimento de que somos nós que temos de fazer isto, de que não podemos ficar de lado a ver – e um profundo desejo de que este pesadelo acabe e a realidade de que Trump e Pence têm de se ir embora era palpável e sincera.
Na concentração de abertura, falou o Congressista Jan Schakowsky. Oradores da Recusar o Fascismo condenaram os fascistas em Charlottesville que têm sido citados e apoiados pelo regime de Trump e todos os outros horrores que isto significa para o mundo. Houve pessoas entre a multidão que avançaram para falar, algumas dizendo que o estavam a fazer pela primeira vez. O testemunho delas foi comovente: uma filha de imigrantes falou sobre o medo de que os pais indocumentados pudessem vir a ser deportados. Um trans falou sobre as pessoas que tinham cometido suicídio no dia em que Trump foi eleito e na determinação dele em não ser empurrado de volta ao armário. Uma mulher branca disse que não podia aceitar a supremacia branca e afirmou repetidamente que As Vidas dos Negros São Importantes, um grito repetido pela multidão. Um advogado disse que as pessoas têm de sair à rua se quisermos acabar com isto. Um membro da comunidade de deficientes disse que a própria existência deles e da humanidade estava em perigo. Noche Diaz falou do Clube Revolução e apelou vigorosamente a que toda a gente fosse às conferências regionais da Recusar o Fascismo a 19 de agosto para prepararem o 4 de Novembro, o início de protestos dia após dia e noite após noite para exigir que o regime de Trump e Pence se vá embora. De seguida, sob muitos aplausos, disse que o Clube Revolução, enquanto seguidores de Bob Avakian, estava a lutar, não para voltar ao tempo antes de Trump, mas por uma revolução e por uma verdadeira emancipação das pessoas, e apelou às pessoas a se envolverem nisto.
Fotos enormes de Heather Heyer com a palavra “HEROÍNA” foram levadas para a concentração e fotografadas dezenas de vezes. Muitas pessoas receberam o apelo da Recusar o Fascismo para o 4 de Novembro e para as conferências de 19 de agosto, um convite para ouvirem Carl Dix falar a 20 de agosto (de regresso de Charlottesville) e os distribuidores do jornal Revolution/Revolución suscitaram muito interesse.
Cidade de Nova Iorque
No domingo, centenas de pessoas manifestaram-se da Union Square à Colombo Square e depois até à Torre Trump, recolhendo mais pessoas pelo caminho e fechando a 6ª Avenida. Gritos de “Não a Trump, Não ao KKK, Não a uns EUA fascistas” soaram à medida que os manifestantes se aproximavam da Torre Trump. A polícia bloqueou os manifestantes quando eles se aproximaram da Torre, e há relatos de prisões e de todos os estabelecimentos comerciais na Torre Trump serem fechados.
Noutros lugares por todo o país...
Houston: Uma dúzia de pessoas juntou-se à Recusar o Fascismo para desafiarem as pessoas numa esquina apinhada de gente.
Filadélfia: No sábado, manifestantes bloquearam a autoestrada Vine depois de terem feito uma vigília de solidariedade com Charlottesville na Câmara Municipal (Prefeitura).
Syracuse: Cerca de mil pessoas concentraram-se em Syracuse no domingo.
Plymouth, Massachusetts: No domingo, cerca de 100 pessoas participaram na concentração que teve lugar na rua principal do centro de Plymouth. Um apoiante da Recusar o Fascismo esteve presente nesta ação e os cartazes da Recusar o Fascismo, o pano e a Convocatória para o 4 de Novembro foram bem recebidos.
Heather Heyer: Uma heroína num momento em que a humanidade precisa de heróis
“Quero que a morte dela seja um grito de luta pela justiça.”
– Susan Bro (mãe de Heather Heyer, assassinada por um supremacista branco em Charlottesville a 12 de agosto)
Heather Heyer era uma assistente legal de 32 anos em Charlottesville, Virgínia. Quando os nazis, os apoiantes do Ku Klux Klan e outros supremacistas brancos armados e violentos se mobilizaram no sábado em Charlottesville para protestarem contra a planeada remoção de uma estátua de homenagem a Robert E. Lee, ela saiu à rua juntamente com centenas de outros contramanifestantes para os confrontar e se opor a eles. Um covarde supremacista branco investiu com um carro contra uma multidão de contramanifestantes num cruzamento, matando Heather e ferindo 19 pessoas.
A mãe de Heather, Susan Bro, disse ao Huffington Post que nunca haveria dúvida que Heather iria protestar contra os neonazis e os outros fascistas: “Ela sempre teve um sentimento muito forte do correto e do errado; mesmo quando era criança, ela sempre foi muito apegada àquilo que acreditava ser justo. De alguma maneira, quase sinto que foi para isto que ela nasceu, isto é um foco para a mudança. Estou orgulhosa por o que ela estava a fazer ser pacífico, ela não estava lá em batalha com as pessoas.”
Um vizinho em Charlottesville disse ao HuffPost: “Ela viveu a vida dela como o caminho dela – e este era pela justiça.”
A última publicação no Facebook de Heather Heyer antes de se juntar aos contraprotestos foi: “Se não estás indignado, não estás a prestar atenção.” Os supremacistas brancos que se manifestaram em Charlottesville declararam, tal como as turbas de linchamento de não há muito tempo, que iam levar armas e ameaçaram usá-las. Heather Heyer, e centenas de outras pessoas, desafiaram as ameaças e os perigos, e Heather deu heroicamente a vida dela fazendo isso.
Bob Avakian escreveu:
Há um ponto em que a epistemologia e a moralidade se encontram. Há um ponto em que tens de tomar posição e dizer: não é aceitável recusares-te a olhar para uma coisa – ou recusares-te a acreditar numa coisa – porque ela te deixa incomodado. E: não é aceitável acreditar numa coisa só porque ela te faz sentir confortável. (O BÁsico 5:11)
Isto é um princípio crítico em qualquer circunstância, mas assume uma extrema urgência neste momento. O fascismo tem uma direção e um impulso. O momento de o parar é agora. E isso requer coragem física e intelectual.
Notícias de Charlottesville:
Entrevistas ao Clube Revolução
Após os confrontos em Charlottesville, Virgínia, durante o fim de semana, o revcom.us entrevistou dois membros do Clube Revolução, um de Nova Iorque, outro de Chicago. Através destas entrevistas, os nossos leitores podem conhecer mais sobre a evolução dos acontecimentos em Charlottesville, sobre como as diferentes correntes e tendências responderam aos supremacistas brancos assassinos e o que, no meio deste confronto, o Clube Revolução fez para liderar as pessoas na luta, para as ganhar para se envolverem na revolução e para as ligar à liderança desta revolução, Bob Avakian [BA] e o Partido que ele lidera.
O seguinte texto são comentários editados de membros do Clube Revolução. (As perguntas não estão incluídas.)
12 de agosto de 2017
UM MEMBRO DO CLUBE REVOLUÇÃO, NOVA IORQUE:
Os fascistas estavam preparados para a guerra. Eles vinham com proteções, em formação, marchando. No início do sábado, estávamos a tentar reunir pessoas para irmos ao local do monumento ao Robert E Lee, agora chamado Parque da Emancipação, para confrontarmos os fascistas que iam lá estar ao meio-dia.
Enquanto isto estava a acontecer, um grupo de fascistas militantes – eles estavam a gritar cânticos de “sangue e terra” – marcharam perto de nós. O Clube gritou-lhes: “Não a Trump, Não ao KKK, Não a uns EUA fascistas.” Os fascistas começaram a avançar para nós, pelo que o Clube organizou a sua linha de defesa – e os fascistas investiram com as proteções deles. Atingiram dois membros do Clube Revolução que estavam a tentar proteger os outros. E houve uma outra mulher que avançou e foi esmurrada na cara. Os fascistas continuaram a avançar. Uma mulher do Clube Revolução estava a sangrar muito e apareceram os médicos de rua, e aquela outra mulher também estava a sangrar muito do olho. Eu fui até ao hospital com elas.
Os porcos policiais apareceram equipados DEPOIS de isto ter acontecido. À medida que as horas passavam, as pessoas iam falando sobre o facto de a polícia não estar a fazer nada. As pessoas estavam chocadas por a polícia não as estar a proteger contra o KKK e por a polícia quase ter criado um anel para deixar que isto acontecesse. Quando os polícias avançaram para “proteger”, eles apontaram um tanque às pessoas. Isso chocou muitas pessoas.
Fomos levados para as Urgências por ativistas locais da organização As Vidas dos Negros São Importantes. Isto foi muito importante, e enquanto lá estivemos, alguns membros do clero de outras partes da Virgínia vieram mostrar solidariedade e ajudar a cuidar das pessoas.
Quando regressámos às ruas falámos com alguns jovens negros sobre a revolução. Eles começaram a dizer “Lá estaremos”. De seguida, eles de facto avançaram até à linha dos porcos policiais e começaram a dizer “disparem sobre mim” – eles estavam muito desafiadores – mas sabiam que toda a gente na multidão os estava a apoiar. O Clube fez agitação em torno deste papel da polícia e sobre mais coisas, falando de BA. Esta agitação realmente clarificou as coisas para as pessoas – mas isto requer muito mais. Isto é uma coisa séria.
Uma mulher queer de França ficou muito contente por saber que havia uma organização e que tínhamos uma Constituição Para a Nova República Socialista na América do Norte (disponível em inglês e em castelhano). Disse: “Conheço tantas pessoas que iriam gostar e que precisariam de ouvir isto.”
Havia outros jovens por perto e falámos com eles sobre o que estava a acontecer em Chicago – não podemos fazê-la agora [a revolução], precisamos de ser sérios e organizados. Isto fez as pessoas pensar e todo o evento fê-las levar isto ainda mais a sério.
Muitas pessoas estavam indignadas e a perguntar: onde vamos a seguir para confrontar os fascistas? A mulher do Clube Revolução que tinha sido atacada disse às pessoas o que tinha acontecido no confronto com os fascistas. Ela disse que os fascistas não se iam embora e pediu às pessoas para irem até um parque para conhecerem o documento Como Podemos Vencer – Como Podemos Realmente Fazer a Revolução (disponível em inglês e em castelhano). Uma meia dúzia de jovens negros foi até lá – levámos-lhes o jornal Revolution/Revolución e lemos todo o “Como Podemos Vencer” e discutimo-lo em relação ao que estava a acontecer à nossa volta, especialmente as partes sobre o que podemos fazer agora e como os podemos derrotar. Tínhamos um pano de Chicago – isto foi muito poderoso, e o facto de o verem, e de tantas pessoas terem escrito nele frases para serem entregues às pessoas em Charlottesville.
Uma coisa que deve ser sublinhada é que muita da agitação do Clube foi realmente clarificadora e poderosa e muitas pessoas ficaram emocionadas com isso. Estivemos a distribuir o jornal enquanto a agitação estava a decorrer. Estávamos a ver as pessoas encorajadas e animadas (depois de o carro ter atropelado as pessoas e de as pessoas terem ficado em choque) – a agitação teve um verdadeiro impacto nas pessoas.
UM MEMBRO DO CLUBE REVOLUÇÃO, CHICAGO – RECÉM-SAÍDO DO HOSPITAL DEPOIS DO ATAQUE DOS SUPREMACISTAS BRANCOS:
Sábado. Eu estive afastado dos acontecimentos desde muito cedo até a grande confusão ter acabado. Quando regressei, havia confrontos entre a polícia e as pessoas dos bairros, massas e jovens negros e algumas outras pessoas de um bairro vizinho – os desafiadores – e havia umas duas dezenas de pessoas que enfrentavam, ridicularizavam e gritavam aos porcos policias, e que não recuavam. Fizemos agitação e estivemos a apoiar as pessoas. A certa altura, os porcos policiais retiraram-se.
Nesta mistura, nós estávamos a fazer agitação sobre como agora era o momento para nos organizarmos para a revolução, apelando às pessoas a conhecerem BA e o plano para vencer, urgindo às pessoas que viessem falar à noite e algumas delas fizeram isso, mas isso não foi suficientemente longe.
Mas hoje – domingo – isso mudou. Estivemos nos bairros sociais durante alguns minutos – as pessoas estavam realmente motivadas com o que estava a acontecer e ouvimos dizer: “Os supremacistas brancos vão fazer uma conferência de imprensa daqui a cinco minutos”. Por isso, fomos até ao município, que é próximo do local onde o carro embateu e matou Heather Heyer. Chegámos à conferência de imprensa e os porcos policiais tinham as ruas bloqueadas porque os nazis estavam lá e as massas queriam avançar sobre eles.
As pessoas estavam muito enfurecidas com os porcos policiais: havia alguns jovens da cidade e pessoas de Charlottesville, brancos e negros, de diferentes estratos, mas nesta mistura também havia pessoas que tinham vindo de outras cidades – cidades vizinhas. As pessoas estavam realmente indignadas, e havia uma mistura de pessoas de diferentes estratos gritando a sua indignação aos porcos policiais porque as pessoas sentiam que os porcos policiais não tinham parado os nazis, antes os tinham protegido e estavam mais alinhados contra as pessoas.
Na conferência de imprensa, começámos a fazer alguma agitação que de facto foi muito apreciada.
Estávamos a fazer a ligação entre Trump e tudo isto que estava a acontecer em Charlottesville. As massas em geral e os jovens veem uma ligação, mas não estou certo de quão profunda é essa compreensão. Mas as pessoas, incluindo os jovens negros, estão a ver a ligação entre os fascistas e Trump e há uma reação visceral a estes nazis. E isto está misturado, mais entre os jovens de base, com o facto de esta ser a cidade deles, não queremos isto aqui – por isso, isto fica algo estreito: isto está a acontecer-nos e queremos que isto acabe.
Mas as pessoas, incluindo todas estas pessoas dos bairros, estão realmente indignadas e abaladas com o facto de aquela mulher ter sido morta – do tipo, ela era uma de nós que nos foi roubada. As pessoas estavam abaladas, indignadas e furiosas.
Acabámos por fazer uma sessão de denúncia [speak-out] durante 90 minutos, uma multidão variável em que estiveram presentes centenas de pessoas em diferentes momentos. Houve dezenas de pessoas que falaram – algumas várias vezes – muitos tipos diferentes de pessoas: algumas pessoas da classe média branca e pessoas negras falaram, mas foram principalmente as pessoas comuns dos bairros. Uma coisa que se salientou para mim foi que houve uma coisa muito dinâmica que aconteceu durante o speak-out: um processo de luta e debate que estava a ser trabalhado, interrompido aqui e ali quando algum supremacista branco aparecia e começava a gritar ou algo parecido e as pessoas os confrontavam. A certa altura, os porcos policiais alinharam-se mas depois retiraram-se. Um supremacista branco afastou-se para se colocar à frente da esquadra da polícia – como se fosse o lugar seguro dele.
Havia muita amargura a ser expressa, incluindo por parte de pessoas brancas. Muitas pessoas falaram sobre todos os protestos que tinham começado com a morte de Trayvon Martin e vejam onde estamos hoje.
Uma coisa importante: no speak-out, fizemos muito trabalho, agitação, liderar as pessoas – salientámos que isto era o esboço de uma guerra civil e que as pessoas precisavam de se organizar para a revolução e que havia uma liderança, uma estratégia e um plano – e as pessoas estavam a ouvir isto. Todo este sistema deu origem [a estes horrores] e este sistema tem de ser derrubado. E também falámos sobre a necessidade de expulsar este regime que está a incentivar todos estes nazis. Fizemos uma ronda de agitação sobre como podemos vencer e dissemos às pessoas que elas precisavam de obter os jornais Revolution/Revolución e todas estas pessoas foram buscar os jornais. E assim houve diferentes linhas e ideologias em luta e debate no speak-out.