Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 17 de novembro de 2018, aworldtowinns.co.uk
Protestos em Paris confrontam Trump e os promotores da guerra imperialista na “festa da paz” da I Guerra Mundial
O 11 de novembro marcou a comemoração do 100º aniversário do fim da I Guerra Mundial. Em Paris, mais de 70 chefes de estado e de governo convidados pelo presidente francês Emmanuel Macron celebraram um dos piores crimes da história contra a humanidade — uma guerra entre imperialistas cujo objetivo foi resolver pela força as rivalidades entre as grandes potências sobre zonas de influência e colónias. O hipócrita plano de Macron de revestir o fim de semana de conversas sobre a paz, ao mesmo tempo que homenageava a máquina da guerra imperialista que culminou no massacre de dez milhões de soldados, com Donald Trump como convidado de honra, desencadeou apelos a protestos.
Juntando-se sob o slogan geral “Trump significa guerra”, uma coligação iniciada por norte-americanos anti-Trump a viver em Paris, por várias redes de mulheres e vários coletivos contra a guerra, agregaram ativistas palestinos, uma companhia local de teatro, “antifas”, antirracistas, associações pró-imigrantes, ativistas da SIDA e do clima, feministas brasileiras, curdos, ativistas locais pelos sem-papéis e associações de migrantes, bem como apoiantes na Europa da organização norte-americana Recusar o Fascismo. No dia 11, 2500 pessoas saíram à chuva para protestar não apenas contra Trump, mas também contra Macron, o israelita Netanyahu, Putin, o turco Erdogan, a República Islâmica do Irão e outros. Um alvo específico foram as monstruosas guerras regionais fomentadas por esses estados que estão agora a matar milhões de pessoas na Síria, no Iémen, na Palestina, na Líbia e noutros lugares. Muitos manifestantes veem estas guerras como parte de uma guerra contra diferentes setores da humanidade e que a ascensão do fascismo em diferentes partes do mundo é uma ameaça de coisas muito piores. Como diziam os apoiantes da Recusar o Fascismo na Europa: “Trump é um perigo para a humanidade! A ascensão de Trump e do fascista cristão Pence não é apenas um dilema norte-americano no momento em que as eleições e a paciência se estão a esgotar ou a inverter. Trump não é apenas um Hitler norte-americano do século XXI, ele tem armas nucleares — imaginem as repercussões disto para o resto do mundo!”
Um grupo multinacional de apoiantes do novo comunismo de Bob Avakian vindos de toda a Europa distribuiu milhares de folhetos, divulgando a necessidade de expulsar o regime fascista de Trump e Pence nos EUA e de combater a ascensão das forças fascistas em toda a Europa, e ao mesmo tempo destruindo o sistema capitalista-imperialista na sua totalidade através da revolução. A eles juntaram-se apoiantes do Partido Comunista do Irão (MLM). Foi divulgada uma convocatória para as pessoas estarem presentes numa exibição da nova apresentação em vídeo de Avakian sobre Porque precisamos de uma revolução real e como de facto podemos fazer a revolução (ligação em inglês).
Um outro grupo de manifestantes tinha como alvo os “ditadores” neocoloniais africanos que operam dentro da ainda poderosa zona de influência de França em África, “ditadores” esses que também participaram na “festa da paz” imperialista, enquanto milhares de pessoas nos países deles são apanhadas no fogo cruzado dos conflitos locais e regionais e milhões de outras são deslocadas.
Antes, três mulheres do grupo radical Femen tinham irrompido através das linhas de segurança para confrontarem os chefes de estado, e notavelmente o carro blindado de Trump a caminho para uma cerimónia militar no Arco do Triunfo. As mulheres tinham as palavras “Falsos pacifistas, verdadeiros ditadores”, “Desfile de hipocrisia” e “Festa de gângsteres” inscritas nos torsos nus delas e ergueram cartazes que diziam “Bem-vindos, criminosos de guerra”.
Apesar das frequentes e fortes críticas e mesmo do escárnio a Trump, os meios de comunicação franceses foram particularmente cúmplices com o estado e a sua polícia, que no último momento cancelaram o direito da manifestação a protestar, emitindo repetidos avisos de que seriam mobilizadas 10 mil forças de segurança e evocando horrendas historias de potencial violência por parte dos manifestantes antifascistas do black bloc, com o objetivo de desencorajarem uma participação mais vasta.
Muitas das pessoas que em França estão à espera que os partidos parlamentares de esquerda venham a parar a atmosfera cada vez mais reacionária no país e a ascensão da Frente Nacional fascista, dirigida por Marine Le Pen, ficaram amargamente dececionadas por essas forças terem essencialmente boicotado o protesto. Tal como os socialistas reformistas que durante a I Guerra Mundial convocaram as massas dos respetivos países para irem para as trincheiras para abaterem os oprimidos de outras nações, os líderes deles também mostraram a sua lealdade para com a pátria — afinal, como poderiam eles protestar contra a comemoração quando “a sua nação”, a sua França, a França, esteve do lado vencedor da guerra! Esta vergonhosa posição não deve ser esquecida.
A comemoração foi marcada pelas disputas cada vez mais agudas entre os dirigentes mundiais. A agitada relação entre Macron e Trump durante o fim de semana tem de ser entendida pelo que ela realmente é: a crescente fricção entre os ladrões e assassinos imperialistas. Aquilo que Macron elogia como “multilateralismo”, em contraste com aquilo a que ele chamou de “nacionalismo” de Trump, é a continuação da aliança entre as grandes potências ocidentais nascida no final da II Guerra Mundial. Isto refere-se ao esforço conjunto das potências imperialistas ocidentais para dominarem o mundo, em que os EUA operaram em parceria com outros países, os quais, por sua vez, reconheceram a hegemonia dos EUA, ainda que, ao mesmo tempo, cada um deles manobrasse dentro dessa parceria para assegurarem os seus próprios interesses imperiais. Trump é simultaneamente um sintoma e uma grande causa da crescente agitação entre os aliados estabelecidos, com palavras e ações destinadas a reconfigurar e/ou derrubar a ordem prevalecente em favor da sua defesa mais agressiva dos interesses imperialistas dos EUA, mesmo que isso signifique pôr de lado ou antagonizar alguns desses aliados europeus mais próximos. O mesmo funcionamento básico do sistema capitalista-imperialista e da competição entre os estados e os blocos capitalistas pela riqueza produzida pelos povos do mundo continuam a sublinhar os atuais conflitos políticos, militares e comerciais.