Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 27 de março de 2017, aworldtowinns.co.uk

Os EUA e a sua coligação têm levado a cabo ataques de terror no Iraque e na Síria, tendo matado quase 1000 civis desde o início de março, segundo o grupo monitorizador Airwars.org, baseado na Grã-Bretanha.

Embora nem todas estas mortes noticiadas tenham sido verificadas, em muitos casos a organização cruzou depoimentos de testemunhas oculares e criou listas de vítimas por nome e idade. Estas crianças e adultos são pessoas reais cujas vidas foram abreviadas por assassinos que agem com fins políticos – tal como aconteceu com as quatro pessoas mortas no ataque no bairro de Westminster em Londres que as autoridades britânicas estão a usar maliciosamente para justificarem mais terrorismo levado a cabo pela Grã-Bretanha como parte da coligação liderada pelos EUA.

As autoridades norte-americanas justificam estes assassinatos de civis árabes com base nas necessidades da guerra. Mas eles são o resultado direto dos objetivos reacionários da coligação nesta guerra que não é libertar as pessoas mas sim contrariar uma ameaça reacionária à dominação ocidental, incluindo através do castigo e do sacrifício massivos de pessoas.

Significativamente, estes assassinatos em massa também estão a ser documentados por organizações como o Observatório Sírio Para os Direitos Humanos e pelos trabalhadores socorristas dos Capacetes Brancos, cujos anteriores relatórios sobre massacres de civis em ataques aéreos russos e do regime sírio foram usados pelos EUA e por outros governos ocidentais para acusarem esses rivais de crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Porém, até 24 de março, altura em que até mesmo o governo iraquiano dependente dos EUA apelou a uma pausa nestes ataques assassinos com drones e bombardeamentos, Washington negou que esse número massivo de vítimas civis sequer tivesse existido, e continua a recusar-se a mudar as suas táticas.

Esta mais recente vaga de assassinatos em massa veio inicialmente à luz do dia na comunicação social ocidental com um ataque aéreo norte-americano a 16 de março à aldeia de al-Jina, na província ocidental síria de Aleppo. Pelo menos 46 pessoas foram mortas quando ataques aéreos atingiram uma mesquita abarrotada durante as aulas religiosas. Segundo o jornal norte-americano Washington Post, dois drones norte-americanos dispararam seis mísseis Hellfire e depois largaram uma bomba de 226 quilos. Fotografias mostraram fragmentos claramente identificáveis dos mísseis norte-americanos e o edifício destruído. A 22 de março, ataques aéreos atingiram uma padaria e um mercado vizinho em al-Thani, na província de Raqqa, matando dezenas de trabalhadores da padaria e outros civis.

Depois, no que foi descrito como o pior ataque aéreo contra civis desde que os EUA bombardearam o Iraque durante a invasão norte-americana em 2003, aviões da coligação liderada pelos EUA atingiram o bairro de al Jadida em Mossul, onde as forças lideradas pelos EUA tinham expulsado recentemente os fundamentalistas islâmicos do Daesh (ISIL). Uma semana após o ataque de 17 de março, mais de 200 corpos tinham sido retirados de baixo dos escombros, e é expectável que o número de vítimas seja muito mais elevado. Foram encontrados inúmeros corpos numa grande cave onde as pessoas se tinham abrigado dos combates. Pensa-se que muitos outros corpos estejam enterrados debaixo de outros edifícios vizinhos.

A racionalização que não é dita mas que por vezes é explícita para esta perda de vidas a uma escala tão grande é que não é possível derrotar o Daesh sem que isto aconteça. A um nível imediato, este é um argumento doentio cujo pressuposto implícito é que as vidas dos árabes valem menos que os das pessoas parecidas “connosco” – as pessoas dos países ocidentais a quem dizem que têm de apoiar os seus governantes imperialistas que “as mantêm seguras”. O que este argumento também esconde é que as guerras são definidas e levadas a cabo de acordo com os objetivos políticos deles – e as inaceitáveis mortes de civis em massa nesta guerra resultam dos fins reacionários de ambos os lados.

O projeto do Daesh para uma ditadura religiosa ao serviço de velhos e novos exploradores que se sentem ameaçados pelo atual status quo dominado pelo Ocidente requer não só tratar as pessoas nos países ocidentais mas também nos países do Médio Oriente que eles procuram controlar como nada mais que gado para ser sacrificado. O projeto deles vai contra os interesses fundamentais das massas populares e, em última análise, não pode basear-se no apoio consciente e voluntário delas à causa deles. O abate de pessoas que tentam fugir de zonas sob ataque das forças lideradas pelos EUA, bem como o uso de civis como escudos humanos e outras táticas que desprezam as vidas civis, é ditado pelos fins políticos e ideológicos deles.

Isto não é menos verdade em relação à coligação liderada pelos EUA que combate o Daesh. Os EUA buscam, acima de tudo, manter a sua intolerável dominação política e económica da região, a qual em primeiro lugar criou as condições para a ascensão do fundamentalismo islâmico. As vidas das pessoas no Iraque e na Síria nada significam para os EUA porque os objetivos do projeto norte-americano não incluem a segurança destes ou de quaisquer outros povos, já para não falar no bem-estar e na emancipação deles em relação à humilhação nacional e a um atraso imposto.

Isto é verdade não só estrategicamente mas mesmo de maneiras muito específicas e táticas. Os EUA reuniram uma coligação instável cujos membros se estão a disputar entre si e até mesmo com os EUA por um papel maior na dominação dos povos da região, mesmo estando a fazer frequentemente o trabalho sujo dos EUA. Apesar da presença de centenas de milhares de civis em Mossul, por exemplo, nenhum membro dessa coligação concebeu táticas para evitar seriamente a morte de civis, o que supostamente é uma condição prévia dos combates segundo as regras internacionais da guerra. Estas regras são, quando muito, ocasionalmente mencionadas da boca para fora para tentarem distinguir as forças pró-ocidentais em relação ao Daesh. Ao mesmo tempo, uma importante razão para os EUA estarem a incrementar os seus ataques aéreos no Iraque e na Síria tem a ver com os seus objetivos políticos e com as necessidades que disso resultam. Os EUA enfrentam uma paisagem política complexa em que precisam, por exemplo, do apoio tanto da Turquia como dos curdos que são alvo do regime turco, já para não falar de forças que têm como referência a própria República islâmica do Irão que os EUA também consideram ser um obstáculo aos seus interesses, juntamente com alinhamentos desconfortáveis e instáveis com a Rússia e a Turquia. Neste contexto, um maior desencadear do poder aéreo é um meio de afirmar o controlo do campo de batalha por parte dos EUA sem enviar novamente centenas de milhares de tropas norte-americanas, embora o número de tropas esteja a aumentar.

Quaisquer que sejam os resultados militares imediatos alcançados pelos EUA e pelos seus aliados em Mossul e Raqqa, é muito provável que esta situação venha a conduzir a mais e não a menos islamismo jihadista. Afinal de contas, o grupo fundamentalista sunita Daesh emergiu como resultado da agressão norte-americana e de outros crimes no Iraque: o custo humano extremo da guerra Irão-Iraque alimentada pelos EUA, a morte de centenas de milhares de crianças e outras pessoas em resultado das sanções que visavam derrubar o regime de Saddam Hussein e depois a própria invasão norte-americana e a ocupação que se lhe seguiu. Durante a ocupação e desde essa altura, os EUA apoiaram e armaram cinicamente forças xiitas e sunitas para levarem a cabo guerras umas contra as outras, que resultaram agora numa dominação xiita de Bagdad e do governo iraquiano, a qual é apoiada pelos EUA. Além das consequências políticas das ações dos EUA e dos seus aliados no Iraque e na Síria, incluindo o tomar como alvo os oponentes do Ocidente mais laicos, estas atrocidades mais recentes expuseram também a hipocrisia e o verdadeiro conteúdo dos valores ocidentais em nome dos quais foram cometidas. Os islamitas reacionários pegam depois nisto para alegarem falsamente que a ideologia e as metas sociais deles são a única alternativa.

Sob o regime de Obama, os EUA incrementaram os seus crimes de guerra vindos do ar na Líbia, na Somália, na Síria, no Iraque, no Iémen, no Paquistão e no Afeganistão. O que está a acontecer agora, sob Trump, é o que seria de esperar de um homem cujas promessas de campanha incluíram acabar com todas as restrições aos ataques aéreos e “matar as famílias deles” [os “terroristas”]. Contudo, algumas pessoas entre os imperialistas e os conselheiros deles estão conscientes de que estes ataques contra civis irão fortalecer a atração pelos islamitas e podem produzir resultados contrários aos interesses norte-americanos e ocidentais, tal como se pode ver num recente relatório do Grupo Internacional de Crise (www.crisisgroup.org). Ainda assim, eles não têm mais nenhuma cartada efetiva para jogar a não ser usando o seu poderio militar para infligirem um terror em massa para demonstrarem a capacidade deles de impor uma punição coletiva a populações inteiras.

O que está aqui envolvido é mais que uma campanha ou mesmo uma guerra específicas. Esta é a dinâmico a que Bob Avakian chamou dos “dois obsoletos”: “por um lado, o imperialismo e, por outro lado, o jihadismo fundamentalista islâmico reacionário – e a maneira como estas duas forças na realidade se reforçam uma à outra, mesmo que ao mesmo tempo se oponham uma à outra, com o efeito muito negativo que isto exerce sobre o mundo. Isto é uma situação em que quanto mais os imperialistas fazem o que fazem, mais criam um terreno fértil para o fundamentalismo islâmico.” (Para ler mais sobre isto, ver: Bringing Forward Another Way [Forjar Um Outro Caminho], de Bob Avakian, disponível em inglês em http://revcom.us/avakian/anotherway/index.htm e em castelhano em http://revcom.us/avakian-es/ba-forjar-otro-camino-es.html.)

As pessoas em todos os países têm de se opor à campanha de terror que os EUA estão a levar a cabo no Iraque e na Síria para se oporem e derrotarem os exploradores e opressores seus rivais, e aos crimes contra as pessoas vindos de todos os lados. É preciso que isto esteja ligado à construção da luta pela revolução nos países imperialistas e nos países que eles oprimem, a qual é a única maneira de esta dinâmica poder ser interrompida e de a humanidade se libertar desta terrível situação.

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