Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 30 de abril de 2018, aworldtowinns.co.uk
Palestina: A “Grande Marcha Pelo Regresso”
A existência de Israel começou com a violenta expulsão de cerca de metade da população palestina do país. Hoje, dezenas de milhares de refugiados e os filhos e netos deles que agora vivem em Gaza, uma estreita faixa entre o mar e o deserto, têm vindo a concentrar-se todas as sextas-feiras, desde há já cinco semanas, junto às cercas de arame farpado que os aprisionam, numa “Grande Marcha Pelo Regresso”, prevista para culminar a 15 de maio.
Essa data é o Dia da Nakba ou Dia da Catástrofe, o aniversário do dia em 1948 em que essas expulsões atingiram plena expressão com a proclamação do estado de Israel. Hoje em dia, o governo israelita está a tentar infligir mais uma catástrofe aos palestinos com um objetivo político claro: esmagar todas as formas de resistência.
Durante estes protestos, não houve uma única vítima israelita, enquanto, até 27 de abril, os soldados israelitas já tinham assassinado 43 palestinos, entre os quais pelo menos cinco crianças. Mais de 3500 palestinos foram feridos por munições vivas, balas de aço revestidas a borracha e estilhaços, segundo o ministério palestino da saúde em Gaza.
Estacionados ao longo da fronteira a uma distância segura, os soldados israelitas com espingardas de atiradores furtivos disparam a partir de jipes e postos de tiro no cimo de altos montes de areia, feitos por buldózeres e com vista para Gaza. Fazem pontaria aos palestinos que se aproximam da cerca, aos que estão concentrados a alguma distância da cerca, aos que se afastam dela ou aos que estão apenas a caminhar sozinhos ao longe e a acenar com bandeiras palestinas. Tudo isto foi registado em vídeos noticiosos, apesar das balas dos atiradores furtivos que visam os jornalistas, matando dois deles que usavam roupas claramente marcadas.
Mais de 2200 pessoas foram baleadas numa ou nas duas pernas. Os Médicos sem Fronteiras relataram “um nível extremamente elevado de destruição nos ossos e nos tecidos moles e a existência de grandes ferimentos que podem ser do tamanho de um punho”.
Isto é ainda mais cruel porque os efeitos de muitos anos de bloqueio israelita a Gaza deixou os hospitais locais sub-equipados para lidarem com a gravidade dos traumas e o grande número de feridos. Os médicos são muitas vezes forçados a amputar as pernas porque não têm meios para procedimentos cirúrgicos mais complicados, para salvarem a vida aos pacientes em perigo de sangrarem até à morte em poucos minutos. Noutros casos, quando os pacientes estão estabilizados, os militares israelitas têm-se recusado a permitir que as instituições médicas de Gaza transfiram os feridos para hospitais vizinhos e bem melhor equipados no outro lado da fronteira israelita, ou na Cisjordânia, onde as pernas deles poderiam ser salvas. Pelo menos 17 palestinos perderam uma ou ambas as pernas devido a ferimentos causados por balas, disse o ministério da saúde. (Este artigo colheu informações de relatos de um artigo de 28 de abril de 2018 do jornal Washington Post.)
Numa declaração oficial na sua conta no Twitter após o primeiro protesto, o exército israelita tentou refutar as acusações de que os seus soldados estavam a disparar indiscriminadamente sobre os manifestantes, gabando-se: “Nada foi feito de uma maneira descontrolada, tudo foi preciso e calculado, e sabemos onde cada bala aterrou” (Guardian, 31 de março de 2018). A partir das evidências desses ferimentos e da anterior prática israelita, parece provável que as tropas israelitas tenham recebido ordens para disparar para as pernas das pessoas, por vezes uma após a outra, usando o que podem ser balas explosivas, numa campanha planeada para estropiar e aterrorizar uma crescente parte de uma geração de jovens em Gaza.
Este tipo de prática há muito tempo que tem sido o padrão do exército e das forças de segurança israelitas. Partam os braços e as pernas deles, ordenou em 1987 o primeiro-ministro Yitzhak Rabin durante a primeira Intifada (Insurreição), quando a juventude palestina pegou em pedras para confrontar as tropas que ocupavam a Cisjordânia, numa altura em que Israel aumentou a expansão das suas fronteiras. Algumas aldeias palestinas estão cheias de homens com quarenta anos ou mais com deficiências originadas durante esses dias. É especialmente significativo que esta ordem tenha vindo do dirigente israelita galardoado com o Prémio Nobel da Paz de 1994 pelos Acordos de Oslo, que deveriam ter criado a paz entre Israel e os palestinos através de um compromisso que Israel nunca implementou. Isto mostra que “força, poder e espancamentos”, como disse Rabin, sempre foi e sempre será a política israelita, devido à injustiça que está no centro da existência de Israel.
O outro fator básico por trás da existência de Israel é que desde há muitas décadas que Israel tem servido como executor dos interesses da Europa Ocidental e, sobretudo, dos EUA no Médio Oriente. Na complexa situação de hoje nessa região e no mundo, os EUA têm mais necessidade do que nunca de um posto avançado e de um exército cuja dependência faz com que seja o único aliado regional dos EUA verdadeiramente fidedigno. Nesta situação, o Presidente Trump elevou para um nível superior o apoio incondicional dos EUA ao estado sionista e ameaçou usar as forças armadas israelitas como aríete numa nova guerra ou guerras destinadas a criar uma reconfiguração da região mais ao gosto do imperialismo norte-americano.
Isto aumenta o que está em jogo para Israel e os palestinos. Nunca foi mais urgentemente necessário compreender, reforçar e agir em relação à ligação entre a luta do povo palestino e a luta global contra o imperialismo, incluindo contra o dirigente fascista do imperialismo norte-americano, Trump.
(Ver também: A “Nakba”: A limpeza étnica e o nascimento de Israel)