Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 8 de Junho de 2009, aworldtowinns.co.uk
Obama no Cairo:
Enaltecer o Islão para controlar os povos do Médio Oriente
“Na quinta-feira, as ruas que cercam a universidade e atravessam a cidade estavam em grande parte sossegadas e vazias. Muitos trabalhadores dessa capital egípcia à beira do Nilo tinham recebido instruções para ficarem em casa. Os passeios estavam vedados às pessoas comuns mas foram cheios com filas de centenas de soldados – alguns vestidos de negro, outros de branco – que aí estavam há horas antes de Obama chegar.” (The New York Times, 5 de Junho) O Grande Pai tinha vindo de Washington para dar lições a alguns dos povos súbditos da América.
Todo o enquadramento do cuidadosamente preparado discurso de Barack Obama na Universidade Al-Azhar no Cairo a 4 de Junho tinha como objectivo manter os olhos das pessoas focados na superfície das coisas. “Reunimo-nos num momento de tensão entre os Estados Unidos e os muçulmanos em todo o mundo”, disse ele. Mas será que a questão de fundo é uma falta de compreensão da religião e dos valores, será que as pessoas não percebem que “a América e o Islão (...) partilham princípios comuns”, ou será que isso tem profundas raízes no mundo material e nas suas relações económicas, sociais e políticas – de opressão, desigualdade e injustiça?
Os factos são: o controlo do “Grande Médio Oriente”, que se estende do Norte de África ao Afeganistão, é um requisito central da consolidação da hegemonia global norte-americana no mundo. Todos os países dessa vasta região são dominados pelo capital estrangeiro e o seu desenvolvimento económico está subordinado aos interesses das potências imperialistas. Os regimes que subjugam o povo reflectem em grande medida esses interesses e, quando não o fazem, frequentemente fazem-lhes guerra ou ameaçam-nos. Esses interesses e potências estrangeiras aliaram-se às classes dominantes reaccionárias locais para imporem vidas de frustração e miséria à vasta maioria das pessoas.
Obama dirige o país que é o patrão do sistema imperialista e dos seus aliados locais que se colocam às costas do povo. É por isso que, por exemplo, a polícia egípcia tem que esvaziar as ruas quando ele vai a um país cujo déspota desprezado e dependente dos EUA (“um sólido aliado”, chamou-lhe Obama) governa há décadas usando o estado de emergência e a tortura e se prepara agora para entregar as chaves do palácio ao seu filho. E Obama pensa que a razão por que tantas pessoas na região odeiam os EUA é porque elas pensam em “estereótipos”?
Ele disse: “Considero que faz parte da minha responsabilidade enquanto Presidente dos Estados Unidos lutar contra os estereótipos negativos do Islão onde quer que eles surjam. Mas o mesmo princípio se deve aplicar à percepção muçulmana da América. Tal como os muçulmanos não encaixam num estereótipo grosseiro, a América não é o estereótipo grosseiro de um império virado para os seus interesses.” A verdade é exactamente o oposto – a América é um “império virado para os seus interesses” e é quem impõe um sofrimento indescritível, e esse sofrimento é uma componente muito importante – se não mesmo toda a razão de ser – da actual ascensão do fundamentalismo islâmico anti-ocidental. Em suma, Obama elogiou o Islão como religião mas defendeu (e está a trabalhar para as intensificar) as relações imperialistas de opressão sem as quais o fundamentalismo islâmico despertaria muito menos interesse.
A ideologia das pessoas – a forma como elas vêem e percebem o mundo – é muito importante por si só, e é um factor activo na definição da situação mundial. Tem uma grande importância – e é um sério obstáculo à libertação dos povos do mundo – que o fundamentalismo islâmico tenha sido capaz de agarrar a bandeira da oposição à opressão estrangeira. Uma vez mais, é de salientar que ao apoiar as forças fundamentalistas islâmicas para o seu próprio interesse – contra a rival União Soviética, para debilitar as forças laicas entre os palestinianos e para, de outras formas, minar os movimentos de libertação nacional – os EUA e os seus aliados contribuíram enormemente para a ascensão de um movimento que agora se tornou num problema para eles. Mesmo agora, o enquadramento das “tensões” no Médio Oriente em termos religiosos tem vantagens para os imperialistas e para os seus opositores fundamentalistas islâmicos.
Além disso, mesmo mudando o tom dos dias de Bush e suspendendo a retórica de cruzada cristã contra o Islão, Obama seguiu os passos do seu antecessor ao se orientar para pôr a religião no centro das questões públicas. O seu discurso estava cheio de referências ao “nosso Deus”, à “visão de Deus”, ao que “Deus pretendia” e à necessidade de se “ter consciência de Deus”. Mesmo a sua obrigatória menção aos direitos das mulheres foi compatível com a “Bíblia Sagrada” e o “Alcorão Sagrado” (já para não falar na Tora). (Ele usou o argumento, tão caro aos apologistas das religiões patriarcais do Oriente e do Ocidente, que as mulheres podem continuar a representar “papéis tradicionais” na sociedade – presumivelmente como esposas, filhas e mães – e ainda assim serem seres humanos inteiramente iguais.)
Algumas pessoas querem ver nesse discurso um sinal de que os EUA ultrapassaram o 11 de Setembro e de que a “guerra ao terrorismo” passou à história. É verdade que Obama pode apelar aos aliados e tentar acalmar as águas de uma forma que Bush não podia. Talvez tenha sido por isso que ele substituiu “terroristas”, o epíteto favorito de Bush para os seus inimigos, por “extremistas”. Mas qualquer alteração que ele possa representar é pura e simplesmente uma resposta diferente ao mesmo problema: como melhor servir o mesmo sistema imperialista que saqueia o mundo e esmaga as consciências. E, tal como Obama representa mais continuidade que ruptura com as políticas internas da administração Bush justificadas pela “guerra ao terrorismo” – desde o tratamento dos “combatentes inimigos” presos à sua protecção aos responsáveis pela tortura e à manutenção de medidas de “segurança” tipo estado policial – essas mudanças de retórica não implicam uma alteração das posições de fundo.
Tal como Bush, Obama salientou que “O meu primeiro dever enquanto Presidente é proteger o povo americano”, citando “os acontecimentos do 11 de Setembro” como se eles tivessem ocorrido sem contexto, como se não tivessem sido os EUA que, há mais de um século, têm estado a invadir, a ocupar e a, de outras formas, controlar países, impondo a sua vontade e humilhando povos inteiros, incluindo no Médio Oriente. Em nenhum outro ponto esteve Obama mais igual a Bush que quando alegou que o seu país “não avançou por opção, fomos lá por necessidade”, referindo-se à invasão do Afeganistão.
“Sejamos claros: a Al-Qaeda matou quase 3000 pessoas nesse dia”, disse ele. Isso pode ter sido assim, mas quando o líder dos EUA diz que “o Alcorão Sagrado ensina-nos que quem mata um inocente, é como se matasse todo o género humano”, referindo-se aos mortos norte-americanos, só podemos concluir que os camponeses assassinados pelas aeronaves norte-americanas no Afeganistão Ocidental a 4 de Maio (140 segundo o governo afegão, só no mais recente de entre muitos desses incidentes) não eram seres humanos aos olhos de Obama. Quando ele diz, “Vamos, porém, enfrentar implacavelmente os extremistas violentos que são uma séria ameaça à nossa segurança. Porque rejeitamos o mesmo que as pessoas de todas as fés rejeitam: a morte de homens, mulheres e crianças inocentes”, ao mesmo tempo que o seu governo apoia o que Israel ainda há pouco estava a fazer em Gaza, só podemos concluir que as pessoas comuns dos países que os EUA querem controlar são todas culpadas até que se prove o contrário.
O mesmo se aplica ao Paquistão, onde graças ao impacto da ocupação norte-americana do Afeganistão e aos horrores dos regimes impostos pelos EUA no Paquistão, há actualmente 2,5 milhões de pessoas deslocadas pela disputa entre o governo controlado pelos EUA e os fundamentalistas. Quanto ao Iraque, toda as famílias dizimadas – primeiro pela invasão liderada pelos EUA e depois pelas lutas sectárias promovidas pela política dos ocupantes de dividir para reinar e pelas suas alianças reaccionárias – deverão agradecer aos EUA. Afinal de contas, diz Obama, talvez os EUA devessem ter prestado mais atenção à necessidade de “diplomacia e consenso internacional”, mas “o povo iraquiano está, em última análise, melhor sem a tirania de Saddam Hussein”. Onde é que, Sr. Obama, o seu país e os seus aliados alguma vez aplicaram “os princípios de justiça e progresso, tolerância e dignidade de todos os seres humanos” que você alega que a sua religião e o Islão partilham?
Mas Obama não estava pura e simplesmente a pregar hipocrisia apenas por si mesmo. Ele foi claro nos objectivos políticos que pretendeu alcançar. “Como alguém que planeou enviar mais 17 mil tropas para o Afeganistão”, disse ele ao colunista Thomas L. Friedman antes desse discurso, “você estaria fortemente pressionado a sugerir que o que estamos a fazer não tem por trás um forte poder. Eu ignoro muitas dessas críticas. O que eu acho é que se estamos empenhados em falar directamente com a rua árabe e ela for persuadida de que estamos a actuar de uma forma directa, então, nas suas margens, eles e a sua liderança estão mais propensos e dispostos a trabalhar connosco.” (International Herald Tribune, 4 de Junho)
A frase sobre “a liderança deles” estar “mais disposta a trabalhar connosco” é um indício chave do que esse discurso representa. Ele apelou repetidamente ao pragmatismo dos governantes árabes: como eu não sou Bush mas sim um presidente norte-americano com um nome islâmico, represento a melhor oportunidade que vocês alguma vez terão, pelo que é melhor vocês agarrarem-na. É este o significado dos seus avisos para que “se deixe de apontar o dedo” e de falar nas injustiças passadas cometidas pelos EUA e do seu apelo a que “se digam abertamente coisas (...) que muito frequentemente só são ditas atrás de portas fechadas”. A principal delas é que “em privado muitos muçulmanos reconhecem que Israel não desaparecerá” (porque a “ligação” dos EUA a Israel enquanto “pátria judaica” é “inquebrável”). Por isso, os governantes árabes fariam melhor em deixar de fingir o contrário, aceitar o que os EUA lhes derem e pura e simplesmente dizerem às pessoas que lamber as botas norte-americanas é nutritivo.
A proposta de Obama para uma solução de dois estados para a “fonte de tensão” palestiniana teve um lugar central no Cairo. Isto reflecte a centralidade de Israel no domínio norte-americano da região e a centralidade da opressão dos palestinianos por Israel nos corações dos povos da região. De uma forma notável, esse foi o único tópico em que Obama prometeu algo concreto: que “procuraria pessoalmente obter esse resultado” [os dois estados].
“Agora é altura de os palestinianas se focarem no que podem construi”, declarou Obama, com a implícita ameaça de que é agora ou nunca. Qual é o conteúdo dessa oferta? Um estado palestiniano cortado em pedaços minúsculos, descontínuos, numa pequena fatia da Palestina histórico e uma pequena parte das terras que continuaram a ser palestinianas antes da invasão israelita de 1967. Um país sem uma economia própria, sem um verdadeiro exército, à sombra de um dos exércitos melhor armados do mundo e portanto sem nenhuma verdadeira soberania possível. Uma variante do que os palestinianos já têm: uma Cisjordânia cercada por um muro cujo governo sobrevive graças aos EUA e a Israel e cuja polícia tem o direito apenas a usar as suas armas contra outros palestinianos e uma Gaza actualmente não ocupada mas repetidamente invadida, com as suas fronteiras terrestres e marítimas e o seu espaço aéreo sob controlo militar israelita e sem que nenhuma pessoa seja autorizada a entrar ou sair a menos que Telavive diga que sim – como castigo colectivo por terem elegido o Hamas.
Tal como Ali Abunimah avisava em The Electronic Intifada [A Intifada Electrónica] que ele co-fundou, a 5 de Junho, Obama “pode ter mais determinação que o seu antecessor, mas continua empenhado numa inexequível ‘visão’ de dois estados que visa, não o restabelecimento dos direitos palestinianos, mas a preservação de Israel enquanto enclave dos privilégios judeus israelitas. É um beco sem saída.” Contudo, comenta Abunimah, “Algumas pessoas estão preparadas para dar a Obama um salvo-conduto para tudo isso porque ele está finalmente a falar duramente sobre os colonatos israelitas na Cisjordânia ocupada”, referindo-se a uma passagem do discurso – aquela de que muitas pessoas se lembrarão: “Os Estados Unidos não aceitam a legitimidade da continuação dos colonatos israelitas. Essas construções violam anteriores acordos e minam os esforços para se alcançar a paz. É tempo de esses colonatos pararem.”
Na realidade, embora Bush tenha dito as mesmas palavras que Obama, e tenha assumido o mesmo compromisso pessoal, ele fez um acordo secreto com Israel que os autorizava a que eles o ignorassem. Agora, a administração Obama diz que repudiou esse acordo. Na véspera do discurso do Cairo, a Secretária de Estado Hillary Clinton declarou que já não haveria nenhuma excepção para o “crescimento natural” (a doutrina que autoriza a construção de uma nova moradia de cada vez que uma família de colonos tenha um filho). Estas palavras podem parecer as mais duras que qualquer presidente norte-americano alguma vez teve para com Israel.
Mas a inexistência de novos colonatos e apropriações de terra não irá mudar muito na prática. Cerca de 72% da Cisjordânia já é considerada “terra do estado israelita (...) Os colonatos, a infra-estrutura que os serve e o sistema de segurança necessário a protegê-los recortou os Territórios Ocupados em dezenas de enclaves isolados e empobrecidos. Os palestinianos estão proibidos de viajar entre esses enclaves sem uma autorização militar, transformando assim as suas próprias cidades e aldeias em prisões.” (Comité Israelita Contra as Demolições de Casas, citado por Stuart Littlewood, The Palestine Chronicle, 4 de Maio). O que Obama está a oferecer é na realidade menos que anteriores posições dos EUA (desde Reagan) e que as resoluções da ONU, as quais exigem que Israel se retire para as suas fronteiras de 1967 – e que Obama está agora a dizer que nunca terá de fazer. Ele tem garantido implicitamente a permanência de quase meio milhão de colonos na Jerusalém Oriental anexada e nos 121 outros colonatos judaicos na Cisjordânia oficialmente reconhecidos por Israel mas ilegais ao abrigo do direito internacional.
Israel pode aceitar ou não as exigências de Obama. De qualquer forma, Obama deixou claro que os EUA nunca retirarão os milhares de milhões de dólares anuais em ajuda económica e militar que mantém vivo o estado sionista e subsidiam as famílias dos colonos. Ideologicamente, pode ser difícil ao governo israelita tomar medidas, nem sequer contra todos os 102 colonatos considerados “ilegais”. Os membros de um colonato extremista ortodoxo perto de Nablus (criado em 1975 sob protecção do exército israelita) revoltaram-se a 1 de Junho em protesto contra os planos do governo de desmantelar alguns locais minúsculos e largamente despovoados. Homens mascarados e armados voltaram a sua violência não contra as autoridades israelitas mas contra trabalhadores palestinianos que por acaso passavam numa estrada vizinha. Dois palestinianos foram hospitalizados e quatro outros ficaram feridos. As pessoas que o fizeram acreditam que Deus lhes prometeu todas as polegadas da Cisjordânia. É pouco provável que elas ouçam apelos a compromissos, mesmo que simbólicos. Elas são uma minoria em Israel, mas são cada vez mais a coluna vertebral das forças armadas sionistas e do actual governo.
A verdade é que a coisa mais importante, segundo os cálculos de Obama, é ser visto como se falasse duramente com Israel. É esse o seu cartão-de-visita, a sua tentativa de apelar ao que ele chama a “rua árabe”, e demasiados árabes e outras pessoas que deveriam saber melhor reagiram dizendo que o discurso de Obama tinha sido bom mas que os israelitas nunca o escutariam. A verdade é que pode mesmo ser melhor para o que Obama tem em mente que os sionistas não o façam. Se alguma claridade parecer aparecer entre os EUA e Israel, isso pode servir melhor os interesses dos imperialistas norte-americanos, uma vez que desligar a tomada ao gendarme sionista dos EUA nem sequer está em questão.
Vale a pena analisar-se por que razão Obama persegue esta ideia do mini-estado neste preciso momento, mesmo depois de as tentativas de Bush para o criar terem resultado em nada.
O professor Hussein Agha, da Universidade de Oxford, e Robert Malley (Adjunto Especial do ex-Presidente norte-americano Bill Clinton para os Assuntos Árabe-Israelitas e que agora está com o Grupo Internacional de Crise) discutiu isso num artigo autorizado e publicado na véspera da viagem de Obama ao Médio Oriente: “Hoje em dia, a ideia de um estado palestiniano está viva, mas sobretudo fora da Palestina. Estabelecer um estado tornou-se numa questão de extrema prioridade para os europeus, que o vêem como crucial para estabilizar a região e travar o crescimento do extremismo; para os americanos, que o enaltecem como uma peça central dos esforços de contenção do Irão, bem como dos islamitas radicais, e de constituição de uma coligação entre os estados árabes ditos moderados e Israel; e mesmo para um grande número de israelitas que começaram a acreditar que é a única resposta efectiva à ameaça colocada pela demografia árabe à existência de Israel. Elas podem ser todas boas razões, embora nenhuma tenha uma particular relevância para os palestinianos... [Isto] pode dar à diplomacia norte-americana mais um notável empurrão... Um estado empacotado por Bush é uma coisa. Embrulhado por Obama, seria outra coisa totalmente diferente.” (New York Review of Books, 11 de Junho)
Estes escritores têm a vantagem de falarem para os ouvidos dos governantes imperialistas e não para as pessoas comuns, e disseram-no claramente. A declaração de Obama de que os palestinianos precisam “de um estado próprio” não alterará radicalmente aquilo a que ele piamente chamou a sua “intolerável situação”. Enquanto Israel existir, enquanto houver um estado que por definição só pode ser judeu se negar os direitos das pessoas que lá viviam e dos palestinianos que ainda o fazem, qualquer “mini-estado” palestiniano só pode ser outro círculo do inferno para o povo palestiniano. O que a proposta de mini-estado pode fazer é servir, mesmo que se só “nas margens”, como Obama o disse, os esforços dos EUA para criar um realinhamento regional, que inclua o enfraquecimento da ofensiva fundamentalista islâmica contra os interesses do império.
Sem se analisar o complexo leque de possibilidades entre os EUA e a República Islâmica do Irão, uma das muitas questões sobre que ele falou no seu discurso no Cairo, demasiadas para serem aqui discutidas, o mínimo que se pode dizer é o seguinte: Obama avisou que “no que diz respeito às armas nucleares, atingimos um ponto decisivo” – o Irão não será autorizado a desenvolvê-las. Porque não? Não para “impedir uma corrida às armas nucleares no Médio Oriente”, como ele alegou, dado que Israel já tem centenas de ogivas nucleares e mísseis que lhes foram oferecidos pelos EUA. Não para “construir um mundo em que nenhuma nação tenha armas nucleares”, o que continua a ser um vago “compromisso” da parte de Obama – é pouco provável que os imperialistas norte-americanos venham alguma vez a abandonar as suas armas nucleares. Eles foram os únicos que alguma vez as utilizaram e baseiam abertamente a sua doutrina militar em serem os primeiros a utilizá-las em defesa do seu império. A verdadeira questão é que os EUA não deixarão o Irão desafiar o “equilíbrio de forças” no Médio Oriente, em que Israel, enquanto parceiro e gendarme mais fiável dos EUA, detém a capacidade de aniquilar todos os outros.
Isto coloca em perspectiva o facto de Obama “falar duramente” com Israel. Pode ser muito melhor chamado de “amar duramente” – falar duramente aos israelitas para benefício mútuo do projecto sionista e do grande império norte-americano.