Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 21 de Setembro de 2015, aworldtowinns.co.uk
México: Manifestação em Oaxaca exige justiça para os estudantes desaparecidos e assassinados de Ayotzinapa
O seguinte texto é do Aurora Roja, voz da Organización Comunista Revolucionaria, México (aurora-roja.blogspot.com). Foi editado para publicação neste serviço noticioso.
Uma manifestação de cerca de mil pessoas teve lugar a 12 de Setembro em Tlaxiaco, Oaxaca (México), para exigir justiça para os 43 estudantes desaparecidos há um ano e a punição dos responsáveis por este crime.
Convocada pela Rede de Resistência Nacional “Fim à Guerra Contra o Povo!”, a manifestação começou à entrada do campus universitário. Entre os diversos grupos e indivíduos envolvidos estavam Clemente Rodríguez Moreno, pai de Cristian Alfonso Rodríguez, um dos estudantes da Escola de Formação de Professores de Ayotzinapa sequestrados pelas forças do estado a 26 de Setembro de 2014 na cidade de Iguala, estado de Guerrero. (Oaxaca é um estado na costa mexicana do Pacífico, adjacente a Guerrero.)
A maioria dos manifestantes eram membros do Sindicato Nacional de Trabalhadores da Educação (SNTE), juntamente com membros do Movimento Popular Revolucionário (MPR) e da Rede de Resistência Nacional, contingentes da Rede Internacional de Indígenas Oaxaquenhos (RIIO), membros do Comité de Defesa dos Direitos do Povo (CODEP), do colectivo Canoa de Totonundó, trabalhadores da construção civil, comerciantes, estudantes e residentes de várias zonas e bairros pobres da cidade de Tlaxiaco.
Os manifestantes gritaram: “De Iguala a Los Pinos [a residência presidencial], cárcere para os assassinos”, “De braços dados, ombro a ombro, somos todos Ayotzi” e “Vivos os levaram, vivos os queremos”. Durante o percurso, havia pessoas nos passeios que apoiavam a manifestação de várias maneiras, entre elas erguendo os braços.
O protesto terminou com uma concentração junto ao mercado de sábado no centro da cidade, onde os vendedores provenientes de muitas comunidades indígenas e camponesas vêm vender as suas mercadorias. O pai do estudante desaparecido denunciou a longa série de mentiras ditas pelo governo federal às famílias e ao povo mexicano em resposta à exigência das famílias de regresso dos estudantes com vida. Ele apelou às pessoas para se juntarem a este movimento pelas vidas dos estudantes e dos milhares de outras pessoas que desapareceram no México, e pela justiça.
Ele anunciou que a 26 de Setembro, aniversário do desaparecimento dos estudantes, as famílias e os estudantes da escola de formação de professores irão concentrar-se em quatro pontos à volta da Cidade do México e marchar para a praça central da capital do México. Isto será precedido por uma greve de fome de dois dias. Ele apelou às pessoas para seguirem o exemplo de Chilpancingo, Tixtla e outros locais para, a 15 de Setembro, em vez de celebrarem a independência do país, exigirem justiça para os desaparecidos e a demissão do Presidente Enrique Peña Nieto. As exigências das famílias também foram apoiadas por oradores do sindicato dos professores e de outras organizações.
Nesta concentração, bem como ao longo de todo o trajecto da manifestação, membros do Movimento Popular Revolucionário expuseram e denunciaram o papel do exército, da polícia federal, estadual e municipal neste crime horrível. (Os estudantes desapareceram quando voltavam para a escola deles, vindos de actividades políticas de recolha de fundos, num autocarro que tinham requisitado. A Escola de Formação de Professores de Ayotzinapa é frequentada sobretudo por jovens de famílias camponesas e outros jovens pobres e muitas vezes indígenas, e tem uma forte história de radicalismo). Mesmo antes de os autocarros terem sido atacados, os estudantes estavam a ser monitorizados e seguidos por uma unidade de segurança do governo federal conhecida como C4 (Centro de Comunicações, Computação, Controlo e Comando), que estava a coordenar várias forças de segurança em tempo real.
Este foi um dos muitos factos que o governo tentou esconder. Um relatório recente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos confirmou as conclusões a que chegaram cientistas e jornalistas independentes. O relatório apresentou provas de que o procurador federal estava a mentir quando alegou que os corpos dos estudantes desaparecidos teriam sido queimados num monte de lixo. As pessoas têm de ser mobilizadas para a luta de uma forma ainda mais ampla e profunda, ao lado das famílias e dos estudantes da Escola de Formação de Professores de Ayotzinapa, para exigirem justiça e a punição dos responsáveis, do presidente até lá abaixo, disse o orador.
O Movimento Popular Revolucionário declarou que o problema fundamental é o sistema capitalista-imperialista e a classe dominante deste sistema no México, os grandes capitalistas mexicanos e estrangeiros e os grandes proprietários rurais, e o estado criminoso e ilegítimo que os protege. O sofrimento que este sistema causa é tão extremo quanto desnecessário, desde a Índia onde durante a última década 150 mil camponeses arruinados pelo capitalismo global cometeram suicídio; à Europa de Leste onde todos os anos são sequestradas milhares de mulheres para serem transformadas em escravas vendidas no mercado global de sexo; ao México, com mais de 150 mil pessoas assassinadas, mais de 30 mil feminicídios, mais de 25 mil pessoas desaparecidas e centenas de presos políticos, um país onde os migrantes da América Central são extorquidos, sequestrados e assassinados com total impunidade, frequentemente pelo próprio governo que actua em conspiração com o crime organizado, entre os muitos outros crimes cometidos ou auxiliados pelo governo.
Este sistema não merece continuar, disse o orador. Tem de ser derrubado e extirpado até à raiz. Precisamos de uma revolução. O orador do Movimento Popular Revolucionário na concentração terminou com as seguintes palavras: “Não podemos deixar que as nossas crianças, os nossos netos e mesmo os netos dos nossos netos continuem a sofrer com os horrores deste sistema criminoso, tendo de lutar contra os mesmos horrores ou pior, e mesmo até à possível extinção do género humano. Pelo contrário, deixemos a história dizer que aqui e agora, como noutros lugares deste planeta, já começou um novo movimento pela revolução que não irá parar de uma vez por todas até à libertação e à emancipação de toda a humanidade. A história continua a ser escrita, e a sua evolução depende do que fizermos, todos nós e cada um de nós, aqui e agora. Ousemos lutar por uma revolução libertadora!”
(A Rede “Fim à Guerra Contra o Povo!” convocou uma III Semana Nacional de Resistência para 19-25 de Outubro de 2015.)