Do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (publicado a 29 de julho de 2024 em inglês em revcom.us/en/kamala-harris-and-can-only-be-enabler-israels-genocide-against-palestinian-people e a 31 de julho de 2024 em castelhano em revcom.us/es/kamala-harris-es-y-solamente-puede-ser-una-gestora-del-genocidio-israeli-contra-el-pueblo-palestino).

Kamala Harris é e só pode ser uma facilitadora do genocídio israelita contra o povo palestino

Um desafio a Nihad Awad, a Lily Greenberg Call e a todos

Por Alan Goodman

Kamala Harris dá as boas-vindas a Benjamin Netan-nazi
25 de julho de 2024: Kamala Harris dá as boas-vindas a Benjamin Netan-nazi (Foto: AP)

Eu estava entre os milhares de pessoas que participaram no protesto de 24 de julho em Washington DC, ao lado dos revcoms [comunistas revolucionários], respondendo ao apelo para que fosse traçada uma “linha vermelha” contra o genocídio em Gaza e para denunciar o Congresso dos EUA (Republicanos e Democratas) por estar a acolher o primeiro-ministro israelita Netanyahu — ou seja, Netan-nazi. A desafiadora manifestação que atravessou a capital norte-americana foi uma importante declaração e há muito sobre a qual construir na inspiradora diversidade e determinação dos manifestantes.

Tive a oportunidade de ouvir todos os discursos na concentração. Representavam uma ampla gama de perspetivas. Mas tenho de responder a um tema central do discurso de Nihad Awad, do Conselho sobre as Relações Americano-Islâmicas (CAIR na sigla em inglês). Nihad Awad e o CAIR tomaram importantes posições contra os ataques racistas às pessoas árabes e muçulmanas nos EUA, e contra o apoio norte-americano aos crimes de Israel contra os palestinos. Mas o núcleo da mensagem de Nihad Awad no discurso dele leva a um beco sem saída, e a coisas piores. Ele disse:

Protestar desta forma trouxe-nos a nossa magnificência. Estamos a exprimir a nossa opinião e estamos a mostrar que o público norte-americano nunca mais se deixará enganar por Netanyahu e pelo governo extremista dele. Contudo, apesar disso, hoje tenho de vos desafiar. Estão dispostos a ser desafiados? Para além desta demonstração, uma poderosa demonstração, (...) desafio-vos a não desistirem das eleições em novembro.

Embora Nihad Awad não tenha dito o nome de Kamala Harris, a mensagem clara era de que os protestos são importantes mas, para que sejam realmente eficazes, as pessoas têm de canalizar “a sua voz, o seu apoio, a sua defesa da justiça” para o voto em Kamala Harris. O argumento de Nihad Awad segue uma linha similar à defendida por Lily Greenberg Call, que foi a primeira política judaica a renunciar publicamente da administração Biden em protesto pelo apoio norte-americano à guerra de Israel. Greenberg Call disse: “Trabalhei para Kamala e sei que ela vai fazer o que é correto.”

Mas a verdade é a seguinte:

Kamala Harris é, será e só pode ser uma facilitadora do genocídio de Israel contra o povo palestino (e dos crimes que este império norte-americano leva a cabo contra as pessoas nos EUA e em todo o mundo). E qualquer que seja a intenção, canalizar a indignação contra os crimes de Israel para um apoio a Harris só irá facilitar isso.

As próprias palavras dela demonstram isso.

Um novo ator, o mesmo guião GENOCIDA

Palestinos inspecionam a destruição no bairro de Shijaiyah
Palestinos inspecionam a destruição no bairro de Shijaiyah, na Cidade de Gaza, 11 de julho de 2024 (Foto: AP)

É verdade que Harris não esteve presente no discurso de Netan-nazi no Congresso. Mas, e daí? Ela reuniu-se com ele após o discurso. E o que se segue é a mensagem inicial, e essencial, da declaração dela após a reunião com Netan-nazi (não editada, mas com os meus sublinhados para destacar os pontos essenciais):

(...) Acabei de ter uma reunião franca e construtiva com o primeiro-ministro Netanyahu. Disse-lhe que iria garantir sempre que Israel se consegue defender, incluindo contra o Irão e as milícias apoiadas pelo Irão, como o Hamas e o Hezbollah.

Desde quando eu era criança a recolher fundos para a plantação de árvores para Israel até ao meu tempo no Senado dos Estados Unidos e agora na Casa Branca, tenho mantido um compromisso inabalável para com a existência do estado de Israel, com a sua segurança e com o povo de Israel.

Já disse isto muitas vezes, mas vale a pena repeti-lo: Israel tem direito a se defender, e a maneira como o faz importa.

O Hamas é uma brutal organização terrorista. A 7 de outubro, o Hamas desencadeou esta guerra quando massacrou 1200 pessoas inocentes, incluindo 44 norte-americanos. O Hamas cometeu atos horríveis de violência sexual e tomou 250 reféns.

E a seguir, depois de tudo isto, Harris disse “a todos os que têm estado a apelar a um cessar-fogo e a todos os que anseiam pela paz, eu estou a ver-vos e eu estou a ouvir-vos.” Tenho a certeza de que isto é um verdadeiro consolo para as famílias das mais de centenas de palestinos assassinados em Gaza só esta semana, o facto de Kamala Harris as estar a “ver e ouvir”, num momento em que elas sofrem com mortes intermináveis.

Kamala Harris repete as mentiras de Biden e aplaude o genocídio israelita em Gaza

A declaração de Kamala Harris após a reunião com Netan-nazi poderia ter sido, palavra por palavra, uma declaração do Genocida Joe Biden, exceto que ela vem de uma “voz fresca” e de uma “mulher de cor”, em vez do exposto e odiado Biden. “Tudo o que for melhor para te comer”, como disse o lobo ao Capuchinho Vermelho.

Uma rápida verificação da realidade:

  • O que está a acontecer em Gaza não começou a 7 de outubro de 2023, mas sim com a violenta e terrorista limpeza étnica da Palestina na Nakba (catástrofe em árabe) em 1948, que expulsou 750 mil palestinos das casas deles, que tem continuado e que agora se intensificou.
  • A chamada “autodefesa” de Israel EQUIVALE a um genocídio contra o povo palestino. O que está a acontecer não é uma “guerra”, é um massacre genocida unilateral de palestinos indefesos. Israel já matou pelo menos 40 mil pessoas; além disso há entre 10 mil a 20 mil cadáveres que estão enterrados nos escombros e que não estão contabilizados. A utilização como arma por parte de Israel da fome, das doenças e das repetidas marchas da morte de uma “zona segura” para outra — só para bombardear os refugiados desesperados que aí procuram abrigo — faz parte de uma projeção que indica que se houvesse um cessar-fogo hoje, o saldo final de mortes em Gaza seria de 186 mil pessoas (ler em inglês/castelhano), quase metade delas crianças.
  • Israel é um estado colonial de colonos e foi construído sobre as terras, o sangue e os ossos do povo palestino. Como tal, é ILEGÍTIMO.

Estes três pontos são fundamentados, repetidamente, e de diferentes ângulos, em publicações nas redes sociais do líder revolucionário e autor do novo comunismo Bob Avakian, tanto aqui no sítio revcom.us (inglês/castelhano) como no programa The RNL—Revolution, Nothing Less!—Show.

Como foi identificado de uma maneira aguda, e acertada, no sítio revcom.us (inglês/castelhano):

Israel aproveitou o ataque de 7 de outubro para tentar impor uma “solução final” (esta era a expressão com que Hitler e os nazis se costumavam referir à “solução final” para os judeus da Europa, o que para eles significava o extermínio físico do povo judeu na Europa), ou seja, a intenção de Israel é tornar impossível que o povo palestino sobreviva como povo na pátria histórica da Palestina, seja através do assassinato, do exílio e do encarceramento em massa, e de uma opressão ainda mais brutal, ou de todos os anteriores.

Uma arremetida contra os manifestantes antigenocídio

Numa das ações iniciais e definidoras em que se “anunciou” como “porta-bandeira” (literal e figurativamente) de um sistema de opressão violenta em todo o mundo, Kamala Harris atacou os protestos contra Netan-nazi em Washington DC com calúnias e ameaças. Ela emitiu uma declaração em que dizia:

Ontem na Union Station, em Washington DC, vimos atos desprezíveis praticados por manifestantes antipatrióticos e uma perigosa retórica cheia de ódio.

Condeno qualquer pessoa que se associe à brutal organização terrorista Hamas, que jurou aniquilar o Estado de Israel e matar judeus. Os graffiti e a retórica pró-Hamas são repugnantes e não os devemos tolerar na nossa nação.

Condeno a queima da bandeira norte-americana. Essa bandeira é um símbolo dos nossos mais elevados ideais como nação e representa a promessa da América. Nunca deveria ser profanada dessa maneira.

Apoio o direito a protestar pacificamente, mas sejamos claros: o antissemitismo, o ódio e a violência de qualquer tipo não têm lugar na nossa nação.

Será que alguém acha seriamente que uma pessoa que arremete com este tipo de rábida acidez contra um protesto diversificado e não-violento de milhares de pessoas contra o genocídio pode ser uma força para o bem!?

No protesto de 24 de julho, a violência veio da polícia que repetida e aleatoriamente pulverizou com gás pimenta os manifestantes sem que tenha havido nenhuma provocação. As acusações de antissemitismo (de se ser contra os judeus) e equiparar isso a qualquer crítica aos crimes contra a humanidade cometidos por Israel, é uma mentira caluniosa e venenosa para justificar o verdadeiro genocídio contra o povo palestino que está a ocorrer violentamente neste momento. E este ataque é uma arma propagandística chave por trás da censura, da interdição e da brutalização de qualquer pessoa que critique Israel.

Ao atacar os protestos de 24 de julho, Kamala Harris tem razão quanto a uma coisa: a bandeira norte-americana é, de facto, um símbolo dos “mais elevados ideais” dos EUA e daquilo a que chama a sua “promessa”. Mas os verdadeiros ideais e promessas simbolizados pela bandeira norte-americana são a exploração, a opressão e a morte. Eles estão concentrados na chacina em massa de crianças em Gaza. E onde quer que a bandeira flutue, esses “ideais” são aplicados: nas bombas nucleares que incineraram 150 mil pessoas em Hiroxima e Nagasáqui, no Japão; nos uniformes dos soldados que, com ordens para “matar tudo o que mexe”, levaram a cabo um massacre genocida de milhões de pessoas durante a Guerra do Vietname; e nos uniformes da polícia assassina nas comunidades de oprimidos por todos os EUA.

Fundamentalmente, Israel é uma ferramenta do imperialismo norte-americano — e não o contrário

No discurso dele, Nihad Awad disse que Netanyahu “é um perigo para os nossos interesses nacionais norte-americanos”. E alegou que Netanyahu “tem uma longa história de manipular o nosso governo e de explorar a generosidade dos EUA”. Tudo isto está errado, e acaba por conduzir de facto ao reforço do sistema que causa estes horrores.

Como disse Bob Avakian (inglês/castelhano):

Porque é que Biden, e basicamente todo o governo e a classe dominante dos EUA, apoiam Israel a levar a cabo um genocídio contra o povo palestino, perante o mundo inteiro? A resposta a esta questão crucial é a seguinte:

Isto não se deve ao “poder do lóbi judeu”, nem a nenhuma noção ignorante, ridícula e escandalosa de que “os judeus controlam tudo”. Isto deve-se a que Israel desempenha um “papel especial” como bastião fortemente armado de apoio ao imperialismo norte-americano numa região estrategicamente importante do mundo (o “Médio Oriente”). E Israel tem sido uma força-chave no cometimento de atrocidades que têm ajudado a manter a opressora dominação do imperialismo norte-americano em muitas outras partes do mundo. (…)

É o sistema! O sistema do capitalismo-imperialismo ao qual Biden serve. O sistema ao qual ele tem de servir — o sistema ao qual toda e qualquer pessoa tem de servir se quiser manter o cargo, e especialmente os “altos cargos”, como o de presidente, dentro deste sistema. É por isso que Biden faz o que está a fazer — o que todos estes políticos estão a fazer —, acima e para além dos interesses pessoais mais estreitos deles.

É o sistema! Este sistema do capitalismo-imperialismo que personifica e impõe a supremacia branca, a supremacia masculina patriarcal e outras opressões brutais — este sistema que se baseia na exploração implacável e rouba-vidas das massas populares nos EUA e de, literalmente, milhares de milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo mais de 150 milhões de crianças —, tudo isto imposto com violência e destruição em massa, das pessoas e do meio ambiente, constituindo uma verdadeira ameaça ao futuro e à existência da humanidade.

É este sistema que é necessário derrubar o mais rapidamente possível, através de uma verdadeira revolução.

Enfrenta a realidade e organiza-te para esta revolução

Isto não é uma questão de “tudo está bem”, protestar e votar em Kamala. Canalizar este movimento atrás de Kamala Harris não só não irá fazer NADA para acabar com o genocídio israelo-americano do povo palestino — só irá causar DANOS. Irá desviar e silenciar o protesto no preciso momento em que é necessário intensificá-lo e torná-lo ainda mais forte. E irá acorrentar as pessoas a objetivamente endossarem os crimes pelos quais saíram à rua em oposição a eles!

Isto nunca é bom, mas é especialmente errado neste momento — num momento em que a revolução de que fala Bob Avakian [BA], a revolução que é necessária para derrubar este sistema, é mais possível — sim, mesmo neste país poderoso. Numa série de mensagens nas redes sociais, REVOLUTION #8-11 e #63-66, BA fala sobre por que razão este momento é um momento pouco comum em que esta revolução poderia ter uma verdadeira hipótese de triunfar, e sobre como nos pormos a trabalhar para isso agora.

É NISTO em que todos os que querem ver o fim do massacre genocida dos palestinos, e o fim de horrores como este em todo o mundo, precisam de estar a trabalhar agora — em vez de estarem a trabalhar para reforçar este sistema num momento de grande vulnerabilidade deste sistema.

 

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