Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 4 de Agosto de 2008, aworldtowinns.co.uk

Hiroxima, Nagasáqui e... Teerão?

Por ocasião do aniversário do bombardeamento nuclear norte-americano das cidades japonesas de Hiroxima (6 de Agosto de 1945) e Nagasáqui (9 de Agosto de 1945), voltamos a reproduzir o seguinte artigo do nosso serviço noticioso de 6 de Agosto de 2007. Infelizmente, continua a ser oportuno e pertinente e a não precisar de nenhuma actualização.

Para obter mais informações sobre os únicos ataques nucleares do mundo, ver também o SNUMAG de 11 de Agosto de 2003 – “Hiroxima: Histórias de Sobreviventes” (excertos do famoso livro de entrevistas de John Hershey) – e o SNUMAG de 6 de Agosto de 2007 – “Cidades de mortos”: Fala uma sobrevivente de Hiroxima.

“Naquele verão fatídico, 8h15. O rugido de um B-229 quebra a calma matinal. Um pára-quedas abre-se no céu azul. Então, de repente, um clarão, uma enorme explosão – silêncio – o inferno na terra.”

“Os olhos das raparigas que observavam o pára-quedas derreteram. As suas caras transformaram-se em gigantescas bolhas calcinadas. A pele das pessoas à procura de ajuda balouçava das suas unhas. O seu cabelo mantinha-se pelas pontas. As suas roupas estavam desfeitas em farrapos. As pessoas apanhadas nas casas derrubadas pela explosão foram queimadas vivas. Outras morreram quando os seus olhos e órgãos internos explodiram para fora dos seus corpos. Hiroxima foi um inferno onde os que de alguma forma conseguiram sobreviver invejavam os mortos.” (Do comunicado em memória de 6 de Agosto de 2007 do presidente da Câmara de Hiroxima, Tadatoshi Akiba, num apelo a que o mundo se veja livre de todas as armas nucleares).

A 6 de Agosto de 1945, os EUA lançaram a bomba atómica sobre a humanidade. À primeira utilização de armas nucleares no mundo, contra a cidade japonesa de Hiroxima, seguiu-se a 9 de Agosto o bombardeamento de Nagasáqui.

Numa altura em que os EUA ameaçam uma guerra – incluindo o uso de armas nucleares – contra o Irão, supostamente porque o regime islâmico procura ter capacidade de produzir armas nucleares, é mais importante que nunca realçar qual foi o primeiro e único país a alguma vez ter usado de facto essas armas.

As duas bombas atómicas lançadas no fim da II guerra mundial foram deliberadamente montadas para explodir no ar, a grande altura. O objectivo era maximizar o massacre, não a destruição de edifícios. Nos dois bombardeamentos, mais de 110 000 pessoas morreram imediatamente e a radiação acabou por matar centenas de milhares mais. Os sobreviventes e os seus descendentes enfrentaram muitos anos de dolorosas mortes de cancro e posteriores defeitos de nascimento.

Se o terrorismo for definido como o massacre de civis inocentes com uma intenção política, então o mundo raramente viu tanto terrorismo. Pensem em 40 vezes o 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque e imaginarão apenas os primeiros segundos.

Pouco depois, o Japão rendeu-se. Mas a sua economia e a sua capital já tinham sido destruídas antes das bombas atómicas terem reduzido duas cidades não militares e relativamente pouco importantes a cidades de mortos. Muitos historiadores crêem que o país estava à beira da rendição antes desses dias terríveis de Agosto de 1945. A principal razão por que os EUA quiseram usar as armas atómicas foi como demonstração de força para ameaçar a URSS. A União Soviética era então um país socialista. Tinha sido uma aliada dos EUA contra a Alemanha e o Japão durante a guerra, mas mesmo antes de essa guerra ter terminado, já os EUA estavam a mostrar os seus dentes à URSS e a preparar-se para dominar o mundo.

Antes da II guerra mundial, bombardear civis era considerado um acto selvagem e ilegal. Os EUA não foram a única nação a cometer esse crime nessa guerra, mas em conjunto com os britânicos fizeram-no a uma enorme escala. Desde então, os EUA têm ameaçado usar armas nucleares em dezenas de ocasiões, não só contra a URSS quando esse país se tornou num rival imperialista dos EUA, mas também contra o Vietname e a China. Que os EUA seriam os primeiros a usar armas nucleares sempre que sintam os seus interesses suficientemente ameaçados tem sido a doutrina oficial dos EUA e a base da política militar norte-americana dos anos 50 até hoje.

Actualmente, apesar do facto de o rival dos EUA no terrorismo nuclear da Guerra Fria, a URSS, se ter desmoronado, o governo Bush iniciou um plano para redesenhar e reconstruir todas as armas do seu arsenal nuclear, o qual ainda contém, tal como o da Rússia, sensivelmente 5800 ogivas atómicas activas. Isto inclui tanto as gigantescas bombas esmaga-cidades transportadas por mísseis de longo alcance, como as menores armas nucleares “tácticas” que vaporizam alvos menores. O Laboratório de Armas Nucleares de Livermore, na Califórnia, que está a levar a cabo esse projecto, foi alvo de uma série de manifestações previstas para lembrar os bombardeamentos das duas cidades japonesas e oporem-se a um ataque norte-americano ao Irão. O uso de armas nucleares “tácticas” contra o Irão é um popular tema de discussão em Washington.

Também é criminalmente irónico que apenas uma semana antes do aniversário de Hiroxima, os governos dos EUA e da Índia tenham chegado a um acordo de assistência técnica norte-americana ao programa nuclear indiano, ao mesmo tempo que os EUA ameaçam o Irão por levar a cabo o seu próprio programa. Ao contrário do Irão, a Índia recusou-se a assinar o pacto de não-proliferação nuclear e, ao contrário do Irão, a Índia desenvolveu e testou bombas nucleares. Obviamente, para os EUA a questão não é impedir a proliferação nuclear, mas sim apoiar ou derrubar regimes segundo a percepção dos seus interesses.

Como tem dito a Agência Internacional da Energia Atómica da ONU, não há nenhuma evidência de que, neste momento, o programa nuclear do Irão inclua armas. É verdade que o nuclear é o nuclear e que muita da mesma tecnologia e capacidade usada nas centrais nucleares pode ser usada para fazer bombas nucleares. Também pode ser verdade que o regime islâmico iraniano tenta ter armas nucleares. Seria incorrecto negar esse facto e melhorar a imagem de um regime antipopular.

Mas o mundo apenas conhece um criminoso de guerra nuclear e esse criminoso deve ser impedido de o fazer novamente.

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