Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 12 de Abril de 2004, aworldtowinns.co.uk
Greve geral de três dias, um grande êxito no Nepal
O Partido Comunista do Nepal (Maoista) convocou uma greve geral de três dias para 6, 7 e 8 de Abril, por ocasião do 15º aniversário dos dias históricos de 1990. Nessa altura, as massas nepalesas cercaram o Palácio Real, respondendo a uma convocatória dos revolucionários, ao mesmo tempo que os partidos parlamentares – a Frente de Esquerda Unida e o Congresso Nepalês – capitulavam perante o Rei Birendra e traiam o povo. Este ano, a convocatória maoista para uma bandh no Nepal acontece numa situação política fluida entre os partidos parlamentares.
O PCN(M) tem dirigido uma guerra popular desde 1996 para estabelecer uma revolução de nova democracia e assim abrir as portas à revolução socialista. Essa guerra atingiu a fase de equilíbrio estratégico entre os dois lados e os maoistas preparam uma ofensiva estratégica. Neste contexto, a bandh de três dias é um importante golpe no sistema semifeudal e semicolonial do Nepal. O PCN (Maoista) lançou como slogan principal “Avançar na Grande Via do estabelecimento de uma República Popular, Fazer da greve geral de 6, 7 e 8 de Abril um grande sucesso.” De acordo com um folheto reproduzido pelo semanário Janadesh de 9 de Março, o programa de acção de um mês estabelecido pelo Partido incluía agitação e propaganda, mobilizações de massas, acções de massas e acções militares. Incluía bandhs regionais, queimas de efígies do actual rei Gyanendra e do seu filho e acções de massas contra as empresas e instituições associadas às famílias Rana e Shah (o largamente odiado núcleo da classe dominante nepalesa), para além da bandh nacional.
No decurso da preparação da greve geral, houve muitas acções militares centralizadas e descentralizadas em todo o país. O Exército Popular de Libertação dirigido pelo Partido tomou o quartel de Bhojpur do Exército Real. Cerca de 40 soldados do Exército Real foram mortos, 25 outros ficaram feridos e foram apreendidas 51 armas modernas e 10 000 munições. Três semanas antes, os revolucionários dirigidos pelos maoistas tomaram Beni, a sede do distrito de Myagdi. Aí, o EPL apreendeu 137 armas modernas e matou 150 soldados do Exército Real.
Durante o período da greve geral, o país inteiro permaneceu paralisado, incluindo cidades e vilas além de Katmandu, como Pokhara, Biratnagar, Birgunj, Bhairawha, Nepalgunj, Dhangari, Mahendranagar e outras. Em Pokhara, o Exército Real aterrorizou o povo e tentou forçar os comerciantes a abrir as suas lojas. Os que se recusaram foram espancados e torturados. Em Katmandu, o Exército Real escoltou alguns veículos e tentou mantê-los a funcionar. Mas as pessoas desafiaram corajosamente o Exército Real e a capital manteve-se completamente paralisada. A Federação Nepalesa de Câmaras de Comércio e Indústria (FNCCI) criticou o governo por usar a força para abrir as suas lojas.
Entretanto, ao mesmo tempo que a guerra popular dirigida pelos maoistas se desenvolve através de avanços e saltos, a luta dos cinco partidos políticos parlamentares, que antes tinha abrandado, recuperou algum impulso quando o PCN(M) emitiu uma declaração dizendo que apoiaria todas as formas de luta que visassem o derrube da monarquia feudal. Cerca de 25 000 pessoas participaram numa manifestação em Katmandu a 1 de Abril. Quanto mais o regime de Gyanendra tenta espezinhar o povo, mais a participação das massas aumenta.
Diferentes sectores do povo saíram às ruas. Organizações de professores, escritores, jornalistas, médicos, advogados e professores têm participado nas manifestações. A principal manifestação convocada pelos cinco partidos parlamentares foi convocada para um só dia, mas continuou no dia seguinte e demonstrou a crescente agressividade e determinação em derrubar a monarquia feudal. O regime de Gyanendra impôs um recolher obrigatório e proibiu qualquer ajuntamento, excluindo eventos religiosos, no interior da estrada circular ao redor de Katmandu. A justificação utilizada foi a de contrariar a possível penetração de maoistas nas manifestações convocadas pelos partidos parlamentares. Mas, de facto, os maoistas não são os únicos a querer o derrube imediato da monarquia feudal. Isso tornou-se uma exigência do povo em geral. Por exemplo, o semanário nepalês Jana Astha disse a 7 de Abril: “O movimento examinará a honestidade do NC [o Partido do Congresso Nepalês], do UML [o partido também parlamentar que falsamente se chama de União Marxista-Leninista] e dos líderes parlamentares, para ver quão honestos são agora que estão a dirigir a luta. Desenha-se um cenário em que o povo nunca lhes perdoará se for uma vez mais traído em troca de lugares no parlamento do rei.”
As pessoas em Katmandu gritavam palavras de ordem como Gyanendra Shah murdabad! (Abaixo o Rei Gyanendra!), Gyanendra Paras lai fasi de! (Morte ao rei e ao filho dele!) e Gyanendra Choor Des Chhod (Gyanendra, ladrão, deixa o país).
O regime abriu fogo com balas de borracha e gás lacrimogéneo CS, que é proibido internacionalmente, e espancaram os manifestantes com lathi (bastões compridos). Cerca de duas mil pessoas foram presas. Um relatório da Comissão Nacional de Direitos Humanos dizia que as autoridades estavam a negar aos detidos instalações sanitárias básicas, comida e água. Posteriormente, o exército emitiria ordens para “atirar à vista” sobre os suspeitos de serem agitadores maoistas. Na cidade de Mahendranagar, no Nepal ocidental, o Exército prendeu 25 estudantes que faziam exames para os Certificados Escolares Finais (SLC). Foram vendados e levados. O Exército Real também prendeu mais de 80 estudantes no distrito de Acham que tinham acabado de chegar do seu exame SLC. Um general terrorista declarou que esses estudantes eram todos suspeitos de serem combatentes maoistas.