Do sítio do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (publicado a 12 de fevereiro de 2024 em inglês em revcom.us/en/students-stand-against-us-backed-israeli-genocide-palestiniansresistance-and-repression-college e a 14 de fevereiro de 2024 em castelhano em revcom.us/es/estudiantes-se-ponen-de-pie-contra-el-genocidio-israeli-de-los-palestinos-con-apoyo).
Estudantes levantam-se contra o genocídio israelita apoiado pelos EUA contra os palestinos
Resistência e repressão nas universidades norte-americanas
Desde o início do genocida massacre israelita apoiado pelos EUA contra os palestinos no último outono, os campi universitários têm sido local de uma ampla indignação e protestos. Estes protestos tiveram como resposta ataques repressivos, incluindo a interdição de organizações estudantis pró-palestinas, ameaças a ativistas estudantis, o silenciamento de professores e muitas prisões. Os presidentes de duas universidades de elite foram marcados como alvos e forçados a se demitirem por poderosos políticos fascistas norte-americanos e por doadores ricos sion-nazistas [ler em inglês/castelhano] por não os terem esmagado de uma maneira suficientemente enérgica.
O início do ano académico de 2024 está a mostrar uma ainda mais extrema repressão por parte de administradores universitários: a instituição de restrições extremas; a realização de inquéritos disciplinares e a punição de ativistas estudantis; e até mesmo acusações criminais. Apesar do que está em jogo, e dos riscos, terem aumentado bastante para os que continuam a protestar e a resistir, muitos dos que se ergueram em defesa da população de Gaza, e pela humanidade, não estão a recuar.
Universidade de Columbia, Cidade de Nova Iorque: Ponto central
Uma conferência de alto perfil realizada na Universidade de Columbia a 9 de fevereiro, com Hillary Clinton, juntamente com o atual embaixador dos EUA na ONU e outros palestrantes proeminentes, foi repetidamente interrompida por manifestantes pró-palestinos. Hillary Clinton em particular foi interpelada pelo historial dela de crimes de guerra e cumplicidade com o massacre israelita com o apoio dos EUA contra os palestinos em Gaza. A conferência intitulava-se “Evitar e lidar com a violência sexual em conflitos” e foi planeada para se concentrar na “violência com base no género a decorrer na Ucrânia, Sudão e República Democrática do Congo”, bem como no que o Hamas foi acusado de fazer a 7 de outubro. Os manifestantes chamaram à conferência um estratagema de propaganda para “explorar” as questões das mulheres para justificar os crimes israelitas.
Embora seja muito possível que tenham ocorrido agressões sexuais contra mulheres a 7 de outubro, como parte do ataque reacionário contra civis israelitas feito pelo Hamas, também parece haver provas de que algumas dessas alegações foram fabricadas. De qualquer modo, a tentativa de focar a atenção das pessoas em alegados assaltos sexuais a meio de um crescente genocídio contra os palestinos é uma tentativa de justificar as atrocidades e o massacre que está a ser cometido contra o povo palestino. As interrupções ao discurso de Hilary Clinton foram justas e justificadas.
A Universidade de Columbia e o Colégio Barnard (que faz parte da universidade), na Cidade de Nova Iorque, têm sido grandes epicentros dos protestos de emergência e da revolta universitária de denúncia e oposição ao genocídio israelo-norte-americano em Gaza e ao estado racista israelita de apartheid... e à repressão.
Esta repressão tem envolvido uma censura e restrições sem precedentes dirigidas contra as ações pró-palestinas e as declarações de estudantes e professores. Visa a interdição imediata de organizações estudantis e a criação de novas políticas draconianas contra o “discurso político permissível”.
— A 10 de novembro, a Universidade de Columbia suspendeu dois grupos estudantis: a Voz Judaica pela Paz e os Estudantes pela Justiça na Palestina. A razão que a administração deu para isso foi estes grupos terem realizado um evento dito não autorizado. O evento foi uma saída das instalações e uma exposição de arte de apoio a um cessar-fogo em Gaza. A Universidade disse que esses grupos se tinham envolvido numa “retórica intimidante, ameaçadora e antissemita”. Mas eles não conseguiram citar nenhuma prova de uma tal conduta e em reuniões privadas reconheceram que as manifestações tinham decorrido pacificamente. O que deveria ter sido uma interdição temporária continua em vigor.
— No final de outubro, a administração do Barnard removeu, sem aviso, uma secção do sítio internet do Departamento de Estudos das Mulheres, do Género e da Sexualidade que incluía uma declaração de apoio ao povo palestino. Em novembro, a administração reescreveu as suas políticas de gestão do sítio e dos eventos universitários sem que isso tivessem passado por qualquer tipo de processo de revisão, dando a si mesma a autoridade para decidir que tipo de discurso é permitido. Quaisquer alterações ou adições propostas a um sítio internet do corpo docente devem agora ser aprovadas por um gabinete administrativo especial. Para impor a nova onda de censura, foi ordenado aos professores do Barnard que removessem os cartazes pró-Palestina das portas dos gabinetes deles, uma ordem que foi recebida com uma recusa generalizada e um não-cumprimento. Os estudantes do Barnard foram informados de que deixariam de poder pendurar bandeiras no lado de fora das janelas dos dormitórios — e alguns deles estão agora a ser retroativamente punidos por o terem feito. Embora tenha sido uma proibição genérica, o momento em que foi feita fez parecer com que fosse dirigida contra os estudantes que tinham pendurado bandeiras palestinas nas janelas.
— No final de dezembro, duas dezenas de estudantes do Barnard que tinham participado num protesto pró-Palestina pacífico, mas “não autorizado”, foram convocados para comparecerem perante uma comissão disciplinar universitária. Foi-lhes negado o direito a aconselhamento legal durante as audições. Após o inquérito, os estudantes foram informados de que se participassem noutra manifestação não autorizada seriam alvo de medidas disciplinares.
— A Universidade de Columbia, historicamente uma universidade aberta, instituiu uma política de “encerramento” do campus a não-estudantes e não-docentes quando se estiverem previstos protestos.
Esta repressão não ficou sem resposta. Os protestos continuaram de uma maneira desafiadora. Alguns docentes emitiram declarações fortes a condenar a interdição das duas organizações estudantis e a censura. Uma declaração de apoio ao direito e à responsabilidade dos estudantes a fazerem protestos foi assinada por mais de 150 docentes, incluindo professores e académicos proeminentes da Columbia como Mahmood Mamdani, Spivak Gayatri, Jhumpa Lahiri, Rashid Khalidi e muitos outros.
Katherine Franke, uma signatária e académica de Direito que dirige o Centro para o Direito do Género e da Sexualidade, descreveu o que está a acontecer como uma “militarização” da universidade. Numa entrevista recente (24 de janeiro de 2024), observou: “Os estudantes e docentes têm usado o campus como paleta para aprenderem mais sobre questões difíceis — é isso o que fazemos nas universidades — e para protestarem e apoiarem comunidades que são perseguidas em todo o mundo.” E como disseram dois outros membros do corpo docente da Columbia/Barnard: “a confiança está absolutamente quebrada” entre os estudantes e professores, por um lado, e a administração, por outro.
A nazificação dá um salto — ataques químicos contra os manifestantes
A 19 de janeiro, vários manifestantes estudantis na Universidade de Columbia foram aspergidos com uma substância química por estudantes sionistas numa manifestação pró-Palestina. Pelo menos oito estudantes tiveram de procurar cuidados médicos. Mas a administração da universidade, tão vocal nas suas infundadas alegações de “violência” e “ameaças” por parte dos estudantes que agem em solidariedade com o povo da Palestina, manteve-se em silêncio durante vários dias em relação a este ataque.
Acontece que o spray, chamado “skunk”, tem sido usado contra manifestantes palestinos em Gaza e na Cisjordânia. E acontece que os atacantes não eram simplesmente estudantes sionistas. Eram ex-membros da Força de Defesa de Israel (mais exatamente, a Força de Ocupação Israelita) que depois do serviço militar foram estudar para a Universidade de Columbia.
Repressão, e resistência nas universidades em todos os EUA
** Universidade de Brown, Rhode Island: Protestos sentados em novembro tiveram como resposta a prisão de mais de 60 estudantes. Mas a Brown tem sido palco de protestos renovados de apoio ao povo da Palestina. Um grupo de 19 estudantes iniciou a 2 de fevereiro uma greve da fome pró-palestinos de nove dias, exigindo à universidade que deixasse de investir em empresas que eles dizem estar a lucrar com a ocupação israelita dos territórios palestinos. Foi liderada por estudantes palestinos e judeus; e entre eles estava um colega que estava a recuperar de ter sido baleado na coluna durante o dia de Ação de Graças, juntamente com dois outros estudantes palestino-americanos, perto da Universidade de Vermont. O canal noticioso NPR relatou que centenas de outras pessoas realizaram concentrações e outros eventos de apoio aos grevistas da fome.
** Universidade de Harvard, Boston: Mais de 150 estudantes da Harvard e de outras universidades manifestaram-se na Praça do Centro de Ciências a 8 de fevereiro para exigirem que a Havard “divulgue e desinvista dos seus laços com a ocupação israelita”. O jornal Daily Crimson relatou que o protesto tinha sido organizado por seis grupos estudantis pró-Palestina.
Posteriormente, um orador do grupo Estudantes de Direito pela Palestina disse ao thecrimson.com que a concentração tinha sido planeada para “assegurar que os olhos das pessoas se mantêm em Gaza” e para responsabilizar a universidade pela sua “cumplicidade no genocídio”. Ele disse que algumas pessoas “podem pensar que as coisas estão a esmorecer. Estamos a tentar enfatizar que não estão.”
Este protesto surge num momento em que os estudantes enfrentam inquéritos disciplinares por terem organizado uma saída estudantil no final de novembro como parte de uma semana da ação. O crime deles? Pedir aos estudantes que saíssem em protesto nos últimos 15 minutos das aulas “pelos quase 15 mil palestinos [naquela data] que tinham morrido ou estavam sob os escombros”. Oito outros estudantes foram levados à Direção da Universidade por terem participado num protesto sentado de 24 horas no Hall da Universidade.
A 12 de fevereiro de 2024, quase 200 estudantes da Universidade de Harvard realizaram um simulacro de morte nas escadarias da Biblioteca Widener para protestarem contra os ataques aéreos israelitas contra Rafah, Gaza. Recitaram o poema de Refaat Al Areer “Se tenho de morrer”.
** Entretanto, na Universidade Northwestern, dois estudantes afro-americanos foram presos por terem feito uma muito criativa versão em paródia do jornal universitário Daily Northwestern que atacava a recusa da Northwestern a condenar a guerra de Israel contra Gaza. Chamando-lhe The Northwestern Daily, o título humorístico datado de 25 de outubro dizia “Northwestern cúmplice do genocídio dos palestinos”. Houve cópias afixadas nos boletins de parede do campus e centenas de cópias do jornal original tiveram a primeira página humorística enrolada à volta dele. Os sionistas ficaram horrorizados!
Os acusadores ameaçaram os estudantes com um ano de prisão e uma multa de 2500 dólares norte-americanos, com base numa obscura lei destinada a atingir o Ku Klux Klan. As acusações foram recentemente retiradas.
** Os estudantes da Universidade de Nova Iorque (NYU) integraram um número estimado de 300 pessoas numa concentração pró-Palestina no Parque da Praça Washington na quinta-feira, 9 de fevereiro, antes de se manifestarem de Manhattan a Times Square. Os oradores estudantis da NYU, da Universidade de Columbia e da Universidade Estadual de Nova Iorque apelaram a que as universidades deles deixassem de investir em Israel e apoiassem um cessar-fogo em Gaza.
** Outras universidades a nível nacional, incluindo a de Universidade de Stanford, a Universidade de Texas-Austin, a Universidade Americana em DC e muitas mais, estão de repente a impor novas regras instituídas para esmagar ainda mais os protestos universitários: proibições de acampamentos sentados noturnos; proibições de protestos internos e muito mais.
Toda esta repressão diz muito sobre o verdadeiro caráter da democracia no capitalismo-imperialismo. Quando o discurso e a ação questionam e desafiam os interesses fundamentais e estratégicos do império norte-americano... o martelo desce e a ditadura revela-se.
A recente Carta Aberta aos estudantes, docentes, administradores e todas as pessoas com consciência, de Sunsara Taylor, [inglês/castelhano] coloca de uma maneira muito acentuada o desafio deste momento:
Num momento em que continua o genocídio na Palestina e o sistema contra-ataca, será que respondes de uma maneira mais forte, defendendo aqueles que estão a ser atacados, inspirando e desafiando outras pessoas em toda a sociedade a se juntarem a ti a colocá-lo na ordem do dia até que PAREM o bloqueio e o massacre!?
Ou será que, agora que o que está em causa passou para um nível mais elevado, vais cair (ou ficar) no silêncio, engolir a tua consciência e voltar as costas ao que tantos de vocês — judeus, palestinos e outros — tão justamente começaram?
Irás lutar para transformar as universidades em pontos centrais de resistência, em assembleias de fermento intelectual e político, debatendo questões decisivas como “Reforma ou Revolução”? Ou irás permitir que a NAZI-ficação da academia norte-americana — e o terrível esfriamento que isso iria lançar a toda a sociedade?
Carta Aberta de Sunsara Taylor e uma equipa de revcoms, janeiro de 2024
Aos estudantes, docentes, administradores e todas as pessoas com consciência
Desafiamos-te a dedicares este ano decisivo — e a tua vida — a aprenderes sobre, a lutares por e a te organizares para a revolução, a única maneira de construir um futuro emancipador para a humanidade.
Lê em inglês/castelhano