Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 9 de Maio de 2005, aworldtowinns.co.uk

1º de Maio, um grande sucesso no Irão

Este 1º de Maio foi um grande sucesso no Irão porque trabalhadores e estudantes, juntamente com outras forças de oposição, desafiaram o regime e a sua máquina de repressão e organizaram programas e reuniões com palavras de ordem que variavam das exigências económicas a expressões de internacionalismo.

Os trabalhadores apelaram à constituição de organizações sindicais independentes em oposição aos Conselhos Islâmicos de Trabalhadores oficialmente sancionados e à abolição dos contratos temporários de trabalho (cerca de 90 por cento dos assalariados iranianos estão agora empregados dessa forma e os trabalhadores de empresas que empregam menos de 10 pessoas são privados de seguro e de apoios no desemprego).

Na celebração do 1º de Maio na cidade curda de Sanandaj, rapazes e raparigas levaram um pano vermelho com as palavras “Operários de todo o Mundo, Uni-vos!”. Foi a primeira vez em 25 anos que esta frase apareceu publicamente. Numa sessão muito inspiradora que decorreu no Cinema Ferdosi em Teerão, organizada por trabalhadores e estudantes de esquerda activos na constituição de sindicatos independentes, as 200 pessoas que assistiam começaram (e acabaram) a noite a cantar o hino do proletariado internacional, a Internacional, de punho erguido. O regime não interveio.

Na sexta-feira, antevéspera do 1º de Maio, houve uma concentração de 1000 pessoas numa área de piqueniques da estrada de Chaloos (que sai de Teerão para a zona norte do país). A multidão veio em cerca de 50 autocarros de muitos lugares diferentes, incluindo de outras cidades. Houve discussões em grupo. Uma das questões que agora são discutidas entre os trabalhadores que estão activos na constituição de organizações legais (em oposição às clandestinas) é saber se é melhor constituir sindicatos ou conselhos de trabalhadores. Uma tendência que defende uma organização socialista legal alegou que os conselhos são melhores porque são um híbrido entre um sindicato e um partido comunista. Em contraste, a tendência comunista presente na reunião argumentou que embora as organizações económicas (como os sindicatos) e as lutas económicas dos trabalhadores e de outros grupos sociais com exigências imediatas semelhantes sejam necessárias, a principal organização de classe da classe operária é o seu partido político, o partido comunista, para que a classe operária possa tomar o poder da única forma realmente possível, através da violência revolucionária.

Também houve outros eventos dispersos. Por exemplo, os trabalhadores da Iran Khodro (a maior fábrica automóvel) marcaram antecipadamente uma paralisação de trabalho para 1 de Maio e a administração teve que concordar com ela. Os trabalhadores organizaram uma reunião de protesto no 1º de Maio.

Outra grande vitória ocorreu quando a reunião oficial do 1º de Maio – a maior do dia – foi estragado por muitos dos trabalhadores e alguns dos estudantes entre os muitos milhares de pessoas que participavam nesse evento organizado pelo Conselho Islâmico de Trabalhadores (CIT) controlado pelo governo. Quando a multidão entrou no estádio, muitos ficaram enfurecidos por encontrarem cartazes a louvar Akbar Rafsanjani. Era claro que algumas autoridades queriam usar essa reunião para anunciar a candidatura do ex-presidente da República Islâmica a um novo mandato como presidente. O CIT tinha aprovado uma resolução que fazia eco da maior parte das exigências económicas dos trabalhadores, como a abolição dos contratos temporários, etc., e também defendia eleições presidenciais para Junho. De cada vez que o orador pedia aos trabalhadores para baterem palmas às exigências justas, eles faziam-no vigorosamente, e de cada vez que pedia às massas para baterem palmas ao Líder (o Ayatollah Ali Khamenei) ou a Rafsanjani, elas gritavam e cantavam palavras de ordem indignadas como “Xá Akbar tem vergonha! Abandona o trono!” (comparando Rafsanjani ao Xá, o monarca apoiado pelos EUA e derrubado em 1979). Quando pedia para baterem palmas à participação nas próximas eleições, os trabalhadores gritavam: “Boicote às eleições, que se inicie a greve.” Entre outras coisas, também cantaram: “Trabalhadores e estudantes, uni-vos!”

Também houve algumas frases contra o governo mas retrógradas, como “o que este regime nos fez, nem os judeus o fizeram!” (uma resposta reaccionária às alegações do regime de que o inimigo principal do povo muçulmano sempre foram os judeus) e “Deixem a Palestina em paz, encham o nosso estômago aqui!” (esta dirigida contra a ajuda ao movimento palestiniano).

A reunião de massas teve de ser cancelada a meio porque se transformou num espectáculo de desprezo ao regime. A certa altura, alguém levantou uma imagem de Maryam Rajavi (o líder do grupo de oposição Mujahedeen) e quando as forças de segurança se apressaram para o prender, os trabalhadores bloquearam a polícia. Se o apoiante do Mujahedeen tivesse sido preso, teria enfrentado uma execução imediata. Rafsanjani estava no local e era suposto falar, mas abandonou esse plano.

Isso foi uma séria derrota para o regime e um sinal dos tempos. Durante muitos anos, os trabalhadores, como os ligados aos Conselhos Islâmicos de Trabalhadores, estiveram sob o controlo do Ministério dos Trabalhadores da República Islâmica e da sua Casa do Trabalhador. Eles eram a base de apoio ao regime entre a classe operária, e em particular uma base de apoio a Rafsanjani. É interessante notar que ainda recentemente a Organização Internacional do Trabalho reconheceu os CITs como os representantes legítimos dos trabalhadores do Irão.

Houve outras celebrações do 1º de Maio em todo o país. Nenhuma reunião pública pode ser celebrada na cidade de Ahvaz, no sudoeste do país, por causa do controlo militar que aí impera depois da recente insurreição da população árabe da região.

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