Nota do Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA: Publicamos aqui a importante palestra que Raymond Lotta proferiu durante a digressão dele por universidades norte-americanas em 2009-2010. Esta versão da palestra proferida na Universidade de Harvard em abril de 2010 foi ligeiramente editada e foram acrescentadas as notas finais. Apareceu em sete partes no Revolution/Revolución, em inglês nos n.os 257, 258, 259, 261, 262, 263 e 271 (respetivamente a 29 de janeiro, 5, 12 e 26 de fevereiro, 11 e 25 de março e 10 de junho de 2012) e em castelhano nos n.os 257, 258, 259, 261, 262, 264 e 268 (respetivamente a 29 de janeiro, 5, 12 e 26 de fevereiro, 11 de março, 1 de abril e 13 de maio de 2012). Esta versão final integral está disponível em:
- revcom.us/a/257/raymond-lotta-at-harvard-pt1-en.html (em inglês) e
- revcom.us/a/257/raymond-lotta-at-harvard-pt1-es.html (em castelhano).
Tudo o que vos disseram sobre o comunismo é falso:
O capitalismo é um fracasso, a revolução é a solução
Por Raymond Lotta
1ª Parte
Estou muito contente por estar em Harvard para falar convosco sobre o comunismo. A minha palestra tem cinco temas principais:
- Como é que a atual atmosfera intelectual e académica restringe e mutila o discurso sobre o que é possível fazer no mundo.
- O que é que o socialismo e o comunismo são de facto — e o que não são.
- Como é que o “senso comum”, bem como a erudição “mais avançada”, em relação à experiência das revoluções socialistas do século XX é propagada com distorções e mentiras... e como isto rouba às pessoas a capacidade de compreensão.
- Um olhar sobre a mais importante experiência revolucionária até hoje, a Revolução Cultural na China: os seus objetivos, os seus êxitos e as suas limitações.
- Como é que a nova síntese de Bob Avakian permite à humanidade ir mais longe e fazer melhor a revolução socialista no mundo de hoje.
Espero que daqui resulte uma vigorosa e frutuosa troca de perguntas e respostas. Por isso, deixem-me começar.
Introdução: A ignorância institucionalizada
Imaginem uma situação em que os criacionistas fundamentalistas cristãos tinham tomado o poder global e que depois tinham suprimido o conhecimento sobre a evolução. Imaginem que eles tinham mesmo chegado a executar e a encarcerar os mais proeminentes cientistas e académicos que insistiam em ensinar a teoria da evolução e em levá-la ao conhecimento público. E que tinham enchido de desprezo e abuso o bem estabelecido facto da evolução, caluniando-o e ridicularizando-o como teoria distorcida e perigosa que contradiz a bem conhecida “verdade” da narrativa bíblica da criação e as noções religiosas de “lei natural” e “ordem divina”.
Para continuarmos a analogia, imaginem que, nesta situação, muitas “autoridades” intelectuais, juntamente com outras pessoas que lhes seguem os passos, apanhavam o comboio e diziam coisas como: “não só foi ingenuidade como foi mesmo criminoso acreditar que a evolução era uma teoria científica bem documentada, e não devíamos ter imposto essa crença às pessoas”. E que algumas autoridades intelectuais faziam declarações como: “Mas agora podemos ver que é ‘senso comum’, que ninguém questiona — e que nós também não iremos questionar; podemos ver que é senso comum que a evolução encarna uma certa visão do mundo e leva a atos desastrosos para os seres humanos. Fomos enganados pela confiança arrogante dos que propagaram essa ideia. Podemos ver que tudo o que existe, ou existiu, não poderia ter sido criado sem a mão guiadora de um ‘criador inteligente’.”
Para nos mantermos nesta “experiência conceptual”, suponhamos que, nesta situação, há mesmo muitos intelectuais progressistas e radicais que ficam desorientados e desmoralizados. E que são intimidados a se calarem.1
Bem, isto é uma analogia com a situação que existe na vida e no discurso intelectual em relação ao comunismo. É agora aceite sem discussão o veredicto de que o comunismo é um fracasso. Pensadores radicais que antes contestavam as mentiras anticomunistas e que abriam os seus olhos e os dos estudantes para a experiência verdadeira e libertadora da revolução comunista — muitos destes académicos progressistas aceitaram esse veredicto sem reflexão.
Vejam, nos anos 1960, o mundo fervilhava de revolução. A revolução chinesa inspirou pessoas em todo o mundo. Os movimentos mais revolucionários e de maior alcance dos anos 1960 — quer fossem os Panteras Negras ou os movimentos radicais de libertação feminina — foram influenciados pela revolução comunista, e sobretudo pela Revolução Cultural na China. E isto, por seu lado, teve um impacto nas universidades — incluindo aqui mesmo em Harvard — na forma como as pessoas viam as suas vidas e o significado e objetivos do trabalho intelectual. Mas desde a derrota da revolução na China em 1976, já lá vão quase 35 anos, tem havido uma ofensiva ideológica incessante contra a revolução comunista. E isto tem consequências importantes.
Eu sei que há pessoas nesta sala que querem fazer algo que tenha sentido com as suas vidas, em benefício da humanidade. Talvez alguns de vós queiram dedicar as vossas energias à resolução da emergência ambiental que enfrentamos... ou ensinar em zonas urbanas marginalizadas... ou ir para as artes para explorarem no campo da imaginação e da metáfora a forma como as pessoas são e poderiam ser, sobre a forma como o mundo é e poderia ser.
Mas, independentemente das vossas paixões e convicções, este sistema tem a sua própria lógica que tudo molda. Estou a falar de um sistema que funciona na base do lucro. Estou a falar de uma economia que é a base de um império: um sistema global de exploração em que os Estados Unidos se arrogam para si próprios o “direito” a fazerem guerras e a invadirem e ocuparem outros países. Estou a falar de um sistema económico protegido por instituições governamentais e por uma máquina militar de morte e destruição. Estou a falar dos valores e ideias que são promovidos nesta sociedade.
Vocês sabem que é necessário tomar medidas radicais para inverter a catástrofe ambiental iminente. Mas o que se faz — na realidade o que não se faz para enfrentar a emergência ambiental, de que a Cimeira de Copenhaga é o mais recente exemplo evidente — é motivado e limitado pelo funcionamento do mercado mundial capitalista... pelas necessidades fundamentais das multinacionais... e pelas relações de poder e lutas pelo poder entre os Estados Unidos e as outras grandes potências opressoras.
Vocês querem ensinar “verdades dolorosas” sobre a verdadeira história da América e o seu papel no mundo? Bem, vocês devem fazê-lo, mas irão ser pressionados e ameaçados e provavelmente irão ficar sem emprego. Se houver uma mulher que queira romper com as convenções e os estereótipos, irá enfrentar toda uma vida de olhares ameaçadores, ameaças físicas e imagens sexuais degradantes que refletem e reforçam tradições escravizadoras e a subordinação.
Nós precisamos de um sistema diferente. A humanidade precisa de uma “revolução total”: na economia, na política, na cultura e na moral. E a verdade é que podemos criar um mundo sem exploração onde a humanidade possa florescer. Mas, e isto é uma cruel ironia, precisamente numa altura em que o capitalismo está em crise, em que toda a sua irracionalidade e o sofrimento que inflige se intensificam exponencialmente — neste preciso momento, dizem-nos: “não é possível ir além do capitalismo; o melhor que se pode fazer é pequenos ajustes nos seus limites”.
É como se tivesse sido afixada uma etiqueta de aviso no discurso sobre a possibilidade humana. Perigo: tudo o que desafie o capitalismo de uma forma fundamental é, no melhor dos casos, um sonho impossível e, no pior, uma utopia impraticável imposta de cima, que resultará num pesadelo. Atenção: o projeto de fazer a revolução e criar uma economia e uma sociedade que promovam e sirvam o bem comum viola a natureza humana, a lógica económica e o próprio fluxo da história. Alerta: chegámos ao fim da história — a sociedade ocidental representa o ponto supremo e final do desenvolvimento humano.
Nas Universidades da Califórnia—Los Angeles (UCLA), de Nova Iorque (NYU) e de Chicago distribuímos um questionário de escolha múltipla acerca dos factos fundamentais sobre o comunismo. Não eram coisas obscuras nem enigmáticas. Fizemos perguntas como: qual foi o único país da Europa de Leste que durante os anos 1930 combateu o antissemitismo? A resposta é a União Soviética.2 Perguntámos: qual foi o único país do mundo nos anos 1960 em que o governo e os dirigentes chamaram as pessoas a se revoltarem contra a opressiva autoridade institucional? A resposta é a China no tempo de Mao.3 Os resultados das pessoas foram péssimos — a média de respostas corretas foi cerca de 58 em 100. Por outras palavras, as pessoas falharam as respostas.
Isto é vergonhoso. Porque no século XX aconteceu algo histórico a nível mundial e as pessoas não sabem as coisas mais básicas sobre isso. As primeiras sociedades socialistas foram forjadas a partir de revoluções monumentais, do levantamento dos miseráveis da Terra: na União Soviética de 1917 a 1956 e na China de 1949 a 1976. Estas foram as primeiras tentativas na história moderna de criar sociedades livres da exploração e da opressão — o socialismo. E a experiência destas revoluções... muda tudo. O mundo não tem de ser como é e nós podemos conseguir mais e fazer melhor numa nova vaga da revolução.
O socialismo e o comunismo explicados
Então, o que é o socialismo? Eliminemos alguma confusão. O socialismo não é apenas a propriedade governamental de algumas empresas nem alguma regulação governamental — porque todos os governos capitalistas o fazem. E o socialismo não é o que Obama está a fazer — Obama não é nenhum socialista.
Na realidade, o socialismo consiste em três coisas:
Primeiro, o socialismo é uma nova forma de poder político em que os que antes eram oprimidos e explorados, em aliança com as classes médias e profissionais, e a grande maioria da sociedade, governam a sociedade sob a liderança de um partido visionário de vanguarda. Esta nova forma de poder de estado mantém refreados os velhos e os novos exploradores. Ela torna possível uma democracia que: (a) desencadeia a criatividade e a iniciativa das pessoas em todo o tipo de direções e (b) dá às massas populares o direito e a capacidade de mudarem o mundo e de participarem num processo de tomada de decisões com sentido, que promove um debate de grande alcance e protege os direitos individuais. Este novo estado socialista de que estou a falar serve de plataforma de lançamento da revolução em todo o mundo.
Segundo, o socialismo é um novo sistema económico onde os recursos e as capacidades produtivas da sociedade são propriedade social através da coordenação do estado socialista, onde a produção é organizada e planeada de uma forma consciente para satisfazer as necessidades sociais e para eliminar as desigualdades da sociedade capitalista de classes — como a opressão das nacionalidades minoritárias e a subordinação das mulheres. É uma economia organizada para promover a revolução no mundo e para proteger o planeta. A exploração e a supremacia do lucro deixarão de reger a sociedade e as vidas das pessoas. As grandes empresas farmacêuticas e os conglomerados financeiro-seguradores deixarão de determinar as condições de fornecimento de cuidados de saúde e de investigação. Eles deixarão de existir. Também não haverá uma General Motors e uma Boeing a enviesar o desenvolvimento dos transportes e a produção de energia em benefício das suas necessidades de lucro.
Terceiro, o socialismo é um período histórico de transição entre o capitalismo e o comunismo, um período de luta e experimentação revolucionárias para transformar todas as estruturas económicas, todas as instituições e configurações sociais e todas as ideias e valores que perpetuam a divisão da sociedade em classes.
E o que é o comunismo? Aqui, quero ler-vos parte da declaração “A revolução de que precisamos... A liderança que temos”, do Partido Comunista Revolucionário:
O comunismo [é] um mundo onde as pessoas trabalham e lutam para o bem comum... onde todas as pessoas contribuem para a sociedade tudo o que podem e recebem tudo o que precisam para viverem uma vida digna de seres humanos... onde deixa de haver divisões entre as pessoas em que algumas dominam e oprimem as outras, roubando-lhes não só os meios para terem uma vida decente, como também o conhecimento e os meios para realmente compreenderem o mundo e agirem para o mudar.4
As revoluções russa e chinesa, durante um período equivalente a um “nanossegundo” na história humana, conseguiram fazer coisas espantosas no rumo que eu estou a descrever. Isto não aconteceu sem problemas nem sem sérias limitações... mas, enquanto existiram, essas revoluções conseguiram grandes coisas, apesar dos grandes obstáculos.
Porque é que os obstáculos eram tão grandes? Em primeiro lugar, porque os imperialistas trabalharam incessantemente para esmagar essas revoluções. As revoluções socialistas do século XX tornaram-se numa ameaça mortal (e também moral) à ordem global estabelecida de exploração, privilégios e desigualdade. Elas abriram à humanidade novas possibilidades e novos caminhos para concretizar essas possibilidades.
Mas os imperialistas não disseram a Lenine ou a Mao: “Ah, vocês querem tentar criar uma nova sociedade baseada na cooperação, querem criar uma economia planificada baseada em colocar as necessidades humanas em primeiro lugar, querem resolver os problemas da saúde e da educação e vão tentar fazer com que os que estão no fundo da sociedade a administrem cada vez mais. Ok, então porque é que não o tentam fazer durante vinte anos e depois venham cá e comparamos os resultados? Veremos então qual dos sistemas funciona melhor.”
Não! As potências capitalistas-imperialistas cercaram, pressionaram e tentaram estrangular essas revoluções. Poucos meses depois da vitória da revolução bolchevique de outubro de 1917, a França, a Inglaterra, o Japão, os Estados Unidos e treze outras potências enviaram dinheiro, armamento e tropas de apoio às forças contrarrevolucionárias na Rússia que estavam a tentar restabelecer a velha ordem de exploração e obscurantismo religioso.
Quantos de vocês sabem que o primeiro embargo de petróleo do mundo foi aplicado contra a revolução soviética? Quantos de vocês sabem que, durante todo o período entre 1917 e 1950, a nova sociedade socialista da União Soviética teve de se estar a preparar para a guerra, ou a combater uma guerra, ou a recuperar dos danos da guerra?
Ou então considerem as circunstâncias que a revolução chinesa enfrentou após a sua chegada ao poder em 1949. Passado apenas um ano, as tropas norte-americanas estavam a subir pela península coreana acima e a ameaçar invadir a própria China. Quantos de vocês sabem que, no início dos anos 1950, os imperialistas norte-americanos [através do presidente Eisenhower no seu discurso sobre o estado da nação] fizeram ameaças nucleares veladas e desenvolveram planos militares para lançar ataques nucleares contra a nova República Popular da China?5 Isto é a verdade histórica.
Foi nestas circunstâncias históricas que milhões de pessoas na União Soviética e na China fizeram a revolução e iniciaram profundas mudanças na sua situação e na sua forma de pensar. E uma outra razão porque elas enfrentavam grandes obstáculos foi o facto de essas revoluções não se estarem a desenvolver no vácuo. Elas ocorreram, tal como acontecerá com as futuras revoluções, em sociedades que ainda continham as cicatrizes e as influências da velha ordem social, incluindo as divisões de classes, juntamente com as ideias e tradições do passado. Também isto faz parte da realidade e do desafio de fazer a revolução.
É isto que vocês têm estado a aprender sobre a história do século XX? Será que vos ensinaram que nos anos 1920 — uma época em que se linchavam negros nos Estados Unidos, em que o filme racista Nascimento de Uma Nação, que exalta o Ku Klux Klan, era um dos maiores acontecimentos da cultura norte-americana — será que vos ensinaram que na União Soviética estava a acontecer algo completamente diferente? Nesse mesmo período, estavam a ser feitos na União Soviética esforços incríveis para eliminar as desigualdades entre as nacionalidades.
A nova sociedade socialista estava a levar a cabo uma luta contra o histórico chauvinismo da nacionalidade russa dominante. Foram canalizados recursos económicos e técnicos para as regiões onde estavam concentradas as nacionalidades minoritárias. O novo estado soviético estabeleceu formas de governo autónomo nessas regiões que permitiram que os povos dessas regiões se encarregassem da sua administração. Promoveu a igualdade de idiomas e chegou mesmo a desenvolver formas escritas para idiomas que antes não as tinham.6
Isto foi uma mudança extraordinária. Vejam, antes da revolução bolchevique, a Rússia era conhecida como “prisão de nações”, tristemente famosa pelos pogroms contra os judeus e pela subjugação de nacionalidades inteiras. Era uma sociedade onde, antes da revolução, as pessoas de algumas nacionalidades minoritárias eram proibidas de usar os seus idiomas nativos nas escolas.
A maioria de vocês não sabe isto porque este conhecimento foi proibido no mundo académico e na sociedade. Vocês vivem cercados e é-vos incutida a narrativa oficial de que nada de bom resultou dessas revoluções — que elas fracassaram e só poderiam ter fracassado.
2ª Parte — As mentiras e os métodos por trás das mentiras
Há um pequeno problema com isto do “senso comum” sobre o comunismo. Baseia-se na total distorção da verdadeira história da revolução socialista; baseia-se em mentiras descaradas.
Devo dizer que é surpreendente o que passa como sendo rigor intelectual quando se trata do comunismo. E, tristemente, é surpreendente o que aceitam pessoas que se orgulham de ser intelectualmente escrupulosas.
Quero desconstruir três exemplos típicos notórios de grande impacto daquilo de que estou a falar.
Chang e Halliday distorcem totalmente o significado das palavras de Mao
Comecemos pelo livro Mao: A História Desconhecida, de Jung Chang e Jon Halliday. O livro tem sido apresentado na comunicação social estabelecida como a biografia definitiva de Mao Tsétung e esteve na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times. Jung Chang e Jon Halliday querem que vocês acreditem que Mao era um hedonista cínico que assassinou dez vezes mais inocentes que Hitler. Insistem que Mao era um assassino frio — mas como não podem comprovar isso com factos, o livro está repleto de mentiras e distorções.
Vejamos o Capítulo 40 do livro, que fala do ano de 1958. Tem o seguinte cabeçalho em cada página: “O Grande Salto: ‘Metade da China pode ter de morrer’”.7 Sabem, Chang e Halliday estão a citar um discurso de Mao de novembro de 1958 em que ele disse: “metade da China pode ter de morrer”.
Eles citam isto como prova conclusiva de que Mao não se preocupava com a vida humana: ou seja, deixando metade da China morrer para concretizar uma visão alucinada de uma nova sociedade. Mas se lerem o discurso de Mao, ele na realidade está a dizer o oposto:
“Na construção de obras de irrigação, entre o inverno passado e esta primavera, removemos, a nível nacional, mais de 50 mil milhões de metros cúbicos de terra e pedras, mas deste inverno até à próxima primavera queremos remover 190 mil milhões de metros cúbicos a nível nacional, um aumento para bastante mais que o triplo. Depois temos de lidar com todo o tipo de tarefas: aço, cobre, alumínio, carvão, transportes, indústrias de processamento, indústria química — [todas elas] precisam de muitas pessoas. Neste tipo de situação, acho que se fizermos [todas estas coisas em simultâneo] indiscutivelmente metade da população da China morrerá; e se não for metade, será um terço ou dez por cento, serão 50 milhões de mortos... Anhui quer fazer tantas coisas, é muito bom fazer-se muito, mas tomem como princípio não haver nenhuma morte.”8
Mao está a salientar que o plano económico está a tentar fazer demasiadas coisas grandes de uma só vez, e que se se insistir nesse plano, bem... “indiscutivelmente metade da população da China morrerá” — e nós não queremos isso! Ele está a avisar contra o excesso de zelo — que isso poderá levar a excesso de trabalho, esgotamento e mortes — e ele está a fazê-lo de uma forma altamente dramática.
Portanto, Chang e Halliday arrancaram a frase de Mao totalmente fora do seu contexto e inverteram o seu significado. Mentiram. Isto já seria suficientemente mau. Mas esta mentira é repetida em análises, em jornais e em blogues. Propaga-se e torna-se tão frequentemente citada que se torna um facto estabelecido. Portanto, ninguém tem de provar nada. Caso encerrado: Mao era pior que Hitler. Isto é incrivelmente desonesto e perverso. E no entanto passa por erudição.
A erudição de pacotilha de MacFarquhar convertida em “verdade”
Deixem-me passar agora a uma prestigiada fonte académica com um verniz de rigor erudito. Estou a falar do livro A Última Revolução de Mao, de Roderick MacFarquhar, o muito celebrado estudioso da China aqui em Harvard, e de Michael Schoenhals. Este livro foi publicado em 2006 e é amplamente considerado como o relato “definitivo” da Revolução Cultural.
MacFarquhar descreve o contexto em que Mao iniciou a Revolução Cultural. Eis como MacFarquhar o faz: “Vários comentários indicam que Mao ansiava por uma medida de terror catalítico para desencadear a Revolução Cultural. Ele não tinha nenhum escrúpulo em tomar vidas humanas. Numa conversa com pessoas leais numa fase posterior da Revolução Cultural, o Presidente chegou a sugerir que o sinal de um verdadeiro revolucionário era precisamente o seu intenso desejo de matar”. E então MacFarquhar apresenta esta alegada declaração de Mao: “Esse homem, Hitler, era ainda mais cruel. Quanto mais cruel melhor, não acham? Quanto mais pessoas se mata, mais revolucionário se é.”9
Bem, isto é uma declaração muito sórdida. Por isso, fui às notas e fontes no fim do livro e deixem-me dizer-lhes o que diz a nota: “De uma fonte muito fidedigna vista por um dos autores”.10 Será possível acreditar nisto? Ele está supostamente a citar provas do desejo de sangue que alegadamente motivou Mao e a Revolução Cultural. E é esta a documentação que MacFarquhar apresenta? Parem e pensem nesta afronta intelectual. Fornece-se às pessoas provas de que Mao era um monstro com base num rumor totalmente inverificado e inverificável.
Isto é escandaloso. O clássico “acreditem em mim, não vos posso fornecer o discurso, a conversa ou o artigo... mas acreditem em mim, é fidedigno”. Faz lembrar George Bush ao ir para a guerra no Iraque: “Vejam, Saddam Hussein está a desenvolver armas de destruição em massa. Não posso partilhar as provas, mas confiem em mim, as minhas fontes são fidedignas.” Um rumor que se faz passar por algo sólido e incriminatório.
E depois esta declaração, que não é atribuível a Mao de nenhuma forma credível ou possível de provar, ou sem que seja especificado qualquer contexto credível, é repetida pela comunicação social estabelecida e por outros grandes senhores do mundo académico. Andrew Nathan, um conhecido estudioso da China e liberal, professor na Universidade de Columbia, inclui essa declaração atribuída a Mao na sua recensão do livro na revista The New Republic.11 Eu segui o rasto da recensão de Nathan, e ela foi reproduzida em diferentes blogues e sítios de recensão de livros.
Suponhamos agora que um de vocês na audiência está a tentar aprender sobre a Revolução Cultural e vai à Wikipédia. Bem, na entrada sobre a Revolução Cultural, encontrará a seguinte declaração de Mao Tsétung, apresentada como parte da orientação de Mao para a Revolução Cultural: “Quanto mais pessoas se mata, mais revolucionário se é”. E qual é a fonte? Adivinharam: Roderick MacFarquhar, essa eminência parda dos estudos chineses.12
A minha pergunta é: porque é que todos esses outros estudiosos não escrutinaram essa nota, em vez de repetirem essa alegação sensacionalista sobre Mao? Porque eles não têm de provar nada: o projeto comunista foi declarado um desastre e um horror. E muitos desses e outros pretensos estudiosos têm participado no tecer de uma narrativa das revoluções bolchevique e chinesa baseada em distorções e deturpações semelhantes sobre o que essas revoluções se propuseram fazer, o que essas sociedades socialistas de facto conseguiram e quais as verdadeiras dificuldades e desafios que elas enfrentaram.
Eu fiz um desafio público a Roderick MacFarquhar para um debate (o meu desafio menciona essa nota) — e os organizadores da minha digressão converteram-no num anúncio pago e submeteram-no a semana passada ao Harvard Crimson.13 Mas, adivinhem? O presidente do Crimson recusou-se a publicar o anúncio, dizendo que era “demasiado controverso”. Duh!
Onde estão os académicos progressistas? Porque é que eles não estão a denunciar isto? Porque muitos deles aceitaram esses veredictos, numa atmosfera de ataque impiedoso ao projeto comunista — enquanto outros ficaram intimidados pelo “senso comum” e por aquilo que se tornou na norma do discurso intelectual: antes que sequer se possa falar em socialismo, mesmo que de uma forma positiva, uma pessoa tem de negar a experiência da revolução socialista no século XX.
Entra Naomi Klein
De facto, estas distorções anticomunistas impregnam profundamente o pensamento político progressista. Veja-se o caso da ativista e crítica social Naomi Klein. Aqui estou a basear-me na análise de Bob Avakian que surgiu no Revolution/Revolución.14 Nas primeiras páginas do livro dela, A Doutrina do Choque, Klein descreve a situação nos Estados Unidos após o 11 de Setembro e a forma como a administração Bush a explorou.
Klein escreve: “De repente, descobrimo-nos a viver numa espécie de Ano Zero em que tudo o que conhecemos do mundo antes pode agora ser rejeitado como ‘pensamento pré-11 de Setembro’.” E ela tem razão em relação a isto. Mas depois usa a seguinte analogia: “Nunca fortes no nosso conhecimento de história, os norte-americanos converteram-se numa tábua rasa — uma ‘folha de papel em branco’ em que ‘se pode escrever as mais novas e mais belas das palavras’, como Mao disse do seu povo.”15 Klein está de facto a fazer referência a um pequeno ensaio de Mao de 1958 intitulado “Apresentação de uma cooperativa”. Mas ela retira essa passagem totalmente fora do contexto para fazer parecer que se referia ao controlo da mente das massas sem estudos por líderes totalitários.
Vejamos o que de facto disse Mao:
“Além das suas outras características, uma coisa que se destaca sobre os 600 milhões de habitantes da China é eles serem ‘pobres e em branco’. Isto pode parecer uma coisa má, mas na realidade é uma coisa boa. A pobreza cria o desejo de mudança, o desejo de ação e o desejo de revolução. Numa folha de papel em branco, livre de qualquer marca, podem escrever-se os mais frescos e mais bonitos dos carateres, podem pintar-se as mais frescas e mais bonitas das imagens”.16 E de seguida Mao salienta que as massas estão de facto a usar cartazes com grandes carateres nas cidades e nos campos para levarem a cabo debates e luta ideológica de massas — e diz que isto é um grande antídoto ao “marasmo” da sociedade.
Por outras palavras, Mao não estava a dizer, “oh ótimo, os camponeses são apenas um monte de betume que nós, os líderes, podemos moldar ao nosso gosto”. Estava a dizer o oposto do que Klein sugere. Estava a dizer que serem “pobres e em branco” não só faz com que as pessoas queiram uma mudança radical, mas também que sejam capazes de tomarem a iniciativa de lutar por essa mudança radical. E é claro, se lerem esse ensaio, que Mao está a dizer que os “mais frescos e mais bonitos dos carateres” e as “mais frescas e mais bonitas das imagens” estão a ser escritos e pintados pelos próprios camponeses — e que, sim, isso está a acontecer com uma liderança comunista.
No início do ensaio, Mao observa: “Nunca antes as massas populares estiveram tão inspiradas, tão militantes e tão ousadas como agora”. “Inspirados”, “militantes” e “ousados”: não é exatamente este o mundo em que George Bush ou Barack Obama querem que nós vivamos! Nem o estereótipo que Klein insinua de líderes comunistas a transformar as pessoas em robôs inconscientes.
Portanto, eis aqui três exemplos diferentes de propagação de mentiras e distorções notórias que reforçam a ignorância sobre o comunismo: desde os reacionários que escreveram Mao: A História Desconhecida; ao A Última Revolução de Mao do liberal anticomunista Roderick MacFarquhar; e à crítica social progressista Naomi Klein no seu livro A Doutrina do Choque. Como tenho vindo a salientar, não se pode subestimar os efeitos disto: a redução das expectativas, toda uma geração de jovens a quem é roubado o conhecimento.
3ª Parte — A Revolução Cultural na China: Do que realmente se tratava
No resto desta palestra, irei utilizar o documento Comunismo: O início de uma nova etapa — Um manifesto do Partido Comunista Revolucionário, EUA.17 Este Manifesto resume a história da revolução comunista até agora, os seus grandes avanços e as suas lições. Explica como o comunismo se desenvolveu como ciência viva, criativa e flexível, desde o seu início com Marx, passando por Lenine, até Mao e Bob Avakian. Este Manifesto fornece um enquadramento para começar uma nova etapa da revolução comunista. E deixem-me acrescentar que vocês não se podem considerar informados e atualizados sobre o pensamento humano emancipatório se ainda não leram este Manifesto.
Agora, uma das coisas que ouvimos muito frequentemente ao discutirmos o comunismo com estudantes é o seguinte: “bem, pode ser uma boa ideia, mas na prática não funciona”. Quero responder a isto, regressando justamente à Revolução Cultural e chegando ao seu significado e ao que conseguiu.
Algum enquadramento histórico
A Revolução Cultural de 1966-76 foi o auge da revolução socialista no século XX e de toda a primeira etapa da revolução comunista, iniciada com a Comuna de Paris. A Revolução Cultural foi a luta mais radical e de maior alcance da história humana pela erradicar a exploração e a opressão e para mudar a sociedade e criar novos valores e novas formas de pensar.18
Mas a “narrativa dominante” burguesa é que a Revolução Cultural foi uma purga vingativa contra os opositores de um Mao sedento de poder: uma orgia de violência sem sentido e perseguição em massa que mergulhou a China numa década de caos. Não há uma única centelha de verdade nesta narrativa. Mas antes de eu ir diretamente a isso, quero enquadrar a Revolução Cultural falando um pouco sobre a sociedade chinesa antes da revolução de 1949.
A vasta maioria da população da China eram camponeses que trabalhavam a terra, mas que tinham pouca ou nenhuma terra própria. Viviam sob o domínio de proprietários rurais que controlavam a economia local e as vidas das pessoas. Os camponeses sobreviviam desesperadamente. Nos piores anos, muitos deles tinham de comer folhas e cascas de árvores, e não era incomum as famílias camponesas venderem os filhos para cumprirem as condições das dívidas. A agricultura estava infestada de ciclos infindáveis de inundações e secas e fome. Para as mulheres, a vida era um inferno em vida: espancamentos pelos maridos, dolorosas ligaduras nos pés, casamentos arranjados, e as jovens forçadas a tornar-se concubinas dos proprietários rurais e dos senhores da guerra.
Na maior cidade da China, Xangai, calcula-se que as brigadas municipais de saúde pública recolhiam 25 mil cadáveres das ruas por ano. Ao mesmo tempo, os bairros controlados por estrangeiros resplandeciam. Num país com 500 milhões de habitantes, só havia 12 mil médicos treinados em medicina moderna e morriam 4 milhões de pessoas por ano devido a doenças epidémicas e infeciosas.19
É por razões destas que as pessoas fazem revoluções. Foi por isto que milhões de pessoas na China participaram conscientemente na luta liderada por Mao para tomarem o poder de estado e criarem uma nova sociedade.
Distorções comuns sobre a Revolução Cultural
1ª Distorção: Os chamados especialistas na China como Roderick MacFarquhar falam da obsessão de Mao com a revolução, em combater o revisionismo e impedir a contrarrevolução, como se Mao estivesse a imaginar ou a engendrar inimigos para satisfazer os seus caprichos políticos.
A verdade é que a revolução de 1949 derrubou o domínio estrangeiro, os grandes capitalistas e os latifundiários. Mas, logo desde o início, houve forças dirigentes dessa revolução cuja perspetiva da sociedade não ia mais longe que transformar a China numa grande potência industrial que tomasse o seu lugar na economia mundial e no sistema internacional de estados-nação. Estas forças transformaram-se numa nova classe capitalista centrada no interior do Partido Comunista da China e do estado e, em meados dos anos 1960, estavam a posicionar-se para tomar o poder. Os seus líderes, como Liu Shaoqi e Deng Xiaoping, tinham objetivos coerentes e um programa coerente para a China: acabar com o socialismo, restaurar a exploração em nome da eficiência e abrir a China ao capital estrangeiro em nome da interação com o mundo moderno. Foi por isto que Mao advertiu contra o revisionismo, que é um programa e um ponto de vista capitalista expressa numa terminologia marxista.
2ª Distorção: Os relatos burgueses descrevem a Revolução Cultural como uma horrível tentativa de Mao de incentivar nas pessoas um frenesim generalizado.
A verdade é que a Revolução Cultural foi uma sublevação revolucionária popular que envolveu centenas de milhões de pessoas numa profunda e intensa luta sobre o rumo da sociedade:
Iria a China socialista avançar na via socialista para o comunismo: para uma comunidade mundial da humanidade sem classes, onde todas as formas de exploração e desigualdade social seriam eliminadas, onde os homens deixarão de dominar as mulheres, onde deixará de haver nações dominantes e nações dominadas e em que o próprio mundo já não estará dividido em nações, onde será eliminada a divisão da sociedade entre os que trabalham sobretudo com as suas mãos e os que trabalham sobretudo no domínio das ideias, onde deixará de haver necessidade dos estados para imporem o domínio de um grupo da sociedade sobre os outros?
Ou iria a China socialista tomar a via capitalista de regresso às fábricas de suor e à exploração, à sobrelotação nas cidades com migrantes desesperadamente à procura de trabalho, à subordinação da mulher e ao ressurgimento da prostituição e da objetificação das mulheres — em suma, iria a China tornar-se... na China de hoje?
3ª Distorção: A narrativa burguesa sobre a Revolução Cultural fala na “desastrosa imposição das fantasias utópicas” de Mao.
A verdade é que Mao e os revolucionários que lideraram a Revolução Cultural tiveram objetivos coerentes e visionários. Que objetivos eram esses?
- Mobilizar as pessoas na sociedade para derrubar essas novas forças capitalistas e revolucionar o próprio Partido Comunista.
- Dar um novo vigor à revolução, submetendo todos os níveis de autoridade e governação à crítica e ao questionamento das massas.
- Promover os valores socialistas de “servir o povo” e pôr em primeiro lugar os interesses da humanidade mundial e desafiar a moral capitalista de maximização do autolucro e de autoenriquecimento, bem como a ideia confuciana de se curvar perante a autoridade e as convenções.
- Reconfigurar e revolucionar as instituições e o tecido da sociedade: a) para criar um sistema de ensino que, em vez de produzir uma elite privilegiada, contribua de facto para a elevação do conhecimento e das capacidades da sociedade e para a eliminação das grandes divisões da sociedade; b) forjar uma nova cultura revolucionária, como as obras revolucionárias modelo na ópera e no ballet que deram uma nova ênfase aos operários e camponeses e à sua resistência à opressão (em vez dos velhos dramas sobre a corte imperial) e que criaram poderosas imagens de mulheres revolucionárias fortes e independentes; c) criar novas instituições de base dentro das fábricas, escolas e hospitais que verdadeiramente deem poder ao povo.
Eram estes os objetivos cruciais da Revolução Cultural; não era nenhum “utopismo louco”.
Uma verdadeira revolução
Sejamos claros, a Revolução Cultural foi uma verdadeira revolução. Perturbou a rotina da vida normal; foi cheia de invenção e inovação; inspirou dezenas de milhões de pessoas mas também chocou e perturbou dezenas de milhões logo desde o seu início. As escolas fecharam; os jovens foram para os campos para se ligarem aos camponeses, os estudantes de Pequim foram a Xangai fomentar protestos nas fábricas, os operários foram encorajados a erguer a cabeça e perguntar: “Quem realmente manda aqui?” Isto tornou-se muito desordenado. Havia um debate político e intelectual generalizado: reuniões nas ruas, protestos, greves, manifestações, aquilo que ficou conhecido como os “cartazes de grandes carateres” que continham comentários e críticas às políticas e aos líderes. O papel e a tinta eram fornecidos gratuitamente, os edifícios públicos eram disponibilizados para reuniões e debates.20
Isto tinha a ver com mudar a sociedade e mudar o mundo de uma forma cada vez mais consciente. Nunca houve, nunca na história mundial houve um movimento revolucionário com esta dimensão e esta consciência. Mao via os jovens como uma força catalisadora para despertar e incitar a sociedade. Em 1966-67 havia em Pequim mais de 900 jornais em circulação.
Em Xangai, no outono de 1966, havia cerca de 700 organizações nas fábricas. No final, os operários revolucionários, com uma liderança maoista, conseguiram unir vastos setores da população da cidade para derrubarem os seguidores da via capitalista que até aí tinham governado a cidade. E o que se seguiu foi extraordinário: as pessoas começaram a experimentar novas instituições de autoridade política municipal; e a liderança maoista pôde analisar e retirar lições desta experiência e destes debates.21 Nos campos, os camponeses estavam a debater como é que os valores confucianos e o sistema patriarcal ainda influenciavam as vidas das pessoas.
E a violência?
Os relatos ocidentais típicos alegam que os violentos ataques às pessoas e a eliminação física de opositores teriam a aprovação oficial de Mao — e que, quer fosse uma política ou não, a violência arruaceira era a norma. Ambas as alegações são falsas.
A orientação de Mao para a Revolução Cultural foi claramente especificada em documentos oficiais amplamente divulgados. Na Decisão em 16 Pontos que guiou a Revolução Cultural, declarava-se: “Num debate, deve recorrer-se ao raciocínio e não ao constrangimento ou à coerção”.22 Sim, houve violência durante a Revolução Cultural. Mas: a) isso não foi a principal característica da Revolução Cultural — as suas principais formas de luta foram os debates de massas, a mobilização política das massas e a crítica de massas; b) quando os jovens ativistas Guardas Vermelhos e outros recorreram à violência, isso foi prontamente condenado e combatido pela liderança revolucionária maoista — por exemplo, em Pequim, os operários, seguindo as orientações de Mao, entraram nas universidades para acabar com as lutas facciosas entre os estudantes e para os ajudar a identificar e resolver as suas diferenças; e c) muita da violência que ocorreu durante a Revolução Cultural foi de facto incitada por altos quadros seguidores da via capitalista em defesa das suas posições privilegiadas.
Esta Decisão em 16 Pontos não era uma diretiva de circulação restrita dentro do partido que de alguma forma tenha escapado à atenção dos nossos brilhantes estudiosos académicos. Ela foi, de facto, divulgada em toda a China como orientação sobre os fins, os objetivos e os métodos dessa revolução!
Êxitos reais e sem precedentes
A Revolução Cultural conseguiu coisas extraordinárias e sem precedentes.
- Dizem-nos que Mao era anti-educação e anti-intelectual. É mentira.
Quantos de vocês sabem que durante a Revolução Cultural as matrículas nas escolas secundarias dos campos subiram de 14 para 58 milhões?23 Ou que as matrículas de operários e camponeses nas universidades dispararam? A razão por que Mao é etiquetado de “anti-educação” é que a Revolução Cultural desafiou a ideia elitista burguesa de que a educação é uma escada para as pessoas “passarem à frente” ou uma forma de usarem as capacidades e o conhecimento para obterem posições vantajosas sobre os outros.
Não era nenhum anti-intelectualismo, mas antes uma questão de pôr o conhecimento ao serviço de uma sociedade que estava a destruir as desigualdades sociais. Os antigos planos de estudos das universidades foram reformulados. O estudo foi combinado com o trabalho produtivo. Os velhos métodos de ensino, que viam os estudantes como recetores passivos do conhecimento e os professores e instrutores como autoridades absolutas, foram criticados.
- Dizem-nos que Mao não se preocupava com a vida humana. É mentira.
A China, um país relativamente atrasado, conseguiu algo que o país mais rico do mundo, os EUA, não têm conseguido fazer: fornecer cuidados de saúde universais. Como resultado da Revolução Cultural, foi estabelecido um sistema de saúde que respondeu e resolveu as necessidades dos camponeses das zonas rurais da China, que constituíam 80 por cento da população da China.
Em pouco mais de uma década após a tomada do poder em 1949, a revolução conseguiu eliminar doenças epidémicas como a varíola e a cólera. Foram lançadas campanhas de massas para lidar com o vício do ópio.24 E em conjunto com a mobilização das massas, houve uma educação em massa. Isso era uma característica muito importante e definidora dos cuidados de saúde na China socialista: maximizar a participação da comunidade e a consciência e responsabilidade das massas em relação às questões e preocupações da saúde. Houve em simultâneo uma distribuição centralizada dos recursos de saúde necessários e uma tremenda quantidade de descentralização.25
Um dos mais entusiasmantes desenvolvimentos da Revolução Cultural foi o que ficou conhecido como o movimento dos “médicos pés descalços”. Eram jovens camponeses e jovens urbanos enviados para os campos que foram treinados de uma forma rápida em cuidados de saúde básicos e numa medicina virada para satisfazer as necessidades locais e capazes de tratar as doenças mais comuns. Em 1975, havia 1,3 milhões desses “médicos pés descalços”.26
Os resultados foram espantosos. A esperança de vida no tempo de Mao duplicou de 32 anos em 1949 para 65 anos em 1976.27 Amartya Sen, o economista galardoado com o Prémio Nobel, fez um cálculo: se a Índia tivesse o mesmo sistema de saúde que a China no tempo de Mao, na Índia teriam morrido menos 4 milhões de pessoas por ano. Isto equivale a um total de mais de 100 milhões de mortes desnecessárias na Índia, num período de 25 anos desde a sua independência em 1948.28
Digam-me qual é o sistema económico e social que valoriza a vida humana… e qual é o que não o faz.
4ª Parte — A natureza humana pode mudar
As pessoas dizem que o comunismo não pode funcionar porque vai contra a natureza humana... que as pessoas são egoístas e só se preocupam consigo mesmas... que não terão nenhum incentivo para trabalharem se não puderem competir para passarem à frente dos outros. Mas isto são declarações não científicas que descrevem uma natureza humana imutável. São declarações sobre a natureza humana no capitalismo, sobre a forma como as pessoas são condicionadas a pensar e a agir NESTA sociedade.
O capitalismo produz e requer uma certa forma de pensar: a de que “primeiro estou eu”, “o vencedor fica com tudo” e “a cobiça é uma coisa boa”. E esta perspetiva e estes valores marcam tudo, todas as instituições e todas as relações na sociedade. As pessoas têm de competir pelo emprego, pela habitação, por um lugar no sistema educativo. Também têm de competir e aperfeiçoar-se no “mercado” das relações humanas. Será, então, surpreendente que nesta sociedade as pessoas sejam indiferentes, insensíveis e mesmo cruéis umas para com as outras?
É isto que o socialismo, a revolução socialista, muda. Abre todo um novo campo de liberdade para as pessoas mudarem as suas circunstâncias e a sua forma de pensar. E foi isto que aconteceu durante a Revolução Cultural.
Na China, durante a Revolução Cultural, havia um sistema económico baseado na utilização dos recursos em benefício da sociedade e da revolução mundial. Havia novas relações sociais e instituições que permitiam que as pessoas cooperassem entre si e maximizassem as contribuições que as pessoas podem fazer para uma sociedade libertadora e para a emancipação da humanidade. O sistema educativo promovia os valores de servir o povo e de usar o conhecimento não para o autoengrandecimento individual mas sim para melhorar a sociedade e a humanidade. Durante a Revolução Cultural, as pessoas mediam as suas vidas e os atos dos outros pela lente moral de “servir o povo”.
Vocês podem ler as entrevistas e os livros de académicos como Dongping Han, Bai Di e Mobo Gao. Estes autores cresceram durante a Revolução Cultural e participaram nela — e escrevem sobre como foi crescer no ambiente social da Revolução Cultural, o que para eles significava estarem num enquadramento social que valorizava a cooperação e a solidariedade. Contam como isso afetou as suas atitudes em relação às outras pessoas, o seu sentido de responsabilidade social e como a Revolução Cultural influenciou o que eles sentiam ser importante e significativo na vida.29
Uma vez mais, não estou a falar de nenhuma espécie de utopia, e também não estou a dizer que tudo foi feito de uma forma perfeita na China maoista. Mas as pessoas mudaram — porque a sociedade socialista cria este novo enquadramento que torna possível às pessoas mudarem-se a si mesmas de uma forma consciente.
E quando em 1976 o capitalismo foi restaurado na China e foram repostas as velhas relações económicas do “cão come cão”, as pessoas mudaram novamente: de regresso à velha perspetiva do “eu contra ti” e “cada um por si”. As pessoas mudaram, não porque de alguma forma se tenha reafirmado uma natureza humana primordial, mas porque a sociedade regressou ao capitalismo.
5ª Parte: Aprender com a Revolução Cultural e ir mais além
A Revolução Cultural que Mao iniciou em 1966 foi derrotada em 1976. Após a morte de Mao, um núcleo de seguidores da via capitalista levou a cabo um golpe militar. Eles prenderam os camaradas mais próximos de Mao e mataram milhares de pessoas. Essas forças contrarrevolucionárias instituíram o capitalismo, embora tenham mantido uma certa camuflagem socialista.
Como é que isto pôde acontecer? Por um lado, a Revolução Cultural teve a oposição férrea de poderosas forças neocapitalistas que ocupavam posições importantes na sociedade chinesa: no Partido Comunista, no governo e nas forças armadas. Essas forças, tal como Mao tinha salientado, faziam parte do fenómeno socio-histórico da revolução chinesa: elas eram constituídas por “democratas burgueses” que se tinham convertido em “seguidores da via capitalista”. Deixem-me explicar.
A China tinha sido uma nação subjugada pelo imperialismo. Era uma sociedade mantida atrasada e pobre pelo feudalismo. Para muitos dos que se tinham juntado ao Partido Comunista antes da tomada do poder em 1949, a revolução chinesa era essencialmente para romper com o domínio do imperialismo e transformar a China numa sociedade moderna e industrializada. E, quando a revolução conseguiu expulsar o imperialismo, essas forças, muitas das quais estavam agora em posições dirigentes, compreendiam que a tarefa da revolução era a construção do poder económico da China — usando todos os métodos que prometessem os resultados mais eficientes. Esses “democratas burgueses” convertidos em “seguidores da via capitalista” eram poderosos e tinham muita influência.
Mas isto não era tudo. A China revolucionária enfrentou enormes pressões internacionais. A União Soviética, que nos anos 60 e 70 já não era um país socialista, ameaçou fazer guerra, incluindo com armas nucleares, contra a China socialista. Isto fortaleceu as forças conservadoras dentro do partido. Elas alegavam que a efervescência e a inovação da Revolução Cultural eram demasiado arriscadas, e que era tempo de pôr fim à Revolução Cultural — e que tudo se devia concentrar na defesa, na estabilidade e na rápida modernização. E elas organizaram e mobilizaram forças sociais à volta deste programa.
Além destes fatores concretos mais imediatos, a um nível mais profundo, havia o facto de a revolução socialista ir contra milhares de anos de relações dono-escravo, de tradições e da força ideológica dos hábitos, como o de as pessoas se submeterem à autoridade e às convenções.
Foram estes fatores objetivos — a força da contrarrevolução e o monumental desafio de transformar uma sociedade dividida em classes — que principalmente contribuíram para a derrota do socialismo na China em 1976. Mas a derrota também foi condicionada, embora de uma forma secundária, por alguns erros de orientação e conceção por parte de Mao e dos revolucionários.
Para entrarmos nisto, precisamos de compreender que um acontecimento com estas proporções históricas mundiais — a derrota de uma revolução verdadeiramente transformadora que durou 27 anos num país de quase mil milhões de pessoas — requeria uma análise séria. E a única pessoa neste planeta que analisou o que aconteceu na China do ponto de vista de saber porque é que a revolução foi derrotada, as suas implicações e como é que temos de, não só avançar com base na experiência libertadora e sem precedentes da Revolução Cultural, mas também aprender com os seus problemas e ir além dela para iniciarmos uma nova etapa da revolução comunista... essa pessoa foi Bob Avakian.
A nova síntese do comunismo, de Bob Avakian
Isto leva-me à última parte da minha intervenção: como é que a nova síntese do comunismo, de Bob Avakian, permite à humanidade ir mais longe e fazer melhor a revolução comunista no mundo de hoje.
Bob Avakian tem argumentado que não só temos de defender as grandes vitórias da primeira vaga da revolução socialista. Também temos de mergulhar e entrar nos seus problemas. Temos de compreender mais profundamente onde é que essas revoluções tiveram limitações e como podemos fazer melhor. Temos de interrogar sem parcimónia a experiência da revolução proletária, não apenas os seus erros e características negativas mas também os seus pontos altos e os seus avanços. Não apenas porque não temos medo da verdade, mas também porque estamos sedentos da verdade.
Ao discutir tudo isto, vou usar ideias de obras de Avakian como Observações sobre Arte e Cultura, Ciência e Filosofia e “Fazer a Revolução e Emancipar a Humanidade”.30
Bob Avakian examinou profundamente a experiência soviética e a experiência da Revolução Cultural.
Na União Soviética do final dos anos 1930, quando crescia o perigo de um ataque da Alemanha e a sociedade estava a mobilizar-se para a guerra, a vida política e intelectual ficou cada vez mais restritiva e ossificada.31
Durante a Revolução Cultural na China, muitos artistas e intelectuais não puderam dedicar-se ao seu trabalho. Houve obras revolucionárias modelo que eram maravilhosas. Houve um florescimento das artes entre os operários e os camponeses, que antes estavam excluídos dessas esferas, como acontece numa sociedade capitalista. Mas havia o problema de haver um foco único no desenvolvimento de obras revolucionárias modelo e de não se possibilitar que as massas se envolvessem na arte — excluindo assim muitas outras coisas. Houve uma mão demasiado apertada.32
Temos de fazer melhor.
Sejamos claros: obter o poder de estado socialista é um grande feito. Deixar a contrarrevolução recapturar o poder seria uma traição não só aos sacrifícios das massas que fazem a revolução mas também às esperanças do mundo inteiro.
A revolução tem de manter um controlo firme sobre esse poder E, ALÉM DISSO, tem de garantir que esse poder valha a pena ser mantido: dever ser verdadeiramente revolucionário e emancipador. Um novo poder de estado e a liderança global de um partido de vanguarda são indispensáveis para criar um mundo novo.
Avakian diz que deve haver um “núcleo sólido” na sociedade socialista — um “núcleo sólido” enraizado no princípio de chegar ao comunismo e emancipar toda a humanidade, e de manter o poder com base nisso. Isto é essencial para realmente se estar no caminho para se chegar a uma sociedade onde já não seja precisa nenhuma liderança institucionalizada.
Com base neste núcleo sólido também deve haver a “máxima elasticidade”: uma efervescência e contestação, uma agitação das coisas, um “borbulhar” de coisas novas e inesperadas na sociedade. A liderança tem de estar a aprender com tudo isto, ao mesmo tempo que tem de lhe dar uma orientação global, para que esta elasticidade possa contribuir para o fértil processo de chegar ao comunismo.
Isto é um avanço na compreensão e na perspetiva. Requer que essa liderança seja exercida de formas que são, em certos sentidos importantes e cruciais, diferentes da compreensão e da prática das anteriores sociedades socialistas.
Tem de ser a revolução a determinar as condições. Mas não pode ser à custa da inibição da dissensão ou do abafar da riqueza da expressão individual, ou de pôr um cabresto no vasto setor médio da sociedade. Nós aprendemos que não é possível chegar ao comunismo se a sociedade não saltar completamente pelos ares, se não houver uma profunda interação entre a experiência, a descoberta e a inovação, que abra novos caminhos à mudança.
6ª Parte: A nova síntese e a efervescência intelectual e a dissensão na sociedade socialista
Bob Avakian forjou uma nova compreensão e uma nova apreciação do papel vital do trabalho intelectual e da efervescência intelectual na sociedade socialista. Isto tem de ocorrer a uma escala que é inimaginável na sociedade capitalista. Ao mesmo tempo que se está a trabalhar para ultrapassar uma situação em que só um punhado relativamente pequeno de pessoas se pode envolver no campo do “trabalho com as ideias”, também se tem de estar a dar margem e espaço aos intelectuais, artistas e cientistas.
Agora, há atitudes e valores da parte dos intelectuais — atitudes que derivam da sua posição relativamente privilegiada e da sua relativa separação das massas na sociedade de classes — contra as quais que se deve lutar. Mas toda a gente na sociedade, incluindo os que estão mais no fundo, é influenciada pela ideologia burguesa, e contra isto também devemos lutar. A forma de pensar de toda a gente, seja dos operários que podem ser quer deferentes quer ressentidos com os intelectuais, seja dos intelectuais e profissionais que podem olhar para as massas de cima para baixo... a forma de pensar de toda a gente deve ser transformada. Isto faz parte de chegarmos a ser emancipadores da humanidade.
Lidar corretamente com tudo isto é um grande desafio. Porque, uma vez mais, a revolução comunista tem como objetivo eliminar a opressora divisão social do trabalho da sociedade de classes — mas fazendo isso com a compreensão de que a efervescência intelectual e científica é essencial na busca da verdade para que se acrescente algo ao caudal do conhecimento humano, de forma a possibilitar que as massas populares conheçam mais profundamente o mundo para que este possa ser transformado de uma forma mais profunda.
Há ainda outra coisa. A indagação e a procura que caracterizam a atividade intelectual podem contribuir para o dinamismo e o espírito crítico e exploratório que têm de impregnar a sociedade socialista. Tudo isto faz parte do processo de descoberta e luta em relação aos problemas e imperfeiçoes da sociedade. Esta efervescência contribui para uma atmosfera onde as políticas, as estruturas, o rumo e a liderança da sociedade sejam debatidas e questionadas por toda a sociedade.
Agora, a sociedade socialista irá promover o marxismo. Mas o marxismo não pode ser imposto como uma “ideologia oficial” com a qual as pessoas têm de concordar para serem membros plenos da sociedade. Isto foi um problema nas anteriores sociedades socialistas. O marxismo deve ser promovido numa atmosfera em que interage e dialoga com outras correntes e discursos intelectuais, e que de facto enriqueça com isso. E, em última análise, as pessoas têm de chegar ao marxismo por si mesmas.
Dissensão e elasticidade
Este modelo de sociedade socialista que Avakian propõe dá grande importância à necessidade não só de se permitir mas também de se fomentar a dissensão, o protesto e a contestação na sociedade socialista. O socialismo tem de estar a fervilhar de descoberta e convulsão. E isto não é possível de obter se estivermos a controlar firmemente as coisas, se as pessoas estiverem a olhar por cima dos ombros, ou a “ter cuidado com o que dizem” com medo de estarem erradas.
As pessoas perguntam frequentemente: “Vocês defendem o protesto hoje, mas o que será das universidades no socialismo, haverá movimentos e protestos estudantis?” A resposta é: “Sim, e a expandirem-se!” As universidades na sociedade socialista têm de estar a efervescer com debates e dissensão intelectual em grande escala, com protestos e contestação que, sim, irão levar a perturbações. Estamos a falar de uma sociedade onde prolifera o debate e o protesto muito para além do que existe na sociedade capitalista.
Sabem, como parte desta digressão, eu elaborei uma carta aberta e um desafio ao debate a Jeffrey Sachs. Ele leciona na Universidade de Columbia e é um ávido defensor do que considera ser um capitalismo “socialmente consciente”. Ele opõe-se vigorosamente ao comunismo e vê os mercados como garantia de liberdade. Bem, pessoas como Jeffrey Sachs, ou críticos sociais como Naomi Klein e os Roderick MacFarquhar, devem ter e terão a possibilidade de exprimir, disseminar e defender amplamente os seus pontos de vista na sociedade socialista. Haverá um grande debate na sociedade sobre esses pontos de vista, como parte da luta para compreender e mudar o mundo. Não chegaremos ao comunismo sem este tipo de efervescência.
Deixem-me passar a outro aspecto desta nova síntese. Ao retirar conclusões da experiência da revolução socialista na União Soviética no tempo de Lenine e Estaline e na China no tempo de Mao, Avakian salientou um problema particular. Sim, é crucial e necessário que a sociedade socialista tenha verdadeiros focos — desde lutar pela libertação da mulher dos grilhões do sistema patriarcal a lidar urgentemente com a crise ambiental. Sim, é crucial e necessário que a liderança desenvolva políticas e ganhe as pessoas para verem a necessidade de manter as coisas numa orientação global rumo ao comunismo e que lutas resolutamente por manter a revolução a avançar.
Mas também isto tem de ser compreendido de uma forma nova. Sim, a sociedade socialista tem de estar a avançar num sentido global rumo ao comunismo. Mas as pessoas também têm de poder seguir os seus próprios pontos de vista. Têm de poder criticar de todo o tipo de formas diversas e criativas — seja os artistas e cientistas, seja as massas populares.
Isto não é um desvio do caminho da criação de um mundo novo e libertador. Esta “elasticidade” é uma parte essencial da dinâmica de chegar a esse mundo. As pessoas só podem chegar a uma compreensão mais exata da sociedade através de um debate o mais completo possível para compreenderem o que é correto e o que é errado, e para por si mesmas experimentarem, descobrirem coisas novas, cometerem erros e poderem refletir e descontrair-se.
Ora, isto é um outro grande desafio cheio de riscos. Temos de estar não só a permitir mas também a encorajar que as coisas vão em todo o tipo de direções absurdas e inesperadas; mas também temos de estar a fazer isso sem perder de vista as prioridades, e sem perder o poder. Não tenham ilusões quanto a isto, os imperialistas e os contrarrevolucionários irão tentar restabelecer a velha ordem. Há a realidade da contrarrevolução, das tentativas ativas e organizadas de sabotar e eliminar a nova sociedade. Mas também há a realidade de que não chegaremos ao comunismo a não ser que a sociedade esteja a pulsar de efervescência e experimentação, dissensão e protesto. A Constituição e o enquadramento legal da sociedade socialista têm de refletir esta compreensão e de fazer as necessárias distinções.
O que esta nova síntese sublinha é que a efervescência intelectual e a dissensão não só contribuem para uma nova e mais profunda compreensão da sociedade, não só contribuem para abrir esses novos caminhos para uma sociedade sem classes, como também, e decisivamente, são vitais para o processo de elevar a capacidade de as pessoas mudarem de uma forma mais consciente e mais voluntária a sociedade e a si mesmas.
7ª Parte: Um outro mundo, melhor, é possível
Falei da experiência da revolução comunista no século XX e da nova síntese do comunismo, de Bob Avakian. O Partido Comunista Revolucionário, EUA, tem estado a aplicar esta nova síntese. Tem estado a trabalhar sobre como uma nova sociedade socialista, conseguida com base em fazer uma revolução que acabe com este sistema, irá lidar com as principais questões sociais.
Lidar com o racismo e a opressão nacional numa nova sociedade socialista
Vejamos o problema crucial do racismo e da opressão dos afro-americanos, latino-americanos e outras nacionalidades minoritárias nesta sociedade.
As forças policiais que hoje em dia rebaixam e brutalizam os jovens e as massas nos guetos negros e nos barrios latino-americanos seriam imediatamente desmanteladas. O novo estado estabeleceria novas forças de segurança que protegeriam os direitos e os interesses das massas populares e ajudariam as pessoas a resolver as contradições e as disputas de uma forma não-antagónica — sem recurso à violência.
O novo estado revolucionário tomaria posse das fábricas, terras e minas, da maquinaria e da tecnologia. Uma nova economia socialista utilizaria estes meios de produção para desenvolver uma economia que vise satisfazer as necessidades do povo, salvaguardar os ecossistemas do planeta e promover a revolução mundial.
De imediato, o estado revolucionário canalizaria recursos económicos e sociais para os antigos guetos e barrios. Reuniria as pessoas nas comunidades com especialistas como arquitetos, planificadores estatais e cientistas ambientais. As pessoas debateriam e decidiriam que tipo de habitações, instalações recreativas e clínicas de saúde seriam necessárias.
Os jovens teriam não apenas empregos, mas empregos com sentido, que fizessem a diferença nas vidas das comunidades e na sociedade em geral. A sociedade mobilizaria os profissionais da classe média, que também desejam fazer algo de significativo com as suas vidas e que têm capacidades para partilhar. As pessoas aprenderiam umas com as outras no contexto da transformação da sociedade. As pessoas forjariam novas relações de cooperação, e levariam a cabo debates e uma luta ideológica sobre o rumo da sociedade.
O novo estado socialista proscreveria imediatamente a segregação na habitação e o sistema de ensino tipo apartheid nos EUA e promoveria a integração de toda a sociedade. A nova sociedade fomentaria o intercâmbio de experiências e ideias entre diferentes setores do povo — como os latino-americanos e os afro-americanos.
Ao mesmo tempo, o novo estado socialista apoiaria o direito à autodeterminação dos afro-americanos, ou seja, o direito a formarem um estado independente. A nova sociedade também tornaria possíveis formas de autogoverno e autonomia para os afro-americanos, os latino-americanos, os nativos americanos e outras nacionalidades antes oprimidas — e forneceria os recursos para tornar isso real e vibrante. O sistema de ensino e a comunicação social combateriam as ideias racistas e de supremacia branca e outros mitos perniciosos.
O estado revolucionário promoveria a iniciativa e o apoio às pessoas que criticarem as ideias e formas racistas ainda existentes que influenciam a maneira como as pessoas se relacionam umas com as outras e que perpetuam a desigualdade. As artes, a comunicação social e o sistema de ensino dariam voz e expressão a uma rica diversidade cultural — numa atmosfera que promova a comunidade humana.
Continuar a luta na sociedade socialista
Bob Avakian tem salientado que na sociedade socialista proliferarão as “contradições não resolvidas”. Continuará a haver tremendas lutas sociais e batalhas ideológicas que serão levadas a cabo para eliminar o sistema patriarcal e o legado de opressão das nacionalidades minoritárias. Continuará a haver diferenças sociais entre os profissionais e intelectuais e os que trabalham sobretudo com as mãos… Continuará a haver a necessidade de usar dinheiro… Continuará a haver hiatos no desenvolvimento entre as regiões.
Estas diferenças e contradições que continuarão a existir farão surgir interrogações e trarão novas ideias — mas também gerarão descontentamento e crítica e desencadearão lutas e mesmo convulsões. Será isto bom ou mau? Avakian vê isto como nada menos que uma força motivadora para continuar a revolução.
O importante é que o mundo não tem de ser como é hoje, e a nova síntese do comunismo, de Bob Avakian, abre perspetivas inacreditavelmente estimulantes para fazer a revolução no mundo de hoje.
Pensem como é que uma economia socialista e uma sociedade socialista guiadas pelo tipo de princípios de que tenho estado a falar poderiam lidar de facto com a emergência ambiental que enfrentamos. Imaginem uma sociedade que esteja a libertar energias criativas e a levar a cabo uma luta que mexa com as consciências para emancipar a mulher e transformar todas as relações entre os homens e as mulheres, questionando as noções tradicionais de género — e a própria ideia do que significa ser homem ou mulher. Pensem como a arte poderia florescer numa tal sociedade e como uma nova cultura revolucionária, com um conteúdo profundamente libertador e uma rica inovação formal, poderia criar raízes na sociedade... Ao mesmo tempo que a imaginação social e a experimentação artística voariam.
Conclusão
A experiência da revolução comunista e a nova síntese de Bob Avakian são coisas que vocês precisam de conhecer. Não são apenas questões históricas ou filosóficas interessantes. Não estamos a falar de uma discussão “mais equilibrada” no mundo académico. Aquilo de que estamos a falar é o destino do planeta e o futuro da humanidade. Aquilo de que estamos a falar é da verdade histórica e das possibilidades da humanidade.
Vocês têm estado impedidos de conhecer a vital história do comunismo, dos verdadeiros conceitos e do verdadeiro desenvolvimento do comunismo. Vocês têm estado impedidos de debater estas questões de uma forma significativa. Tudo o que vos disseram sobre o comunismo é falso. Os veredictos e o “senso comum” acerca do comunismo são um profundo obstáculo ao que é mais necessário: uma política emancipadora e um discurso de emancipador. Mas nós estamos a mudar tudo isto.
Foi-vos agora finalmente dito algo sobre o comunismo que não é falso. Por isso, entremos nele.
Obrigado.
NOTAS
1 Esta analogia é retirada de Comunismo: O início de uma nova etapa — Um manifesto do Partido Comunista Revolucionário, EUA (Chicago: RCP Publications, 2008), p. 22, paginavermelha.org/docs/comunismo-o-inicio-de-uma-nova-etapa.
2 A revolução russa de 1917 tinha trazido a emancipação política e social aos judeus num país com uma história de virulento antissemitismo e de violentos pogroms contra os judeus. A igualdade de direitos dos judeus manteve-se com José Estaline nos anos 1930 e durante a Segunda Guerra Mundial. Em contraste, os judeus na Hungria, Roménia e Polónia enfrentaram nos anos 1930 movimentos fascistas organizados e um antissemitismo institucional — e, posteriormente, os campos da morte. Ver Arno Mayer, Why Did The Heavens Not Darken? [Por Que não Escureceram os Céus?] (Nova Iorque: Pantheon, 1988), pp. 55-89.
3 No início da Revolução Cultural, Mao promoveu as palavras de ordem “É justo revoltarmo-nos contra os reacionários” e apelou ao povo a “bombardear o quartel-general” dos seguidores da via capitalista que estavam a levar a cabo políticas elitistas e opressoras. O fornecimento de materiais para cartazes e jornais, a utilização gratuita dos comboios pelos estudantes e o encorajamento na imprensa foram algumas das formas chave como a crítica e a luta de massas foram promovidas. Ver a “Decisão do Comité Central do Partido Comunista da China sobre a Grande Revolução Cultural Proletária”, Tomada a 8 de Agosto de 1966 (Lisboa: Publicações Nova Aurora, 1975); disponível online em:
- marxists.org/subject/china/peking-review/1966/PR1966-33g.htm (em inglês) e
- marxists.org/espanol/tematica/china/documentos/com.htm (em castelhano).
4 Partido Comunista Revolucionário, EUA, "The Revolution We Need… The Leadership We Have" [“A revolução de que precisamos... A liderança que temos”]:
- revcom.us/a/170/Revolution_we_need-en.html (em inglês) e
- revcom.us/a/170/Revolution_we_need-es.html (em castelhano).
5 Sobre as ameaças nucleares e os planos de guerra nuclear contra a China maoista no início dos anos 1950, ver John Wilson Lewis e Xue Litai, China Builds the Bomb [A China Constrói a Bomba] (Stanford: Stanford University Press, 1988), capítulos 1 e 2; Rosemary J. Foot, “Nuclear Coercion and the Ending of the Korean Conflict” [“A coerção nuclear e o fim do conflito coreano”], International Security, inverno de 1988/89 (Vol. 13, n.º 3), jstor.org/stable/2538737; Matthew Jones, “Targeting China: U.S. Nuclear Planning and ‘Massive Retaliation’ in East Asia, 1953-1955”: [“Objetivo China: Os planos nucleares norte-americanos e a ‘retaliação em massa’ na Ásia Oriental, 1953-1955”], Journal of Cold War Studies, outono de 2008 (Vol. 10, n.º 4); e “For Eisenhower, 2 Goals if Bomb Was to Be Used” [“Para Eisenhower, 2 objetivos se a bomba fosse usada”], The New York Times, 8 de junho de 1984, nytimes.com/1984/06/08/world/for-eisenhower2-goals-if-bomb-was-to-be-used.html; e Bernard Gwertzman, “U.S. Papers Tell of '53 Policy to Use A-Bomb in Korea” [“Documentos norte-americanos revelam a política de 1953 para usar a bomba atómica na Coreia”], The New York Times, 8 de junho de 1984, nytimes.com/1984/06/08/world/us-papers-tell-of-53-policy-to-use-a-bomb-in-korea.html.
6 Sobre a abordagem e os êxitos da revolução bolchevique no alargamento da educação às nacionalidades minoritárias, no assegurar da igualdade de idiomas e na promoção do ensino em línguas nativas, ver, por exemplo, Jeremy Smith, “The Education of National Minorities: The Early Soviet Experience” [“O ensino das minorias nacionais: A experiência soviética inicial”], Slavonic and East European Review, Vol. 75, n.º 2 (abril de 1997), jstor.org/stable/4212365.
7 Jung Chang e Jon Halliday, Mao: A História Desconhecida, (Lisboa: Bertrand Editora, 2005; São Paulo: Companhia das Letras, 2006), Capítulo 40, pp. 426-439 da edição norte-americana.
8 Mao Tsétung, “Talks at the Wuchang Conference, 21-23 November 1958” [“Intervenções na Conferência de Wuchang, 21-23 de novembro de 1958”], em Roderick MacFarquhar, Timothy Cheek e Eugene Wu, eds., The Secret Speeches of Mao Tsetung [Os Discursos Secretos de Mao Tsétung], (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1989), pp. 494-495. Chang e Halliday usam a mesma fonte em língua chinesa, mas traduzem-na de forma ligeiramente diferente.
9 Roderick MacFarquhar e Michael Schoenhals, Mao's Last Revolution [A Última Revolução de Mao] (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2006), p. 102.
10 Ibid., p. 515, nota 2.
11 Andrew J. Nathan, “The Bloody Enigma” [“O enigma sangrento”], The New Republic, 30 de novembro de 2006. A declaração que MacFarquhar atribui a Mao é proeminentemente invocada por outro “respeitado” estudioso da China numa recensão-artigo mais recente na The New York Review of Books; ver Jonathan Mirsky, “How Reds Smashed Reds” [“Como os vermelhos esmagaram os vermelhos”], 11 de novembro de 2010, nybooks.com/articles/archives/2010/nov/11/how-reds-smashed-reds.
12 Esta alegada declaração de Mao cuja fonte é A Última Revolução de Mao foi desde essa altura removida da entrada da Wikipédia sobre a Revolução Cultural.
13 “An Open Letter from Raymond Lotta to Roderick MacFarquhar” [“Uma Carta Aberta de Raymond Lotta a Roderick MacFarquhar”], Revolution/Revolución n.º 198, 11 de abril de 2010:
- revcom.us/a/198/RL_open_letter-en.html (em inglês) e
- revcom.us/a/198/RL_open_letter-es.html (em castelhano).
14 Bob Avakian, “Naomi Klein's The Shock Doctrine and its Anti-Communist Distortions—Unfortunately, No Shock There” [“A Doutrina do Choque de Naomi Klein e as distorções anticomunistas dela — infelizmente, isso não é nenhum choque”], Revolution/Revolución n.º 118, 3 de fevereiro de 2008:
- revcom.us/a/118/avakian-naomi-klein-en.html (em inglês) e
- revcom.us/a/118/avakian-naomi-klein-es.html (em castelhano).
15 Naomi Klein, A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo de Desastre (Lisboa: SmartBook, 2009; Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008), p. 20 da edição norte-americana.
16 Mao Tsétung, “Introducing a Cooperative” [“Apresentação de uma cooperativa”], em Selected Readings from the Works of Mao Tsetung [Leituras Selecionadas das Obras de Mao Tsétung] (Peking: Foreign Languages Press, 1971), pp. 499-501:
- revcom.us/a/118/mao-en.html (em inglês) e
- revcom.us/a/118/mao-es.html (em castelhano).
17 Op. cit.
18 Para uma avaliação histórico-teórica da Revolução Cultural, ver Bob Avakian, Mao Tsetung's Immortal Contributions [As Contribuições Imortais de Mao Tsétung] (Chicago: RCP Publications, 1979), capítulos 5-6, bannedthought.net/USA/RCP/Avakian/Avakian-MaoTsetungImmortal-Searchable.pdf; e Comunismo: O início de uma nova etapa — Um manifesto do Partido Comunista Revolucionário, EUA, op. cit., II.
19 Jonathan D. Spence e Annping Chin, The Chinese Century [O Século Chinês] (Nova Iorque: Random House, 1996), p. 84; Fredric M. Kaplan, Julian M. Sobin e Stephen Andors, Encyclopedia of China Today [Enciclopédia da China Hoje] (Nova Iorque: Harper & Row, 1979), p. 233.
20 Sobre as fases iniciais da Revolução Cultural, ver Jean Daubier, História da Revolução Cultural Chinesa (Lisboa: Editorial Presença, 1974), e Han Suyin, Wind in the Tower [Vento na Torre] (Boston: Little, Brown, 1976), capítulos 3-5.
21 Sobre as lutas de massas em Xangai, ver Daubier, op. cit., e também Elizabeth J. Perry e Li Xun, Proletarian Power: Shanghai in the Cultural Revolution [Poder Proletário: Xangai na Revolução Cultural] (Boulder: Westview Press, 1997). Sobre a forma como Mao analisava as experiências das massas e dava orientações na luta para forjar novas instituições de poder, ver Raymond Lotta, Nayi Duniya e K. J. A., “Alain Badiou's ‘Politics of Emancipation’: A Communism Locked Within the Confines of the Bourgeois World” [“A ‘política da emancipação’ de Alain Badiou — Um comunismo encerrado dentro dos confins do mundo burguês”], Demarcations, verão-outono de 2009, capítulo 6, II:
- demarcations-journal.org/issue01/demarcations_badiou.html (em inglês) e
- demarcations-journal.org/translations/Demarcaciones_01.pdf (em castelhano).
22 Do Ponto 6 da “Decisão do Comité Central do Partido Comunista da China Sobre à Grande Revolução Cultural Proletária”, op. cit., p. 11.
23 Suzanne Pepper, “Chinese Education after Mao” [“O ensino chinês depois de Mao”], China Quarterly n.º 81, março de 1980, pp. 6-7. Para ler estudos relevantes sobre a expansão do ensino nos campos e a transformação da educação durante a Revolução Cultural, ver Dongping Han, The Unknown Cultural Revolution: Educational Reforms and Their Impact on China's Rural Development [A Revolução Cultural Desconhecida: As Reformas no Ensino e o Impacto delas no Desenvolvimento Rural da China] (Nova Iorque: Garland Publishing, 2000); e Ruth Gamberg, Red and Expert: Education in the People's Republic of China [Vermelho e Especialista: O Ensino na República Popular da China] (Nova Iorque: Schocken, 1977).
24 Ver Kaplan, et al., op. cit., pp. 233 e 242; e C. Clark Kissinger, “How Maoist Revolution Wiped Out Drug Addiction in China” [“Como a revolução maoista erradicou o vício da droga na China”], Revolutionary Worker/Obrero Revolucionario n.º 734, 5 de dezembro de 1993:
- revcom.us/a/china/opium.htm (em inglês) e
- revcom.us/a/china/opium-s.htm (em castelhano).
25 Victor W. Sidel e Ruth Sidel, Serve the People: Observations on Medicine in the People's Republic of China [Servir o Povo: Observações sobre a Medicina na República Popular da China] (Boston: Beacon Press, 1973), pp. 22-24.
26 Teh-wei Hu, “Health Care Services in China's Economic Development” [“Os Serviços de Saúde no Desenvolvimento Económico da China”], em Robert F. Dernberger, ed., China's Development Experience in Comparative Perspective [A Experiência do Desenvolvimento na China numa Perspetiva Comparada] (Cambridge: Harvard University Press, 1980), pp. 234-238.
27 Penny Kane, The Second Billion [O Segundo Milhar de Milhão] (Hammondsworth: Penguin, 1987), p. 172.
28 Ver Jean Dreze e Amartya Sen, Hunger and Public Action [Fome e Ação Pública] (Oxford: Clarendon Press, 1989), pp. 205 e 214, polsci.ucsb.edu/faculty/glasgow/ps15/DrezeSen.pdf. Noam Chomsky usa as taxas de mortalidade comparadas de Dreze e Sen para chegar a esta estimativa de 100 milhões de mortes desnecessárias na Índia (ver “Millennial Visions and Selective Vision, Part One” [“Perspetivas milenaristas e perspetiva seletiva, 1ª Parte”], Z Magazine, 10 de janeiro de 2000, znetwork.org/zcommentary/millennial-visions-and-selective-vision-part-one-by-noam-chomsky/).
29 Ver Bai Di, “Crescer na China revolucionária”, entrevista, Revolution/Revolución n.º 161, 12 de abril de 2009, paginavermelha.org/noticias/crescer-na-china-revolucionaria; Dongping Han, “A Revolução Cultural desconhecida: Vida e mudança numa aldeia chinesa”, transcrição editada de uma palestra, Revolution/Revolución n.º 174, 30 de agosto de 2009, paginavermelha.org/noticias/a-revolucao-cultural-desconhecida-vida-e-mudanca-numa-aldeia-chinesa (versão resumida em português); Mobo Gao, Gao Village [A Aldeia de Gao] (Honolulu: University of Hawai’i Press, 1999).
30 Bob Avakian, Observations on Art and Culture, Science and Philosophy [Observações sobre Arte e Cultura, Ciência e Filosofia] (Chicago: Insight Press, 2005), alguns excertos do qual estão disponíveis em:
- revcom.us/en/bob_avakian/collected-works (em inglês) e
- revcom.us/a/195/Observaciones-es.html (em castelhano);
“Making Revolution and Emancipating Humanity” [“Fazer a revolução e emancipar a humanidade”], em Revolution and Communism: A Foundation and Strategic Orientation [Revolução e Comunismo: Uma Base e Uma Orientação Estratégica] (Chicago: RCP Publications, 2008):
- revcom.us/en/avakian/makingrevolution/ (em inglês) e
- revcom.us/avakian/makingrevolution/makingrevolution-pt1-es.html (em castelhano).
31 Bob Avakian, “On Communism, Leadership, Stalin, and the Experience of Socialist Society” [“Sobre o comunismo, a liderança, Estaline e a experiência da sociedade socialista”], Revolution/Revolución n.º 168, 21 de junho de 2009:
- revcom.us/avakian/on_communism-en.html (em inglês) e
- revcom.us/avakian/on_communism-es.html (em castelhano).
Versão áudio disponível em inglês sob o título On Leadership em bobavakian.net/audio4.html.
32 Ver Bob Avakian, “The Cultural Revolution in China... Art and Culture...Dissent and Ferment...and Carrying Forward the Revolution Toward Communism” [“A Revolução Cultural na China... arte e cultura... dissensão e fermento... e fazer avançar a revolução rumo ao comunismo”], Revolution/Revolución n.º 260, 19 de fevereiro de 2012:
- revcom.us/a/260/avakian-on-cultural-revolution-in-china-en.html (em inglês) e
- revcom.us/a/260/avakian-on-cultural-revolution-in-china-es.html (em castelhano).
Tradução: paginavermelha.org
Revisão: julho de 2024