Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 8 de janeiro de 2018, aworldtowinns.co.uk
Texto integral da Análise do Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista) Sobre a Insurreição dos Oprimidos no Irão
Combateremos a República Islâmica do Irão,
organizaremos o povo para a revolução!
Morte à República Islâmica –
Lutar por uma nova república socialista no Irão!
“O marxismo consiste em milhares de verdades, mas todas elas se resumem a uma frase: é justo revoltarmo-nos contra os reacionários!” (Mao Zedong)
Uma enorme tempestade social emergiu para enterrar o regime islâmico do Irão. A voz apaixonada e jovial da luta daqueles que têm estado silenciados e arqueados sob a opressão dos islamitas corruptos atravessou toda a sociedade. As pessoas avançaram sem medo para o centro do perigo já que veem um horizonte em que a República Islâmica do Irão [RII], que tem governado o país com tirania religiosa há 40 anos, pode deixar de existir. Com passos firmes e sólidos, temos de continuar a avançar para chegarmos ao ponto em que, sobre as ruínas da República Islâmica, construiremos um estado e uma sociedade novos e fundamentalmente diferentes. Não devemos permitir que as grilhetas da opressão apenas estremeçam mas não se quebrem, como aconteceu em 1979. Os fascistas religiosos chegaram ao poder no Irão através do roubo de uma revolução, e isso não só foi um desastre para o Irão e o povo iraniano como também levou ao reforço de movimentos islamitas reacionários no Médio Oriente e no Norte de África. No interesse da maioria dos oprimidos que se puseram de pé e no interesse da emancipação da humanidade, não devemos permitir uma repetição de uma tal catástrofe.
A legitimidade da República Islâmica já era frágil mesmo antes desta grande convulsão, mas agora deteriorou-se ainda mais, irrecuperavelmente. O movimento popular passou rapidamente das reivindicações económicas e do descontentamento em relação à inflação para palavras de ordem como “Morte a Khamenei!” [o “Líder Supremo” da RII]. Neste momento, o regime recuou, baixando o preço de alimentos como os ovos, suspendendo a subida do preço do petróleo e devolvendo os depósitos àqueles a quem os bancos tinham roubado o dinheiro – mas isto só resultou num riso escarnecedor entre o povo e em frustração entre os governantes.
Os dirigentes da República Islâmica estão tão preocupados que todos os dias fornecem novas razões para análise e especulação. As divisões há muito existentes entre eles estão a aprofundar-se e eles são incapazes de chegar a uma solução unificada. Não há uma solução comum, mesmo dentro das principais fações do regime (reformistas e conservadores). Ao mesmo tempo que ordenam a repressão, estão aterrorizados com a reação e apelam à tolerância. As várias fações do regime estão envolvidas numa contabilização política entre elas, com cada uma delas a atribuir a causa e a origem da insurreição popular à “ineficiência” das outras fações e às “conspirações” e “destrutividade” delas. As divisões que se estão a abrir dentro do sistema dominante deram aos oprimidos e às massas destituídas uma oportunidade para se porem de pé e se revoltarem. A rivalidade entre estas várias fações e a sua necessidade de exporem o roubo e a corrupção das outras, bem como a divulgação pelo Presidente Rouhani de que a maior parte do orçamento nacional foi atribuído a instituições religiosas, alimentaram a fúria do povo. Não interessa exatamente onde é que começou a insurreição popular. A insurreição não foi causada por estas lutas mas beneficiou delas. A causa da insurreição e dos protestos é o sistema económico capitalista que se caracteriza pela tirania religiosa, pela injustiça e pela extrema discriminação, pobreza, subemprego e elevado desemprego e repressão de todas as formas de protesto. Esta exploração e repressão e a imposição de vários tipos de discriminação social, incluindo sob a forma da opressão das mulheres e dos povos de diferentes nacionalidades, são intrínsecas à própria existência da República Islâmica do Irão. A principal causa da insurreição popular está nas relações económicas do capitalismo: por um lado, a riqueza produzida pelo labor de milhões de pessoas está concentrada nas mãos de um pequeno grupo de parasitas e, por outro, as massas são privadas dos frutos do próprio trabalho delas e não têm os mais básicos direitos humanos. Todo o aparelho repressivo militar, de segurança e ideológico está a proteger estas relações.
Em termos do conteúdo dos slogans da insurreição e da determinação que está a ser mostrada, só é comparável ao movimento de massas que surgiu contra o regime do Xá em 1978-1979. Em termos políticos, esta insurreição visa todo o sistema e os seus governantes. Em termos da extensão e composição de classe e dos círculos envolvidos na luta, da amplitude geográfica e do radicalismo político e prático, não tem paralelo na história da República Islâmica do Irão.
Enquanto na insurreição de 2009 foram basicamente as classes médias em várias grandes cidades e sobretudo na capital Teerão que foram tentar recuperar os seus votos roubados, desta vez as forças motrizes do movimento são sobretudo a classe operária, os trabalhadores e as massas de pobres e desempregados concentrados nas pequenas cidades, alguns dos quais têm mesmo uma educação universitária. O slogan “Morte a Khamenei”, que está a ser gritado hoje em várias cidades ao mesmo tempo que as pessoas arrancam as fotografias de Khamenei e de Khomeini, está a funcionar de uma maneira muito semelhante ao slogan “Morte ao Xá” em 1979, juntamente com o derrube das estátuas do Xá. O slogan “Morte ao Xá” foi a expressão do ódio das massas a um regime tirânico e o slogan “Morte a Khamenei” é a concentração do ódio público à República Islâmica e aos horrendos crimes e injustiças que a classe capitalista exploradora e os islamitas que defendem os seus interesses têm imposto ao povo ao longo de quatro décadas. Slogans como “Vocês transformaram o Islão num trampolim para tornarem as pessoas miseráveis”, “Vocês idolatram Hussein [um conhecido mártir islâmico xiita], enquanto o estupro é a vossa rotina”, “Morte ao regime dos mulás”, “Morte à administração do Jurista Islâmico [Velayat-e Faqih]” e os ataques a mesquitas, seminários e centros de propaganda islâmica, estão todos a visar claramente a religião e o estado teocrático. E slogans como “Vocês, reformistas, conservadores, o vosso tempo chegou” estão a apelar a uma transição para fora das fações “conservadoras” e “reformistas” do regime e a sugerir a necessidade de derrubar o regime da República Islâmica.
Todas as forças políticas da velha ordem, de Trump e Netanyahu aos Mujahideen do Irão e aos monárquicos, estão a lutar para gravarem os nomes reacionários delas neste movimento e para imporem as alternativas delas, as quais não são qualitativamente diferentes das da atual ordem. Os líderes dos Mujahideen estão – com o apoio dos imperialistas – a tentar encontrar um lugar para eles na ordem da República pós-Islâmica, tornando o “mercado livre” capitalista no Irão “ainda mais livre”. Os defensores da monarquia, cuja dinastia opressora já foi derrubada pelo povo, estão a apelar às pessoas que regressem ao passado, mesmo sabendo que a República Islâmica é a continuação dos mesmos crimes e das mesmas relações de classe exploradoras que a monarquia representou.
É uma lição vital da história da luta iraniana que os governos mudam, que as coroas reais rolam nas ruas, mas se as massas populares se deixam serem enganadas pelos programas das classes reacionárias, se não houver nenhum horizonte nem programa para uma genuína libertação – se os horizontes e o programa da revolução comunista não estiverem disponíveis e não forem assumidos pelas lutas do povo, então as grilhetas da opressão e da servidão nunca serão feitas em pedaços e outras rondas de opressão e atraso irão começar sob uma forma diferente. Durante a revolução de 1979, o turbante e o púlpito substituíram o trono; isto não só não gerou nenhuma mudança positiva na vida do povo como de facto piorou as coisas centenas de vezes.
A classe média ainda não se juntou à insurreição, e embora as “mãos invisíveis” da economia capitalista a tenha comprimido continuamente para baixo e os seus interesses fundamentais residam em mudanças radicais na sociedade, apesar disto, com base na posição de classe dela, está aterrorizada com as insurreições radicais, com a revolução social e com os estratos empobrecidos que são a força motriz dessas insurreições. A satisfação desta classe com o sistema e com o seu próprio estatuto social desempenha um importante papel na estabilidade do regime. Contudo, hoje a República Islâmica do Irão não consegue estabilizar a vida socioeconómica mesmo para estes estratos.
O regime islâmico do Irão tem de ser derrubado. Qual é o conteúdo social deste derrube e que tipo de república deve ser construído sobre as suas cinzas para representar os interesses imediatos e de longo prazo da maioria do povo, incluindo os operários, os trabalhadores das cidades e das zonas rurais, as mulheres, os intelectuais progressistas, as classes médias, as diferentes nacionalidades e os imigrantes afegãos? A separação entre religião e estado é uma justa e correta reivindicação que pede uma insurreição popular.
A República Islâmica é um regime autocrático gerido por um punho de ferro de segurança e repressão militar. O seu aparelho repressivo militar e de segurança tem de ser destruído. A República Islâmica é um sistema social cujo mecanismo se baseia na degradação e subjugação da mulher. A liberdade e a igualdade da mulher na lei, na família e na sociedade devem ser asseguradas e os homens têm de transformar profundamente a sua maneira de pensar e o seu comportamento em relação às mulheres. A constituição da República Islâmica do Irão classifica o seu povo em termos de género, nacionalidade e religião e atribui a cada grupo diferentes direitos “legais”. A República Islâmica opõe-se aos direitos e às vidas dos homossexuais. A igualdade legal incondicional de todas as pessoas que vivem no país, sem nenhuma discriminação nem distinções baseadas no género, na nacionalidade, no idioma, na orientação sexual ou nas crenças tem de ser assegurada. A República Islâmica é uma força militar agressiva que fornece serviços militares e de segurança a regimes reacionários como os do Iraque e da Síria e a grupos reacionários como o Hezbollah e o Hamas e que comete crimes contra os povos destes países. O derrube deste regime e o estabelecimento de uma república socialista assegurarão a liberdade e a independência de todos os povos da região. A República Islâmica é um estado e um sistema capitalista dependentes do imperialismo. O derrube da República Islâmica é o primeiro passo para cortar ao sistema capitalista mundial a mão que paira sobre a vida económica, social e política deste país.
A República Islâmica, baseada na economia capitalista movida pelo lucro e numa gestão incompetente, tem devastado o meio ambiente e privado os 80 milhões de habitantes do país de água e ar limpos. Sem se derrubar este regime, nem sequer pode ser dado o primeiro passo para se restabelecer o meio ambiente. Este sistema político-ideológico e socioeconómico é a fonte da corrupção, da fraude e do saque do país, incluindo dos seus recursos naturais e da sua riqueza financeira, levados a cabo pelos dirigentes homens de estado da República Islâmica.
Os slogans do povo
Muitos dos slogans deste movimento são ricos e educativos e gravaram importantes factos nas mentes de pessoas, mas reivindicações e slogans chave como a abolição do véu obrigatório e a liberdade e igualdade para as mulheres e a eliminação da opressão nacional contra as nações não-persas não têm sido expressas em nenhum dos protestos e concentrações. Além disso, alguns slogans são inteiramente contra os interesses do povo – por exemplo, slogans de apoio ao regresso da família real do Xá ao Irão que resultam de uma análise superficial e espontânea da República Islâmica. Temos de olhar de uma maneira mais profunda para ver as características comuns entre este regime e o regime do Xá, apesar de grandes e importantes diferenças. Um outro exemplo é o slogan a favor de uma “República Iraniana”, o qual está em contradição total com a noção de “republicanismo”, já que o republicanismo se baseia no princípio da igualdade total dos cidadãos do país, sejam eles iranianos ou não. Além disso, o conteúdo social de uma tal república é confuso e obscuro. No meio da agitação, a maneira de pensar das pessoas deve ser desviada para longe do racismo e do nacionalismo e transformada com base na coexistência de todas as nações que habitam o Irão, bem como na solidariedade internacional. Esta insurreição só pode subsistir se mudar tudo, incluindo a maneira de pensar das pessoas que estão a lutar por esta causa e dispostas a sacrificar as suas vidas por ela.
Nalgumas manifestações, as pessoas gritaram o slogan “Saíam da Síria, pensem em nós”. Embora o slogan se oponha aos crimes dos Guardas Revolucionários do Irão na guerra síria, a segunda parte, “pensem em nós”, mostra claramente que as pessoas que gritam este slogan não estão preocupadas com o facto de a Guarda Revolucionária apoiar o regime brutal e criminoso de Bashar al-Assad e de ser a principal causa da devastação e destruição na Síria. O melhor slogan para chamar a atenção para o que realmente está a acontecer é: “Cortar as mãos da Força Quds na Síria!” [referindo-se ao braço da Guarda Revolucionária que combate na Síria]. O mesmo acontece com o slogan “Nem Gaza nem Líbano, a minha alma é para o Irão”. Gaza e o Líbano, tal como o Irão e o resto do mundo, são terrenos onde diferentes forças políticas estão a manobrar. Na Faixa de Gaza e no Líbano, a República Islâmica está a apoiar grupos tão corruptos como ela própria. O sofrimento dos povos do Líbano e de Gaza, bem como da Síria, do Egito e da Turquia, está totalmente enraizado no sistema capitalista. Em cada um destes países, de acordo com as características e os eventos da história, diferentes regimes estão sentados no cume deste sistema social explorador, mas todos eles são essencialmente o mesmo. Em resultado disto, o nosso movimento para uma verdadeira revolução no Irão, quando der o seu primeiro passo, i.e., o derrube deste regime islâmico, será uma lufada de ar fresco que soprará por todo o Médio Oriente e dará aos povos da região as boas notícias de que há uma maneira de estabelecer um sistema social justo e decente com igualdade, liberdade e autonomia.
Trump e Khamenei, líderes de dois sistemas sociais obsoletos e reacionários
Trump, o presidente fascista dos Estados Unidos, e o vice-presidente dele, Michael Pence, cuja maneira de pensar religiosa opressora não é muito diferente da dos mulás do Irão, têm dito que apoiam a insurreição no Irão. Os dirigentes da República Islâmica têm exprimido ódio a este apoio e têm feito disto uma arma para asfixiar a insurreição popular. Também nós exprimimos a nossa desaprovação, mas por uma razão qualitativa e fundamentalmente diferente. A razão para o nosso ódio é que o regime fascista de Trump e Pence, tal como a República Islâmica, representa um sistema social obsoleto, decadente e opressor e uma maneira de pensar e valores opressores, reacionários e opressores. O regime de Trump e Pence é profundamente misógino e defende que as mulheres devem ser subordinadas aos homens e que o papel social das mulheres deve ser procriar e servir os homens. De facto, o regime de Trump e Pence quer imitar o modelo da República Islâmica de imposição de leis religiosas para gerir a sociedade e forçar a sociedade a obedecer a regras bíblicas. O regime fascista de Trump e Pence quer substituir o regime do Irão por um poder como o da Arábia Saudita para melhor servir os interesses dos EUA. Portanto, num movimento para a revolução cujo objetivo seja o derrube do regime islâmico do Irão e do seu sistema político-ideológico e socioeconómico, o slogan “Em nome da humanidade, abaixo o regime fascista de Trump e Pence” deve ser um dos principais slogans e devemos construir uma unidade internacional com o movimento que nos Estados Unidos estabeleceu como seu objetivo expulsar esse regime. Nunca devemos esquecer a declaração internacionalista de Mao Zedong: “Eles têm as suas próprias pessoas aqui e nós temos as nossas próprias pessoas lá”. As nossas pessoas nos Estados Unidos são os negros, os latino-americanos e os nativos americanos que têm sido alvo de genocídio por parte dos governos norte-americanos. As nossas pessoas são os comunistas revolucionários e as mulheres e os homens que lutam pela emancipação da humanidade contra esse estado imperialista, e em particular, hoje, aqueles que lutam pelo derrube do regime fascista de Trump e Pence.
Planos para reprimir a insurreição
Apesar do facto de os Guardas Revolucionários terem declarado que “a situação está sob controlo e não há necessidade de os Guardas Revolucionários intervirem”, a política geral da República Islâmica é que, nas condições em que a convulsão social se está a expandir, os Guardas Revolucionários islâmicos irão intervir e pôr a polícia e a Basij [a milícia reacionária] sob o seu controlo. A amplitude e o caráter disperso da convulsão de hoje é uma importante vantagem, impedindo o controlo dos Guardas Revolucionários e das agências de informações. Pelo que eles irão tentar intensificar o controlo deles sobre as grandes cidades. O caráter jovem e altamente móvel deste movimento assustou as forças repressivas, especialmente nas pequenas cidades. Face à brutal repressão que a polícia e a Basij estão a usar contra os manifestantes, as pessoas têm o direito óbvio a defender as vidas delas através de uma resistência violenta.
Porém, devemos notar e lembrar que o fim das forças armadas da República Islâmica será decidido numa batalha que seja planeada com uma estratégia de “guerra popular prolongada”. Esta guerra deve organizar dezenas de milhares de jovens e mulheres numa luta para garantir a vitória. Os ativistas do Partido têm de aproveitar todas as oportunidades possíveis para elevar a consciência dos jovens envolvidos na atual luta sobre esta estratégia e as exigências delas.
O aparelho repressivo da República Islâmica anda de mãos dadas com os seus truques políticos, com a política central de “dividir para reinar”. Hoje, a principal política do regime, por causa da liderança dos reformistas, envolve mobilizar os estratos médios, aterrorizando-os com medo da “Síria-zação do Irão” e da instabilidade social. Há uma pressão sobre os artistas e os atletas que votaram em Rouhani durante as eleições presidenciais para que mobilizem uma vez mais a classe média contra as massas, ao serviço dos interesses do sistema, e desta vez não só para arrastar as pessoas para as urnas eleitorais mas para reprimir o movimento popular insurrecional. Antes de o movimento ter começado, os Guardas Revolucionários tinham planos para ocupar as ruas de Teerão a coberto de se oporem ao assédio de mulheres e crianças nas ruas – e isto teve a oposição do Ministro do Interior. É mesmo provável que este tipo de atos criminosos seja alimentado pelos próprios gângsteres da Guarda Revolucionária, para fornecer cobertura a ganharem o apoio dos estratos médios que temem a insurreição. O medo da “Síria-zação do Irão” é outra ameaça que assusta as classes médias. No entanto, este perigo só pode ser eliminado pelo derrube de todo o aparelho militar e de segurança da República Islâmica. De facto, hoje, os vários gangues no governo dividiram o Irão entre eles, cada um com o seu próprio exército e forças de segurança leais e um monopólio sobre os recursos financeiros.
Os intelectuais e os artistas têm de escolher um lado e reconhecer o facto de que as pessoas estão a rejeitar todo o sistema. Eles devem apelar aos estratos médios e ultrapassar as divisões entre os estratos médios e os estratos mais baixos, as quais têm sido vistas nos centros de voto com longas filas no norte de Teerão (os bairros mais ricos) e nos centros de voto vazios no sul de Teerão (os bairros pobres). É uma reivindicação popular que os intelectuais e os artistas avancem e apoiem o movimento popular que ameaça o governo.
A continuação deste movimento depende do seu desenvolvimento num movimento para uma verdadeira revolução
Não há dúvida nenhuma de que o movimento insurgente terá muitos altos e baixos. Estes altos e baixos são causados por enganos e jogos políticos vindos de diferentes fações e figuras do regime, pelos planos repressivos do Ministério das Informações, pelo Ministério da Justiça, pelo exército e pelos Guardas Revolucionários e as forças da Basij, bem como pela ausência de uma estratégia coerente e de uma liderança no próprio movimento.
O nosso Partido irá denunciar regularmente estes truques e planos e os seus ativistas irão trabalhar com toda a sua força para expandir os grupos centrais do Partido com base em elevar a consciência entre as massas sobre a nova república socialista como a única alternativa à República Islâmica, para construir uma firme coluna vertebral para transformar o atual movimento num movimento para a revolução.
O desenvolvimento do movimento revolucionário das mulheres tem uma influência decisiva na qualidade deste movimento de massas e na sua continuidade. Ao contrário de 2009, no movimento atual as mulheres não estão ainda nas linhas da frente. Temos de organizar rapidamente as forças das mulheres em todos os bairros e locais de trabalho e de tornar a reivindicação de liberdade e igualdade para as mulheres, bem como a luta contra o hijab obrigatório, numa reivindicação do movimento no seu conjunto. E, em unidade com o movimento estudantil e operário, a atmosfera dominada pelo sexo masculino e a maneira de pensar e o comportamento deste movimento têm de mudar. É agora tempo para um novo movimento estudantil que defenda o movimento popular insurgente e as suas reivindicações de separação entre religião e estado e de desmantelamento do regime dos mulás, para abrir as portas das universidades às concentrações populares e para impedir a entrada de espiões do ministério de informações e afastar das universidades as forças de segurança. O movimento estudantil deve servir as necessidades urgentes das massas de debater e discutir que tipo de estado e sociedade deve ser construído. O movimento estudantil deve representar um papel ativo a colocar em primeiro plano o slogan “nenhuma sociedade pode ser livre sem a libertação da mulher”.
O movimento estudantil em todas as cidades e províncias deve denunciar os principais representantes do sistema, como aqueles que são diretamente selecionados por Khamenei e pelos comandantes da repressão, e fazer deles o alvo dos ataques das massas: por exemplo, na província de Khorasan [a maior província do Irão, com longas fronteiras com o Paquistão e o Afeganistão], em solidariedade com a luta popular para expulsar Alamolhoda [o representante de Khamenei na província] e Reisi [o fracassado candidato presidencial dos conservadores], deve ser formado um comité de estudantes, operários e representantes dos moradores dos bairros pobres de Mashhad para transferir a administração da enorme riqueza da fundação Astan Quds Razavi1 para o povo. Em todas estas atividades, os ativistas do Partido têm de denunciar sobretudo as raízes comuns de toda a opressão e injustiça e de mostrar às pessoas o verdadeiro caminho para a emancipação e, de uma maneira forte e convincente, ganhar os muitos lutadores para a causa da revolução comunista e de os organizar sob a liderança do nosso Partido.
A experiência tem mostrado que o inimigo não ficará abalado por muito tempo. Em resultado disto, temos de apanhar o momento, propagar a consciência e desenvolver a nossa experiência e capacidades revolucionárias ao mobilizar as pessoas para organizarem as forças delas – lideradas pelo Partido – num movimento para a revolução. Organizar uma coluna vertebral secreta para este movimento é uma tarefa crucial que pode garantir a continuação do movimento numa situação de opressão e refluxo. As pessoas devem saber que há uma luta prolongada e difícil à nossa frente. Este caminho não será atravessado apenas através de protestos de rua.
Uma abordagem estratégica à atual insurreição de massas
O que pode converter o movimento de hoje num movimento para a revolução é principalmente o seu conteúdo político, concentrado nos seus slogans. Um slogan pode empurrar as mentes das pessoas para uma direção negativa, em oposição à batalha por uma sociedade humana justa e decente, ou para uma direção positiva que reforce esta luta. É necessário que ocorram grandes mudanças na maneira de pensar e nos valores daqueles que estão envolvidos nestas lutas, de maneira a que este movimento possa encontrar a força e a qualidade para continuar a resistir a um inimigo forte. Uma parte importante das pessoas envolvidas na luta de hoje contra o regime da República Islâmica tem de compreender profundamente o conteúdo alternativo da nova república socialista e de querer lutar por isso. A formação de uma tal força, mesmo que pequena, irá afetar grandemente o caráter do movimento. Dois documentos chave que servem esta luta serão publicados em breve pelo Comité Central do Partido Comunista do Irão (MLM): “O manifesto e o programa revolucionário para a revolução comunista” e “O caráter e a função do novo estado: A nova república socialista no Irão”. Uma consciência dos princípios de uma sociedade pela qual nós, os comunistas, estamos a lutar e das estruturas, leis e funções do novo estado socialista no Irão pode servir não só para ganhar algumas pessoas para a revolução comunista mas também para trazer um número mais vasto de aliados e seguidores para o caminho da libertação. Porque eles poderão ver e compreender o caráter emancipador das nossas alternativas e compará-las com a situação atual.
Mas simplesmente desejar essa comunidade não equivale a consegui-la. Para chegarmos à nova sociedade, precisamos de um roteiro e de uma liderança. No Irão, o nosso Partido assumiu a responsabilidade pela liderança. A coluna vertebral do nosso roteiro para o derrube da República Islâmica é a ciência do comunismo – a nova e desenvolvida ciência do comunismo. O comunismo foi fundado por Marx e Engels e desenvolvido por Lenine e Mao Zedong no decurso das grandes revoluções socialistas do século XX. Após a dolorosa derrota destas revoluções, a necessidade de desenvolver esta ciência foi assumida pela maior marxista da nossa era, Bob Avakian, que é o líder da revolução comunista e do seu partido nos EUA. O que nos possibilitou desenvolver o Manifesto e o Programa para a revolução comunista no Irão e a Constituição de um novo estado socialista do Irão foi a compreensão e a aplicação desta ciência da emancipação.
Todos os grupos e centros do nosso Partido, bem como todos os seus apoiantes empenhados, devem, no contexto da linha desta declaração e orientação, estar ativamente envolvidos em iniciativas locais na atual insurreição e liderá-las para uma direção revolucionária. São necessárias declarações e slogans independentes e inovadores para responder rapidamente a qualquer situação que possa surgir. Todos os membros e apoiantes do Partido têm de se lembrar que todas as lutas que levarmos a cabo hoje devem servir o objetivo de estabelecer o novo estado socialista no Irão e a emancipação de toda a humanidade em todo o mundo.
O Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista)
2 de janeiro de 2018
O documento completo está disponível em persa em www.cpimlm.com.
1. Uma fundação em Mashhad com uma cobertura religiosa que gere o santuário de Imam Reza e várias instituições que pertencem à organização e que ao longo de anos de roubo e corrupção conseguiu acumular uma riqueza astronómica.